sábado, 20 de maio de 2017

A festa não mata a dor (16/05/2017) - Editorial do Jornal Nordeste




Houve festa de três dias por esse país fora. Enquanto muitos terão sentido as almas radiosas, com o “upgrade” no catálogo de santidades, outros terão deixado referver as vísceras numa marinada de cerveja, amendoins e batatas fritas gordurosas, graças à águia que paira, de olho certeiro, há quatro anos, nos céus ainda azuis; por fim, olhos turvos de lágrimas de ternura sonharam com um novo quinto império, da língua, da poesia e da sensibilidade.
Festa é festa e de nada vale estragá-la com lamentos ou dedos apontados às consciências. Mas não é avisado que nos deixemos inebriar, confundindo a percepção da vida real, que nunca se transformará da noite para o dia, numa alameda triunfante até às portas do paraíso.
Trepidante foi a festa. Mas não permitiu que, pelo nordeste, deixemos de encarar, com legítimas dúvidas, o presente e o futuro.
Sem nos confundirmos com regionalismos passadistas, provincianismos bacôcos nem localismos de esquina, reconheçamos as dores que, apesar da festa, não deixam de nos moer.
Dor primeira: enquanto as orações murmuradas, em Fátima e pelo caminho, se tornaram um rumor que terá chegado aos céus, se tivéssemos subido ao cabeço da Senhora da Assunção, ficaríamos com uma sensação de paraíso descartado, com a serpente mortífera do olvido à espreita. De facto, até os nossos lugares sagrados, onde ainda queremos sentir a vibração dos desígnios divinos, poderão tornar-se pontos de encontro de todos os fantasmas. Estão a desaparecer romarias que, durante séculos, marcaram o ritmo das nossas vidas e, pelo andar da carruagem, doutras se perderá a memória, até que a própria raiz seque para sempre. Claro que Fátima há-de chegar para todos os miserandos.
Moinha irritante: enquanto o Marquês, na capital, sofria tratos de polé, para mal dos seus pecados, lembramos que os dez estádios, construídos e financiados para 2004, ficam, quem diria..., naquela famigerada faixa que há-de afogar o país. Enquanto se vão rebolando campeões em Lisboa ou no Porto, os nossos clubes não resistem e afundam-se no desespero da redução à insignificância. Mesmo assim, também nos sentimos com direito a participar na festa, já que Luís Miguel Fernandes (Pizzi) é um dos heróis do primeiro tetra benfiquista, o menino de Bragança, que por aqui se iniciou nas lides da bola. Mas os nossos futebóis estão em correspondência com o resto das nossas misérias.
Quase tristeza: olhos mareados não faltaram sábado à noite, enquanto um cantor português dignificou a poesia e a música, por entre uma feira de lata ruidosa. Pode ser que, com o exemplo, a Eurovisão mude de rumo. Mas, mais uma vez, temos que lamentar o que se tem perdido de talentos desta terra, nunca reconhecidos. Quando se vivia o empolgamento, ao fim da noite, lembrei-me de um projecto, na Bragança da transição do século, “Odores de Maria”, criadores de músicas originais, que contavam com uma voz, de Maria Zulmira (Mirinha), que o acaso ceifou quando florescia e que Kiev ou qualquer outra capital desta Europa também poderia ter aplaudido para nossa satisfação.
São dores sem remédio, que nenhumas festas aliviam.

Escrito por: Teófilo Vaz (Diretor do Jornal Nordeste)

“Terras de Sefarad” será um dos maiores eventos dedicados à cultura judaica em Portugal




Iniciativa vai incluir um congresso com especialistas mundiais, exposições, concertos e cinema.
Bragança vai receber, entre 15 e 18 de Junho, um dos maiores eventos dedicado à cultura e história judaicas realizado em Portugal.
O Encontro de Culturas Judaico-Sefarditas – Terras de Sefarad vai incluir exposições, cinema, concertos, com destaque para a actuação de Yasmin Levy, um congresso com especialistas mundiais sobre o tema e um mercado kosher.
O responsável nacional da Rotas de Sefarad e representante da rede de judiarias de Portugal, Marco Baptista, considera que devido à componente histórica da iniciativa, muitos judeus-sefarditas de todo o mundo poderão ter interesse neste evento.
“Temos judeus sefarditas de origem portuguesa e espanhola espalhados pelo mundo inteiro e este trabalhos que a Rede de Judiarias tem vindo a fazer com os municípios começa a ter ecos lá fora e muita gente do mundo inteiro vem à procura da sua identidade e das suas raízes”, refere.
Segundo o presidente do município de Bragança, Hernâni Dias, depois da construção de equipamentos dedicados a esta herança histórica em que a região é rica, esta é mais uma aposta na promoção desta identidade sefardita e uma forma de “recolocar” esta região nas rotas do turismo cultural e religioso judaico.
“Temos um historial muito rico da cultura sefardita. O município tem tido a preocupação de fazer a construção de equipamentos ligados à cultura sefardita e o congresso é o seguimento desse investimento que tem vindo a ser feito”, destacou.

Viagem pela vivência dos sefarditas

O evento Terras de Sefarad foi apresentado na passada quarta-feira, dia em que foi ainda inaugurada a exposição “Heranças, Vivências e Património Judaico em Portugal”, no centro cultural Adriano Moreira, a primeira de um conjunto de outras que vão integrar o encontro.
“Esta exposição foi inaugurada pela primeira vez na Torre do Tombo com a presença do Presidente da República, é itinerante e este é o primeiro lugar onde está. Esta exposição é de apresentação histórica de todo o passado judaico desde a antiguidade até à actualidade”, afirmou Paulo Mendes Pinto, curador da exposição. O membro da cátedra de estudos sefarditas da Universidade de Lisboa referiu ainda que “o Terras de Sefarad é um evento que tem essa dimensão histórica, esse olhar para o passado, nomeadamente no congresso, mas também está muito centrado na parte das vivências e da cultura. As outras exposições que terão lugar terão muito a ver com arte, com escultura”.
O Terras de Sefarad – Encontros de Culturas Judaico Sefarditas, que se realiza entre 15 e 18 de Junho, vai ainda ser a oportunidade para a inauguração do Centro de Documentação – Bragança Sefardita, na Rua Abílio Beça, em Bragança.

Escrito por: Jornalista Olga Telo Cordeiro

quinta-feira, 11 de maio de 2017

Bragança 2040 (Editorial do Jornal Nordeste, de 4 de abril de 2017)




Há dias claros, a anunciar o azul da plenitude, que nos fazem olhar para a vida com vontade de futuro e para esta terra com esperança, ainda.
Virtudes da primavera que nos rebenta na alma, como que a incitar-nos a não desistir, mesmo quando os invernos se prolongam, moinhas a repassar-nos os ossos e ventos cortantes a apontar-nos o abrigo da resignação.
É assim que podemos dar por nós a imaginar a região daqui a duas décadas, perspectivando tempos gratificantes para os que aqui permanecerem, contra todos os prognósticos que hoje infernizam o nosso quotidiano.
Não seria uma rematada tontice vermo-nos a passear por uma Bragança com perto de 50 000 habitantes, a dar vida a toda a terra fria, unidades industriais com tecnologia de topo, ensino superior prestigiado, a atrair milhares de estudantes e investigadores das sete partidas, ruas animadas, cosmopolitas, tranquilas, por onde passam milhares de visitantes, atraídos pelo património, pela gastronomia e pela animação, da cidade e do território envolvente, onde a natureza, a paisagem, a agricultura e a caça não são memórias longínquas.
Podemos chegar-nos a Baçal, ao aeroporto, com auto-estrada ali à mão, aviões a chegar e a partir a um ritmo suave, mas constante. Macedo de Cavaleiros é já ali, com promessas de vinho, queijo, azeite e águas tranquilas, umbigo do mundo e tudo. Mirandela, quente e viva, um rio sem par, mesmo sem jet ski, mais estudantes e investigadores entusiasmados, a respirar as brisas do Tua, pontes afora.
De Alfândega da Fé, Vila Flor e Carrazeda de Ansiães chegam as cerejas e outros frutos, Vilariça verde de vida, onde se pode pedir horizonte às Senhoras das Neves e da Assunção, vinhedos a cobrir os vales até ao fim do Tua e à Foz do Sabor. Ali, o comboio espera o carregamento de minério de ferro e há mais vinhas da região demarcada do Douro, a perder de vista, até Freixo de Espada à Cinta, pontuadas por amendoais, que atraem deliciados litorâneos pelo fim de cada inverno, suave e florido, que por ali se vive.
Na memória vai o freixo centenário, com descendência para mais meio milénio, a caminho da linha de castelos, animados sempre, para delícia de passantes e ficantes, boa carne marrã e das vitelas castanho-arruivadas, tardes de remanso, na espera dos pauliteiros, a dançar à luz que as barragens nos dão. Em Mogadouro podemos ver jovens da escola de formação de polícia, garbosos nos seus uniformes, a rivalizar com os alunos da escola nacional de bombeiros, em Vimioso.
Pelas manhãs, subindo ao castelo de Algoso, há quem se sinta parceiro do rei fundador. Dali, por terras de herança sefardita, até ao alto da lombada bragançã, Sanabria à ilharga, até à floresta húmida de Vinhais, onde aprendem os futuros guardas da natureza e das florestas, mantêm-se sorrisos nos rostos e optimismo no olhar.
Se houver pantagruélicos excessos, águas da serra de Nogueira ou de Bensaúde, estão por todo o lado e, para purgas mais afinadas, depressa se chega a São Lourenço, à Terronha ou se desce a Alfaião.
Estamos num mundo de sonho, de que queremos falar, com alegria, aos mais novos, para que não voltem a perdê-lo, a correr o risco de lhes ser sonegado, como em tempos idos.
De repente, tolda-se o azul do céu, pedras duras, de um granizo áspero e arrepiante, enchem-nos a cabeça de galos e, quando recuperamos da surpresa, estamos gelados, encharcados como pitos descuidados e remetidos à realidade da nossa tristeza neste ano da graça de 2017. Da leveza do sonho à dureza do pesadelo vai uma nuvem traiçoeira.

Escrito por Teófilo Vaz (Diretor do Jornal Nordeste)
Retirado de www.jornalnordeste.com

6.ª edição da Expo Trás-os-Montes será feira de venda directa dos produtos da região no Porto



Promover a marca Trás-os-Montes mantém-se como objectivo fundamental deste certame, cuja grande novidade é o facto de a edição deste ano contar com a organização conjunta do NERBA e CIM-TTM. Daí decorrer na Alfândega do Porto.
Cerca de 40 expositores vão vender queijos, frutos, fumeiros, vinhos, azeite e outros produtos típicos da região transmontana.
O edifício da Alfândega do Porto vai acolher, entre os dias 12 e 14 deste mês, mais uma edição da Expo Trás-os-Montes, uma iniciativa que segundo Eduardo Malhão, presidente da Associação Empresarial do distrito de Bragança, exige “uma visão de conjunto para o território”. A defesa da marca Trás-os-Montes justifica a parceria com a CIM-TTM – Comunidade Intermunicipal de terras de Trás-os-Montes: “sendo uma iniciativa com o nome «Trás-os-Montes» associado junta-se o útil ao agradável e a CIM tem a oportunidade associar-se ao principal evento de promoção de Trás-os-Montes”, destacou.
Cada município que integra a CIM terá o seu espaço na exposição, dividido de forma uniforme por empresas dos nove municípios, que já preencheram todo o espaço disponível para os expositores. Este ano, a Expo Trás-os-Montes não conseguiu dar resposta a todos os pedidos, o que, segundo a organização, também mostra o interesse que esta iniciativa desperta junto dos produtores transmontanos, “que poderão vender os seus produtos directamente aos consumidores da região portuense”, sublinha Eduardo Malhão.
Para Américo Pereira, presidente da CIM, já há muito tempo que os autarcas da região equacionavam a possibilidade de realizar uma feira deste género na região do grande Porto e assume o objectivo principal: “não é uma mostra, é uma feira para vender, os empresários vão para fazer negócio e, naturalmente, fazer também a promoção do território”.
Para o também autarca de Vinhais, “é importante que a feira seja deslocalizada para lugares onde haja consumidores”, concluiu.

Escrito por: jornalista Hélder Pereira