sexta-feira, 29 de março de 2013

Descobrindo a cruz

chove sem descanso
e o descaso que sinto
tão intensamente
no meu peito
dedilha canções tristes ao piano
que ora oiço
ora choro
ora calo gritando
silenciosa
a dor que me consome

tudo, tão molhado,
tão frio,
que o vento inclemente
apenas acentua
derrubando as pequenas flores
das combalidas árvores
fustigadas,
teimosas,
fraternas,
que insistentemente
dão frutos

é Páscoa
a hora não tarda
em chegar
apenas o tempo
teima em passar
inexorável
como a água que corre para o rio
galgando margens
afogando mágoas
cobrindo fráguas
descobrindo a cruz

Mara Cepeda

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