quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

A nova indústria do social (Editorial do Jornal Nordeste, de 13/12/2016)



Nas sociedades consideradas exemplos de prosperidade multiplicam-se organismos de promoção de um dos principais desígnios da civilização: a solidariedade, a preocupação com o próximo, na terminologia cristã.
A fraternidade é um dos pilares da grandiosa proclamação de 1789, quando o mundo foi abanado pela revolução francesa, em conjugação com a liberdade e a igualdade, que ainda não lograram consolidar-se no tempo dos homens.
A solidariedade será uma forma ainda mais profunda de fraternidade, um ideal que nos tornaria a todos mais respeitáveis, se a praticássemos tanto quanto a teorizamos repetidamente.
O mundo pode parecer um lugar destinado a tornar-se um lar acolhedor, se tivermos em conta o número crescente de organizações que, todos os dias, dizem dedicar-se a atenuar o sofrimento dos outros, a combater as omissões, a denunciar as injustiças, a defender o futuro.
Não é uma novidade deste tempo. Durante séculos foram surgindo organizações, ligadas, muitas vezes, à religiosidade, cristã ou de outros credos, que se tornaram referências, mas não conseguiram a transformação do mundo. Porque a natureza humana não muda da noite para o dia, por mais que os registos asseverem aumentos das participações solidárias.
Hoje até se pode falar de um novo e, pelos vistos, próspero sector da economia, o chamado empreendedorismo social, traduzido em múltipla associações, centros sociais, fundações e similares, mas também em gabinetes de apoio ou de combate a isto e mais aquilo.
Às vezes sentimos que o mundo é, afinal, um inferno borbulhante onde, a todo o momento, surgem novos problemas, enquanto se eternizam os que já se conheciam. Fica-se com a sensação de que todas as intervenções são inúteis porque, em vez de vermos recuar as tragédias, assistimos a uma torrente de novos dramas, quando se esperava que a solidariedade abrisse as portas de tempos melhores.
Aparentemente, as organizações tendem a perpetuar-se, para continuar a responder a problemas que deveriam resolver, mas que paradoxalmente estão cada vez mais vivazes. Até pode parecer que não se trata de acções solidárias, mas de formas estranhas de garantir empregos, ruminando problemas, em vez de contribuir para os eliminar.
Por exemplo, há vários anos que o banco alimentar vê crescer e celebra o aumento de voluntários e as toneladas de produtos distribuídos, sempre com honras de longas reportagens na comunicação social. Pode colocar-se a questão se vale a pena continuar a promover actividades que mobilizam muitas vontades mas demonstram não resolver os problemas. Provavelmente não serão estas as formas de intervenção eficazes e, de uma vez por todas, será necessário que a comunidade encontre reais soluções.
Pode admitir-se um número residual permanente de famintos, necessitados e deserdados da sorte, mas alguma coisa precisa de mudar na forma como se pratica a solidariedade, para que não pareça que se está a tornar numa verdadeira indústria, que pouco terá a ver com autênticas virtudes.

Escrito por Teófilo Vaz (Diretor do Jornal Nordeste)
Retirado de www.jornalnordeste.com

domingo, 11 de dezembro de 2016

3ª Parte da Entrevista concedida por Eduardo Malhão, Presidente de Direção do NERBA

https://www.dropbox.com/s/5uudybz28aiz0at/terceira_parte_entrevista_EduardoMalhao.mp3?dl=0

Sabemos que não se arrependerá se ouvir a 3ª parte.

Mara e Marcolino Cepeda


2ª Parte da entrevista concedida por Eduardo Malhão, Presidente de Direção do NERBA

https://www.dropbox.com/s/udu22tgxwg8p1y7/segunda_parte_entrevista_eduardomalhao.mp3?dl=0

Aqui vai a 2ª parte desta interessante entrevista.

Mara e Marcolino Cepeda

1ª Parte da entrevista concedida por Eduardo Malhão, Presidente de Direção do NERBA, Núcleo Empresarial de Bragança

https://www.dropbox.com/s/epjuodg8dkfgrxp/Primeira_parte_da_entrevista_a_EduardoMalhao.mp3?dl=0



Este link dá-lhe a possibilidade de ouvir a entrevista realizada no passado dia 2 de dezembro, no edifício do NERBA, em Bragança.

A conversa que levámos a cabo com o Senhor Presidente foi descontraída e pragmática, não fosse Eduardo Malhão um empresário de sucesso, gestor e criador de várias empresas.

Eduardo Malhão, tem uma história de vida que é uma lição com muitas lições dentro. Vale a pena ouvir esta conversa.

Posteriormente, publicaremos esta entrevista em formato texto.

sábado, 10 de dezembro de 2016

A nova idade do ferro (Editorial do Jornal Nordeste, de 06/12/2016)



A idade do ferro é um período do catálogo da historiografia, um instrumento conceptual, útil para entendermos algumas das mudanças que se processaram na civilização desde há pouco mais de três milénios.
Integrada na ampla idade dos metais, que se inicia com o cobre, evolui para o bronze (cobre + estanho) e se consuma, depois, com a metalurgia do ferro, é um tempo de convulsões que alastraram aos dois mil anos que são a nossa referência próxima, provocando tragédias, mas também garantindo avanços tecnológicos e económicos, sociais e culturais conexos.
A dureza e resistência do ferro, associados à sua ductilidade, permitiram-lhe um papel decisivo na história. Com ele se destruíram impérios longevos, mas também se construíram outros, para durar e impor caminhos. Por isso o ferro tem uma carga simbólica, associada à força que rasga, mas também se adapta, até se constituir como elemento base da liga que suporta as sociedades industriais que, aparentemente, têm dominado o mundo desde o século XVIII: o aço.
Quando se perspectivam décadas de retoma da exploração de minérios de ferro, em Moncorvo, os transmontanos poderão ter razões para não desistir ainda, porque o mundo dá muitas voltas e grandezas ou misérias não são definitivas.
A exploração de minério de ferro pode trazer para o sul do distrito possibilidades de verdadeiro crescimento económico e mesmo de estabilização demográfica. Se tivermos em conta que ali também se produzirá energia significativa, com as barragens do Baixo Sabor e de Foz Tua, a acrescentar ao peso de Miranda, Picote, Bemposta, Pocinho e Valeira, o papel do território do distrito de Bragança não é desprezável.
Ainda podemos acrescentar a energia de produção eólica e as outras potencialidades económicas, que passam pelo vinho, o azeite, a amêndoa e a oferta turística. Temos então condições para fazer valer junto dos decisores os direitos das gentes da região.
A parceria com o IPB, em continuidade com o que se passa com a unidade de componentes para automóveis, em Bragança, poderá frutificar noutros casos. Ainda não estamos condenados a ser um monte de ruínas, apesar das placas de sinalização, que contribuem para que nos sintamos na decrepitude inexorável.
Estas terras são verdadeira dádiva da natureza: Terra Quente e Terra Fria, elementos que nos caracterizam, são complementares e, noutros tempos, teriam permitido uma verdadeira autarcia.
Resta que saibamos conjugar esforços e, qualquer dia, ainda poderemos encontrar uma criatura que cante a nossa ode triunfal.

Por Teófilo Vaz
Retirado de www.jornalnordeste.com 

sábado, 3 de dezembro de 2016

Não perca 5 razões para conhecer Bragança


Região localizada no Nordeste de Portugal é um dos destinos mais marcantes do país.

Portugal é um país milenar. Palco de várias transformações e influenciado por diversos povos. Apesar de ser pequeno, possui uma geografia privilegiada e é considerado um dos países mais bonitos do mundo.
Localizada no Nordeste do país, a região de Bragança é um dos locais mais bonitos e procurados pelos turistas. Com edificações antigas e históricas, além de uma famosa culinária, conhecer Bragança é certamente uma das melhores viagens que pode fazer em Portugal. Para deixar um pouco de água na boca acerca da região, este artigo irá apresentar cinco razões para conhecer Bragança. Assim:

  1. Castelo de Bragança
Lendário castelo, um dos mais antigos e famosos do país, é um forte ponto turístico local. Foi construído na Idade Média, no século XIII, com grandes torres, a mais famosa das quais é a Torre da Princesa, envolta em lendas de princesas e amores desavindos.

  1. Domus Municipalis
Declarado como Monumento Nacional de Portugal, o Domus é uma edificação de 1500 que era usada para reuniões, chamada “Casa da Câmara” e em seu piso inferior, se encontra a sala de água, onde era armazenada a água da chuva. Suas grandes janelas chamam a atenção do visitante.

  1. Cidadela
Uma vila pitoresca, construída no século XII, com ruas e edificações de pedra, dão o charme do local. Leva a todos os seus visitantes numa viagem de volta ao passado. Possui dentro dos seus muros vários dos principais pontos turísticos da cidade, tais como a Domus Municipalis, um edifício único na Península Ibérica, onde se reuniam os homens bons da cidade.

  1. Praça da Sé
Marco da cidade, retrata o crescimento do povoado a partir do século XV, o que levou a ser construídas algumas edificações fora dos muros da cidadela. Praça aconchegante, com belos vasos de flores e aonde se conectam algumas das principais ruas da cidade de Bragança. Além de deliciosos restaurantes, Confina com a Praça Camões, com sua Biblioteca e o Centro Cultural Municipal.

  1. Parque Natural de Montesinho
O imenso Parque, localizado dentro de uma área de 75.000 hectares é um dos responsáveis pela fama internacional de Bragança. A diversidade da sua fauna e flora é algo que chama a atenção entre os estudiosos ou turistas. A presença de lobos, águias e vários outros animais é a certeza de um passeio inesquecível para todos aqueles que forem visitar a reserva.
Resumir todas as atrações de Bragança num artigo com só cinco dicas é algo muito difícil, pois para além do relatado, há muito mais para fazer na cidade. Como a culinária da região, bastante requisitada por todos que a visitam. É inimaginável ir a Bragança e não comer bem. A cidade possui maravilhosas opções de restaurantes e casas para experimentar o melhor da comida do Nordeste português. Para encontrar mais informações sobre os restaurantes, horários de funcionamento, é muito simples, deve-se fazer uma rápida pesquisa na internet. Não levará muito tempo e evitará um erro que pode acabar com o momento da refeição. Para ajudar numa pesquisa mais rápida, pode utilizar-se esta lista de restaurantes em Bragança. Esse site irá facilitar a sua vida, pois desfrutar de belos lugares, acompanhado de uma boa culinária, não tem preço.

Retirado de www.mdb.pt

Fidel e os puros (Editorial do Jornal Nordeste, 29-11-2016)



Aos 90 anos partiu Fidel Castro para a aventura, última quanto sabemos, da eternidade, o tudo ou nada da existência de cada um de nós.
Marcou mais de seis décadas da história recente, um perfil de profeta, com barba e tudo, a prometer, como sempre fazem os profetas, a salvação para lá do horizonte e a justiça implacável para os incréus, que seriam comidos pelas pragas que ele próprio lançava da sua praça em Havana.
A formação cristã do jovem Fidel, católica, em colégio jesuíta, certamente lhe alimentou a esperança e a sede de justiça. Terá reflectido, nos seus verdes anos sobre as proclamações atribuídas a Jesus no sermão da montanha: “bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça porque serão saciados” e “bem-aventurados os puros de coração porque verão a Deus”.
A sua condição material, de família abastada e próspera, não parecia calhá-lo para a revolução, mas arriscou a vida e o conforto, em nome de um ideal e não perdeu, depois da Sierra Maestra, onde terá ficado perto do Deus que veio a negar, saboreando os puros charutos, que o tornaram um ícone.
Puros provavelmente par-­
tilhados com um imitador de Cristo, Ernesto de seu nome, “Che” para milhões de românticos de barba e cabelo ao  vento, o argentino Guevara, que fez da revolução o seu único destino, até à morte humilhante, às mãos de um centurião pouco dado a misericórdias.
Aí, em 1967, na Bolívia, não  foram bem-aventurados os mansos, como no sermão fora dito. E Fidel também não imitou Gandhi, o pacifista que acabou assassinado. Fez como David, mas transmutou a funda e proclamou uma nova terra da promissão, por mais que não caísse lá o maná de todos os dias, que o céu se fosse tornando tenebroso e o espectro de Job povoasse os dias de gerações desiludidas.
Mas viu surgir herdeiros que lhe reclamam amor filial e prometem honrar-lhe a memória, da Nicarágua à Bolívia, de Angola à Venezuela, garantindo que o seu legado não será esquecido.
Dos actos destes “apóstolos” têm resultado tragédias de verdadeira perdição, com a instalação da anarquia, apesar dos raios e coriscos que lançam contra o mundo e os seus patrícios, no caso da Venezuela a morrerem à fome estendidos sobre uma cama de petróleo.
Francisco, um jesuíta que chegou a Papa, encontrou-se duas vezes com Fidel. Hão-de ter falado desse sermão da montanha e da pureza de coração, que os puros Habanos já pesavam então no alento do envelhecido profeta.
Dificilmente se poderá dizer que Fidel era malevolente, ganancioso, corrupto e outros qualificativos adequados a alguns protagonistas da política. Dir-se-á, no entanto, com propriedade, que era senhor de um orgulho desmedido, um prosélito relutante a ouvir os outros, que não foi capaz da mansidão nem da serenidade, indispensáveis à solidez da coragem.
Talvez do outro lado encontre o “Che” a fumar um puro e possam pensar sobre os caminhos que romperam. Nós, os que ainda por cá estamos, temos também um bom tema para reflexão.

Por Teófilo Vaz

Até se nos gela a alma (Editorial do jornal Nordeste)



Foram décadas a estiolar num país de misérias, reais e dolorosas, quando se sentia que havia tempo, ainda, para tentarmos erguer-nos de um destino que não procurámos, mesmo se a lassidão nos comeu as raízes, derramando a seiva sobre a inutilidade.
Para nosso mal, não seguimos o exemplo dos castanheiros, que teimam em resistir, firmes, até contra pragas insidiosas, impondo a sua silhueta vetusta, mas nobre, décadas e séculos a reverdecer, desafiando todos os agouros que lhes piam seres alados da face obscura da vida.
Se nos dermos o prazer de percorrer estas terras, só para sentir o alento de cada dia, facilmente nos envolvemos numa doce ilusão que nos parece reconfortar. Finalmente, as nossas aldeias têm ruas calcetadas, a água chega a todos os cantos, não falta luz, os nomes de cada canelho estão, cerimoniosamente, registados em placas. Cada freguesia ostenta o seu brasão, retrato simbólico da caminhada de gerações. Algumas desapareceram logo que viram aprovado o brasão. Efémera conquista.
Mas tudo parece agora em boa ordem. Só que nos damos conta que as placas toponímicas tocam os olhos de quase ninguém e as casas fechadas já não esperam sequer o chiar das dobradiças.
De vez em quando passam féretros, gente cabisbaixa ou a olhar para o nada, numa rotina de tempos do fim. Depois, volta às ruas o vento cortante da solidão, o gelo que seca para sempre, ou a torrente que levará as memórias para o mar de todos os esquecimentos. Agora, que tínhamos quase tudo para renascer, até já a alma se nos gelou.
Entretanto, reuniram-se, em Miranda do Douro, responsáveis portugueses e espanhóis, mais uma vez, para falar de cooperação transfronteiriça, com presença de um ministro desta república. As vagas intenções não faltaram, mas as decisões foram nenhumas. De sentenças, proclamações, dossiers, promessas de novos “el dorados” estamos servidos.
Mas, ainda há quem fale com clareza, como o alcalde de Puebla de Sanabria, senador do reino vizinho, que rompeu com a postura solícita, atenta, veneradora e obrigada dos restantes participantes de um lado e do outro da raia, dizendo o que não pode calar-se nunca mais.
Enquanto houver quem tenha a coragem da frontalidade, em nome de interesses vitais para populações portuguesas e espanholas, que foram simetricamente prejudicadas pelos poderes centrais, ainda se poderá evitar a tragédia.
É uma verdadeira vergonha que não se perspective a conclusão da auto-estrada entre Zamora e Quintanilha e do troço de ligação do IP2 a Puebla de Sanabria, desbaratando oportunidades, irrepetíveis nos próximos séculos.
Haja coragem e verticalidade, senhores.

Por Teófilo Vaz (Diretor do Jornal Nordeste)
Retirado de www.jornalnordeste.com