sexta-feira, 23 de março de 2012

Sonhos

doía-me que o dia passasse,
assim, sem sonhos
as árvores
carregadas de flores
adiataram-se na floração

da minha janela
avisto-as
vestidas de noiva, umas
de rosa menina, outras
grávidas todas,
rubicundas de possíveis frutos

se ao menos chovesse...
se ao menos a primavera
fosse, simplesmente,
explosão de flores
de verdes novos...

fecharia os olhos.
na pele,
branca e fria,
a carícia tímida do sol.
nos cabelos,
uma suave brisa ondulante

na alma,
um oceano imenso
azul-verde mar
e as ondas,
em sereno remansar
devagar, devagar

canta sereia, canta
as canções que sabes cantar
ouvi-las-hei,
com ouvidos de fada,
puras e cristalinas
de sonhos embalar

sem ser marinheiro
serei maresias
ondas revoltas
ondulantes dias
noites serenas
lágrimas escondidas

auroras tardias.
gaivotas crianças
cercam o barco
que cruza as ondas
olhar errante
perdido na praia
onde não serei

Mara Cepeda

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