terça-feira, 13 de outubro de 2015

Outono... tempo de uvas

 Uvas e folhas multicolores inebriam sentidos.


Para vinho não são que prá mesa irão.


Maria Cepeda

O outono visto por outros prismas

O outono calmamente se instala.
Recebe-mo-lo com um ligeiro esgar de "Já cá estás? Podias demorar-te mais um bocadinho..."
Mas as estações do ano sucedem-se umas às outras como tem que ser e ainda bem.
Esta, ora cinzenta e chuvosa, ora ensolarada e agradável, mostra muitas faces, embora não minta. Vejamos...




Maria Cepeda

Escavação coloca a descoberto fortaleza medieval em Freixo de Espada à Cinta



A fortificação do século XIII terá sido desmantelada ao longo do tempo para que as pedras trabalhadas fossem usadas
Uma equipa de arqueólogos ao serviço do município de Freixo de Espada à Cinta está a colocar a descoberto, na zona histórica da localidade transmontana, vestígios da antiga fortaleza medieval da vila, presumivelmente datada do reinado de D. Dinis.
O trabalho procura descobrir o perímetro das muralhas, que deverá rondar os cerca de 300 metros e que, ao que tudo indica, era composto por oito torres de menagem, sendo considerado pelos arqueólogos como um castelo "opulento" para a região de fronteira.
João Nisa, um dos investigadores envolvidos nas escavações, disse à Lusa que se trata de uma fortificação do século XIII, que ao longo do tempo foi sendo "desmantelada", para que as "pedras já trabalhadas" fossem utilizadas na construção de algumas das casas "das famílias mais emblemáticas" da vila de Freixo de Espada à Cinta, do início do século XIX.
"Quem se der ao cuidado de passear pelas ruas da zona histórica de Freixo de Espada à Cinta, depressa se apercebe de que as pedras utilizadas na construção de diversas casas são trabalhadas e detêm o símbolo do canteiro que as talhou, à semelhança do que era usual na Idade Média", justifica.
No local onde esteve edificada a fortificação, só resta a Torre do Galo, de planta heptagonal, que na opinião dos investigadores só resistiu ao tempo "por esta edificação suportar os sinos que ecoam na vila, já que a igreja matriz não tem torre sineira.

Escrito por LUSA
Retirado de DN PORTUGAL

Descoberta fractura tectónica em formação perto da costa portuguesa



Uma equipa internacional liderada por portugueses detectou os primeiros sinais da formação de uma zona de fractura no fundo do Atlântico e propõe uma explicação "infecciosa" para este fenómeno
Após os grandes terramotos de 1755 e 1969 em Portugal, já se suspeitava que algo estivesse a acontecer no fundo do Atlântico, próximo da Península Ibérica. Porém, tudo parecia muito calmo nas margens continentais deste lado do oceano - ao contrário do que acontece, por exemplo, nas margens do Pacífico, onde uma intensa actividade tectónica conduz regularmente a violentos terramotos e erupções vulcânicas.
Mas agora, graças a modernas técnicas de sondagem, João Duarte - actualmente a trabalhar na Universidade de Monash, na Austrália -, colegas daquela universidade e da Universidade de Brest (França), e Pedro Terrinha, Filipe Rosas e António Ribeiro, da Universidade de Lisboa, concluem que afinal essa calma era apenas aparente. Os resultados acabam de ser publicados online na revista Geology.
Através do mapeamento dos fundos atlânticos, estes cientistas descobriram, na margem sudoeste ibérica, as primeiríssimas fases da formação de uma zona de subducção, fenómeno geológico em que uma placa tectónica da Terra mergulha debaixo de outra. Um tal fenómeno de transformação de uma margem tectónica "passiva", onde nada acontece, numa margem onde as placas se deslocam - e que deverá decorrer durante uns 20 milhões de anos -, nunca fora observado até aqui em parte alguma do planeta.
"A técnica de "batimetria multifeixe" deu-nos a morfologia e a forma do fundo do mar com alta resolução e a técnica de "sísmica de reflexão" forneceu-nos perfis da crosta terrestre que nos permitiram mapear as estruturas a três dimensões" do fundo oceânico, disse ao PÚBLICO João Duarte. "Ambas as técnicas se baseiam no princípio do sonar: usam ondas e ecos sonoros para "ver" o fundo do mar e a crosta terrestre." Os dados demoraram anos a serem coligidos: "Mapeámos um conjunto de falhas compressivas interconectadas ao longo de uma extensão de aproximadamente 300km", acrescenta João Duarte.
A confirmarem-se os resultados, isso significa, antes de mais, que, daqui a uns 220 milhões de anos, o oceano Atlântico poderá vir a desaparecer e as massas continentais da Europa e da América poderão juntar-se num novo supercontinente. Este tipo de "rearranjo" continental já terá acontecido várias vezes ao longo dos mais de quatro mil milhões de anos de história do nosso planeta, com o movimento das placas tectónicas a desmembrar antigos supercontinentes (como a célebre Pangeia, que reunia todos os continentes actuais) e a abrir oceanos entre as várias massas continentais resultantes.
A descoberta também permite elucidar o mistério da formação de margens activas, explica o co-autor Filipe Rosas em comunicado da Universidade de Lisboa. O mistério reside no facto de ser difícil explicar de onde vem a força capaz de romper a crosta oceânica muito resistente das margens passivas, o que é indispensável para dar origem a placas activas.
Uma das hipóteses que foram propostas, já nos anos 1980, em particular pelo geólogo António Ribeiro, co-autor dos actuais resultados, era que, dado que seria mais fácil propagar uma rotura do que a formar de raiz, as novas zonas de subducção se criariam por propagação, por migração - por "infecção" - de zonas de subducção existentes noutros locais. É precisamente esta hipótese que a descoberta vem corroborar.
"A ideia nasceu em terra, quando encontrámos falhas que indicavam que havia coisas a acontecer no fundo do mar", disse-nos por seu lado António Ribeiro. "Algumas das falhas que mapeámos (como a falha Marquês de Pombal) já eram conhecidas", frisa João Duarte, "mas o novo mapa que agora apresentamos permite perceber como elas podem estar a funcionar em conjunto."
No caso da margem sudoeste ibérica, esta nova zona de subducção estaria a propagar-se a partir do Mediterrâneo ocidental. "Existe uma outra zona de subducção, por debaixo de Gibraltar, que faz parte de um sistema de subducções que causaram o fecho do Mediterrâneo (que ainda está a fechar-se, devido à colisão da África com a Eurásia, que formou montanhas como os Alpes)", explica-nos ainda João Duarte. "Em Gibraltar, a subducção está "entalada" entre África e a Península Ibérica, mas ela pode ainda gerar forças na margem oeste portuguesa."
O facto de uma zona de subducção estar a formar-se ao largo de Portugal também tem implicações mais imediatas, concretamente em termos da actividade sísmica futura na região envolvente, que inclui países como Portugal. A confirmação conduziria necessariamente, salienta-se no comunicado, "a uma revisão "em alta" da perigosidade sísmica regional (...), tornando ainda mais urgente uma resposta condizente dos governos em causa na adopção das respectivas medidas de prevenção." 

Escrito por: Ana Gerschenfeld
Retirado de www.publico.pt

domingo, 4 de outubro de 2015

Entrevista ao Doutor Carlos Augusto Pinto de Meireles, geólogo

Vamos chamar à sua entrevista “Á procura da nossa Geologia”.
Nasceu na Póvoa de Varzim, fale-nos um pouco da sua infância, da sua juventude.

C.M. – Enfim, foi uma infância normal. Embora eu tenha nascido na Póvoa, passei a infância e a escola primária numa aldeia em Penafiel. O meu pai era natural de lá, a minha mãe era professora primária e passei a minha infância entre a aldeia e o mar. Estou dividido entre o mar e o campo.
Depois desse período de infância regressei à Póvoa porque, na altura, não havia escolas secundárias em Penafiel. Isto em 60, 61 e havia o Liceu Nacional na Póvoa de Varzim que era o único. Regressámos, portanto, à Póvoa e fiz ali o secundário.
De facto, marcou-me essa dicotomia… estou dividido entre o mar e o monte e os graus de liberdade que tinha quando era criança com os meus 7, 8 anos. O à vontade com que andava pelos campos e pelos montes com os meus companheiros da infância… Tenho impressão de que me marcou bastante no despertar da profissão que escolhi.

Diga-nos, então, no seguimento do que nos contou: Porquê a Geologia?

C.M. – Foi uma professora de ciências naturais que me fez despertar o gosto pela Geologia. Eu estava no meu quinto ano do liceu e essa professora fez-me querer ser geólogo. O seu amor pela disciplina era contagiante. Sabia levar-nos por caminhos inexplorados e fez com que eu me decidisse, aos meus 15, 16 anos. Sinto-me realizado. Faço aquilo que, de facto, gosto. Tenho esse privilégio e, embora as pessoas… Recordo-me de, algumas vezes, amigos dos meus pais estranharem a minha escolha. Para mim e para os meus pais não era estranho. Os meus pais tinham alguns primos que estavam licenciados em Ciências Geológicas. Portanto, na família não era estranho o curso de Geologia, mas as pessoas conhecidas quando abordavam os meus pais sobre o que o filho mais velho ia fazer e os meus pais diziam que ia ser geólogo, ficavam: “O que é isso? Geologia?”
Aliás, continua um pouco essa ignorância, essa falta de consciência de uma profissão. Nós, que somos tão dependentes dos materiais geológicos… Infelizmente, essa ignorância continua presente na sociedade portuguesa. Não sei se é uma espécie de passar de esponja… de ignorância, falta de tomada de consciência já que é uma profissão tão digna...

Valorizam-se umas profissões e desvalorizam-se outras...

C.M. – Isso acontece com muita frequência, não apenas com a Geologia, mas com outras profissões também.

Fale-nos, por favor, de um estudo realizado por vários geólogos, que revela que as rochas existentes na zona das Cantarias, pertencentes ao Parque Natural de Montesinho são as mais antigas de Portugal.

C.M. - O estudo foi feito por um colega meu da Universidade de Aveiro, na sua tese de doutoramento, Luís Francisco Santos. Foi divulgado em comunicados, trabalhos oficiais em congressos, trabalho conjunto… Espero não falhar nenhum nome, do José Francisco Santos, do Professor António Ribeiro da Universidade de Lisboa, do Doutor Fernando Marques, também da Universidade de Lisboa, do professor Tacinardo da Universidade de São Paulo. Portanto, esse trabalho foi publicado, um trabalho conjunto.
Penso que o primeiro trabalho que refere as datações das rochas dos Altos Pereiros, foi no âmbito de uma tese de doutoramento do meu colega José Francisco Santos. Quando se organizou essa exposição no Centro Cultural aqui em Bragança, foi referido numa entrevista, por mim e pelo meu colega José Brilha, como um exemplo do interesse da protecção daqueles afloramentos, porque, de facto, é uma idade polémica. Eu e os meus colegas datámo-los em mil milhões de anos. Embora seja polémica, porque se se confirmar que eles têm essa idade, é que em Espanha há…
Voltando um pouco atrás, estes corpos geológicos existem na Galiza, três ou dois em Portugal, o de Bragança e de Morais. Estas rochas resultaram de uma tectónica de placas que se começou a processar por volta dos 400 milhões de anos até aos 320 milhões de anos, processo de fecho de um grande oceano e da colisão de dois continentes, que agora já não existem. Há vestígios dessas rochas, o que seria, mais ou menos, à latitude atual, a América do Norte, as Américas. Portanto, o fecho desse oceano começou dos 400 milhões… Eu estou a falar um pouco de cor, posso não estar a dar as idades precisas, entre os 400 milhões e os 320 milhões de anos, altura em que se deu o fecho completo desse oceano.
E o que é que acontece quando há o choque de duas placas tectónicas continentais? Há todo um material do fundo da crosta oceânica e sedimentos do oceano que vão desaparecer, e há outra parte que cavalga, que sobe. Sobe porquê? Há um encurtamento do espaço, há uma incapacidade física de ocupar esse espaço, esse volume e, esse material cavalga. Esta unidade imensa calcula-se que tenha cavalgado sobre um outro continente, nas actuais latitudes cerca de duzentos quilómetros de oeste para leste e a esta unidade chamamos nós… Os geólogos dividem a península ibérica geologicamente em várias zonas estruturais e esta é uma delas. A zona chama-se Galiza/Trás-os-Montes e, a característica dela é a presença destes corpos que são deslocados doutras origens...

São rochas do mar...

Curriculum vitae de Carlos Augusto Pinto de Meireles

Doutor em  Geociências, especialidade em Estratigrafia e Sedimentologia, pela Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, 2012.
          Licenciatura em Geologia da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, 1980.
Atribuições/Competências/Atividades: Cartografia dos erógenos variscos e cadomianos das Zonas Galiza-Trás-os-Montes e Centro Ibérica; Litoestratigrafia, geologia estrutural e litogeoquímica; Património geológico; Recursos geológicos, ordenamento e planeamento do território.
Áreas de trabalho/investigação/interesse: Paleozoico do Centro Ibérico, Galiza média e Trás-os-Montes; paleogeografia, litoestratigrafia e estrutura; mineralizações associadas ao vulcanismo destas formações.

Carlos Augusto Pinto de Meireles, natural da Póvoa de Varzim, onde nasceu em 1955, trabalha como geólogo assessor do instituto nacional de Engenharia, tecnologia e Inovação, INETI.
Em 1980 concluiu a licenciatura em geologia, ramo científico, pela Faculdade de Ciências da Universidade do Porto.
De 1981 a 1985 iniciou as suas actividades profissionais como geólogo na Billington Portuguesa, desenvolvimento mineiro.
De 1981 a 1982 esteve a trabalhar em Trás-os-Montes. De Janeiro de 1981 a Julho de 1983 fez prospecção de estanho e tungsténio em Bragança.
De Julho de 1983 a Agosto de 1985 fez prospecção de sulferatos maciços na faixa epiritosa ibérica nos distritos de Beja (Alentejo) e Faro (Algarve).
De 1985 até à presente data tem colaborado e participado em vários projectos de investigação.
Tem publicado as seguintes cartas geológicas: Espinho Sela; é coautor da carta geológica de Braga; está a efetuar os levantamentos das cartas geológicas à escala 1:50000 de Bragança, São Martinho de Angueira e Vinhais.
Colaborou na edição de 2000 da carta geológica de Portugal onde é um dos coo autores na revisão do paleozóico desta carta. Colabora na preparação de cartas geológicas e na revisão da carta geológica à escala de Caminha (escala 50000).
É autor e coautor de diversos trabalhos científicos publicados em revistas da especialidade nacionais e estrangeiras.
Doutoramento em geologia na faculdade de ciências da universidade do Porto sob o tema da tese é “A geologia do paleozóico do sector do nordeste, Bragança, Trás-os-Montes”. 

Escrito por Maria Cepeda