terça-feira, 12 de dezembro de 2017

ALEGRIA

Meu riso é transparente como um dia azul.
Dentro de mim é Primavera de montes floridos e cantantes regatos.
Minha alma é fluida e cristalina e corre serenamente para o amor que desejo puro.
Nada me confunde na pureza deste azul semeado de cintilantes estrelas e luar genuíno.

Sou.


Não sei se existo.
Minha essência anda por aí a saltitar pequenas flores espontâneas
Tudo o que sinto é um amor infinito por tudo aquilo que vejo.

Sinto.

É Primavera em mim, quase estio
Quase agrura
Quase ternura
Quase ausência
Quase essência

Não sou aquilo que digo que sou.
Quero ser descoberta
Porto de abrigo
Enseada serena
Tempestade inesperada
Maremoto de emoções.

Quero ser o que sou não sendo ainda
Vender a ideia de um dia que finda
Para depois renascer cheia de sol e mar azul

Longe, bem longe daquilo que estou.

MARIA CEPEDA (Poema e fotografia)

A MINHA VOZ

A voz, resposta rápida e pronta, espontânea e ligeira que se apresenta lampeira na ponta da língua, cavidade bucal para usar termo técnico de conhecimento adquirido em formação recente e passada.
É a música da minha alma única, menina ainda, sem tempos dispersos.
É a maciez da minha pele de mulher que ama o homem que a ama e anseia pelo sonho de uma noite estrelada.
São os meus sonhos de todos os tempos que alguma vez farei realidades.
Que voz é esta que me acompanha ainda e sempre, antes mesmo do útero da minha mãe? Voz de mulher, da primeira mulher que soube que o era.
Poeta de palavras vivas sou, e sofridas são elas que tão dolorosamente me escapam através do suor que da minha doce pele de mulher emana.
E mãe sou dos filhos que não terei, tempos de ternura de carinho férreo, tão limpo e suave como a canção da chuva que mansamente cai dos telhados adormecidos num dia triste/alegre de Outono, envolto em perfumes de Primavera.
Que a voz seja sempre algo que mais do que irritar, embale e serene angústias que porventura vidas desavindas tragam em carrosséis de emoções à flor da pele que também a música impregna.
A voz é tudo.
É silêncio quando o ruído impera.
É aurora quando raia o dia…
A voz mostra-me tal como sou e estou.
É a amiga que num murmúrio me pede guarida naquele momento de séria tristeza.
É a alegria que eu sinto quando uma voz já antiga me conta uma história de bruxas malvadas, maçãs vermelhas e envenenadas que o amor liberta com a expressão: “Tão linda!”
Mas se a voz fosse apenas isso, melodia, feitiço, lua cheia, voz de comando, sorriso… seria pobre, avara, andrajosa, uma concha vazia na areia da praia… a voz é isso e muito mais.
A voz é o menino que balbucia, a soprano que canta a sua peça favorita, o marulhar da água nas pedras limpas do rio, o sussurro do vento nas espigas de trigo, o trautear de uma canção que se ouviu de manhã cedo ao acordar e que nos acompanha durante todo o dia, o soluço que o peito já não pode calar…
A voz é o silêncio de um dia de chuva quando a noite tarda a chegar.
A voz não existe quando a alma está deserta de música.
A voz é a música que embala a criança no ventre da mãe.
A voz é o espelho da personalidade humana. É o instrumento que nos apresenta ao mundo por meio de sons.
É o nosso bilhete de identidade oral.
Cada voz é única com as suas vibrações, cor, tons, sabor, textura e musicalidade próprios.
Por meio da voz dizemos quem somos, o que sentimos e como percepcionamos o mundo que nos rodeia.
Pela voz é possível descodificar as áreas mais escuras da vida do ser humano e também a luminosidade da sua alma.
A voz é a arma mais poderosa da humanidade.
É um dos instrumentos de influência que maior eficácia apresenta nas comunicações humanas juntamente com os gestos.
Um pequeno tremor na voz que fala, denuncia uma característica muito própria do locutor. Nada passa despercebido na voz que se projecta para quem nos ouve.
A tristeza, a insegurança, a alegria, o entusiasmo colam-se à voz como lapas nas rochas das costas marítimas.
A voz é o melhor ou o pior cartão de visita que se pode apresentar.
Conhecer a própria voz é conhecer um tudo/nada da nossa própria alma. A voz põe a descoberto as nossas angústias, os nossos sonhos, as nossas alegrias e intenções.
A voz expõe-me qual espelho da alma.



MARIA CEPEDA

domingo, 12 de novembro de 2017

Outra perspetiva do outono




Pequena aldeia neste Nordeste profundo
vestido de outono, pouco ainda,
mas outono, seco, agreste, árido
mas cheio de amor...

Nunca aqui venho que não queira esquecer-me de ir embora.
Este silêncio, este abandono, este estar e não estar,
consumido, de poucas falas, cheio de solidão,
onde poucos insistem na luta incessante pela sobrevivência do lugar.

Fotos: Maria Cepeda
Escrito por Maria Cepeda

GEORGES DUSSAUD - "A CIDADE E AS SERRAS" - Exposição patente no Centro de Fotografia Georges Dussaud


"O acaso, que em 1980, trouxe Georges Dussaud (1934, Brou, França) a Trás-os-Montes, converter-se-ia, pela importância do lugar, na obra e nos afetos, num cíclico retorno.
Dussaud conhece bem a região que, ao longo dos últimos 37 anos, tem vindo a ser o principal corpo de trabalho da sua obra, feita de incontáveis peregrinações por lugares, tempos e contextos muito distintos.
A convite do Município de Bragança, regressa em 2016 e 2017 com o propósito de realizar, pela imagem, uma narrativa sobre a contemporaneidade deste região, sobretudo no que ela mantém de original e identitário.
O comércio, os rituais e os ofícios, os trabalhos agrícolas e o pastoreio, as artes e a cultura, são alguns dos temas aqui tratados, sublinhando, ao mesmo tempo, a concertação que ainda se mantém entre a preservação das tradições serranas e as transformações impostas pela modernidade citadina.

Curadoria Jorge da Costa"
Retirado de Agenda Cultural da Câmara Municipal de Bragança

sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Parabéns Ernesto!




"Uma Bondade Perfeita", perfeitamente escrito, finalmente premiado!
Parabéns Ernesto Rodrigues por este prémio do PEN Clube Português absolutamente merecido, que tardava.
Temos muito orgulho em te ter como amigo, eu há 29 anos e o Marcolino há quase 50 anos.
Conhecemos o teu enorme talento, o teu incontestável valor e o teu trabalho incansável desde sempre. Admiramos a tua inteligência e a tua humanidade.
Parabéns amigo!

Maria e Marcolino Cepeda

"O mais recente livro de Ernesto Rodrigues (n. 1956) é dedicado à memória de Ágata (1972-2010) que para muitos refugiados do Afeganistão era chamada «Santa» Ágata «e cujo sofrimento não cabe nesta ficção» - segundo o autor. Ora a bondade perfeita para Ernesto Rodrigues é a mesma de Séneca na carta a Lucílio: «Sabes o que eu chamo ser bom: ser de uma bondade perfeita, absoluta, tal que nenhuma violência ou imposição nos possa foçar a ser maus.» Entre o Bem e o Mal, a narrativa regista «A máquina do mal estava bem oleada» para afirmar «O mal está nos homens. O ponto de partida é o Mal no Mundo tal como aparece no livro do Génesis: «O Senhor reconheceu que a maldade dos homens era grande na Terra, que todos os seus pensamentos e desejos tendiam sempre e unicamente para o mal. O Senhor arrependeu-se de ter criado o homem sobre a Terra e o seu coração sofreu amargamente». Na página 59 surge uma estratégia de vida («Aprendi em criança a não esbanjar. Não havia muito: para quê deitar fora esse pouco?») e duas perguntas na página 75: «Tem o deserto arrabaldes? Bom seria. E o sofrimento? Também não, que é um deserto maior.» Uma das personagens compara vida e literatura: «simpáticas edições de clássicos cabem num bolso, se a literatura não o distraísse das coisas mais importantes. Quanto á literatura pesada, deixá-la ficar. Dá dores de cabeça e cansa os músculos. Ser mau dá menos.» Outra personagem repete a comparação falando de jornais noutros termos: «Não folheava que a mentira macula os dedos». Logo a seguir outra ideia: «O jornalista inventa quanto pode. Distraído, não explica. Ou deixa-se levar com duas cantigas pelo grupo económico.» Tudo isto para concluir: «A história é longa- - Breve, a vida.» Portugal deixou de ser reino em 1910 mas o livro indica na página 114 «quando se finou o mais velho carrasco do reino» o que não significa que o reino aqui referido seja o português. Um país concreto surge na página 180: «Menigno prestara bons serviços aos aliados no Afeganistão antes de entrar em roda livre, com prejuízo do Ocidente.» Há nesta narrativa uma dupla inscrição: vida e ficção. Metáfora de um tempo cujas coordenadas não são as do nosso tempo pois tudo nesta narrativa oscila entre o real e o imaginado. Dito de outar maneira: esta é uma história com moral dentro do seu lastro. (Editora: Gradiva, Editor. Guilherme Valente, Capa: Armando Lopes)

Autoria e outros dados (tags, etc) por José do Carmo Francisco"


 Para recordar. (Foto - Maria Cepeda)

Ernesto Rodrigues vence prémio PEN clube com o livro "Uma Bondade Perfeita" (03/11/2017)





O escritor transmontano Ernesto Rodrigues foi distinguido com o prémio PEN Clube. O autor natural de Torre de Dona Chama, no concelho de Mirandela, venceu na categoria de narrativa o prémio pelo livro “Uma Bondade Perfeita”.
A distinção foi uma decisão por maioria tomada pelo júri, do qual fizeram parte Teresa Salema, Francisco Belard e Helena Barbas e apanhou de surpresa Ernesto Rodrigues, que nem sabia que o livro tinha sido candidatado ao prémio.
“Recebi com grande emoção, não esperava porque dei a indicação na editora para não concorre a prémios literários o que veio cumprindo nos últimos anos e para surpresa minha candidatou-me a este prémio, foi de facto uma surpresa, felizmente desta vez a minha editora desobedeceu e candidatou-me”, frisou.
As características peculiares da narrativa, a história actual sobre refugiados, bem como a linguagem foram os motivos para a distinção deste livro editado em 2016:
Os prémios PEN Clube Português têm o apoio da Direcção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas e são entregues no dia 21 de Novembro na Sociedade Portuguesa de Autores (SPA), em Lisboa.
O poeta Fernando Pinto do Amaral, com “Manual de Cardiologia”, venceu a categoria de poesia e “A Situação e a Substância: cinco ensaios sobre a ficção de Virginia Woolf e de Maria Velho da Costa” valeram a Rui Miguel Mesquita o prémio na categoria de Ensaio.

Escrito por Brigantia.
Retirado de: www.brigantia.pt

domingo, 29 de outubro de 2017

Outono em Bragança









Em toda a sua diversidade!
Em todo o seu esplendor!
Quanta cor, senhor, quanta cor,
nesta primavera já velha!
Neste outono estival.

Maria Cepeda (Fotos e texto)

Praça Camões, em Bragança

Duas perspetivas da Praça Camões, onde antes se encontrava o Mercado Municipal.



Sinto falta do velhinho Mercado Municipal e do seu bulício.
As recordações que tenho são muitas. Umas divertidíssimas, outras nem por isso. Pequenas zangas e alaridos; invejas saudáveis, disputas renhidas...
Era uma grande família transmontana!

Marcolino Cepeda
Fotos: Maria Cepeda    

Cadastro florestal simplificado avança e Alfândega da Fé integra projecto-piloto (25-10-2017)



Foi uma das medidas aprovadas pelo Governo no Conselho de Ministros extraordinário deste sábado.
Alfândega da Fé é um dos 10 concelhos que integra o projecto-piloto que vai fazer o cadastro simplificado das terras nacionais. A 1 de Novembro arranca o projecto-piloto tendo o decreto sido apresentado este sábado no Conselho de Ministros.
O sistema de informação cadastral simplificada avança para já de forma experimental, até final de 2018, nos municípios de Alfândega da Fé, Pedrógão Grande, Castanheira de Pêra, Figueiró dos Vinhos, Góis, Pampilhosa da Serra, Penela, Sertã, Caminha e Proença-a-Nova.
O objectivo é perceber a quem pertencem de facto extensas áreas de terreno florestal e para isso o Governo pretende criar um sistema de informação cadastral simplificada que permita a imediata identificação da estrutura fundiária e da titularidade dos prédios rústicos e mistos, e cria para esse processo o Balcão Único do Prédio.
A lei aprovada a 19 de Julho é uma das que integra a chamada reforma florestal que o Parlamento despachou, depois da tragédia de Pedrógão Grande e que foi complementada com as medidas que apresentadas na reunião extraordinária do Governo, de dia 21, para discutir o sistema de protecção civil e de defesa da floresta, na sequência das recomendações e conclusões da Comissão Técnica Independente, que produziu o relatório sobre os incêndios de Pedrógão Grande.
Entre estas medidas, está também o desenvolvimento de projectos de prevenção estrutural contra incêndios e de restauro em cinco áreas protegidas do território nacional, nos Parques do Douro Internacional e de Montesinho, bem como do Tejo Internacional, na Reserva Natural da Serra da Malcata e no Monumento Natural das Portas de Ródão. Os projectos, concretizados em estreita articulação com as autarquias, compreendem acções para a protecção de habitats e espécies, para a prevenção e vigilância contra incêndios e para a reabilitação de infra-estruturas existentes.
O Governo aprovou ainda, no âmbito da promoção da resiliência do território e das infra-estruturas, um Plano Nacional para a promoção de bio-refinarias, que espera possa “contribui para reforçar a aposta de Portugal na valorização das diversas fontes de energia renováveis, nomeadamente através da utilização sustentável de diferentes tipos de biomassa endógena” e que seja capaz de “utilizar os resíduos que resultam da limpeza das florestas portuguesas”, determinou a contratação de 500 sapadores florestais, ou seja, 100 novas equipas e de 50 vigilantes da natureza; autorizou a realização de despesa, pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, para a celebração de contratos de aquisição de serviços para instalação de redes de defesa da floresta contra incêndios e aprovou ainda um plano de actuação para a limpeza das bermas e faixas de gestão de combustível das estradas e rede ferroviária.

Escrito por: Jornalista Olga Telo Cordeiro

Da vergonha à recuperação da honra na política (24/10/2017 Editorial do Jornal Nordeste)




Salazar chegou ao poder cavalgando o medo da desordem, da incúria, da corrupção e do correlativo desastre orçamental, aparecendo como salvador da honra e garante da dignidade do país a que impôs, com a conivência de interesses político-económicos retrógrados, décadas de apagada e vil tristeza.
Pode parecer obtuso vir agora com esta memória para o tempo dito radioso do século de todas as promessas de harmonia e felicidade, a revelar-se fonte de misérias e horrores que quase nos deixam sem esperança em amanhãs nenhuns, no mundo todo e neste jardim de cinzas a meter medo ao próprio oceano. Mas não é, porque não se repetindo a história, a verdade é que os humanos têm uma propensão mórbida para recalcitrar, cada um e as comunidades com eles, numa vertigem de hedonismo que desdenha da ponderação e do bom senso que a experiência aconselha.
Com nove séculos de história a contemplar-nos, vemo-nos enredados em vergonhas que desanimam os entusiastas da democracia e ajudam ao crescimento do desleixo, até que inevitáveis tragédias tragam a dor imensa da negação de qualquer dignidade à nossa passagem por este mundo.
É penoso assistir quotidianamente à expressão da cupidez insana, mas arrogante, de quem chegou a conduzir os destinos do país, mas encarou a função como uma criança caprichosa, sem tino nem horizonte, qual narciso deleitado num pântano de podridão.
Ouvíramos falar de Calígula e de Nero em tempos longínquos, mas o seu poder não era propriamente resultante de processos democráticos. Não reconhecíamos como possível tal erupção sulfurosa nos dias das nossas vidas.
No entanto, a realidade parece não querer dar-nos razão. De qualquer modo, só teremos duas escolhas: a resignação ou o aprofundamento da cidadania, contribuindo para a elevação ética e moral das próximas gerações, que precisam de atenção aguda, mas serena, aos movimentos na realidade política, para não se deixarem enrodilhar em iniquidades que podem reconduzir-nos à miserável condição de bestas.
Se assim fosse, abrir-se-iam as portas ao surgimento de novíssimos redentores, vindos dos infernos, para acabar de vez com a obra imensa que tem sido o percurso civilizacional. A vida democrática comporta riscos que não se podem ignorar, mas também nos tem dado grandes alegrias, com todos os efeitos na dignidade, na construção do conhecimento, nos avanços técnicos e científicos que nos entusiasmam todos os dias.
Valerá a pena olhar para o outro lado da política, onde poderão surgir protagonistas em condições de apaziguar esta moinha que nos rói a alma e nos faz ficar de braços caídos de desilusão. Enquanto deixarmos que as decisões nos passem ao lado, não pedindo contas aos que elegemos e aceitarmos os ditames da obscuridade dos bastidores, estaremos a contribuir para a nossa própria desgraça.
Não é razoável queixarmo-nos das vergonhas da política, porque os políticos estão lá porque nós consentimos, só se mantêm se quisermos e só serão malevolentes se nós formos parvos.

Escrito por Teófilo Vaz, Diretor do Jornal Nordeste
Retirado de www.jornalnordeste.com

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

João Machado em exposição no Museu Nadir Afonso (Lusa em Qua, 25/10/2017)

Exposição “Arte da Cor, composta por cartazes e desenhos



O Museu de Arte Contemporânea Nadir Afonso, em Chaves, inaugura, a 28 de outubro, a exposição “Arte da Cor”, composta por cartazes e desenhos da autoria do designer João Machado, um dos profissionais portugueses mais premiados internacionalmente.
Comissariada por António Augusto Joel, a mostra fica em exibição até dia 08 de abril de 2018, anunciou hoje o espaço museológico, em comunicado enviado à agência Lusa.
Os mais de 150 cartazes reunidos para a exposição documentam, entre outras, a contribuição do artista para a definição da identidade da Associação Industrial Portuense, durante a década de 1980, a consolidação da imagem do Cinanima, ao longo de 40 anos, a ligação do autor a causas ecológicas e ambientais e o gradual estabelecimento de uma carreira internacional, distinguida por diferentes instituições na Europa e nos Estados Unidos, ligadas ao design e à ilustração.
Alguns dos motivos destes cartazes serviram ainda como veia orientadora para a criação experimental de peças tridimensionais que procuram explorar as fronteiras entre a obra efémera, o cartaz e a escultura, como destaca a apresentação da mostra.
A exposição apresenta ainda desenhos originais, feitos com tinta-da-China e que, durante a década de 1980, foram reproduzidos em diferentes obras de literatura infantil, bem como desenhos de caráter satírico e iconoclasta.
Muitas das esculturas abstratas, que João Machado fez, evidenciam a contemporaneidade da sua criação escultórica, uma plena sintonia com os movimentos artísticos internacionais e uma interligação com a sua posterior produção 'cartazística', segundo o museu.
Nascido em Coimbra, em 1942, João Machado licenciou-se em Escultura na Escola Superior de Belas Artes do Porto, onde também veio a ser professor de Desenho Gráfico.
Participa, desde 1983, em exposições coletivas e individuais que lhe trouxeram vários prémios nacionais e internacionais, destacando-se o Prémio de Excelência Icograda, em 1999, e a nomeação de Graphis Design Master.
Também recebeu o Prémio Nacional Gulbenkian para a melhor Ilustração de Livros para a Infância, o 1.º Prémio Nacional de Design, em 1989, e os prémios das bienais de Munique e de Leipzig, na Alemanha. Em Denver, nos EUA, em 1999, foi-lhe atribuído o 1.º Prémio para o Logo Film Commission, da Association of Film Commissioners International e, no Reino Unido, teve o prémio European Design Annual.
Ao longo da carreira, expôs em instituições como o Museu Nacional de Soares dos Reis, no Porto, a Sociedade Nacional de Belas Artes, em Lisboa, o Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, o Museu Brasileiro da Escultura, em S. Paulo, e o Memorial da Cidade, em Curitiba, Brasil, o Lincoln Center, no Colorado, EUA, e participou nos Dias da Cultura Portuguesa, em Frankfurt, Alemanha, entre outras iniciativas.
Autor de uma vasta obra, a sua paixão pelo cartaz é notória, constituindo a sua peça de eleição, mas revela-se igualmente no design editorial, nas áreas da ilustração e da filatelia.
João Machado é o autor exclusivo dos cartazes do Cinanima - Festival Internacional do Cinema de Animação, desde a sua criação em 1977.

Investigador de Bragança diz que queimadas são contingentes à agricultura (Lusa em Ter, 24/10/2017)




As queimadas são uma prática contingente à existência da agricultura que exige uma relação mais próxima com agricultores para prevenção no uso daquele que é o único recurso de limpeza, em alguns casos, preconiza um investigador de Bragança.
Manuel Ângelo Rodrigues é professor/investigador da Escola Superior Agrária de Bragança e conhecedor da realidade das queimadas usadas no outono e na primavera para limpar os campos de matos e restos de colheitas.
Para este investigador, “tem de haver uma preocupação especial das autoridades que gerem o problema dos incêndios com aquilo que é o meio rural, ter veículos de informação que façam chegar a informação aos agricultores”.
“As autoridades que gerem o território e, nesta caso concreto os incêndios, admitindo que a negligência por parte de agricultores pode ser uma causa de incêndios, é óbvio que eles [autoridades e agricutores] têm de estar intimamente ligados”, defendeu em entrevista à Lusa.
O fogo estará sempre presente nas práticas agrícolas, como explicou, concretamente para eliminar o resultado da limpeza do mato que se acumula junto a pequenas hortas típicas da agricultura de subsistência mais praticada a norte do rio Tejo.
“As pessoas têm sempre pequenas hortas para obter produtos familiares e essas hortas normalmente têm zonas cultivadas, mas confinam com locais onde se desenvolvem matos, silvas, vegetação mais alta. E o que acontece é que elas não podem permitir que os campos sejam invadidos por esse material”, explicou.
Essas bermas dos prédios agrícolas, das hortas, "têm de ser cortadas, têm de ser higienizadas, têm de ser limpas e esse material não tem destino coerente” porque não pode ser aproveitado para lenha para a lareira ou qualquer outro fim.
“A tendência mais lógica é fazer uma pequena pilha e chegar-lhe fogo e isto aparentemente não seria uma coisa muito má até porque não há outros sistemas para esse recurso. O problema é que eles deviam estar é conscientes que deviam ter algum cuidado para não haver incêndios”, afirmou.
Na opinião de Manuel Ângelo Rodrigues, a questão que se coloca é “como fazer chegar a informação a uma população que habita os meios rurais, provavelmente vê pouca televisão e menos ainda outros órgãos de comunicação social”.
“Este tipo de pessoas não estará recetiva a ouvir falar um investigador, não seria uma comunicação mais técnica, mais elaborada que teria efeito, teria que ser uma informação mais local, de uma entidade local, um presidente de junta, uma associação que de alguma forma tenha um contacto mais próximo e com uma linguagem mais simples, mais imediata”, apontou.
Segundo o investigador há ainda outro tipo de queimada agrícola que serve de preparação dos terrenos para as sementeiras, nomeadamente de searas, campos de trigo, arroz, milho, e que são feitas nesta altura do ano, no outono.
Os agricultores queimam os restolhos para facilitar a mobilização do solo (lavra) e a germinação das sementes.
Uma teoria contestada pela comunidade científica que contra-argumenta que, a queimada "tem um aspeto muito nocivo e muito negativo, de uma maneira geral, na fertilidade do solo”.
Faltam os estrumes naturais dos animais nos campos e a ciência defende que “os resíduos das culturas, os restolhos das plantas (são) matéria orgânica fundamental para o solo, ou seja, a palha do trigo, do arroz ou do milho, se for incorporada no solo é uma fonte de matéria orgânica muito importante e é fundamental para melhorar a fertilidade do solo”.
Além disso, explicou o investigador, o próprio restolho cria “um coberto vegetal que de alguma forma também é benéfico, sobretudo porque controla a erosão do solo”, considerada “o maior problema ambiental da bacia mediterrânica”.
As ajudas da União Europeia tentam travar esta prática, na medida em que para receberem os subsídios das medidas agroambientais, inclusive com uma majoração, os agricultores estão proibidos de queimar os restolhos.
Há contudo algumas exceções, já que, segundo ainda o investigador, “nalguns contextos destruir pela queima os restolhos é a única forma, ou pelo menos tem sido vista nalguns casos assim, mais lógica, mais simples de eliminar problemas sanitários como as pragas”.

Retirado de www.diariodetrasosmontes.com