domingo, 7 de junho de 2015

“Está a ser definido um conceito de interioridade equivalente ao estatuto dos Açores e Madeira”

Natural de Grijó de Vale Benfeito, o concelho de Macedo de Cavaleiros, Adriano Moreira tem um vasto currículo, destacando-se nas áreas da política e direito. O ex-ministro do Ultramar é actualmente presidente do Instituto de Altos Estudos da Academia das Ciências de Lisboa.
Este mês foi nomeado presidente do Conselho Consultivo da Unidade Local de Saúde do Nordeste. Adriano Moreira diz que foi “levado ao colo” para Lisboa mas nunca perdeu a ligação a Trás-os-Montes, onde passava as suas férias de Verão. Aos 92 anos, aceitou receber o Jornal Nordeste para uma conversa na Pousada de S. Bartolomeu, em Bragança, onde esteve recentemente alojado.

Jornal Nordeste – Os problemas das regiões do interior preocupam-no particularmente. Como caracteriza actualmente a região transmontana e, em particular, o distrito de Bragança?

Adriano Moreira – A nossa região sofreu sempre da interioridade em todas as épocas. Agora, atravessamos uma época de grandes exigências, dificuldades e sacrifícios da população. A emigração aumenta, o despovoamento cresce, o desemprego também… É um fenómeno geral no país mas, naturalmente, nestas regiões é mais intenso. Há uma grande tradição de afirmação do carácter dos transmontanos quando emigram. Durante muito tempo, a emigração foi para o Brasil, depois para a Angola… e com uma circunstância: em geral emigravam os homens e ficavam as mulheres. As mulheres governaram a sociedade civil. Foram elas que ficaram, ‘viúvas de homens vivos’, como disse um escritor nosso [Aníbal Rodrigues]. Essa homenagem tem que lhes ser prestada. Por outro lado, não obstante ser uma região pobre, é uma região com uma grande personalidade que todos mantêm: a identidade transmontana. Eu verifiquei isso em viagens por todas as comunidades no estrangeiro. Verifiquei que os transmontanos eram sempre solidários e muito ligados às suas origens e forneceram homens com uma intervenção extremamente importante na vida do país. Eu recordo, nos meus tempos de estudante, de aparecer num jornal de Lisboa, que se chamava ‘Sempre Fixe’, um desenho que imitava a linha do Marão e depois umas cabecinhas que eram, por exemplo, do Almirante Sarmento Rodrigues, do Ministro do Interior, de um Secretário de Estado do Ultramar, o Ministro das Finanças… Era uma meia dúzia de transmontanos que governava o país e o jornal chamava-lhe ‘a ilustre casa de Bragança’. É curioso que essa gente, que teve esse poder, não o utilizou em favor dos territórios de Trás-os-Montes porque tinha como que uma espécie de pudor de ter poder e poder parecer que o exercia em favor das regiões de que eram originários.

Quais são para si, os verdadeiros problemas relacionados com a interioridade no distrito de Bragança?

Neste momento, as circunstâncias de Portugal são muito sérias mas são um reflexo das grandes dificuldades que atravessa a Europa. Eu acho que a Europa a que nós aderimos está dividida entre uma Europa pobre e uma Europa rica. A nossa Europa pobre, às vezes, dá-me a impressão que é o Império Romano mas agora vestido de pobre porque tem o Chipre, a Grécia, Itália, Espanha, Portugal…A emigração é muito grande, o despovoamento é enorme e isso leva a um pensamento que está a ser desenvolvido no distrito, que creio que já está em organização. Como sabe, foi reconhecida pela Constituição a necessidade de um estatuto especial para os arquipélagos da Madeira e dos Açores. Está em estudo e em organização em Bragança um grupo que inclui vários professores universitários para definir um conceito de interioridade equivalente a esse conceito, mas de conteúdo diferente, para que tenham um regime que vá ao encontro da realidade e das exigências específicas do território. O grupo está já em organização, creio que está já a tratar da sede e creio que o senhor presidente do Município de Bragança tomou a orientação desse projecto. Vamos esperar que esses estudos e essa vontade, completamente desinteressada do ponto de vista pessoal, mas empenhada na situação da região, venham a ter propostas que sejam, ao mesmo tempo, exequíveis e produtivas em relação às dificuldades que estamos a enfrentar.

De que outra forma se poderiam resolver os problemas da interioridade?

Há coisas que são graves noutros lados mas que aqui, no interior, naturalmente são graves, como por exemplo o problema do afastamento dos serviços das populações. É o caso da saúde, da justiça… E isto tem de ser encarado. Sei que vai haver algumas reuniões sobre extinção de serviços. Temos de ter consciência das dificuldades que o estado enfrenta mas é preciso conhecer a realidade. Esses vão ser problemas que vão certamente ocupar essa nova organização. Há um problema que me chama especialmente à atenção, mas não vou dar soluções porque não se deve ser precipitado nem irresponsável nestas questões mas, o despovoamento é um dos problemas mais ameaçadores. Há problemas que dizem respeito à reforma do estado e que penso que deviam ser considerados. As regiões transfronteiriças precisam de ter uma política própria.

Qual a importância que acha que o Instituto Politécnico tem no distrito e na região transmontana?

Os politécnicos, em geral, estão com dificuldades, sobretudo em regiões em que o despovoamento é grande. É evidente que as dificuldades não são iguais em todos os sítios mas é extraordinário que, apesar das circunstâncias a interioridade serem tão adversas, a qualidade do ensino do Instituto Politécnico de Bragança, seja reconhecida em todo o país. O politécnico de Bragança tem defendido a qualidade, tem tido iniciativas extraordinárias e é um elemento dinamizador imprescindível, sobretudo nas circunstâncias difíceis da região. Imagine que suprimiam o politécnico… Não é difícil de imaginar o que isso representaria para a própria cidade de Bragança. Esta instituição tem um corpo docente bastante competente e uma direcção bastante dinâmica.


Reserva da Biosfera Transfronteiriça Meseta Ibérica com boas perspectivas de aprovação

Os responsáveis da UNESCO mostram confiança em relação à possível aprovação da Reserva da Biosfera Transfronteiriça da Meseta Ibérica.
Elisabete Silva, do Comité Científico Nacional da UNESCO, acredita que o território que envolve Bragança, Salamanca e Zamora possa receber a chancela da entidade já na próxima semana. Declarações, durante a visita de um comité internacional da instituição, ao território, o último passo antes da tomada de decisão. “A UNESCO já fez uma pré-avaliação pelo comité consultivo e científico que foi favorável, e é um bom indicador. Houve um trabalho muito complexo, em que a equipa teve uma grande preocupação de cumprir os requisitos e critérios exigidos e tudo indica que a aprovação possa vir a acontecer”, frisa Elisabete Silva. A comitiva da UNESCO passou pelo Parque Natural de Montesinho, por Bragança, Vimioso, Mogadouro e pelo Parque Natural do Douro Internacional, passando também por Salamanca e Zamora. O território foi visitado ainda pelo chefe de secção do comité Man and Biosphere (MaB) da UNESCO. Para Miguel Godt esta é uma candidatura especial visto que há em todo o mundo apenas 14 reservas que unem dois países. “A nível mundial há 631 reservas da biosfera e em Portugal há 7 até agora, e em todo o mundo há apenas 14 transfronteiriças, que é algo muito especial e rara a vontade de trabalhar com os seus vizinhos”, saliente o membro do secretariado da UNESCO. Será já no início da próxima semana que se ficará a saber se a Meseta Ibérica receberá o selo de qualidade da UNESCO, altura em que os 35 estados membros vão decidir se é declarada reserva da biosfera.

Escrito por Brigantia.

Retirado de www.brigantia.pt