quinta-feira, 25 de abril de 2024

Teófilo Bento, Capitão de Abril (Natural de Sendim, faleceu a 29 de julho de 2020, aos 75 anos)


Aconselhamos a leitura da entrevista que nos concedeu.

Aqui deixamos alguns excertos. 


Penso que o ter participado no “25 de Abril” teve um pouco que ver, ou talvez muito, com o ter nascido nesta região. Como disse, sou filho de um guarda-fiscal, sou um filho já tardio, tinha dois irmãos muito mais velhos que, por acaso, estiveram em África mas, tinham regressado antes dos acontecimentos que se verificaram, os acontecimentos relacionados com a guerra ultramarina. O regresso, de pelo menos um deles, deveu-se ao falecimento do meu pai.

A minha mãe viu-se com um miúdo de oito anos para criar. A única coisa que sabia fazer era a lida da casa. Como o meu pai era guarda-fiscal e, numa aldeia, isso significava mais que ser remediado, quase significava ser duma classe alta, porque havia dinheiro, a minha mãe fez das tripas coração, virou-se como se costuma dizer. Ela ainda está viva, tem 98 anos, está num lar em Miranda, mas foi sempre uma pessoa que me marcou muito porque fez realmente um esforço fabuloso para conseguir educar-me com aquilo que ficou. Quase diria que teve de inventar formas de fazer dinheiro para me educar. Tive o azar de ser de uma aldeia, de não ter feito o exame de admissão na devida altura, o que me obrigou a ir para um colégio em vez do liceu que ficava mais caro e, assim, estudei em Miranda e diga-se de passagem que ao fim do primeiro ano já estava a dizer que não queria estudar mais, porque via os miúdos que estavam a trabalhar na barragem e não tinham que ir preparar as lições para casa. Aí valeu o meu irmão, regressado de África por causa da morte do meu pai que disse: se tivesses tirado más notas, talvez, assim como tiraste boas notas tens de continuar a estudar. Também lhe devo muito a ele, como é evidente, por causa disso.

Fui criado de maneira a perceber as dificuldades que existiam em casa. Fiz o 2.º e 5.º anos, vim fazer exames a Bragança e, depois do 5.º, tive de mudar para o Porto. Eu não podia vir para o liceu, como disse e tudo isso ficava bastante caro. Fiz os estudos equivalentes ao terceiro ciclo e aí voltei a Bragança.

Tive sempre uma ligação com Bragança e quando chegou a altura de ir para a universidade escolhi a academia militar fundamentalmente por questões económicas. Percebia, perfeitamente, que não podia ir para a universidade. Até gostaria de ter ido para engenharia, mas percebia perfeitamente que não tinha condições financeiras para tal.

Ouvi dizer que na academia militar pagavam um salariozinho, enfim, davam subsídio, davam alimentação e não pagava pensão. Foi isso que condicionou a minha ida para a vida militar, não foi efectivamente a minha vocação especial. Foi mais uma condição económica que, diga-se de passagem, aconteceu a muita gente que depois veio a participar no “25 de Abril”, vieram a ser capitães de Abril. Temos que nos lembrar que nessa altura já tinha começado a guerra. A frequência na academia era alimentada, fundamentalmente, por classes ricas. Enfim toda a tradição da nobreza, mas quando começou a guerra deixaram isso para os pobres e os pobres preferencialmente, do interior, por isso é que nessa altura a frequência na academia militar era de Trás-os-Montes e das Beiras.

 

Falemos de liberdade e Capitães de Abril. Comente, por favor, a incursão das Caldas.

 

A incursão das Caldas, ou seja, 16 de Março é realmente um movimento feito por pessoas ligadas ao 25 de Abril, em que se verificou uma descoordenação bastante grande. Nessa altura, eu já tinha feito reuniões com elementos da comissão coordenadora do MFA; nessa altura tínhamos uma organização que, como costumo dizer, era uma organização desorganizada. Uma vez tive de explicar numa entrevista, precisamente, a seguir ao 16 de Março das Caldas, e que me perguntaram: "Mas como é que vocês conseguem funcionar tendo a PIDE (que era a polícia política) à perna?" Embora nos sentíssemos vigiados e tivéssemos de andar meio fugidos, o que respondi a esse jornalista foi: "A gente lá se vai defendendo porque isto é uma organização desorganizada. Eles ainda não perceberam muito bem quem são os cabecilhas e, por isso, a dificuldade de actuar. Andam a tentar seguir-nos, a gente troca-lhe as voltas conforme podemos e, se calhar, isto vai dar certo precisamente por causa desta forma muito portuguesa de criatividade, há quem lhe chame desenrascanço, sempre nos resolveu muitos problemas e continuará a resolver."

Nessa altura do 16 de Março, já estava na Escola Prática da Administração Militar. Sou chamado pelo comandante do aquartelamento que, manda reunir todos os oficiais por volta das quatro da manhã e, explica-nos que há tropas a caminho para invadir Lisboa, tropas não, uma coluna, diz ele. Quando eu ia entrar no aquartelamento, aparece-me um oficial que fazia parte da comissão coordenadora do MFA, a dizer-me que já havia tropas a movimentarem-se, designadamente, os comandos de Lamego, que iriam ocupar o Porto e que vinha muita tropa sobre Lisboa e, portanto, fiquei assim sem perceber o que se estava a passar porque, oficialmente, o comando diz-me que era uma coluna militar, a fonte interna do MFA dizia-me que havia muita tropa. Eu próprio não tinha ainda objectivos definidos, dentro das minhas funções de comandar essa unidade. Não sabia qual era o objectivo que me competia ocupar, por outro lado tinha sido feita uma reunião com o comando para verificar o estado de operacionalidade da unidade e quais as funções que lhe poderiam ser atribuídas.

Tinha-lhe sido apenas atribuída uma função de reserva em segunda prioridade, isto é, nem sequer era reserva em primeira prioridade e o comando, ao dizer-nos que vinha uma força sobre Lisboa, diz-nos também, que lhe tinham sido dadas ordens para ocupar uma das entradas de Lisboa, designadamente a entrada do Lumiar; achei estranho e pus ao comandante a seguinte questão: Então, se nós tínhamos, apenas, uma missão pouco prioritária, agora diz-nos que vamos defender Lisboa? De certeza absoluta que vem realmente muita tropa? – “Não, vem só uma coluna, são as ordens que eu tenho e as ordens que eu cumpro, preciso de oficiais que se ofereçam como voluntários para comandar uma companhia que vai posicionar-se e defender uma determinada entrada de Lisboa”.

Nessa altura ofereci-me como voluntário e disse: “Cá dentro não sei bem o que se passa, vou lá para fora”. Houve mais uns oficiais que se ofereceram, formamos uma companhia e fomos então situar-nos, por acaso, junto a uma escola. Tivemos que pedir às professoras dessa escola para ficar ali, dizendo-lhes que ia haver ali um exercício militar e que podia haver uma bala perdida, embora fosse de madeira, que dispensassem os miúdos da escola e elas, efectivamente, mandaram-nos para casa. As pessoas andavam por ali. Lá nos fomos posicionando e, entretanto, dei indicações aos oficiais, que transmitissem aos soldados que não havia tiros; isto é, íamos verificar o seguinte: se viesse muita gente, se viesse muita tropa faríamos apresentar armas e íamos marchar atrás deles por Lisboa, se fossem poucos íamos tentar dissuadi-los, porque assim não valia a pena. Ficámos, assim, nessa posição. Ainda houve uma altura em que se perdeu o contacto, foi precisamente quando essa coluna voltou para trás, aí ficámos mesmo aflitos e pensámos que ia aparecer mesmo. Enfim, não apareceu, tudo correu bem.

De qualquer das formas, não há dúvida alguma, que isso foi extremamente importante para depois melhor prepararmos o planeamento do Movimento. Permitiu perceber como é que as forças reagiam. A minha escola ou o meu quartel reagiu mas, reagiu aparentemente contra. Nós sabíamos que estava a favor, não é? Percebeu-se que… aquilo aconteceu por má organização mas, serviu para se retirarem, realmente, muitos ensinamentos. Foi como se fosse um exercício real, que nos convenceu de que era possível tomar o poder. E, portanto, foi extremamente importante, se calhar, até mais do que se pensa, porque permitiu melhorar muito o planeamento e evitar efectivamente confrontos militares, muito embora, tivéssemos tido situações em que só não aconteceram porque não calhou. Houve realmente muita sorte em determinadas situações: foi o caso de Salgueiro Maia no Terreiro do Paço, não andou aos tiros porque não calhou. A fragata que estava postada no rio teve os canhões apontados. A desgraça era que se começássemos com o primeiro tiro, não sei como conseguiríamos parar.

 

O seu papel foi fundamental na Revolução dos cravos. Sentiu o peso dessa responsabilidade?

 

Olhe, estas coisas… quase diria que se fazem sempre, impensadamente, não há heróis pensados, não há situações ponderadas… o objectivo que eu tomei, a escola prática… posso dizer que antes de eu ter sido questionado pelo Otelo, sobre se era capaz de tomar conta dos estúdios da Rádio Televisão Portuguesa, isto porque era perto do quartel. “É só dares ali um passo. Podes lá ir?" e eu disse: “Ó Otelo, conta com isso, conta com isso tomado”, e depois o Otelo ouviu precisamente o Vítor Alves dizer-lhe: “Ó Otelo dizes ao Bento para tomar, ele não tem tropa!” Porque realmente eu não tinha tropa, eu tinha soldados da administração e soldados cozinheiros, padeiros, a maior parte deles até se chamam padeiros, não é? Não sabiam combater com armas. Mais tarde, vim a saber que tinham sido questionados, primeiro, os pára-quedistas para tomar esse objectivo, porque era um objectivo importante. Os objectivos de comunicação social, nessas alturas, são importantes, são extremamente importantes.

Eu próprio, quando li o livro do Otelo, verifiquei que ele tinha feito o seu plano de utilização dos meios de comunicação social com base num manuscrito que estava em anexo e eu, quando vou ver esse manuscrito, reconheci a letra: “é pá, eu conheço esta letra mas, de quem é esta letra?” E verifiquei que a letra era minha. Por acaso conhecia alguém da RDP e fui ouvindo umas conversas, sabia o que é que precisávamos e então fiz, fundamentalmente, uma relação de prós e contras de cada meio de comunicação social nessa altura e qual era, realmente, o mais importante. E o mais importante era, efectivamente, o Rádio Clube Português por uma razão simples. Sabem qual é que era? Porque tinha gerador próprio. Por exemplo, a televisão, a emissora nacional era muito bom, cobria tudo mas, era fácil calá-la, a televisão também não era importante, isto como primeiro meio de comunicação, porque só emitia a sério a partir das seis horas, entre as duas e as seis horas tinha a telescola. Dizia lá, nesse manuscrito que, o principal meio de comunicação era nessa altura o Rádio Clube Português e esse é que era fundamental, e foi. 

Ele adoptou essa estratégia; isto só para dizer que quando falei sobre a importância dos meios de comunicação e quando decidi tomar a televisão, foi por ingenuidade e inexperiência. Se fosse um combatente experiente teria respondido, provavelmente, como responderam os paraquedistas: “Pois, sim senhor é importante e, se depois a coisa dá para o torto, como é que é?” Porque isto, quer queiramos quer não… tudo está bem quando corre bem e hoje é fácil dizer que o Regime estava preso por um fio mas, na altura sabia-se lá se estava preso por um fio, o que é que íamos encontrar pela frente ou não, os riscos que íamos correr, ninguém sabia.


Fotografia de Jorge Morais (inédita)


    "Quero também disponibilizar-vos uma foto que eu próprio tirei e que 
nunca foi vista: a visita de Mário Soares a Bragança (Presidência Aberta, 1987) e entrada no velho comboio para um pequeno percurso que, creio, terá sido até Frechas ou assim (não tenho bem a certeza). 

    Esta foto podereis colocá-la no vosso site, se assim o entenderdes, talvez no 25 de Abril, agora que faz 50 anos. Acho que ficava bem no dia da efeméride." (Jorge Morais)

    Obrigado Jorge Morais por esta foto.


O texto que se segue foi retirado de uma crónica do Eng. Jorge Nunes, no Jornal Nordeste.

    "Na visita oficial feita a Bragança, a 29 de abril de 1985, o Primeiro-ministro Dr. Mário Soares, reagindo às preocupações apresentadas pelo Presidente da Câmara Municipal, Eng.º José Luís Pinheiro, relativas ao destino da Linha do caminho de Ferro do Tua, manifestou reservas quanto á viabilidade de manutenção da linha, lembrando os pesados défices das empresas públicas de transportes.

    Também durante a Presidência Aberta, de 15 a 26 de fevereiro de 1987, realizada na cidade de Bragança, o tema foi abordado em notícia relativa à viagem do Presidente da República, feita de comboio entre Bragança e a estação de Frechas. 

    Esta foi a última locomotiva a vapor que partiu da estação de Bragança, registado o momento por Jorge Morais." 
   
    Para além da foto acima publicada, Jorge Morais registou o momento do fim do comboio em Bragança com outras fotos, como refere Jorge Nunes. 

    Neste dia marcante dos 50 anos do "25 de Abril", ainda não recuperámos o comboio que se apresenta aqui ao lado, na vizinha Espanha. 
    
    A história repete-se. Fomos a última cidade a receber o comboio, em 1906. Voltaremos a ser os últimos? Alguma vez teremos comboio?
    
     Fica-nos a foto de Jorge Morais para não perdermos a esperança.


Maria Cepeda  


sábado, 13 de abril de 2024

SE EU SOUBESSE


Na biblioteca, pensava em ti.

A hora tardava. 

A tua presença não era aqui.


Onde estás no denso minuto 

que agora passou

quando penso em ti na biblioteca?


Observo universos tão longe de nós, 

dispersos em galáxias anãs

e nos teus olhos o nascer das manhãs.


Maria Cepeda

sexta-feira, 22 de março de 2024

POEMA XVII






Fechou-se o diálogo 

amiga.


Ter-se-á fechado uma 

porta

um desejo

uma vontade

ou um túnel

voluntário 

estranho

indeciso?


Um túnel

esbatido

sem trilhos e sem luz

no fundo.


Que diálogo era

amiga?


Quando nos sentaremos 

ansiosos no café

na fonte

na beira do rio?


Quando falaremos de nós

ininterruptamente?!

(que coisa diferente)


Talvez não mais, amiga.


O túnel esbateu-se

por completo.


Já não há vontade 

nem porta.


E para sempre, amiga: 

que diálogo era o nosso

em que tanto ou tudo 

ficou

por dizer?


Marcolino Cepeda

FLORIR


teimosamente, insistentemente, 
persistem em florir amarelas, belas
e de tanto insistir, a primavera, 
todos os anos, acontece
e agradece por vir florir

flores amarelas, belas,
roxas, algumas azuis,
brancas até e violetas,
pequeninas violetas
que me fazem sorrir

gosto de estar no jardim
sem pensar, sem ouvir, 
sem ver o fim de existir
de tantas e tantas crianças
envoltas em sangue
que já não conseguem sorrir

Maria Cepeda (Poema e fotografia)

 

SÓ SEI QUE NÃO VOU POR AÍ! (Teresa Martins Marques)


(Aqui têm um exemplo da função social da literatura em que eu acredito.)

O «Cântico Negro» de José Régio (Poemas de Deus e do Diabo - 1925) é um dos textos de maior notoriedade na poesia portuguesa do século XX , tornando-se pelo seu veemente tom declamatório  um hino emblemático de rebelião, a própria rebelião por antonomásia, vindo a adquirir a função social que Régio certamente lhe não previra: Poema-bandeira de todo o inconformismo, de toda a incompreensão, de toda a diferença relativamente a uma norma-doxa que é, ou se supõe ser, por demais impositiva e violentadora da individualidade do homem.

Corroborando esta «tradição de leitura» do poema, afigura-se-nos um trágico grito de solidão na diferença, consubstanciado na rejeição do caminho que é o dos outros, o «nunca ir por aí». Os outros, são delimitados no poema como «alguns com olhos doces», «estendendo-me os braços, e seguros / De que seria bom que eu os ouvisse». (vv 1,23, – 1ª est.). Não existe qualquer marca textual que incrimine estes outros como possuidores de más intenções relativamente ao Eu poético. A alteridade que se estabelece entre Eu e os Outros é baseada na diferença, o que não implica necessariamente ainda um juízo de valor. Esse juízo surge mais tarde (5ª estrofe) através da desvalorização que os Outros sofrem relativamente ao Eu:

«Corre nas vossas veias, sangue velho dos avós.

e vós amais o que é fácil!»

Os Outros representam o velho, o ultrapassado (romântica recusa da «herança») vista da perspectiva do Eu que representa o novo, tudo o que é preciso conquistar: «Se vim ao mundo, foi

Só para desflorar florestas virgens,

E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada,

O mais que faço não vale nada» (4ª estrofe)

Os Outros («Vós») representando o velho, não poderão compreender o novo, ainda que lhe «estendam os braços». Quer se leia este estender de braços como solidariedade amiga ou imposição camuflada de hipocrisia, o certo é que o gesto redunda em inútil pois o Eu não acredita que a sua salvação dependa deles:

«Ao que busco saber nenhum de vós responde» (v. 3, 3ª est.)

[...]

«Como, pois, sereis vós

Que me dareis impulsos, ferramentas, e coragem

Para eu derrubar os meus obstáculos?» (vv 1-3 – 5ª est.)

Os Outros representam a quietude na pacatez da ordem estabelecida dentro dos conceitos do Útil («as estradas», «os tectos»), do Belo («os jardins», «os canteiros») do Sapiente («regras, e tratados, e filósofos, e sábios).

A utilização cumulativa da vírgula e da copulativa «e» transmite ao verso um tom de redundância, de organização desmesurada que ressalta ainda mais pelo violento contraste do 5º verso desta 6ª estrofe: «Eu tenho a minha Loucura!»

A loucura vista como um «bem» porque singular, porque produto de uma singular forma de individualidade, assumida como uma glória – maiusculada – em contraponto com a enumeração dos «teres» dos Outros. Loucura que é a suprema honra do Eu, a luz da sua noite/vida: «Levanto-a, como um facho a arder na noite escura». (v. 6 – 6ª est.). «Eu amo o Longe e a Miragem,

Amo os abismos, as torrentes, os desertos...»

(vv. 6, 7 – 5ª est.);

assumindo o canto de raiva sangrenta:

«E sinto espuma e sangue e cânticos nos lábios...

(v. 7 – 6ª est.);

assumindo a fatalidade da sua origem:

«Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo»

(v. 4 – 7ª est.).

O 2º verso da 7ª estrofe – «Todos tiveram pai, todos tiveram mãe» soa mais como um lamento do que como gloriosa afirmação de diferença que nem a condição de intemporalidade (o velho sonho do homem) consegue colmatar:

«Mas eu que nunca principio nem acabo».

Condição de eternidade no sofrimento, pela diferença, carregando uma culpa original que o transcende e que o condiciona:

«Deus e o Diabo é que me guiam, mais ninguém»

(v. 1 – 7ª est.).

«Mais ninguém», excluindo os Outros, exclui também o próprio sujeito que passa à condição de «objecto guiado» e se perde, perdendo a liberdade. É a imagem de um Prometeu agrilhoado pelo que há de contraditório no seu ser dividido entre os impulsos positivos simbolizados por Deus e os impulsos negativos simbolizados pelo Diabo.

O sujeito poético tem consciência da sua condição de herói romântico e da necessidade de «derrubar os obstáculos» (v. 3-5ª est.) que o separam afinal de umanorma, podendo ler-se «obstáculos» como os primeiros muros de incomunicação que o cercam e que sente não poder derrubar, numa (lógica) contradição inscrita na duplicidade do (seu) ser.

A última estrofe insiste nessa contradição explicando a vida do sujeito poético através de metáforas que vão da exuberância («A minha vida é um vendaval que se soltou / É uma onda que se alevantou» (vv. 4, 5) até à pequenez da matéria:

«É um átomo a mais que se animou».

Átomo a mais entre tantos outros (semelhantes) mas que se animou, isto é adquiriu uma anima que lhe concedeu a diferença. O próprio título do poema inscreve em si mesmo a conotação positiva «cântico» e a negativa «negro» que para além da associação a satânico, implica o negrume da vida do homem complexamente oblíqua mas cuja  grandeza consiste, segundo Nietzsche, em ser uma ponte e não um fim e o que podemos amar no Homem é justamente a transição e a perdição.

Ponte como forma de vida superior (átomo com anima) que liga (pela inteligência) as restantes formas de vida entre si. Como ponte é transição para o divino (a perfeição) que não atinge e por isso se perde e se destrói através da auto-ironia com que se aceita, mas também se recusa.

O sujeito poético diferente dos Outros e diverso em si mesmo inscreve-se numa tradição romântica em que predominam «o desafio à norma, ao razoável, ao racional, a obsessão do diferente, o desejo de permanência na ruptura. Permanência do Eu, ruptura com tudo o que possa ser ou transformar-se no «não-eu». 

 

quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

Liliputinar (Ernesto Rodrigues)

 


Não devemos ter medo das palavras: Putin começou simpático e acabou ditador. Assim posso resumir conversa de há dias com o embaixador João Diogo Nunes Barata, que nos representou em Moscovo entre 2002 e 2004.

Putin é um ressabiado: acaba o curso de Direito na cidade natal, São Petersburgo, e entra no KGB, cujos herdeiros dominam, hoje, a Federação Russa. Os chefes não lhe reconhecem grandes qualidades, sendo destinado, pois, à tranquila Dresden, na República Democrática Alemã. Um espião de primeira viria para o Ocidente.

Antes dos seus 40 anos, dissolve-se a União Soviética (1991), e um sonho que o inspira a partir do mandato presidencial de 2004-2008: reprimir dentro, conquistar fora. A NATO (em coma, diria Macron) não percebeu; tomada a Crimeia (2014), o Ocidente nem buliu. Convinha, sobretudo, à Alemanha de Merckel, essa locomotiva europeia alimentada pela energia russa. Agora, com gás em reserva para o próximo Inverno, e as necessidades de petróleo em queda, não só sai afectada a economia russa (a par de outras sanções, cujos efeitos ainda mal se sentem), como se conclui isto, simples: Europa refém da energia e propaganda russas não é uma Europa independente. A partir daqui, Putin inventou-se historiador para justificar o que poucos viam. No pretexto de desnazificar quem lhe fazia frente (um país dirigido por um judeu), mal informado (vergonha de espião), quis, como fizera na Crimeia, pisar Kiev em três dias. O sonho de 1991 começava a concretizar-se – ou isso parecia.

Eis a inspiração para, entre Março e Julho (em menos de quatro meses), compor o meu nono romance editado, Liliputine, que descreve momentos fortes da História europeia desde a morte de Estaline, em 1953 (Estaline é modelo de Putin, que não fala às crianças do acordo germano-soviético de 1939, para cada país devorar a sua parte na Polónia). Saliento duas invasões: em 1956, na Hungria; em 1968, já não só os tanques soviéticos, mas também outras forças do Pacto de Varsóvia, na Checoslováquia. O actual czar, liliputiano, tem outro modelo: Pedro, o Grande – que, todavia, media dois metros e três. Resumindo.

José de Arimateia e Maria de Jesus têm um filho, João Baptista, em 1956, e vivem as ilusões de uma Hungria livre. Arimateia participa no levantamento de Budapeste, conviva de Lukács Mária, que dera à luz um filho do embaixador soviético Yuri Andropov, e este rapta. Andropov será futuro secretário-geral do PCUS, na morte de Brejnev, em 1982. Milhares de vencidos são desterrados para várias regiões da União Soviética. Arimateia vive em Kaliningrado até Agosto de 1968: intérprete no exército que invade a Checoslováquia e põe fim à Primavera de Praga, salva uma adolescente, Hana, em cuja casa se refugia até 1971. Recusando contactar os comunistas portugueses no exílio, entra na vida de Miroslav, editor do realismo socialista europeu e latino-americano, e da empregada Krista, trazendo esta família para Lisboa.

Hana e João Baptista alimentam uma relação vigiada, suspensa entre 1979 e 1985, quando aquela acompanha Miroslav e Krista para Berlim Oriental – onde Lukács Mária lhe apresenta um espião soviético vindo de Dresden – e João Baptista faz espionagem (ou isso julga) ao serviço de Berlim Ocidental. Reencontram-se na Hungria e, em 1986, nasce Magda Baptista, hoje docente de Estudos Europeus, que organiza este romance-reportagem em 49 cenas muito cinematográficas.

O glorioso 1989 separa o casal: Hana entrega-se, de vez, ao espião de Dresden, nascendo Boris. Foge com os filhos para Moscovo. Os bons ofícios de Lukács Mária são recompensados com a visita do filho István, que não voltará a ver. João Baptista busca a filha, enquanto cicatriza a dor pelas capitais do Ocidente e, na pele de jornalista, visita a Roménia – sem encontrar Miroslav e Krista, aí desde 1985 – do ditador Ceausescu em fim de ciclo.

Abandonada, Hana entrega Magda ao pai João Baptista, diplomata em Roma (1992). Já, com a Revolução de Veludo, Miroslav e Krista regressam a Praga, onde Hana os visita, e sabe que o pai e mãe vivem em Moscovo. Cumprirá uma vingança, antes de, nas linhas finais, sofrer castigo. Sequestrada no silêncio, não acompanha o crescimento do filho, que encontra os verdadeiros avós, e se faz atirador de elite ao serviço do novo czar – Putin, seu pai –, cujo historial de vida é parcialmente referido, quando não imaginado.

João Baptista virara conselheiro em Moscovo; afastado desse cargo, regressa como administrador de empresas, fornecendo o palácio presidencial. Tarde percebemos que Lukács István, sósia de Putin, é o seu interlocutor: morto este, não se prossegue a mesma política? A invasão da Ucrânia obriga à fuga e a medidas solidárias que se impõem às democracias.

Liliputine funde As Viagens de Gulliver e sua ilha de Liliput com Putin(e), nome donde deriva ‘liliputinar’, cujos presente do conjuntivo e imperativo significam: «reduza Putin à sua pequenez ou insignificância». Olha-se ao complexo estalinista de quem, no seu metro e sessenta e oito, se sonha um novo Pedro, o Grande. No seu palácio de medos, repressivo da liberdade de expressão, e do qual fogem os que podem (um milhão, um milhão e meio), anuncia-se o estertor de um genocida, quem dera o regresso de um novo Gorbatchov. É exigência das democracias morais que se queiram independentes em todos os domínios defender os nossos valores.

 

Retirado de www.mdb.pt

IMPORTÂNCIA POLÍTICA DA FERROVIA PARA TRÁS-OS-MONTES E NORTE (Retirado de Jornal Nordeste, 12/12/2023)

(Mais uma vez, chamamos a atenção para esta crónica do Engenheiro António Jorge Nunes, antigo Prtesidente da Câmara Municipal de Bragança durante vários mandatos entre outros cargos de vital importância para Trás-os-Montes e Alto Douro).

É necessário que todos nós lutemos pela nossa região. Não podemos permitir que este abandono perdure. Se ainda não tiveram oportunidade de ler este texto, aqui o deixamos. Obrigado.

Terminada a 2.ª fase de discussão pública do Plano Ferrovia 2030, esperamos que a versão final contemple Trás-os-Montes com a nova linha ferroviária de Alta Velocidade ligando o Porto, Vila Real a Bragança à Alta Velocidade em Espanha, aqui tão próxima. A versão recentemente enviada pelo governo para o LNEC, para recolha de parecer, ignora totalmente os contributos e a vontade expressa da região, o que nesta fase de consulta já não devia acontecer, o mesmo é dizer, o governo está a ignorar os eleitos, as instituições e os cidadãos que se pronunciaram favoravelmente a uma ligação ferroviária internacional por Trás-os-Montes. A coesão territorial parece continuar a ser uma mensagem política de conveniência eleitoral, nesta sub-região que desde a fundação do reino, tanto tem dado ao país, e que tão pouco tem recebido. 

    Necessitamos cerrar fileiras, criar liderança política nesta longa luta, exigir clarificação aos líderes partidários, pelo menos durante a próxima campanha eleitoral, para que a proposta que vier a ser apresentada ao Parlamento também sirva o futuro desta região, assim como necessitamos exigir clareza de posição à CCDR-N sobre que mapa ferroviário tem para a Região Norte e como pretende defendê-lo, saber se neste âmbito, Trás-os-Montes está nas suas preocupações. Importa fazer uma breve referência ao passado da ferrovia em Trás-os-Montes e uma abordagem política à situação social e económica da região, para melhor se compreender a justeza desta luta. 

    A primeira proposta para ligar Lisboa à Europa foi apresentada no ano de 1845 por uma empresa francesa, que previa ligar Lisboa ao Porto, a Bragança e a Valladolid. Os primeiros carris em Portugal foram assentes passados oito anos, no ano de 1853, no troço de via-férrea de Lisboa a Santarém. Os distritos de Bragança e de Vila Real foram os últimos a aceder à viação acelerada, para substituir a tração animal, e só trinta anos depois se iniciou a construção da linha do Tua, no ano de 1883, tendo a última estação da linha do Sabor sido inaugurada no ano de 1938. Foram 85 anos desde que iniciou a construção em Lisboa, até à conclusão da ferrovia em Trás-os-Montes, que se manteve isolado, trabalhando para o autoconsumo, sem acesso aos mercados externos. 

    Este enorme atraso prejudicou muito este território face ao país que se desenvolvia a ritmo acelerado. Apesar disso, a ferrovia foi durante décadas o principal meio de transporte de pessoas e de mercadorias, rompendo com o isolamento, abrindo a região ao mundo. Noto que antes do transporte por comboio, as deslocações eram difíceis, demoradas e pouco seguras. A título de exemplo saliento que aquando da Restauração da Independência, a 1 de dezembro de 1640, a notícia só chegou a Bragança 16 dias depois, seguindo-se grandes festejos e preparação para a guerra, que durou 28 anos. O correio de Lisboa a Bragança, demorava no final do século XIX, oito dias, na mala posta a mata cavalos. Foi no final do século XIX e início do século XX, o principal investimento feito na região, e que proporcionou muitos outros investimentos. 

    Sem honra, sem glória, sem humanidade, no período de 1988 a 2008, nos governos de Mário Soares e de Cavaco Silva, as linhas do Tua, Corgo, Sabor e parte da linha do Douro, entre o Pocinho e Barca de Alva, foram encerradas, numa extensão de 363,9 km, ato de total injustiça e desumanidade, isolando a região da rede ferroviária e suas vantagens sociais e económicas. As boas vias de transporte de pessoas e bens são as artérias da economia, e a boa rede de estradas de que Trás-os- -Montes dispõem, construída entre 2004 e 2015, só por si não chega, pois todo o país está igualmente servido, e também de ferrovia. 

    Por outro lado, o território de fronteira com Espanha está bem servido de estradas e de ferrovia, também em Alta Velocidade, ou seja, Trás-os-Montes está em termos relativos um pouco isolado e cercado de territórios com melhores condições para desenvolver a economia e fixar população. Os governos centrais impõem-nos uma discriminação negativa, deixam-nos com menores condições para acompanhar o ritmo de crescimento da economia nacional e das regiões fronteiriças, tendencialmente mais pobres e com a população mais envelhecida. 

    Não pode a Região Norte, a mais pobre das regiões portuguesas, como não pode Trás-os-Montes, deixar de lutar por uma moderna linha ferroviária internacional, unindo o Porto a Bragança e a Espanha, por razões de coesão, de competitividade e de combate às assimetrias regionais, de combate ao despovoamento, ou seja, temos de apanhar o “comboio da economia do futuro”. 

    Sem acessibilidades competitivas, rodoviárias, ferroviárias e aéreas, teremos dificuldades acrescidas de desenvolver a economia, captar investimentos necessários, fixar mão de obra qualificada, empresas tecnológicas da economia verde e do conhecimento. Vamos começar por observar à luz de alguns indicadores a situação de Portugal no contexto europeu. Durante a década de 1990, Portugal cresceu à média de 3% ao ano, convergiu com EU, a 15 estados-membro. No ano de 2000, o PIB per capita, era de 83,5%, e no ano de 2021 é de 75% da média da EU a 27, ou seja, fez uma trajetória de divergência. Neste período cresceu à média anual de 0,8%, crescimento inferior à média dos restantes países, sendo o terceiro país que menos cresceu, só a Itália com o crescimento de 0,4% e a Grécia com 0,3% ficaram abaixo. Em mais de duas décadas a economia portuguesa estagnou, passámos por uma grave crise financeira e pela crise pandémica, o investimento caiu para valores historicamente baixos, totalmente dependente das ajudas da UE. 

    Na última década, a produtividade em Portugal caiu 2,6 pontos percentuais, é de 65,2% da média da EU, quase metade da Alemanha, é de 72% da de Espanha. A baixa produtividade tem como consequência, salários dos mais baixos da EU, e dificuldades no acesso a mercados de maior qualidade e valor acrescentado. Para um futuro melhor é essencial melhorar muito a produtividade, o que nos ajudará a ter maior crescimento da economia, salários mais elevados, empresas mais competitivas, acesso a mercados de maior valor acrescentado, melhor administração pública. 

    Para isso é necessário maior investimento na investigação e desenvolvimento tecnológico por parte das empresas, que investem 0,68% do PIB, cerca de metade da média da EU (1,45%). É necessário maior investimento tecnológico e de modernização nas empresas e na administração pública, uma maior qualificação da força laboral, preparando as profissões, atuais e novas, para os desafios da economia do futuro, reforçando as qualificações, a formação com ensino superior, que na faixa etária dos 30 aos 34 anos evoluiu na última década de 26,7% para 43,7%, superando a média da EU. 

    Portugal é um dos países mais endividados da EU, a dívida global (empresas, famílias e administração pública), ronda em 2023, os 750 mil milhões de euros, o que compara com a riqueza anual produzida no país, de cerca de 210 mil milhões de euros. A dívida pública que era de 13,5% do PIB no ano de 1974, subiu para 80% em 2010 e para 127% em 2020, está a reduzir, prevendo-se, se a orientação não alterar, que em 2031 desça para 70% do PIB. A dívida muito elevada é uma grande restrição para o investimento público e privado, visto, parte do esforço dos portugueses ter de ser canalizado para pagar juros e amortizações. 

    Constatamos que o desafio central desta região é o da regressão demográfica, situação transversal a quase todo o interior, e em particular a Trás-os-Montes e Alto Douro, que no ano de 1960 representava 7,82% da população do país, e no ano de 2021 baixou para 3,49%, passou de 692 029 habitantes, para 384 410, em pouco mais de meio século, perdeu quase 50% da população. Sem exceção, todos os concelhos estão a perder população. Em Terras de Trás-os-Montes, no ano de 1960, a população jovem representava 33,6% tendo baixado para 9,4% em 2021. Portugal tem um problema demográfico, sendo o 4.º país do mundo mais envelhecido, só superado pelo Japão, Itália e Finlândia, problema que atinge o Interior de forma muito grave. O Interior vai continuar a despovoar-se durante as próximas décadas. 

    O índice de envelhecimento, calculado pela relação entre o número de pessoas com mais de 65 anos em cada 100 jovens com menos de 15 anos, é em Terras de Trás-os-Montes de 359%, o dobro da média nacional e em Vinhais é de 692,8%, quase quatro vezes superior. O índice sintético de fecundidade em Trás-os-Montes é de 1,01, quando deveria ser de 2,1 (n.º de filhos por mulher em idade fértil), para assegurar crescimento natural positivo, o mesmo é dizer, garantir que a diferença entre a natalidade e a mortalidade fosse positiva. 

    A realidade é muito preocupante, a taxa de mortalidade é três vezes superior à taxa de natalidade, e no concelho de Vinhais é cinco vezes superior. O envelhecimento populacional no Interior é um abalo demográfico, com amplos reflexos negativos, designadamente no mercado de trabalho, sendo atualmente a % de população ativa muito inferior à média de Portugal e da região Norte, situação que vai agravar-se e também no país, prevendo os demógrafos que até 2050, a população em idade ativa diminua em 1/3. 

    Paralelamente ao problema demográfico, temos de vencer a tendência de divergência no PIB per capita para criar mais economia e mais emprego qualificado. O PIB per capita em Terras de Trás-os-Montes é 21% inferior à média nacional, no concelho de Vinhais é inferior em 40%, e se comparado com o Porto, com PIB per capita de 147,6, então a relação é de 1 para 2,4, e se comparado com Lisboa com o PIB per capita de 186,3, a relação é de 1 para 3. E mesmo Bragança, que está 10% acima da Região Norte, feita a comparação com o PIB per capita de Lisboa, a relação é de 1 para 2. 

    É necessário superar as grandes diferenças de remuneração no mercado laboral, garantir maiores qualificações para assegurar melhor salário, fixar jovens, reduzir a emigração e captar mais mão de obra qualificada para as empresas. Portugal não é um país atrativo para captar imigrantes de elevadas qualificações, há mercados externos muito competitivos no recrutamento de mão de obra altamente qualificada, acresce que Portugal historicamente é um país de emigrantes, é o 20.º país do mundo com maior taxa de emigração face à população residente. Em 2022, os portugueses emigrados eram são 2,6 milhões. 

    Importa salientar os setores com mais emprego. Em Portugal é o comércio e retalho, na AML são as atividades de segurança e de apoio às empresas, no Norte é a fabricação de têxteis, vestuário e calçado, e em TTM são as atividades de saúde humana e apoio social. Também destacar que o salário médio na AML é 50% superior ao de TTM, e que a percentagem de trabalhadores com grau de ensino superior é em TTM igual à média nacional e superior à da Região Norte, que em TTM, o salário médio de trabalhadores com o ensino básico é 15% inferior ao da AML e 60% inferior nos trabalhadores com licenciatura. 

    Também nas remunerações o país é muito desigual, esta região é muito pouco competitiva face ao país e a países mais desenvolvidos, pelo que “travar” a emigração de regiões pobres é um exercício de elevada complexidade, só sendo possível superar com salários muito mais elevados, empresas muito mais competitivas, produtividade muito acima do atual, melhores condições sociais de trabalho, com maior disponibilidade de capital de investimento. Necessitamos resolver o problema da baixa produtividade, que é de 75% da média nacional e de 48,9% da média da EU, ocupa a 19.ª posição acima das NUT III Beira e Serra da Estrela; Oeste; Tâmega e Sousa e Douro. 

    É essencial melhorar o rendimento das famílias de TM através da maior qualificação da força laboral, da inovação e transformação tecnológica da economia, da melhoria das condições sociais no mercado de trabalho, da melhoria significativa das remunerações salariais, em particular no setor privado, por forma a fixar jovens qualificados, tornar a economia mais produtiva e competitiva. Apesar do abalo demográfico e muitas fragilidades na economia, há esperança de um futuro melhor. 

    Em termos de análise pelo PIB per capita, constatamos uma tendência de divergência de TTM face ao Norte. No ano de 2010 ocupava a 2.ª melhor posição de entre as NUT III da Região Norte, com 97% da média regional, abaixo da Área Metropolitana do Porto, e veio a ser ultrapassada pelo Cávado, Ave e Alto Minho, descendo em 2021 para a 5.ª posição (79% da média regional), à frente do Douro, Alto Tâmega e Tâmega e Sousa. Notando que o fraco crescimento nas NUT III de Trás-os-Montes e Alto Douro é em parte feito à custa da perda de população e menos do crescimento real da economia, o que não acontece com o Cávado, a única em que a população cresce, e o PIB per capita cresce à custa do crescimento real da economia Mas, se feita a análise da evolução a partir do Índice Sintético de Desenvolvimento Regional (ISDR), que capta o bem-estar material que decorre do poder aquisitivo de bens e serviços, e que é ponderado a partir de três índices: competitividade, coesão e qualidade ambiental, constatamos uma evolução positiva de TTM no conjunto das 25 NUT III. Constatamos uma evolução positiva da 19.ª posição no ano de 2013 para a 11.ª posição no ano de 2021. Menos na competitividade, índice que capta o potencial em termos de eficiência na criação de riqueza e da capacidade do tecido empresarial de competir no contexto internacional; uma melhor evolução na coesão que capta o potencial da população aceder a equipamentos e serviços coletivos, embora seja claro que temos concelhos em que os serviços estão muito distantes, exemplo da saúde, da educação, da justiça, da cultura e dos transportes. 

    No índice da qualidade ambiental ocupamos o topo da tabela com 112,49, à frente da Madeira, das Beiras e Serra da Estrela e dos Açores. Temos qualidade máxima em termos comparativos, nos serviços de ambiente e um território de excelência ambiental, assegurando elevada qualidade de vida. Este índice dá-nos o foco e a visão da orientação e alinhamento da estratégia de desenvolvimento de TTM. Mas, há uma pergunta que se impõe: Será que os centralistas de Lisboa pretendem empobrecer ainda mais os transmontanos e fazer de Trás-os-Montes uma reserva natural integral? 

    O desafio é claro, combater o Abalo Demográfico que despovoa o território, fazer crescer a economia, fixar mais mão de obra e dotar a força laboral de maiores qualificações e as famílias de maiores rendimentos. Temos recursos e território com elevado potencial de crescimento, mas não o conseguimos fazer sozinhos, sem o justo apoio do governo central, devido desde há décadas, e que frente à dimensão dos problemas, só pode ser de dimensão excecional e com capacidade transformadora, e não de medidas paliativas para nos entreter e periodicamente captar votos. 

    Temos um amplo território com recursos económicos e de elevada qualidade ambiental, um sistema de ensino superior e centros de investigação em percurso afirmativo, com capacidade crescente de apoio à economia regional; população mais qualificada; maior emprego de técnicos superiores nas empresas; aumento do número de trabalhadores ao serviço das empresas; aumentou o número de empresas, com especial importância na indústria transformadora, alguma capacidade exportadora, com saldo positivo relativo às importações, notando que o valor dos bens e serviços produzidos diminuiu de 2016 para 2021, de 1,81 para 1,72 mil milhões de euros, esperado seria que crescesse; dispomos de uma moderna rede de autoestradas; de cidades e vilas mais atrativas e competitivas. E assim, poderemos mudar para melhor, com visão de desenvolvimento futuro mais apurada e partilhada, com melhores instituições de ensino e de formação, melhor governo das instituições públicas e privadas. 

    Para alcançar novos patamares de desenvolvimento, o investimento público e privado é essencial, e Trás-os-Montes não pode ficar de fora do mapa ferroviário 2030, sem uma linha internacional ligando a região norte ao centro da europa, conquistando centralidade no contexto ibérico, conjugando o modo rodoviário, ferroviário e aéreo, este com aposta clara no aeroporto regional de Bragança, projeto que na última década parece ter sido esquecido, assim como a luta pela continuação da autoestrada transmontana A4, de Quintanilha a Zamora, tendo saído da reivindicação regional, como a continuação do IP2 de Bragança a Puebla de Sanábria foi comprometida e substituída por uma via menor. 

    Não falta dinheiro no PRR para investir no litoral, recentemente o investimento no Metro do Porto e de Lisboa foi reforçado em 740 milhões de euros só para atender ao aumento de custos, faltando uns “trocos” para a estrada de Vimioso. A ferrovia será fator de elevada atratividade na captação de investimento, de empresas, de fixação de jovens, na perspetiva da economia do futuro, a economia verde e do conhecimento. A ferrovia é estruturante para o território e para a economia, a questão é a de que se perdermos esta luta, ficaremos, face aos territórios envolventes, mais isolados, mais pobres e com o território mais despovoado. Mantemos a luta por uma nova linha ferroviária em Trás-os-Montes, internacional e com ligação à Alta velocidade em Espanha. Não nos podemos calar!

Fontes: INE; Pordata; Eurostat; Fundação José Neves Conferência, Mirandela, 30.11.2023

António Jorge Nunes

quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

44.ª FEIRA DO FUMEIRO – VINHAIS



A Feira do Fumeiro de Vinhais está de Volta!


Fumeiro de Vinhais é o melhor?

Vinhais é a capital do fumeiro e a justificação é simples: Vinhais tem o melhor fumeiro. E o que faz deste produto o melhor? São vários os fatores que contribuem para a qualidade deste produto, entre os quais o clima, a matéria-prima e o tempero. O clima de Vinhais é frio e seco na altura das matanças o que ajuda a uma boa cura das carnes e do fumeiro. A matéria-prima é a carne do porco bísaro, criados num sistema tradicional, à base de produtos e subprodutos da agricultura local, dando origem a uma carne de sabor inconfundível e uma textura única graças à gordura intramuscular que a torna marmoreada, macia e suculenta.

O tempero também é diferente dos temperos de outras regiões, feito em vinha de alhos, com água, vinho, alho, sal e louro.

 Jornadas Técnicas do Porco Bísaro e Concurso Nacional da Raça Bísara

A qualidade do produto apresentado, é nada mais nada menos que o resultado de uma matéria-prima de excelência, a carne do porco bísaro, uma raça autóctone portuguesa.

A valorização e promoção da raça, fazem com que seja importante manter os produtores informados, dando-lhes as melhores ferramentas para a criação dos animais, incentivo e apoio que resultam no melhor fumeiro, o de Vinhais. De ressalvar que o fumeiro apresentado na Feira de Vinhais é de pelo menos 50 % de Porco Bísaro, e é exigido aos produtores que cumpram todas as regras de confeção (matéria prima, ingredientes, modo de preparação, cura e secagem) de cada um dos produtos. Toda a produção é controlada e acompanhada pela ANCSUB, desde o nascimento do porco até à colocação do produto no mercado.

Assim sendo, as Jornadas Técnicas do Porco Bísaro, bem como o Concurso Nacional de Suínos de Raça Bísara, fazem sempre parte do Programa da Feira do Fumeiro e servem de estímulo para todos os criadores da raça e transformadores de Fumeiro de Vinhais.

A aposta na qualidade tem sido fundamental na estratégia promocional da Feira. Um forte controlo em todo o processo produtivo, que passa pelo acompanhamento na criação dos animais, abate e elaboração do fumeiro, bem como a exigência de que a carne usada seja exclusivamente de raça Bísara, autóctone da Região.

 

Espaços de Venda

0 Pavilhão do Fumeiro vai contar com cerca de 70 produtores, um número considerável, sendo eles representantes do fumeiro certificado de Vinhais, na maioria são produtores do concelho de Vinhais, sendo alguns oriundos de outros locais da região de Trás-os-Montes.

0 Espaço Gourmet, com 60 stands, é a área que acolhe maravilhas como os doces conventuais, pastelaria típica de Vinhais, azeite, vinhos, queijos, entre muitos outros sabores, capazes de satisfazer os paladares mais exigentes.

O certame tem ainda um pavilhão onde estão as tasquinhas que servem o melhor da gastronomia vinhaense e um pavilhão onde vai estar em exposição todo o tipo de artesanato, oriundo de vários pontos do país, e onde vão estar também as empresas locais. São assim mais de 90 stands presentes neste espaço.

Há ainda exposição de máquinas agrícolas e feirantes de rua, contabilizando cerca de 500 expositores. 


EXPOSITORES:

Pavilhão do Fumeiro - 1800 m2 - 70 produtores

Espaço Gourmet - 900 m2 - 60 produtores

Tasquinhas / Bares - 1100 m2 - 8 tasquinhas e 12 bares

Artesanato e Empresas - 1500 m2 - 90 expositores

Espetáculos - 800 m2 - 5 bares

Máquinas Agrícolas - 1800 m2 - 12 expositores

Feirantes de rua: 200

Total de expositores na área coberta: 257

Total de expositores: 457

Total de área coberta: 6.700 m2

Área total de exposição: 25 450 m2

A Feira do Fumeiro de Vinhais realiza-se anualmente, em fevereiro, desde 1981. Destaca-se das demais pelo seu fumeiro de excelência que lhe valeu a atribuição do título de a “Capital do Fumeiro”.

Nos quatro dias de feira, além do fumeiro de raça bísara, estão disponíveis produtos naturais da região, artesanato, produtos gourmet, espetáculos musicais, luta de touros, tasquinhas e restaurantes preparados para receber milhares de visitantes todos os anos.

Retirado de www.cm-vinhais.pt


 

Festival do Butelo e das Casulas & Carnaval dos Caretos

Não é em vão que o concelho de Bragança é conhecido pelas melhores e mais genuínas tradições tanto ao nível da gastronomia, como da cultura.

O Festival do Butelo e das Casulas & Carnaval dos Caretos, de 9 a 13 de fevereiro, é a prova de que se consegue unir, num só evento, o melhor destes dois mundos, conjugado com a modernidade e património histórico e edificado de uma das cidades mais antigas do País.

“Trata-se de uma iniciativa que dinamiza não só o turismo, como toda a economia local. A capacidade hoteleira já está esgotada para esses dias”, destacou o Presidente da Câmara Municipal de Bragança em exercício, Paulo Xavier, durante a apresentação do Festival do Butelo e das Casulas & o Carnaval dos Caretos à comunicação social local, que teve lugar hoje, no Museu Ibérico da Máscara e do Traje.

É em pleno centro histórico que se encontra o epicentro do Festival do Butelo e das Casulas, que promove aquele que é prato por excelência do Entrudo transmontano. Na Praça Camões, que abre portas a 9 de fevereiro, com o maior número de expositores de sempre, num total de 40, oriundos dos Distritos de Bragança e Vila Real, com produtos como fumeiro, vinho, azeite, mel, doçaria e pão, artesanato, entre outros.

Até ao Dia de Carnaval (13 de fevereiro), vão decorrer showcookings com os chefes Óscar Geadas (Restaurante G, Estrela Michelin), António (IEFP), Hélio Loureiro e Marco Gomes (Restaurante Oficina).

Provas com produtos das Terras de Trás-os-Montes são outros dos momentos de passagem e paragem obrigatória para os apreciadores da boa gastronomia durante a iniciativa D’ Gustar TTM.

No espaço contíguo à tenda na Praça Camões, existe uma área de restauração, que funciona das 12:00 às 23:00 horas.

Em simultâneo decorre a Semana Gastronómica do Butelo e das Casulas. De 2 a 13 de fevereiro, nos 26 restaurantes aderentes.

E porque a época do Entrudo combina com alegria e folia, realiza-se o Carnaval dos Caretos, que tem o seu apogeu no dia 10 de fevereiro com o desfile de grupos de Caretos de Portugal e de Espanha, escolas e instituições do Concelho pelas ruas da zona histórica, culminando com a Queima do Diabo, no Largo do Castelo de Bragança.

Já no dia na segunda-feira de Carnaval (12 de fevereiro), decorre a apresentação do livro “Máscaras y Património – Etnografia Del Carnaval en el Siglo XXI”, na Praça Camões.

A 14 de fevereiro, Quarta-feira de Cinzas, é a vez do Diabo, a Morte e a Censura saírem à rua. O trio de mascarados percorre a zona histórica de Bragança atrás das raparigas, castigando-as, como forma de chamar a atenção para a necessidade de fazer penitência neste que é o primeiro dia da Quaresma.

O Carnaval dos Caretos é um evento que, partindo das Festas de Inverno, contribui para a preservação e dinamização da riqueza, identidade e diversidade cultural e etnográfica do Nordeste Transmontano.


Retirado de www.cm-braganca.pt



41.º aniversário do Instituto Politécnico de Bragança

O Instituto Politécnico de Bragança comemorou, hoje, o seu 41.º aniversário, com a realização de uma Sessão Solene que acolheu docentes, funcionários, colaboradores, alunos e representantes de diversas entidades, entre os quais o Presidente da Câmara Municipal de Bragança em exercício, Paulo Xavier.

“O sector da educação passa, atualmente, por momentos de grande conturbação, com uma grande fatia de alunos a não ter condições para fazer face às despesas, nomeadamente de alojamento. A realidade diz-nos que, no ano de 2023, 10,46% dos alunos abandonou os seus estudos ao final do primeiro ano.” Lamentou, acrescentando que é “fundamental a existência de políticas educativas inovadoras, adequadas aos desafios atuais que as escolas, alunos e professores enfrentam”.

O Presidente da Câmara Municipal em exercício destacou, ainda, o papel do IPB no que toca à responsabilidade social, económica e de coesão, em que se inclui, por exemplo, a “atração de alunos de outros locais, que contribui para o aumento da população jovem, tão importante num território marcado pelo envelhecimento e despovoamento”.

Além das habituais condecorações a alunos e colaboradores, foram entregues a Medalha de Honra Nacional do IPB e a Medalha de Honra Internacional do IPB e comemoraram-se, ainda, os dez anos de dupla diplomação entre o IPB e a Universidade Tecnológica Federal do Paraná.

 

Retirado de www.cm-braganca.pt

sábado, 20 de janeiro de 2024

TRANSPORTES DE DOENTES DEMORAM QUASE MAIS UMA HORA COM TROCA DE HELI DO INEM DE MACEDO

Helicóptero tem maior dimensão, o que impede que aterre nos heliportos dos hospitais de Bragança, Mirandela e Maçarelos, no Porto


O helicóptero do INEM, sediado em Macedo de Cavaleiros, não pode aterrar em alguns heliportos, nomeadamente nos dos hospitais de Bragança, Mirandela e Massarelos, no Porto, usado para helitransportes para o Hospital de Santo António, naquela mesma cidade. A aeronave foi substituída, pelo INEM, e tem até mais autonomia, mas tem maiores dimensões, o que significa que estes heliportos não estão certificados para a sua aterragem. No dia 1 de Janeiro entrou em vigor o contrato entre o INEM e a Avincis, empresa que detém o contrato de operação dos helicópteros de emergência médica e, nessa data, foi alocado a Macedo este helicóptero que, até então, estava na base de Évora. A transferência aconteceu porque a Avincis entendeu colocar duas das bases do país, Évora e Viseu, a trabalhar apenas 12h, ao invés das 24 que, até ali, cumpriam. Desta feita, as duas que fazem serviço em permanência, a de Macedo de Cavaleiros e a de Loulé, ficam também responsáveis pela área não assegurada durante o período nocturno pelos helicópteros das outras bases. Toda esta situação está a potenciar algo que, de todo, não se queria, “brincar com a saúde da população”, segundo considera o presidente do Sindicato dos Profissionais da Aviação Civil, Tiago Lopes, uma vez que os tempos de transporte de doentes entre hospitais demora, agora, em alguns casos, bastante mais que o normal. Refira-se que, neste momento, uma transferência entre Bragança e o Porto demora mais 50 minutos do que o habitual e de Bragança para Vila Real demora mais 40 minutos. Uma entrega em Bragança, após um acidente grave, demora mais 20 minutos. “A população corre o risco de não ser socorrida devidamente. Por enquanto ainda não aconteceu nada, mas poderá implicar uma morte”, rematou, dizendo que depois será necessário, caso isso mesmo venha a acontecer, apurar culpas. “Alguém vai ter de assumir essa responsabilidade porque nós já alertámos para isso e não há a desculpa de que não sabiam. Estamos a brincar com o segurança da população, tudo com o dinheiro do Estado”, assinalou ainda. 80% dos doentes socorridos pelo helicóptero sediado em Macedo de Cavaleiros passam por Bragança e 90% dos transportes que têm como o destino o Porto são para Massarelos, dois dos heliportos onde a actual aeronave não pode aterrar. Agora, em Bragança, por exemplo, a aterragem tem de ser feita no aeródromo, que fica a cerca de 11 quilómetros da unidade hospitalar. O que Tiago Lopes não entende é que a empresa está a receber mais este ano e a prestar um serviço inferior. “Saiu do Conselho de Ministros que iria fazer este ajuste directo por seis milhões de euros porque o concurso foi muito em cima da hora. Mas esse ajuste directo tinha de manter os serviços do contrato actual da altura, que eram quatro helicópteros 24h. Agora a empresa recebe os seis milhões, como se estivesse a fazer um serviço a 100%, quando na realidade está a fazer um serviço a 75%. Ganha mais dinheiro e serve menos a população, isto tudo com o erário público”, lamentou. Segundo esclareceu ainda, conforme terá dito o presidente do INEM, quando abriu o concurso concorreram duas empresas mas quanto à outra que concorreu não sabe qual foi o desfecho.

 

Autarca de Bragança afirma que socorro está comprometido

O presidente da Câmara Municipal de Bragança não tem dúvidas de que não foi acautelado o socorro da população. Hernâni Dias mostrou-se preocupado com a situação, uma vez que a nova aeronave tem agora de aterrar no aeródromo da Bragança, a 11 Km do hospital da cidade, ficando “seriamente comprometido” o socorro. “O socorro deve ser garantido imediatamente quando há necessidade de o fazer e por isso é que se trata de um transporte aéreo, que é para chegar muito mais rápido aos locais. Neste caso concreto há, de facto, esta falha enorme porque sabemos que um segundo salva-vidas ou deixa que as vidas desapareçam”, afirmou. Segundo o autarca, foi pedido para o helicóptero aterrasse no estádio municipal, logo ao lado do hospital. No entanto, Hernâni Dias explicou que o estádio, no Inverno, “está completamente encharcado e qualquer aeronave vai enterrar-se completamente e vai provocar danos gravíssimos na infra-estrutura”, além de não ter “uma estrutura montada que permita abrir o estádio e ligar as luzes à noite para garantir a segurança da operação”. “Se o heliporto estava certificado para um helicóptero mais pequeno não permite que aterre lá um helicóptero maior que diremos de um estádio municipal que nunca teve certificação para nada. Se é por falta de certificação não faz sentido nenhum o argumento”, vincou. Depois de o Sindicato dos Profissionais da Aviação Civil ter alertado que, com esta situação, o tempo de transporte de doentes entre hospitais demore mais 50 minutos e pode mesmo resultar em mortes, o presidente da câmara de Bragança quer que seja encontrada uma solução rapidamente. “Eu não sou especialista nem tenho conhecimentos técnicos para a apontar uma solução, mas espero que haja alguma que garanta, pelo menos, o mesmo nível de socorro à população que já existia e que não fiquemos prejudicados”, concluiu. A juntar-se a isso, desde 1 de Janeiro, dois dos quatros helicópteros de emergência médica ao serviço do INEM passaram a operar apenas 12 horas por dia, quando antes o faziam 24 horas.

 

Foto: Rádio Onda Livre 

Jornalistas: Carina Alves/Ângela Pais

Retirado de www.jornalnordeste.com