segunda-feira, 14 de outubro de 2024

Jorge Morais: Personagens (7)

Título da foto: Tio Chico

Chico Naireco, forma mais laxa "Chico Nareco" ou Chico Bigodes ou ainda, como na cédula, Francisco de Barros. Figura popular ímpar de gesto e dedo sempre frisando o assunto da conversa, polido no trato e esclarecido em muitas coisas, não era só o personagem de fábula dos peixinhos do rio que um invocado santo ou alminhas ajudaram um dado dia a pescar e depois, o mesmo santo ou alminhas, traídos, fizeram gorar a dita pescaria. Ou do caso do peculiar vassouro de varredor camarário que usava na sua vida profissional e que, no pós 25 de Abril, depositou com veemência em cima da secretária do presidente da câmara, invocando direitos que lhe eram sonegados, etc...

Pois foi a propósito deste vassouro que soube que o mesmo era obtido e preparado depois de uma atribulada viagem a uma zona de Vinhais; saber que o mesmo era uma ferramenta peculiar: Feito de um arbusto chamado "Lentisco" e que para ser obtido tinham que deslocar-se, os varredores, com alguma regularidade, longe, às margens do Rabaçal ou às encostas da denominada "Ponte de Arranca" nos limites de Vinhais onde era obtido. Já de regresso, em casa, as pernadas do arbusto eram molhadas em água e, só depois, formado o vassouro e apertado com rodelas vegetais para manter coeso este enorme instrumento que varria e arranhava os ásperos paralelos da velha urbe de Bragança durante muitas noites e dias. O ramerrame do dito combinado com o som ondulante da sirene da motora das 6 da manhã era um ex-libris da cidade, sobretudo para os madrugadores ou estudantes em estudo ou profícuas noitadas. Um gosto falar com ele e saber coisas várias da casa comum e até do mundo. Quem o retrata numa prosa irrepreensível é António Orlando dos Santos (Bombadas) no blogue "Memórias...e outras coisas...". Vale a pena ler, um texto colorido e confessional; eu aqui apenas deixo em registo fílmico um extrato captado com a minha máquina numa tarde soalheira junto aos claustros da Sé.


Fotografia e texto de Jorge Morais

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