sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

Com a esperança de que o Natal tenha corrido bem...

...aqui estamos mais uma vez para lhes desejar boas festas!

Que a despedida do ano velho se paute por muita alegria, amor, saúde, paz e as pessoas que amamos.

Que 2022 possa gritar bem alto o fim da sars covid 2 ou a sua banalização como se fora uma nova e inofensiva gripe.

Cheios de esperança, desejamos a todos o melhor.

Sejam, por favor, felizes, embora a felicidade seja um conceito difícil de realizar em toda a sua plenitude. 




  Maria e Marcolino Cepeda

segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

Sem tempo, devagar

Sem tempo, devagar

Apenas aqui te podes demorar

Não penses, não chores.

És um momento

Nas asas de uma gaivota.

Um leve tormento

Na azáfama da lota.

Não és pescador

Na luta inclemente

Tua inocente dor.


Maria Cepeda

Pôr-do-sol


 A beleza está em qualquer coisa e em qualquer lugar. 

Basta que estejamos atentos.

Olhar não é a mesma coisa que ver.

Ver é ato físico. Vejo porque tenho olhos que veem.

Já olhar é interpretar, sentir, guardar...


Maria Cepeda 











domingo, 12 de dezembro de 2021

Sabor Brasil (2)

Em casa estavam a minha mãe com o meu irmãozinho e a tia Joaquina que se afadigava a acabar de arrumar as coisas para a mudança. Entrámos. Os meus primos começaram a mostrar-me os seus brinquedos. Eu estava deslumbrada. Nunca tinha visto nada assim. Os meus brinquedos resumiam-se a uma boneca de trapos

A casa era pequena. Um quarto, uma sala, uma cozinha. Um banheiro fora de casa… A que tínhamos deixado na aldeia tinha quatro quartos, duas salas, uma cozinha enorme e uma casa de banho com banheira. Estranhei.

O meu tio Alfredo e família mudaram-se nesse dia para uma nova residência, deixando-nos a que ficava nas traseiras da lanchonete. O tio Joel viveu, durante algum tempo, connosco. Mudou-se depois de comprar o seu primeiro negócio. Pouco depois casou e foi construindo a sua vida.

O meu pai e o tio Alfredo continuaram sócios até à morte do meu tio.

Não sei se estava preparada para viver noutro país, numa cidade enorme, com usos e costumes tão diferentes dos meus, com uma língua parecida mas não igual… e as pessoas? Felizes, alegres, comunicativas, simpáticas, empáticas, enfim… diferentes.

O meu pai foi matricular-me num colégio perto da lanchonete. Antes de irmos para São Paulo eu tinha acabado o segundo ano de escolaridade. Deveria ser matriculada no terceiro ano. Não foi o que aconteceu. A professora achou melhor que eu frequentasse o mesmo ano. Se eu fosse boa aluna, frequentaria o terceiro.

“Vai ver senhora professora que a minha menina é inteligente. Falamos daqui a um mês. Me vai dar razão.”

“Veremos senhor José… sabe que foi uma mudança muito grande pra menina.”

Eu assistia à conversa deliciada com a maneira de falar da professora, mas o que mais me encantava era o seu aspecto. Alta, cabelo perfeitamente penteado, bem maquiada, batom vermelho nos lábios e umas maravilhosas unhas compridas, também pintadas de vermelho. Nunca, na minha curta vida, vira uma mulher assim. Antes de me apaixonar pela escola, apaixonei-me pela professora.

“Então até amanhã senhora professora.”

“Até amanhã Sr. José. Chau Ana Clara.”


Maria Cepeda

terça-feira, 30 de novembro de 2021

Lídia Machado dos Santos - As Paisagens Junqueirianas em A Velhice do Padre Eterno (Editorial Novembro 15€)

1- Qual a ideia que esteve na origem deste seu livro «As Paisagens Junqueirianas em A Velhice do Padre Eterno»?

R- A principal ideia subjacente a esta investigação está, naturalmente, relacionada com a necessidade de apresentar o poeta Guerra Junqueiro à geração atual e até às últimas gerações, uma vez que, não sendo um autor estudado no ensino secundário e, raramente, no ensino universitário, há que despertar para a vida e a obra de um homem imensamente intervencionista no seu tempo, não só do ponto de vista social, mas também político. Além disso, e por se tratar de um autor multifacetado, o estudo de uma das suas principais obras («A Velhice do Padre Eterno») viria a tornar-se, como, aliás, se veio a confirmar, muitíssimo aliciante.

2-Como nasceu o seu interesse por Guerra Junqueiro e pela sua obra?

R- Tal como muitos portugueses, também eu conhecia somente o nome Guerra Junqueiro e a sua origem transmontana. Sabia, contudo, ter sido um político e um sociólogo de génio. Faltava a incursão pela sua vida e pela sua obra. O interesse surgiu no dia em que abri «A Velhice do Padre Eterno» e pasmei perante a força e a audácia das palavras. Pasmei ainda mais quando li «Os Simples» e a restante obra. A partir daí, a busca tornou-se incessante e transformou-se num projeto de Pós-doutoramento concluído em janeiro passado sob a orientação do Professor Ernesto Rodrigues, na Faculdade de Letras de Lisboa. É claro que o interesse não se esgota num pós-doutoramento. Investigar Guerra Junqueiro, nas suas mais variadas facetas, requer um trabalho contínuo e apurado, integrado no seu tempo e para lá deste.

3-Porque considera importante ler “A Velhice do Padre Eterno” nos dias de hoje?

R- «A Velhice do Padre Eterno» é, antes de tudo, uma das pérolas da literatura portuguesa, como também «D. João», «Pátria», «Os Simples», etc. Ler «A Velhice» é ler o período que antecedeu a República portuguesa; é ler sobre a viragem do século no ponto de vista religioso, social e político. Está tudo lá: “a Luz, a Injustiça social, a Morte, o Desespero, a Fome, a Ignorância, a Degradação, mas também o apelo à Fé, à Mudança, à construção de um Mundo Renovado capaz de assentar em valores promulgados pela Paz, pela União e pelo Bem-estar coletivo”. «A Velhice» é um retrato fiel do Portugal de então e representa os grandes temas pelos quais se debateu Guerra Junqueiro” tal como digo em «As Paisagens Junqueirianas em «A Velhice do Padre Eterno»». «As Paisagens Junqueirianas» são isso mesmo – um conjunto de cenários através dos quais o leitor é convidado a ver e a integrar-se, a refletir. Não são cenários/paisagens inocentes. São cenários/paisagens aos quais o narrador pretende atribuir um fundo de verdade para a seguir espicaçar a sociedade do final do século XIX.


Retirado de www.novoslivros.pt 

sábado, 20 de novembro de 2021

Entrevista audio realizada ao Prof. Doutor Fernando Faria-Correia




Estamos a transcrever a excelente entrevista com o Professor Doutor Faria-Correia. 
Enquanto isso, ouçam este jovem e talentoso transmontano que, apesar de viver no Porto e um pouco por todo o mundo leva Trás-os-Montes no coração.



Maria Cepeda

terça-feira, 16 de novembro de 2021

Sabor Brasil

    Boquiaberta, olhos arregalados, não conseguia deixar de olhar pela janela do táxi. Ao meu lado, a minha mãe com o meu irmãozinho ao colo, mais assustada, não menos surpreendida, olhava admirada para fora. No banco ao lado do motorista, o meu pai, o meu português tranquilo... Os seus grandes olhos, porém, diziam o que lhe ia no coração. As suas muitas preocupações e incertezas cintilavam no verde que os pintava mas, ao mesmo tempo, o amor e a bondade resplandeciam quando virava a cabeça para olhar para nós. O seu sorriso não conseguia esconder o orgulho que sentia da sua pequena família, agora recuperada.  
    Era cedo. O trânsito era pouco e a viagem corria bem. Mesmo assim, faltava uma boa meia hora até chegarmos a casa. 
    De vez em quando, o meu pai virava-se para olhar para nós e sorria. O bebé choramingava e a minha mãe, antes que chorasse a sério, deu-lhe de mamar.
    O meu irmão ainda não tinha três meses e a viagem fora muito longa. Dez horas de voo, recolher a bagagem, apanhar um táxi, chegar a casa... Grandes emoções.
    Chegámos finalmente à Vila Maria onde nos aguardavam o meu tio Alfredo, a mulher e os filhos e o tio Joel ainda solteiro. 
    Eu não os conhecia. Ainda não tinha um ano quando deixaram Portugal depois de receberem as cartas de chamada enviadas pelo meu pai, que, por sua vez, a tinha recebido do seu primo Luís.
    Depois dos abraços apertados de muita saudade dos que vieram e dos que lá ficaram, os homens retiraram as muitas malas do táxi. O meu pai pagou e o taxista foi à sua vida. 
    A tudo assisti serena. Era tudo novo, mas era como se eu já tudo conhecesse. Antes de entrarmos na casa onde agora habitaremos, fomos para o café.
    - Tens fome garota? - Perguntou o meu tio Joel.
    - Tenho. 
    - Senta-te aqui. 
    Com alguma dificuldade em subir para o banco, lá me encavalitei para chegar ao balcão onde o meu tio me colocou um pastel de carne à moda do Brasil e um suco de manga.
    Nunca vira nem comera ou bebera nada assim. Tentava descobrir o que seria mas, a verdade era que tinha fome e, sem mais delongas, peguei no pastel quentinho e dei a primeira dentada... Nunca mais esqueci o sabor que me ficou na boca. Começou nesse momento o meu amor pelo Brasil.
    Não me fazendo rogada, comi com enorme prazer o melhor pequeno almoço do mundo. 
    Os meus primos, mais ou menos da minha idade, espreitavam escondidos atrás do meu tio Alfredo. Não tiravam os olhos de mim como se eu fosse um ser de outro planeta. 
    - Anda cá Ana Clara. - Chamou o meu tio.
    Saltei do banco e fui ter com eles. Olhávamos uns para os outros como se tivéssemos medo de estragar um sonho muito bonito.
    - Vai Francisco, leva a tua prima para casa. Ide brincar. 
    Lá fomos os três, ainda tímidos, desconfiados, ansiosos por nos conhecermos...

  Maria Cepeda

sábado, 6 de novembro de 2021

Professor Doutor Fernando Faria-Correia (MD, PhD, FEBOS-CR, P-CEO)

Entrevistámos, ontem, na Biblioteca Professor Adriano Moreira, o Prof. Doutor Faria-Correia, médico oftalmologista, natural de Bragança.

Aqui deixamos o seu currículo abreviado. Brevemente publicaremos a entrevista. (Maria Cepeda)

O Dr. Fernando Faria Correia é especializado em cirurgia refrativa, córnea e cirurgia de catarata, é revisor de várias publicações científicas, tais como “American Journal of Ophtalmology”, “Ophtalmology” e “Journal of Refractive Surgery”, além de pertencer ao Grupo de Estudos de Tomografia e Biomecânica do Rio de Janeiro. Ao longo dos últimos anos publicou dezenas de artigos científicos e recebeu inúmeras distinções.

Concluiu a licenciatura em Medicina na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto em 2007 e realizou o internato de formação específica em Oftalmologia no Centro Hospitalar São João, Porto, Portugal (2009 - 2012). Durante o último ano de internato, integrou um fellowship de Córnea e Cirurgia Refrativa, liderado pelo Prof. Doutor Renato Ambrósio Jr., no Instituto de Olhos Renato Ambrósio e VisareRio (Rio de Janeiro, Brasil). Em 2013, realizou outro fellowship em Catarata e Cirurgia Refrativa, liderado pelo Dr. George O. Waring IV, na Medical University of South Carolina, Storm Eye Institute em Charleston, Carolina do Sul, EUA

Além de ter uma prática clínica movimentada, o Prof. Doutor Faria-Correia atua ativamente na pesquisa clínica e integra as atividades do Grupo de Estudos em Tomografia e Biomecânica da Córnea do Rio de Janeiro. Ele publicou mais de 100 trabalhos científicos, incluindo artigos, capítulos de livros e resumos em reuniões de sociedades científicas. O Prof. Doutor Faria-Correia também atua ativamente no ensino, sendo instrutor em vários cursos e orador-convidado em distintas conferências internacionais. Os seus interesses clínicos e científicos incluem novos desenvolvimentos na imagiologia do segmento anterior, diagnóstico de ectasia da córnea, correção da visão a laser e lentes intra-oculares de correção da presbiopia. Ele foi citado pela The Ophthalmologist na sua Power List "Top 40 Under 40" em 2015.

Em 2017, o Prof. Doutor Faria-Correia defendeu sua tese de doutoramento em Medicina intitulada "Scheimpflug-based lens densitometry for preoperative assessment of age-related nuclear cataracts". Ele também obteve o título de Fellow of the European Board of Ophthalmology - Specialist Diploma in Cataract and Refractive Surgery (FEBOS-CR), depois de passar no exame desenvolvido pelo European Board of Ophthalmology (EBO) e pela European Society of Cataract and Refractive Surgeons (ESCRS) em 2018. Durante 2019 também concluiu o curso de Physician CEO na Kellogg School of Management da Northwestern University (Evanston, IL, EUA).

O Prof. Doutor Faria-Correia é revisor ​​de várias revistas internacionais de Oftalmologia, incluindo o Journal of Refractive Surgery e o Journal of Cataract and Refractive Surgery. Desde 2020, ele faz parte do conselho editorial da Cataract and Refractive Surgery Today Europe e é membro do Conselho Internacional da International Society of Refractive Surgery (ISRS).

Atualmente, também é Editor-Chefe da Revista Oftalmologia da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia 

FOI REFERENCIADO PELA "THE OPHTHALMOLOGIST" NA LISTA DOS 40 MELHORES JOVENS OFTALMOLOGISTAS DO MUNDO EM 2015

Há um português na lista dos 40 melhores jovens oftalmologistas do mundo. O Dr. Fernando Faria Correia é investigador da Escola de Ciências da Saúde (ECS) da Universidade do Minho e foi o único especialista da Península Ibérica a integrar a lista “Top 40 under 40”, elaborada pela “The Ophthalmologist”, a principal revista científica do setor.

“Faria Correia é um oftalmologista talentoso que tem publicado artigos importantes na área do ceratocone, catarata e cirurgia refrativa. Será um futuro líder e continuará certamente a contribuir para a evolução deste domínio”, referiu o júri que elaborou este top.

Retirado de www.newsfarma.pt

terça-feira, 2 de novembro de 2021

'Bragança Naturalmente!' conquista quatro prémios em Festival Internacional de Cinema de Turismo (2021/10/30)






O vídeo promocional “Bragança. Naturalmente!”, lançado em 2020 pelo Município de Bragança, foi ontem premiado, no ART&TUR – XIV Festival Internacional de Cinema de Turismo.

A cerimónia decorreu no Centro de Congressos de Aveiro e premiou o vídeo produzido pelo Município de Bragança em quatro categorias: Destinos Turísticos – Cidades/Locais (1.º Prémio), Impacto Emocional, Originalidade e Vídeo Promocional até 15’’ (Melhor Filme).

Marcaram presença na entrega de prémios Hernâni Dias, Presidente da Câmara Municipal de Bragança, Miguel Abrunhosa, Vereador das áreas de Promoção Económica e Turismo, André Costa, modelo internacional brigantino e protagonista do vídeo [ver página 3], e Marco Neiva, produtor/realizador do filme.

“Este reconhecimento comprova não apenas a qualidade técnica do vídeo, mas também o conceito e originalidade subjacente a toda a campanha Bragança. Naturalmente!”, referiu Hernâni Dias, Presidente da Câmara Municipal de Bragança, à margem da entrega de prémios, sublinhando que “além do impacto real na economia e no desenvolvimento local, num período tão marcante como o da pandemia, esta ambiciosa abordagem trouxe notoriedade ao território e um reforço muito positivo para o sentimento de pertença de toda a comunidade”. “Recordo que o vídeo foi visto por mais de um milhão de pessoas em todo o mundo e os resultados ao nível do turismo em Bragança são, efetivamente, uma referência nacional”, concluiu.

O ART&TUR – Festival Internacional de Cinema de Turismo comemora a 14.ª edição, alcançando já um elevado reconhecimento internacional, uma vez que integra o Comité Internacional dos Festivais de Filmes de Turismo, responsável por eleger, anualmente, o melhor filme de turismo a nível mundial. O júri deste concurso é composto por 34 membros, oriundos de Portugal, Estados Unidos, Chile, Irão, Brasil, Índia, África do Sul, Irlanda, Filipinas, Itália, Espanha, Maurícia, Holanda, Lituânia, Croácia, Canadá, Japão, Indonésia e Polónia.

No total, foram 74 os filmes nomeados para o Festival. Além dos quatro prémios conquistados pelo Município de Bragança, destaque para o Turismo Porto e Norte de Portugal, que arrecadou oito, e para Braga, que conseguiu um, sendo as únicas premiadas da região norte de Portugal.

Recordamos que “Bragança. Naturalmente!” está enquadrada num Plano Estratégico de Médio/Longo Prazo para desenvolvimento do turismo e da dinâmica económica local, promovendo o território como um destino natural, seguro, próximo, tranquilo e autêntico. No fundo, o lugar ideal para criar memórias que perduram para sempre.

Retirado de www.cm-braganca.pt

Virgílio Nogueiro Gomes lança o livro "À Portuguesa: Receitas em Livros Estrangeiros até 1900", em Bragança, 28/10/2021

 “À Portuguesa: Receitas em Livros Estrangeiros até 1900” foi apresentado, ontem, na Biblioteca Municipal de Bragança com a presença da Vereadora da Cultura, Fernanda Silva e a Presidente da Academia de Letras de Trás-os-Montes, Assunção Anes Morais, entre outros convidados. 

De realçar as seguintes palavras do autor, transmontano, nascido em Bragança: “Um ingrediente presente na maioria das receitas de doçaria é a laranja. Sendo que Portugal foi um grande distribuidor de laranja doce, o que levou a que, em muitos países, a palavra que designa o fruto se relacione com a etimologia do topónimo Portugal”.

São 118 receitas, dos séculos XVII, XVIII e XIX, que pretendem salientar parte da identidade portuguesa na cozinha estrangeira.




Fotos de Maria Cepeda

Maria Cepeda

Receitas à Portuguesa (www.novoslivros.pt)


 1-Qual a ideia que esteve na origem deste seu livro «À Portuguesa: Receitas em livros Estrangeiros até 1900»?

R- Tudo começa com os meus estudos de “Menus” europeus nos quais surgiam, por vezes, denominações «à portuguesa» sem que encontrasse nos livros da época as receitas. Decidi fazer uma investigação cuidadosa de livros desde o século XIV e especialmente em reino Unido, França, reinos de Espanha e da Península Itálica. Encontrei as primeiras receitas em 1604 e optei por terminar em 1900 pois o século XX é pródigo em muito receituário e muita divulgação.

2-A obra evidencia um facto nem sempre claro para nós, portugueses: muitas receitas nossas tiveram um expressão relevante em vários países e em várias épocas: a que se deve esta situação?
R- Não foi fácil entender e especialmente para as receitas de salgados. Tentei abordar factos ou situações de proximidade do local de publicação e a presença de portugueses que tenham estado naquele tempo e naquele território. Há livros mais fáceis como o de 1611 pois foi o cozinheiro que acompanhou o Rei Filipe II enquanto esteve em Portugal. Também o livro de 1669 pois são receitas que a Rainha Catarina, Princesa de Portugal mais gostava que lhe confecionassem na corte do Reino Unido. Quanto aos doces, a maioria deve-se ao facto de os portuguese terem distribuído pela Europa a “laranja doce”. Assim, doces com laranja doce remetiam a sua denominação para Portugal.

3-No âmbito da sua pesquisa para este livro, o que mais o surpreendeu?
R-  Possivelmente as biografias dos autores das receitas.
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Virgílio Nogueiro Gomes
À Portuguesa: Receitas em Livros Estrangeiros até 1900
Marcador

Ernesto Rodrigues: «Sê todo em cada coisa. Põe quanto és / No mínimo que fazes.» (www.novoslivros.pt)

 

Ernesto Rodrigues é um autor dos sete instrumentos: ficção, poesia, teatro.
Desde os anos 70 do século XX que vem construindo uma obra com um estilo muito próprio. 
Em 2021, publicou um romance (A Terceira Margem) e uma antologia das suas peças de teatro.

O que é para si a felicidade absoluta?
A serenidade junto dos meus – família e amigos –, atento aos ruídos do mundo.

Qual considera ser o seu maior feito?
Pacificar-me.

Qual a sua maior extravagância?
Um casamento falhado.

Que palavra ou frase mais utiliza?
Calma.

Qual o traço principal do seu carácter?
Integridade.

O seu pior defeito?
Credulidade.

Qual a sua maior mágoa?
Ver morrer um irmão.

Qual o seu maior sonho?
Deixar, na memória de alguns, um verso, frase, personagem ou obra conseguida.

Qual o dia mais feliz da sua vida?
17 de Junho de 1956.

Qual a sua máxima preferida?
«Sabes o que eu chamo ser bom: ser de uma bondade perfeita, absoluta, tal que nenhuma violência ou imposição nos possa forçar a ser maus.» Séneca, a Lucílio.

Onde (e como) gostaria de viver?
Em Roma, gozando a reforma.

Qual a sua cor preferida?
Verde.

Qual a sua flor preferida?
Amor-perfeito.

O animal que mais simpatia lhe merece?
Cavalo.

Que compositores prefere?
Bach, Mozart, Beethoven, Schubert, Duke Ellington, John Coltrane.

Pintores de eleição?
Piero della Francesca, Mantegna, Bosch, Leonardo, Bruegel (o Velho), Cézanne.

Quais são os seus escritores favoritos?
Cervantes, Vieira, Flaubert, Camilo, Eça, Kafka, Céline, Borges, Márai Sándor, Miguéis, Buzzati.

Quais os poetas da sua eleição?
Camões, Baudelaire, Pessoa, Drummond de Andrade, József Attila, Jorge de Sena.

O que mais aprecia nos seus amigos?
Lealdade.

Quais são os seus heróis?
Meus pais, Aristides de Sousa Mendes e quantos, sem segundas intenções, se dedicam aos outros.

Quais são os seus heróis predilectos na ficção?
Calisto Elói, em A Queda Dum Anjo, e os sujeitos que se contam em Peregrinação, de Fernão Mendes Pinto, Fastigínia, de Tomé Pinheiro da Veiga, e Uma Solidão Demasiado Ruidosa, de Bohumil Hrabal.

Qual a sua personagem histórica favorita?
Marco Aurélio.

E qual é a sua personagem favorita na vida real?
Teresa Martins Marques.

Que qualidade(s) mais aprecia num homem?
Inteligência multiforme.

E numa mulher?
Inteligência multiforme.

Que dom da natureza gostaria de possuir?
Harmonia.

Qual é para si a maior virtude?
Solidariedade.

Como gostaria de morrer?
Serenamente, ouvindo “Nessun dorma”, do Turandot de Puccini.

Se pudesse escolher como regressar, quem gostaria de ser?
Eu mesmo.

Qual é o seu lema de vida?
«Sê todo em cada coisa. Põe quanto és / No mínimo que fazes.»

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Ernesto Rodrigues na “Novos Livros” | Entrevistas

terça-feira, 26 de outubro de 2021

Pauliteiros de Miranda arrancam aplausos no Dubai em dia das Nações Unidas (Lusa em Dom, 24/10/2021)

"É ENORME EM PODER LEVAR AS DANÇAS E OS TRAJES A TODO O MUNDO”


Os Pauliteiros de Miranda arrancaram hoje aplausos de uma plateia multicultural, composta por visitantes provenientes de vários países, no decurso das duas atuações na Expo Dubai 2020, numa altura em que procuram o reconhecimento da Unesco.

Os Pauliteiros de Miranda dançaram na área frontal do pavilhão de Portugal instalado nesta exposição mundial no dia que é dedicado às Nações Unidas e que não deixou os visitantes indiferentes ao som da gaita de foles, caixa de guerra e bombo. O característico bater dos paus e as castanholas de madeira, mostram que a sonoridade é importante para estas danças ancestrais.

Apesar de algum nervosismo e agitação inicial, entre as peças do traje e afinação de instrumentos, os Pauliteiros de Miranda, no distrito de Bragança, não deixaram os créditos por mãos alheias, sabendo que a sua imagem vai percorrer o mundo, através de num palco tão “privilegiado” como é a Expo Dubai 2020, numa altura em que estas danças procuram o estatuto de Património Imaterial da Humanidade.

Danças ou “lhaços” como o Assalto ao Castelo, 25 de Roda, Fado, entras do seu vasto reportório que assenta no cancioneiro e danças tradicionais do Planalto Mirandês não deixaram indiferentes quem se concentrou em frente ao pavilhão de Portugal para assistir a este evento tido como “único”.

A jovem Gabriela Rodrigues é a porta-estandarte dos Pauliteiros de Palaçoulo, no concelho de Miranda do Douro, e que representam os vários grupos existentes no território do Planalto Mirandês e que garante que transportar este símbolo “é uma enorme responsabilidade”.

“É uma grande responsabilidade e acima de tudo um grande orgulho ser porta-estandarte dos Pauliteiros. Falo por todo quando digo que o orgulho é enorme em poder levar as danças e os trajes a todo o mundo”, vincou.

Para Rui Preto, um dos dançadores do grupo que representa os Pauliteiros de Miranda na Expo Dubai 2020, disse que há muita responsabilidade de cada vez que se veste o traje de Pauliteiro.

“Hoje houve um pouco de nervosismo. Mas quanto maior o nervosismo, maior será o nível das nossas atuações. Agora esperamos atingir o patamar de Património Imaterial da Humanidade”, frisou o dançador.

Para o comissário-geral de Portugal para a Expo 2020 no Dubai, Luís Castro Henriques, não há melhor montra e esta foi uma oportunidade “ótima” para os pauliteiros de Miranda se mostrarem ao mundo.

“A Expo Dubai já contabilizou mais 700 mil visitantes, esta foi uma boa oportunidade para os nossos Pauliteiros surpreenderem os visitantes o que lhes dará uma grande força para a sua candidatura a Património Imaterial da Humanidade que está ser dinamizada de momento ”, vincou o responsável.

Os Pauliteiros de Miranda do Douro, cuja candidatura a Património Imaterial da Humanidade está a ser preparada, representaram hoje o destino Porto e Norte de Portugal na Expo 2020 Dubai, com duas atuações, numa ação conjunta do Turismo do Porto e Norte [TPNP] e da AICEP [Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal].

A origem da dança dos Pauliteiros não reúne consenso entre os investigadores.

“Esta terá nascido durante a idade do ferro, na Transilvânia, espalhando-se posteriormente pela Europa”, afiançam alguns.

Alguns autores, tal como o Abade de Baçal, defendem que a sua origem se deve à clássica dança pírrica guerreira dos gregos.

Este investigador, já falecido e tido como uma das maiores referências etnografia do Nordeste Transmontano, dizia que via poucas diferenças entre esta dança e a dança dos Pauliteiros tais como a substituição das túnicas pelas saias, o escudo pelo lenço sobre os ombros, os chapéus enfeitados e a utilização da flauta pastoril.

Mas a dança dos pauliteiros manifesta também vestígios de danças populares do sul de França e na dança das espadas dos Suíços na idade média.

Os romanos seriam os responsáveis pela propagação da dança pírrica a esta região.

Para caminhar ao tão desejado estatuto de Património Mundial da Humanidade já foi feito o registo no Matriz PCI - Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial, para depois mais tarde se avançar com as formalidades da candidatura. Este registo é obrigatório desde 2018 e está praticamente pronto.

A Expo 2020 Dubai conta com a participação de 192 países e é a primeira a decorrer no Médio Oriente entre 01 de outubro e 31 de março e tida como “ o grande evento à escala mundial depois da pandemia”.




Retirado de www.diariodetrasosmontes.com

O MUSEU DA LÍNGUA (Texto do Professor Adriano Moreira, publicado no dia 22 de outubro de 2021, no "Diário de Notícias")

Nesta data as responsabilidades e inquietações dominantes são provocadas pelos desafios do desequilíbrio da paz, a debilitação das alianças, da importância do credo mundial de valores humanos, que são os significados do projeto da ONU, que neste período é declarado frágil e arriscado pela voz do secretário-geral, que denuncia o risco de a organização estar ameaçada por um pântano dissolvente.

Embora este seja o inquietante risco da paz global, tem exigência e sentido mostrar, e apreciar, tradições que ligam o passado ao futuro reconduzindo ao equilíbrio e à paz, com interventores cujo exemplo assegura, por exemplo, que as intervenções do Papa Francisco aparecem gratificando a esperança de todo o género humano, independentemente da fé, da etnia e da cultura identificadora. Entre essas culturas reapareceu a adesão à importância da língua portuguesa com o sinal que foi dado com a reconstrução do Museu da Língua Portuguesa na grande cidade de São Paulo, que não dispensou esse símbolo ao lado das instituições académicas valiosas que possui. A perceção do significado da reconstrução e da inauguração do museu foi compreendido e sublinhado pela presença na cerimónia do professor Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República Portuguesa, num grupo em que se encontravam o presidente de Cabo Verde, os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Michel Temer e a ministra da Cultura de Angola. No discurso do Presidente português podemos destacar estas palavras que a imprensa recolheu: "Para não esquecer as cinzas do passado mas a partir delas reconstruirmos o futuro."

A multidão que assistiu à histórica inauguração lembra o conceito que um dia veio da intervenção do então reitor da Universidade de Brasília, que afirmou que assim como Dante foi indispensável para a identidade de Itália, e Cervantes para a identidade de Espanha, Camões para Portugal, Gilberto Freyre foi para o Brasil e para a unidade da CPLP. Em Portugal, aconteceu na cidade de Bragança ser prestada homenagem, com a atribuição de um prémio literário, a Fabiana Ballete de Cara Araujo, académica de São Paulo, que pôde ser surpreendida pelo facto de ali estar em construção o primeiro Museu da Língua Portuguesa no nosso território.

Tratando-se de consagrar também a intervenção cultural que a riqueza da província deve ao antigo presidente da câmara Eng. António Jorge Nunes e ao atual presidente, Dr. Hernâni Dias, não pude deixar de lastimar, junto desses amigos, o impedimento que tenho para ir a Bragança, de lhes enviar o sentimento que tive lembrado das numerosas e valiosas instituições culturais que ali se encontram.

Mas o próprio nome do livro da homenageada Fabiana Ballete de Cara Araujo sobre O Silêncio Guardado nas Horas desperta e acompanha a persistência com que ali se cumprem os deveres de enfrentar os desafios das crises que sofremos mas sem nunca dispensar as obrigações que hoje são sobretudo referidas e pregadas pelo Papa Francisco. Voltando a colocar em vigor o histórico movimento de Assis, seguros de que a sua importância acompanha o que se passou em São Paulo, onde não faltou a intervenção do nosso Presidente da República.

Recordei na carta as palavras do Papa Francisco, que se articulam com as do secretário-geral da ONU e a mobilização internacional portuguesa. Tudo lembra também a discutida relação entre passado, presente e futuro, em que nem sempre pareceu que o passado não é recebido a benefício de inventário, mas é o legado da geração que se segue que tenta o legado do futuro da geração que se segue e com a qual não seremos conviventes. O desafio é estar na criação do legado, sem ignorar que o risco é de não terem sido eliminados erros.

No que toca à língua portuguesa, e ao significado particular da reconstrução do Museu de São Paulo, e da construção do Museu da Língua em Bragança, parece de admitir que não se trata de qualquer valor imperial que se atribua, e que tem o relevo referente à avaliação e adjetivação utilizada por Gilberto Freyre em discurso feito em Lisboa, ponto de partida para o por si criado lusotropicalismo, suscitando livres divergências intelectuais, que não rodearam ainda os restantes autores europeus citados pelo reitor de Brasília. A língua não parece implicar conflitos legais, quando em todos os países que a adotaram, e a nossa, aceitaram e criaram diferentes inovações. Isto parece tornar mais aceitáveis os que admitem que a língua é nossa, mas não é só nossa, e a liberdade de inovar é geral, o que é nosso é a criação e difusão dos valores que permitiram criar a CPLP. O próprio "credo dos valores" muda as exigências. Lembremos que todos os membros da CPLP são marítimos, e a situação dos mares exige apoios.

Mas sobretudo é evidente que a guerra da covid atinge todos os vivos, e os mais carentes necessitam de ajuda. Finalmente lembremos que é necessário participar com o ensino dos jovens desses países, que vêm formar-se entre nós, que o seu principal dever é regressar ao apoio dos seus povos. A nossa solidariedade não é apenas da língua, é também de humanismo.

Retirado de www.dn.pt 

quarta-feira, 20 de outubro de 2021

Mais fotos sobre a entrega da 2ª edição do Prémio Professor Adriano Moreira

 Infelizmente, o Professor Doutor Adriano Moreira não pode estar presente na entrega do prémio desta 2ª edição, por razões de saúde. Desejamos rápidas melhoras.












Fotos de Maria Cepeda

Anúncio e Entrega do Prémio Literário da Lusofonia Professor Adriano Moreira (Retirado do facebook da Câmara Municipal de Bragança)

Fabiana Ballete de Cara Araújo, natural de S. Paulo, Brasil, é a vencedora do Prémio Literário da Lusofonia Professor Adriano Moreira, 2.ª edição, com a obra inédita "O silêncio guardado nas horas", apresentada a concurso sob o pseudónimo Emily B.

O anúncio foi feito pelo Presidente do Conselho de Curadores da Biblioteca Adriano Moreira, Eng.º Jorge Nunes, no decurso da cerimónia de entrega do referido prémio, que consiste numa obra do escultor António Nobre e de um diploma, ocorrida no dia 15 de outubro, no Teatro Municipal de Bragança, no final do Lusoconf 2021.

Fabiana Araújo, presente na cerimónia, com obra publicada, como indicou na sua comunicação, é graduada em Odontologia pela Universidade de São Paulo, mestre e doutora em Odontologia, Restauradora especialista em dentística restauradora e em medicina chinesa. É, ainda, pós-graduada em Escrita Criativa.

O júri deste prémio, constituído pelo Professor Catedrático Manuel Braga da Cruz (Presidente do Júri), pelo Doutor António Bártolo Alves (ALTM), Doutor Henrique Manuel Pereira (Diocese Bragança-Miranda), Doutor Carlos Manuel da Costa Teixeira (IPB) e Doutor João dos Santos Cabrita da Encarnação (CMB), avaliou, com total empenho, disponibilidade e rigor, num curto espaço de tempo, o elevado número de trabalhos candidatados, sacrificando outros compromissos profissionais e pessoais, tarefa que merece ser notada e reconhecida.

Das intervenções proferidas, e na impossibilidade de estar presente, destaca-se uma mensagem profunda e reflexiva endereçada pelo Professor Adriano Moreira, Patrono do Prémio.

Estiveram presentes na cerimónia o Presidente da Câmara Municipal de Bragança, Hernâni Dias, além do executivo camarário, o Presidente do Concelho de Curadores da Biblioteca Adriano Moreira, António Jorge Nunes, a Presidente da Academia de Letras de Trás os Montes, Assunção Anes Morais, o Presidente do IPB, Orlando Rodrigues, o representante da Diocese Bragança-Miranda, o representante do júri, Carlos Teixeira. Assinala-se, ainda, a presença de vários associados da ALTM.

Ao Conservatório de Música e Dança de Bragança coube o momento de abertura e encerramento da cerimónia, com o aluno Paulo Preto a interpretar dois temas ao piano.












sexta-feira, 24 de setembro de 2021

INTERIOR NORTE- RECONQUISTAR O PODER DA PALAVRA (Engenheiro Jorge Nunes) Publicado no Jornal Nordeste (14-09-2021)

Dar um murro no estômago do centralismo! Clarificando, lutar contra alguma indiferença, medidas pontuais e avulsas com que, nas últimas décadas, o governo central tem lidado com os problemas da interioridade. O Interior tem perdido voz, as lideranças estão enfraquecidas – tem perdido deputados e voz no Parlamento; poder reivindicativo no interior dos partidos; na liderança das instituições públicas; no movimento associativo. É preciso reconquistar o poder da palavra. Falamos de Poder. Medida aparentemente simples, mas que a cultura centralista trava, seria a de reforçar a voz do Interior na Assembleia da República, voz que vai perdendo à medida que o despovoamento se acentua, como fazê-lo? Aumentando o número de deputados dos distritos do Interior, em função da população, também da área territorial e criando círculos de eleição uninominal. A criação da NUT II Trás-os-Montes e Alto Douro, dividindo a NUT II Norte em duas, Entre Douro e Minho e Trás-os-Montes e Alto Douro, regiões naturais correspondentes às antigas Províncias, a divisão administrativa que prevaleceu durante séculos em Portugal, parece-me nesta fase ser uma prioridade. A ideia é a de que as regiões mais pobres não podem continuar a ser prejudicadas pelas regiões mais ricas, que se aproveitam da pobreza destas, para receberem mais apoios da União Europeia, que os atribui ao país para dar prioridade à coesão e ao desenvolvimento das regiões mais pobres, e assim não tem sido. Estamos num momento único de ajuda excecional da União Europeia a Portugal, com a atribuição de fundos comunitários como Portugal nunca teve, a iniciar o novo Quadro Financeiro Plurianual 2021-2027, é o momento oportuno para as três Comunidades Intermunicipais, do Alto Tâmega, Douro e Terras de Trás-os-Montes promoverem uma reunião magna representativa da região, que exija ao Governo a criação da NUT II Trás-os- -Montes e Alto Douro (reivindicação de há vinte anos no III Congresso Transmontano) e uma dotação financeira global de fundos comunitários para o Interior Norte, a serem geridos no âmbito da nova NUT II, ou seja a serem geridos em Trás-os- -Montes e Alto Douro. Entregar aos transmontanos e alto durienses parte importante das decisões sobre o seu destino, em vez de serem tomadas no quadro de uma cultura centralista secular, seja em Lisboa e até no Porto, seria importante. Recuperar poder de decisão para Trás-os-Montes e Alto Douro é um passo necessário para que, no balanço 2030 de aplicação excecional de ajudas comunitárias, as assimetrias regionais não se tenham acentuado ainda mais, e o Interior Norte não esteja, em termos relativos, mais pobre, mais despovoado, mais distante do litoral. A criação da NUT II Trás-os-Montes e Alto Douro, deverá contribuir para as decisões que venham a ocorrer no âmbito da criação das regiões administrativas. Importa ter presente que, o referendo à regionalização feito em 1998, foi acompanhado do mapa de oito regiões administrativas, o conhecido mapa das províncias, que perante um novo referendo, dois cenários de mapa das regiões poderão ser discutidos. O litoral, onde se concentra o poder económico e político, tenderão a impor uma única região administrativa, tendo por base a evolução que tem sido feita com as CCDR. Trás-os-Montes e Alto Douro, representa pouco em termos de população (na década de sessenta representava mais de 20%) e da economia, mas representa 58,7% do território da Região, tem peso e argumentos para, de forma firme defender a criação da região administrativa de Trás-os- -Montes e Alto Douro. Temos ativos territoriais valiosos, a região está dotada de modernas acessibilidades, ainda que, com algumas necessidades, instituições de ensino superior e centros de investigação e de interface como nunca teve, boas infraestruturas culturais e ambientais, centros urbanos atrativos, então porquê continuar a caminhar para o abismo do despovoamento? Temos de erguer os braços e assumir que sim, que somos capazes de reforçar o poder da palavra e da ação e inverter a tendência do despovoamento e do abandono do território. O abalo demográfico que atinge o Interior Norte, obriga-nos a maior firmeza para romper com as políticas do centralismo que têm conduzido o Interior para uma catástrofe demográfica - o despovoamento, o abandono do território e tendencialmente o empobrecimento. A soberania territorial exige solidariedade em ambos os sentidos, do centro para a periferia e vice-versa. O esquecimento do Interior é uma total injustiça, as boas intenções, decisões tímidas e frágeis, não fazem a mudança necessária para inverter este ciclo vicioso. O argumento que o alimenta é o de que não se justifica investir porque há cada vez menos população, a consequência é a população continuar a abandonar a região, procurando territórios mais atrativos onde o investimento público e privado é mais intenso. Por outro lado, nas últimas décadas, o governo central tem vindo a eliminar serviços públicos na região com esse mesmo argumento. A fúria centralizadora até as ligações ferroviárias eliminou. Trás-os-Montes e Alto Douro representa 3,74%, da população do país, quando no ano de 1960 representava 7,82%, situação dramática, que nos interroga, como foi possível chegar a esta situação e como sair dela. Em meio século, a região de Trás-os-Montes e Alto Douro foi atingida por uma sangria demográfica, ficando em situação de forte despovoamento e envelhecimento populacional, tendo como consequência o abandono dos campos, a perda de biodiversidade, a maior fragilidade económica e vulnerabilidade às alterações climáticas. No conjunto dos 34 concelhos de Trás-os-Montes e Alto Douro, a população no ano de 1960 atingia os 692 029 habitantes, reduziu no ano de 2019 para 384 410 ou seja, em pouco mais de meio século teve uma perda de 307 619 habitantes o que representa 44,45% da população, população que não irá recuperar nas próximas décadas. Na segunda metade do século XIX foi crescente o movimento migratório e a década de 1901 a 1911 foi o período de maior emigração antes de 1960. Esta vaga continuou no período subsequente, entre 1910 e 1919, do distrito de Bragança emigraram 18% dos seus habitantes, de Vila Real 13% e de Viseu e Guarda 12% da população de cada um dos distritos. Após a II guerra mundial dá-se o segundo grande período de emigração, de 1946 a 1973 terão emigrado cerca de 2 milhões dos cerca de 8,5 milhões de portugueses. Acentuou-se o êxodo do mundo rural sobrepovoado e pobre, a caminho das cidades industrializadas do litoral e de locais mais promissores no estrangeiro. Na segunda década deste século, a crise financeira desencadeou outra vaga emigratória. No conjunto dos concelhos de Trás-os-Montes e Alto Douro, a perda de população no período de 1960 a 2021 foi de 307 619 habitantes, cerca de metade da população. A informação de 2021 diz-nos que em TMAD, o índice de envelhecimento (número de idosos com mais de 65 anos em cada 100 jovens com menos de 15 anos) era de 275, mais de 2/3 acima da média nacional e o índice sintético de fecundidade (número médio de filhos por mulher em idade fértil), era de 1.01, em Portugal era de 1,42, um dos mais baixos do mundo. Para inverter este ciclo de quebra seria necessário que o crescimento natural, diferença entre a natalidade e a mortalidade, fosse positiva, que a taxa de fecundidade, número de filhos por mulher fosse superior a 2,1. Sozinhos não temos qualquer hipótese de inverter esta grave tendência, mas muito do que há a fazer terá que ser feito por nós. Vale a pena investir na clarificação do caminho a percorrer e como fazê-lo. O que devemos fazer? Que caminho seguir? Os progressos em TMAD conseguidos nos últimos anos tem sido muitos, alguns muito tardios face ao resto do país, mesmo assim, não se tem conseguido travar o despovoamento e o abandono do território. A situação é de resposta muito complexa, exige soluções múltiplas e a maior boa vontade do governo central em muitos âmbitos, dos incentivos financeiros e fiscais, da desconcentração e descentralização, do investimento público etc. Acima de tudo, da nossa determinação e coragem para reorientar o rumo. Nos próximos anos teremos menos população. Temos que vencer esta catástrofe sobre Trás-os-Montes e Alto Douro, sabendo que nos próximos anos teremos menos população no mercado laboral, o que pressiona em sentido negativo o crescimento da economia. Será necessária uma política inteligente de apoio aos casais jovens nos postos de trabalho e à 1.ª infância (infantários gratuitos e universais para todas as crianças); uma forte qualificação da força laboral, considerando a inovação e transformação tecnológica da economia, uma grande evolução nas condições sociais no mercado de trabalho e melhoria significativa das remunerações salariais, em particular no setor privado, para poder fixar os jovens qualificados, competir com mercados laborais muito mais competitivos a nível nacional e internacional. Temos que resolver problemas estruturais, é certo que não o conseguiremos sozinhos, precisamos da solidariedade ativa do Governo Central, por isso somos Portugal. Precisamos resolver problemas como a baixa produtividade, os baixos salários, as baixas qualificações, a falta de capital para investimento, melhorar e consolidar a visão do caminho a percorrer, garantir a excelência nas instituições de ensino e formação, assegurar forte evolução no bom governo das instituições públicas e privadas. É necessário reconquistar o poder da palavra. O Interior tem perdido voz em todos os campos, incluindo na Assembleia da República. Devemos lutar pela discriminação positiva, por incentivos fiscais e financeiros e muito mais, sem deixar de dar prioridade às questões do poder. Falamos de aumentar o número de deputados do Interior na Assembleia da República. O Interior tem vindo a perder deputados na Assembleia da República, a favor da Áreas Metropolitanas de Lisboa e Porto, à medida que perde população. É urgente corrigir esta situação, garantir aos círculos eleitorais do Interior um aumento do número de deputados, tendo a dimensão territorial e o número de eleitores, repondo a voz do Interior na Casa da Democracia. Assegurar a eleição através de círculos uninominais. Da Criação da NUT II Trás-os-Montes e Alto Douro, para aceder de forma justa às ajudas da União Europeia, o Interior Norte deve poder gerir um envelope financeiro próprio, negociado na fase de programação do Portugal 2030, para isso, a NUT II Norte deve ser dividida, criando duas NUT II, Entre Douro e Minho e Trás-os-Montes e Alto Douro. É só uma questão técnica, mas que pode fazer a diferença na mudança. Em 2002, o III Congresso Transmontano aprovou esta orientação; Da criação da Região Administrativa de Trás-os- -Montes e Alto Douro. A Regionalização é o caminho adiado, desde o início da república, para dar impulso de desenvolvimento ao país e às regiões. A Constituição Portuguesa de 1976, inclui a criação de regiões administrativas, no referendo de 1998 foi apresentado o mapa de oito regiões, correspondendo à divisão administrativa intermédia com mais longevidade na história de Portugal, onde se inclui Trás-os-Montes e Alto Douro. O futuro reserva-nos muitos desafios e muita esperança. O país não pode hesitar perante os desafios da Interioridade, tem que ser capaz de saldar uma divida histórica de que os transmontanos e durienses são credores. É verdade que tem feito algum esforço nesse sentido, mas não chega, não podemos continuar a caminhar para o abismo. Cabe às Comunidades Intermunicipais de Alto Tâmega, Douro e Terras de Trás-os-Montes, liderar a realização em 2022, uma assembleia magna da região, em colaboração com os deputados, líderes das Associações Empresariais e Instituições de Ensino Superior, Sociais, Cooperativas, num esforço de cooperação e de coordenação política capaz de mobilizar a Região, de a unir naquilo que é essencial. Não se pode continuar a assistir ao investimento discriminatório como acontece com o PRR, o PDR e em parte nos Quadros Financeiros Plurianuais. Se a situação continuar, os transmontanos devem estar preparados para discutir alternativas fazendo uma rotura no sistema.

 

Jorge Nunes

terça-feira, 21 de setembro de 2021

Ernesto Rodrigues: “Eu próprio asfixiava, se não mostrasse este rosto desconhecido”


 

1-Depois da ficção, como surgiu o teatro no percurso da sua escrita?

R- Escrevi a primeira peça em Setembro de 1973, meses depois de me estrear com um livro de versos, e, já, com os primeiros contos à espera de edição. Nestes, as dificuldades da vida rural e dos pequenos ofícios, no Nordeste, conduziam à emigração, que saldava um passado de dívidas. Mas resolver a economia familiar era insuficiente, e solução passageira, se o país não se perguntava sobre outras saídas: por isso, exigia-se liberdade de expressão, que a polícia persegue na figura de filho universitário. Tal como “A pedra” do título sufoca um pai emigrante, doente e sem futuro, assim cresce a revolta colectiva, após o funeral, resumida num letreiro: «Queremos respirar!» Eis como, da ficção assente em quadros ou cenas, com treino em diálogos (o que fez com que a quarta peça  [1977] fosse por mim lida, primeiro, como conto, editado em A Flor e a Morte, 1983), vim a um teatro político, mais interventivo após o 25 de Abril.

 

2- Quais são as principais linhas temáticas das suas peças?

R- Da denúncia e reivindicação de um direito passei à hipótese de uma comunidade democrática, mau grado vícios que diríamos segunda pele (Faca no Sol, 1974-1975). Era um teatro hierático, pausado, contra a maré, em dias agitados. Daí, O Golpe (1975), neste ano de todos os possíveis, também na cena internacional, entre golpes e contragolpes, quadros soltos, sarcasmo, liberdade total ao encenador (como, aliás, em quase todas as peças). Esse teatro de guerrilha, confrontando poderes, criava um impasse, resolvido na violência de Guerra Civil (2019), que todavia, situei em cenário fratricida árabe. Já o modo como o Poder se mantém – entre mentira, manipulação, crime e ridículo, responsabilizando os meios de comunicação e comícios de sono – inspirou Sábado (2012-2013) e Doença (2016-2017). Assim, seis das onze peças entrevistam facetas do Poder. As outras debatem relações interpessoais e as síndromes que escondemos (Jardim, 1977; Acidente, 1998-2000; Delírio, 2015). Salientaria O Divino (2002), em que perpassam vidas nos últimos momentos de Almeida Garrett. Síntese destas interlocuções e de novos poderes que nos afectam é a derradeira, Pandemia (2020): sonhando-se romance com seis personagens (em que estas aparecem segundo a lógica da sextilha) e 36 cenas resolvidas, no Epílogo, por três vozes laterais, regresso ao pensamento originário de uma respiração democrática, sem deixar de celebrar a medicina.

 

3-Qual a ideia que esteve na origem desta antologia agora publicada?

R- Havia um trabalho secreto de 47 anos. Editara poemas, novelas, contos, romances; centenas de crónicas na Imprensa; crítica, ensaio, dicionarística e edição literária ocuparam-me 45 anos, inaugurados com trabalho sobre A Morte do Papa, peça de Jorge de Sena; traduções do húngaro, quatro décadas. Tinha uma dívida com a edição crítica da Exortação da Guerra vicentina, a publicar; com a leitura anual da Castro ferreirina e regular do Frei Luís de Sousa. Após o Théâtre de la Cruauté (1932) e Le Théâtre et Son Double (1938) de Artaud e Un Théâtre des Situations (1973) de Sartre, fiz récitas amadoras no Verão Quente de 1975. É o género mais livre e participável, onde melhor cabem as falas de todos. Eu próprio asfixiava, se não mostrasse este rosto desconhecido.

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Ernesto Rodrigues

Teatro

Edição do Autor  25€

Ernesto Rodrigues na “Novos Livros” | Entrevistas

Retirado de www.novoslivros.pt