Nasceu em Bragança e aqui viveu e estudou até ir para o ensino superior; como era ser estudante nesse tempo?
Eu diria que estudei numa altura muito agradável. A grande maioria dos professores do Liceu Nacional de Bragança, onde estudei, eram professores do quadro. Portanto, nós habituávamo-nos, como alunos que, quando tínhamos um professor de matemática no antigo 4º ano, tínhamo-lo até ao 7º. Essa estabilidade do ponto de vista docente, foi algo que se perdeu no tempo e perdeu-se com os professores que variavam todos os anos, de local para local. Portanto, nesse aspecto e referindo-me ao meu tempo, a maior agradabilidade era sabermos que aquele professor, gostássemos ou não gostássemos, estamos a falar também nesse aspecto negativo que eu não vou agora importantizar de maneira nenhuma, a maioria dos nossos professores de que gostávamos, sabíamos que nos acompanhavam até ao 7º ano. Este facto, do ponto de vista da docência, é o mais importante pela sua agradabilidade.
Quero dizer-lhe o seguinte: era um pouco mais difícil do que actualmente. Recordo-me que nos meses de Inverno ir, morava na Praça da Sé, para o liceu demorava cerca de um quarto de hora à chuva e ao frio. Não havia transportes, não havia casas a partir de um determinado passo do percurso e, portanto, as dificuldades diria, logísticas, de acesso ao liceu que hoje está no centro da cidade, há 25 anos atrás estava na periferia da cidade e, portanto, passávamos algumas dificuldades. Em segundo lugar, em termos de evolução social, oh que gratificante é o mundo hoje! Nós tínhamos uma sala de convívio onde convivíamos com as meninas nos intervalos, mas havia a ala dos rapazes e a das meninas portanto, hoje, esta ligação fortíssima e que busca o desenvolvimento do ser humano integrando as meninas e os meninos e prepara os jovens de maneira mais sóbria, muito mais forte, definindo o carácter muito mais precoces do que era no meu tempo. Nós convivíamos com as meninas e ansiávamos o baile do 1º de Dezembro. Era um dos pontos de contacto mais físico com as meninas, fora outros tipos de bailes que havia. Hoje o contacto é diário permanente e, portanto, desenvolve o homem, desenvolve a mulher, desenvolve todas as nossas personalidades o que significa que os jovens de hoje, em conclusão na minha perspectiva, estão muito mais preparados do que nós estávamos, porque eles hoje assumem com 18, 19 anos, funções de responsabilidade que nós assumíamos só de barba rija, (não é?) mais tarde, e eles hoje estão melhor preparados, não tenho dúvidas de isso.
Bragança, em todos os aspectos, mudou muito desde então…
Não tenho dúvidas sobre isso. Mudou sobre o ponto de vista de desenvolvimento, mudou sobre o ponto de vista de estratégia. Acho que Bragança esta a caminho do seu reencontro. Deixe-me dizer-lhe assim: Bragança é uma cidade de serviços. Como capital de distrito, tem o governo civil, a câmara municipal, a maioria dos serviços, como segurança social, polícia, enfim, todos os serviços que giram a volta de uma capital de distrito. Esses serviços, é sabido que estão a diminuir. Alguns estão a desconcentrar-se para outras regiões e, portanto, Bragança tem que se reencontrar com ela mesma, no sentido de dizer “Que especialidade eu vou tomar?”. Portanto, essa especialidade ligada ao turismo, ao desenvolvimento de uma cidade ecológica, como o Eng. Jorge Nunes, presidente da câmara de Bragança, pretende ou noutro tipo, como qualquer tema que venha a ser encontrado mas, Bragança tem de se encontrar, tem que se redefinir… têm de decidir qual é o seu objectivo, dado que há uma coisa que é certa, à maioria dos serviços públicos que hoje sustentam Bragança e vila Real, em cada 100 habitantes da cidade, trinta e oito são funcionários públicos em Bragança, e trinta e sete em Vila Real. Este número está a descer, nunca mais vai subir, portanto significa, na prática, que temos que buscar outras alternativas de sustento da própria cidade. Por outro lado, a estabilização dada por uma câmara municipal durante alguns anos, está a diminuir. A maioria dos serviços oferecidos pelas autarquias, estão a ser privatizados, por exemplo, os serviços dos recintos locais, a jardinagem, etc.
A tendência, hoje, normal e natural é privatizar a maioria dos serviços porque saem mais baratos e saem melhor qualificados para o utente. Nesse sentido, Bragança tem de se encontrar, e já vimos que o comércio tradicional não foi uma solução feliz porque, notoriamente, está a diminuir, algum está a manter-se, mas com grande dificuldade, portanto, há que encontrar uma especialidade para esta terra e eu quero deixar o meu juízo valor. Esta terra tem um caminho que é o tal turismo da tranquilidade. O turismo do Algarve é o turismo das massas. Hoje, devemos apostar num turismo de selectividade que vamos ter a muito curto prazo, nós transmontanos… não estou a dizer a câmara, nem o governo civil. Não! Estou a dizer, nós, cidadãos de Bragança… temos de encontrar alternativas e uma delas é o turismo… hotéis de melhor qualidade, quantos mais vierem melhor, porque não é a concorrência que já vimos que faz diminuir, pelo contrário, fá-los aumentar em termos de gratificação para quem os utiliza e equilíbrios de preços. Temos que encontrar investigadores que venham fazer campos de jogos, que venham permitir trazer pessoas…
O golfe que está na moda…
Exactamente, e era a esse que me queria referir. O campo de golfe mais próximo daqui, é o do Vidago. É um campo de 9 buracos, é um campo que, neste momento, já não sustenta os grandes jogadores. Todos querem um campo de 18 buracos. Bragança tem espaço, tranquilidade, vivência e bom tempo para essas situações. Essas especificidades, obviamente, Bragança tem que as encontrar e, a par dessas, outras ideias que venham.
O que o levou a seguir engenharia agrícola?
É engraçada a sua pergunta. Tenho de lhe dizer o seguinte: não tinha nenhuma vocação agrícola, nenhuma, é apenas uma tradição, da minha casa. O meu tio Martins da Cruz é uma pessoa que se formou em agronomia em Lisboa. A minha tia, casada com ele e que se conheceram em agronomia, infelizmente já falecida, também cursou agronomia e, no decorrer das conversas, sabemos o que é a influência dos mais velhos, daqueles que nós admiramos, que gostamos, no sentido de alguma forma, dar alguma perspectiva aos mais novos. Sempre tive no meu tio uma conduta a seguir. O meu tio era aquela pessoa que saía de Bragança para Lisboa, que conduzia o seu próprio carro… era aquele que eu gostava de imitar e, portanto, naturalmente, aconteceu que, quando me fizeram uma pergunta, aquelas perguntas que os professores fazem na turma, “o que é que tu queres seres quando fores grande, quando fores para a universidade?”, naturalmente respondi “Quero ser agrónomo.”