quinta-feira, 23 de março de 2023

INCONSEQUÊNCIA (Maria Cepeda)



23 de março de 2023. Cá chegados, com afazeres vários, vivemos um dia de cada vez. Um... dois... três... 

Nada de estranho se passa no Reino da Dinamarca! 

Nada? Tens a certeza? Vê bem, não vá o diabo tecê-las... olha que as vidas podem ser belas... ou não.

Que devemos fazer então? 

Viver, resposta óbvia. Ou morrer... assim como quem não quer a coisa, como quem... 

Que disparate de texto é este? Estás tola ou o que?

Nem uma coisa nem outra. Apenas estou. Enquanto viver, saberei quem sou.

Gosto disto. Anseio por poder fazer este jogo de palavras.

Pode parecer inconsequente, infantil, incoerente...

Pode parecer um pouco "EU" quando estou relaxada, quando não estou em quase nada.

Como se nada fosse neste alvorecer, neste acordar mecânico de hora marcada.

Ainda não sou. Espero por ser. 

Neste meio tempo de horas perdidas, vivo vidas que não são minhas...

É hora de crescer. É o momento que se esvazia, que teima em querer, como se cada dia me fosse perder por montes e vales, por socalcos e rios, por nada fazer...

Então, porque não fazes? Porquê esta entrega "À PENA DE MIM?"

Neste diálogo surdo, tão meu que dói, sei que me encontro na dor que corrói a minha certeza de fazer o que posso, mesmo estando tão triste.

Tão triste? Sempre de sorriso aberto nos lábios bonitos?

Essa tristeza só a mim pertence. Só a mim cabe. As vidas que tenho só Deus é que sabe.

Todos os dias à hora marcada, desperto inquieta por não fazer nada. 

 

segunda-feira, 20 de março de 2023

Bailarina


rodopia de braços no ar
bailarina que quer dançar
na ponta do pé, cristal a estalar
em braços erguida 
não vai mais chorar

gira menina
pequenina flor 
nos braços do amor
nas ondas serenas do mar
que tão cedo te vai acordar

aquela gaivota
que teima em grasnar
na tua janela baixa o olhar
e voa sem medo 
como as ondas do mar

a onda galopa, cavalo a voar
corre, corre bailarina
não é tarde para amar
o tempo parou
nos teus olhos fechados 

dorme bailarina
a gaivota voou
nos braços da mãe
ela se encostou


Maria Cepeda

segunda-feira, 6 de março de 2023

Entrevista realizada ao Professor Doutor Luís Manuel Santos Pais

Professor Doutor Luís Manuel Santos Pais nasceu em Aveiro a 3 de Dezembro de 1966. Ingressou no Instituto Politécnico de Bragança em 1992, onde é professor coordenador da Escola Superior de Tecnologia e de Gestão.

          Foi presidente do conselho científico desta escola, de 2000 a 2004 e é, presentemente, vice-presidente do Instituto Politécnico de Bragança.

É doutorado em Engenharia Química pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. A tese de doutoramento, intitulada “Separação de Enantiómeros por Cromatografia Líquida em Leito Móvel Simulado” recebeu, em Fevereiro de 2003, o 1º Prémio CUF (Companhia União Fabril) para a melhor tese de doutoramento concluída por doutorados de nacionalidade portuguesa na área da Engenharia Química no triénio 1999-2001.

À procura do futuro de todos nós…

Boa tarde. Nasceu em Aveiro. Que recordações guarda da sua infância?

Prof. Doutor Luís Pais: Guardo as recordações normais e agradáveis já que é uma cidade bastante agradável, assim como Bragança, bastante diferente, mas penso que… estou a viver em Bragança e já guardo muito boas recordações de Bragança e, evidentemente de Aveiro, como já referi. Só vou lá de vez em quando mas as saudades são maiores.

Como foi a sua vida de estudante?

Prof. Doutor Luís Pais: A minha vida de estudante… até aos dezoito anos foi integralmente em Aveiro onde nasci e vivi. Depois tive algumas dúvidas sobre qual seria o futuro em termos de ensino superior. Só me decidi a um ano de entrar para a faculdade, achei que engenharia química seria uma área interessante e, como em Aveiro não havia essa área, fui estudar para o Porto. Aí fiz a licenciatura. Acabando a licenciatura, ingressei logo depois no Instituto Politécnico de Bragança, apesar da minha ligação ao Porto ter continuado até ao Doutoramento iniciado em 1999, com a ligação ao litoral, fixando-me em Bragança a partir daí.        

Sendo natural de Aveiro, seria lógico que quisesse regressar à sua terra. Que razões o fazem estar longe dela, principalmente quando assistimos a uma fuga desenfreada para o litoral?

Prof. Doutor Luís Pais: É uma pena essa fuga. Acho que estou em Bragança, um pouco pelo acaso e pelas oportunidades que surgiram. Quando vim, penso que até é uma história, se me permite contar, interessante. Conclui a minha licenciatura em Setembro de 1991 e ao ver uma das últimas notas que faltavam sair, eu e um colega meu daqui da região que também é colega do IPB, vimos um anúncio a procurar assistentes para a escola superior de tecnologia e gestão. E dissemos um para o outro, porque não? Ele era de Macedo, eu sou de Aveiro mas já tinha vindo cá uma vez a Bragança porque um amigo de infância é daqui, e, porque não? Vamos concorrer à procura de um emprego pós licenciatura e fazer essa aposta. Passados três meses fomos chamados a entrar na instituição e fomos construindo, naturalmente, o nosso futuro. Penso que o IPB constitui uma muito boa oportunidade para os docentes que ingressam nele e é pena que na região não haja outras instituições que potenciem essas tão boas oportunidades.

O que eu acho é que se o interior tivesse mais instituições que dessem condições de permanência aos seus trabalhadores, as coisas seriam um pouco diferentes. Quanto às saudades de Aveiro, acho que é bom sentir saudades. Acho que é bom voltar à terra onde se passou bastante tempo, mas eu acho que não sinto nenhuma preocupação de viver uma vida inteira no mesmo sítio.   

Ainda se sente totalmente aveirense ou já é um bocadinho transmontano?

Prof. Doutor Luís Pais: (Risos) Eu acho que sou de todo o lado. Sou do sítio onde me sinto bem. Bragança, acho que tem condições, digamos, ambientais fabulosas. E para se viver, acho que a qualidade de vida, nesse aspecto, não tem par. Acho que ganhava aí, se quiser. Infelizmente, o que falta a Bragança são estruturas de apoio que também faz pesar na escolha das pessoas. 

A sua vida profissional está, desde 1992, ligada ao Instituto Politécnico de Bragança. Fale-nos brevemente desse percurso.

Prof. Doutor Luís Pais: Decidi concorrer para o lugar de assistente em 1991. Naturalmente demorou algum tempo. Fui chamado no segundo semestre de 1991-1992, em março de 1992. Entrei como assistente, dei aulas durante esse semestre e depois fui cumprir o serviço militar obrigatório, em Mafra. Foi uma experiência bastante diferente mas muito interessante. Finda essa contribuição, voltei, naturalmente ao Instituto, do qual não sai mais. Tive, a partir de Abril de 1993, findo o serviço militar, iniciar os estudos do doutoramento, na área da engenharia química, a ganhar em formação. Conclui em 1999. Depois tem sido a vida de Professor, digamos assim, que envolve a docência e fazer investigação e da forma que melhor sei e que os colegas achem que eu posso contribuir dessa forma, ajudar na gestão da Casa.  

Ganhou o 1º Prémio CUF (Companhia União Fabril) para a melhor tese de doutoramento em Engenharia Química no triénio de 1999/2001. Fale-nos disso.

Prof. Doutor Luís Pais: Então, vamos começar por explicar o nome da tese que é um bocado comprido e um bocado esquisita. A tese, dito em português, “Separação de Enantiómeros por Cromatografia Líquida em Leito Móvel Simulado”. Vamos lá ver: enantiómeros são complexos químicos que são quase iguais, mas não são definitivamente iguais. Ou seja, são compostos, se pensarmos numa estrutura a três dimensões, são imagens um do outro do espelho, tal qual as nossas mãos. Se nós olharmos para a nossa mão direita ou esquerda, elas são diferentes mas, se colocarmos a nossa mão direita ao espelho, estamos a ver a nossa mão esquerda. Obviamente, esses compostos têm propriedades muito semelhantes, mas não iguais. E terão propriedades e acções muito semelhantes se estiverem num meio que não os consegue distinguir, mas vão ter propriedades e acções muito diferentes se estiverem num meio que o consiga distinguir. Nós, tecnicamente, chamamos um meio tiral, porque os nossos compostos também podem ser chamados tirais. O exemplo claro da presença e da utilidade desses compostos é na indústria farmacêutica para fazer medicamentos. Na esmagadora maioria dos medicamentos, o princípio activo é composto por esse tipo de compostos.

Ora, tendo em conta isso, que esses compostos podem ter acções diferentes é, de todo, benéfico e posso dar dois ou três exemplos daqui a pouco, separá-los. A técnica de separação, digamos que é uma área nobre da grande área da engenharia química. Existem vários processos de separação. O que eu estudei é um em particular que nós chamamos processo de absorção. Mais propriamente em termos da tecnologia, o que eu estudei foi uma tecnologia particular para potenciar essa separação que é o chamado leito móvel simulado. Não vale a pena estar em pormenor a explicar a tecnologia mas, digamos que é um conjunto de elementos de separação, interligando uns com os outros, que potencia obter resultados bastante melhores do que eles em separado. O meu objectivo foi, do ponto de vista tecnológico e matemático, tentar compreender esse processo para de forma a optimizá-lo.

Já agora, se me permite voltar à questão dos exemplos, só para terem uma percepção da importância de separar este tipo de composto, posso dar-lhe alguns exemplos com consequências completamente diferentes. Por exemplo, temos um composto que se chama aspartame. Na realidade, é um composto tiral com dois compostos. Um adoça e o outro é amargo. Obviamente, se nós queremos ter um produto como adoçante é melhor conseguir separá-los e utilizarmos o produto só com o que tem de facto, essa função. Um outro exemplo bastante descrito na indústria farmacêutica é o ibuprofeno que é um princípio activo que é utilizado como analgésico. Na realidade, um desses compostos tem esse efeito, o outro não tem efeito nenhum. É um inerte. Podíamos dizer: “Deixá-lo lá que não está a fazer mal nenhum.”

De facto, não está mas, estudos científicos já provaram que quando tomamos ibuprofeno com os dois compostos juntos, ou seja 50% de cada um, o tempo de acção é de cerca de quase quarenta minutos. Se tomarmos só aquele que tem a acção analgésica, a dor de cabeça, ao fim de doze minutos, passa. É um problema de eficiência que é óbvio. Um terceiro exemplo, se me permite, que é mais trágico e que muitas vezes costuma ser também descrito para explicar a importância de os separar, é a talidomida que nos anos 50, 60 era administrado como medicamento para os enjoos matinais das grávidas.

Ora, infelizmente, e penso que, talvez, quem seja dessa altura, ainda se recorde, de facto isso era o efeito de um deles, mas o outro tinha efeitos perversos que provocavam danos em fetos. Portanto, temos aqui o exemplo mais dramático. Felizmente não são todos assim, temos aqui o exemplo de que é de facto necessário separar esse tipo de para que os medicamentos sejam mais seguros e mais eficazes.               

O que é um leito móvel simulado (SMB) e como é que essa tecnologia que começou com aplicações na indústria petroquímica se aplica agora na indústria farmacêutica?

Prof. Doutor Luís Pais: A tecnologia de leito móvel simulado não é nova. Já vem dos anos 70. Foi inventada por uma empresa americana que se dedicava à indústria petroquímica. A sua aplicação standard era separar compostos à base de chilenos. Isso, obviamente, no mundo industrial existem as patentes que protegem a ideia que uma determinada empresa teve e levou a cabo, era uma patente que durava trinta anos. Ou seja, durante trinta anos, ninguém mais no mundo industrial poderia utilizar aquela tecnologia. Isso durou até aos finais dos anos 80 e início dos anos 90, findo o qual ficou a ideia aberta a quem quisesse usar e foi nessa altura que algumas empresas entenderam que aquilo era um óptimo processo para aplicar em outras áreas, nomeadamente, a indústria farmacêutica. Isto porque a tecnologia de leito móvel simulado, da forma mais simples se adapta muito bem a separar misturas binárias, ou seja, a separar misturas que têm dois compostos que é precisamente o problema dos compostos tirais.

Essa ideia surgiu no início dos anos 90 por uma empresa que já se dedicava a este tipo de separações mas em outros processos, decidiu na altura submeter um projecto europeu em que era essa empresa com uma série de parceiros académicos que iriam ajudar a resolver, quer em termos técnicos da instalação, quer em termos de previsão do processo em si e da sua autonomização. Nós tivemos a felicidade de ter sido convidados para ingressar nessa equipa nessa segunda tarefa e tivemos a felicidade de todo o processo correr bastante bem. Hoje em dia, a empresa mudou de nome e cresceu bastante e é hoje líder mundial na venda deste tipo de instalações para a indústria farmacêutica.    

A sua tese foi integrada num projecto europeu para a criação de uma empresa que é hoje líder mundial na comercialização das unidades de leito móvel simulado (SMB). Fale-nos brevemente sobre esse tema. 

Prof. Doutor Luís Pais: Esse projecto envolvia a construção de instalações ou melhor dizendo, a adaptação da ideia que havia sido criada na década de 60 para a indústria farmacêutica que em termos tecnológicos não era bem a mesma solução. Não querendo ser um pouco maçador mas de uma forma muito simples, digamos que temos um conjunto de colunas onde se processa a separação, um carrossel de colunas e o truque, digamos assim, é achar a melhor forma de rodar ou de utilizar essas colunas de forma a potenciar a separação. Esse truque em termos da empresa americana dos anos 60 era feito com uma única válvula que se chegou à conclusão de que era a solução ideal para instalações de dimensões bastante grandes que eram as instalações típicas da indústria petroquímica.

Ora, acontece que muitas vezes na indústria farmacêutica é necessário fazer instalações piloto mais pequeninas porque queremos separar apenas uma pequena quantidade, para fazer testes às possíveis drogas que vão ser utilizadas e, portanto, tecnicamente chegou-se à conclusão que é muito mais útil fazer uma instalação onde não temos uma única válvula mas uma série de válvulas.

Posto isto, digamos que uma parte do trabalho foi desenhar uma instalação melhor para uma escala mais pequena. Do outro lado, onde nós entrámos tratava-se de tentar modelar matematicamente todo o processo para o tentar prever e para o tentar optimizar. Digamos que isto é um tema, é uma metodologia cara. Ou seja, um engenheiro químico faz um modelo matemático resolve-o numericamente ou tem resultado teórico e, depois, vai para o laboratório e faz experiências. E, obviamente, o que é bom é chegar ao fim e testar e as contas darem certo. Ou seja, a teoria bater em cima da prática e, portanto, foi aí a nossa contribuição.        

Para além das aplicações de que já falámos, que outras aplicações, práticas, pode ter?

Prof. Doutor Luís Pais: Em termos da tecnologia leito móvel simulado é uma tecnologia que de facto teve muito crescimento, beneficiou de grande crescimento, como tinha dito, na indústria petroquímica, mesmo antes de terminar a patente, também desenvolvida pela mesma empresa. Foi aplicada à indústria dos açucares, em particular, para separar a frutose da glicose, e depois de ter findado a patente, em princípio, foi utilizada nos compostos de drogas na indústria farmacêutica e, agora, tem sido uma série de números de aplicações, nomeadamente na biotecnologia, separar aminoácidos, separar proteínas, ou seja, a gama de aplicação tem crescido bastante, em particular, na indústria alimentar, digamos assim.     

Sente o peso da interioridade reflectido no Instituto Politécnico?

Prof. Doutor Luís Pais: Acho que se sente em todo o lado um pouco. Agora, o IPB constitui-se como uma das maiores empresas da região pela sua capacidade de captação de vida, digamos assim, de gente para a região. Se sentimos esse peso, obviamente que sim, obviamente que é mais difícil recrutar alunos, será mais difícil recrutar docentes e etc. As condições são mais difíceis para uma instituição do interior. Quer dizer, se quiser alguns números rapidamente. O instituto vai ultrapassar, neste momento, os seis mil alunos. Esses seis mil alunos não são todos de Bragança. Ou seja, se estivéssemos à espera ou se estivéssemos confinados, ao nosso distrito de Bragança, às tantas a dimensão do Instituto Politécnico de Bragança não chegava a metade do que é agora. Manter uma instituição deste tipo, significa ter a capacidade de captar alunos ao litoral, em particular ao eixo Viana-Porto.   

A dicotomia litoral/interior é cada vez mais actual. Nós, os do interior, queixamo-nos de abandono e descaso e a região de Trás-os-Montes é uma das mais esquecidas do país. Caminhamos a passos largos para a desertificação. O que poderá ser feito para combater este estado de coisas?

Prof. Doutor Luís Pais: O que poderá ser feito… Penso que a resposta tem que ser muito simples. É ter vontade de fazer. Se houver vontade de fazê-lo, as soluções depois, serão encontradas. Infelizmente, acho que se aposta na capacidade que a região tem e que isso tem levado a que as pessoas vão sempre dirigidas para a região que tem mais potencialidades. Obviamente, se apostar apenas nisso vamos ver que as pessoas vão continuar todas a ir para o litoral até não termos ninguém no interior. A solução é apostar. É criar estruturas, às tantas, grandes estruturas que o interior devia ter e não tem, é começar a criá-las aqui.   

Somos o único distrito do país sem um único quilómetro de auto-estrada. A que se deverá esta situação?

Prof. Doutor Luís Pais: Ao que acabei de dizer, ou seja: há falta de vontade de apostar nesse desenvolvimento. Mas eu penso que valia a pena. É óbvio que as pessoas têm melhores condições de vida em termos ambientais, em termos de ordenamento aqui do que, obviamente, em Lisboa. As pessoas continuam a ir para Lisboa. Porquê? Porque lá estão as grandes oportunidades de trabalho, porque lá é que estão as grandes condições de saúde, etc. Inverter isso significa melhores oportunidades em Bragança.

Que responsabilidade cabe ao governo e em que áreas devemos actuar, nós transmontanos, para fomentar o desenvolvimento da região? 

Prof. Doutor Luís Pais: Cabe a todos. O governo tem uma grande responsabilidade porque tem meios bastante melhores do que as pessoas que residem cá. São meios de dimensões diferentes. Haja a vontade desse desenvolvimento que eu penso que as soluções se encontrarão. Quer instituições como o IPB, quer instituições privadas, empresários, etc.

É neste momento, Vice-Presidente do IPB. Acha que o IPB pode fazer mais ainda para transformar esta região?

Prof. Doutor Luís Pais: Eu penso que sim. O IPB tem uma contribuição decisiva na captação de pessoas para a região. Isso é notório e ninguém pode negar. Como disse há bocado, o instituto vive para além das pessoas que seria normal, se as instituições se restringissem à área onde estão colocadas. Penso que isso será um erro, pois se o interior precisa de instituições para captar pessoas, uma instituição de ensino superior, é um exemplo típico de sucesso, que pode ter essas iniciativas. O instituto politécnico neste momento tem o dobro dos alunos que poderia ter se ficasse restringido à região de Bragança, Bragança-Vila Real.

Estes tipos de exemplos têm que aparecer, mas o politécnico pode fazer mais, poderá sempre fazer mais. Devemos estar contentes com aquilo que temos, devemos sempre progredir mais. O IPB teve uma grande aposta na qualidade da formação do seu corpo docente. Acho que é uma aposta que está ganha, tendo em conta ainda estar em movimento. É com prazer que damos sempre este número. Nós somos o instituto com maior percentagem de doutorados no seu corpo docente. Podemos falar presentemente em 30% do corpo docente doutorado quando os outros politécnicos ainda não chegaram aos 20%. Obviamente isto teve custos, mas foi uma opção que se revela agora bastante bem feita. Todo o enquadramento da reestruturação do ensino superior vem provar que sem essa aposta, o IPB teria muito menos armas para vingar no futuro. Mas isto é só um caminho a que já chegámos, portanto convém focar para onde nós vamos. E, se há bocado eu disse que temos 30% do corpo docente doutorado, nós estamos à espera de daqui a três anos, ultrapassar os 60% do corpo docente doutorado por toda a dinâmica de doutoramentos que está em curso. Por outro lado, temos sentido isso por parte do exterior, penso que o IPB também deve, daqui pra frente, contribuir mais para o relacionamento com o exterior, uma relação que não é simples de levar para a frente. Depende da capacidade da instituição IPB, depende da abertura da capacidade de empresários e outras instituições. Hoje em dia, com o corpo que já formámos, estamos em condições de abrir largamente essa contribuição. Perguntou-me o que o IPB pode fazer por Bragança e pela região, digamos que são essas duas grandes valências que tem para oferecer.         

Trará obviamente um reflexo muito positivo no futuro…

Prof. Doutor Luís Pais: É claro que sim. Só para lhe dar alguns exemplos da importância desse serviço, o IPB com a alteração da Lei de Base do Sistema de Ensino, tem a possibilidade de propor ciclos de estudos de mestrado e, obviamente, que o critério para essa concessão ainda não foi decidido. Está ainda na tutela para decidir. O grande critério é a atribuição da qualidade do corpo docente e haver investigação desenvolvida na área onde é aberto esse ciclo de formação. Obviamente, sem isso, não teríamos e seria um grande handicap ao desenvolvimento e à manutenção da actual dimensão do instituto politécnico em termos de alunos.

Se quiser um outro exemplo, vamos para o orçamento. Actualmente o orçamento de estado da instituição depende de outras coisas nomeadamente o número de alunos, o sucesso educativo mas, também, tem lá um item que depende do número de doutorados, portanto, esses dois exemplos claros da importância de ter um corpo docente muito qualificado para além do principal que é, de facto, acreditarmos que a formação do corpo docente é um garante da qualidade da formação que lhe oferecemos.

A região norte vai receber agora muito dinheiro vindo da comunidade europeia, esta última tranche que veio para as regiões menos desenvolvidas. Acha que Trás-os-Montes vai ter alguns benefícios?

Prof. Doutor Luís Pais: Pelo que tenho lido e pelo que tenho ouvido, as perspectivas não são muito animadoras porque estamos junto com a grande região Norte e pelo que tenho lido, penso que a redistribuição interna não vai ser muito democrática, digamos assim. Obviamente se colocarmos, é a tal pescadinha de rabo na boca, se damos para onde têm mais capacidade de progredir, vamos dar pra fora, mas se damos mais para fora, nunca mais desenvolvemos o que está cá dentro. Portanto, e geralmente costumo quando converso sobre isso com os meus amigos, há uma imagem que é muito clara que é notar que as verbas da comunidade europeia são verbas de coesão, ou seja são para o desenvolvimento e harmonização de toda a comunidade europeia e, obviamente, as regiões portuguesas recebem tanto mais quanto mais necessitadas.

Portanto, é um contraciclo, depois dentro de uma região Norte estar a apostar quase exclusivamente, precisamente nas áreas que estão mais desenvolvidas deixando a região de Bragança ou outra que fosse em desvantagem nesse aspecto.

Em que áreas devemos actuar, nós transmontanos, para fomentar o desenvolvimento regional?

Prof. Doutor Luís Pais: Dadas as minhas limitações em termos da minha vida profissional, vou restringir a minha opinião à minha área grande de intervenção, mas acho que há pelo menos duas grandes áreas. Uma é a área do turismo. Penso que poderia ser mais desenvolvida já que a região tem condições excepcionais para o turismo. Penso que já passou o tempo em que todas as pessoas queriam ir para o Algarve ou queriam ir para as Canárias. Obviamente que é um sítio agradável e continuarão a ir mas penso que há uma muito maior apetência para o turismo de montanha, digamos assim. Bragança tem condições extraordinárias.

Uma outra área possível é todo o desenvolvimento dos produtos florestais e agrícolas onde temos aqui condições e o historial provado nessa área e que acho podemos continuar a desenvolver e modernizar.       

Para terminar, que personalidade ou personalidades o marcaram ao longo da sua vida?

Prof. Doutor Luís Pais: Ai, isso é uma pergunta assim um bocado difícil. É a família. Se quiser posso-lhe focar um exemplo de uma pessoa que me marcou, mas como é natural nestas coisas, essas pessoas passam e hoje em dia as pessoas que nos marcam são outras que nos marcaram no passado. Lembro-me agora, assim de repente, de um professor que tive no sétimo ano de escolaridade que me marcou bastante. Era um professor de português e que me levou a fazer teatro, primeiro num grupo da escola e depois num grupo da Universidade de Aveiro e foi uma experiência bastante interessante, quer em termos de formação da personalidade, digamos assim. Estamos a falar na adolescência, quer em termos de armas para ser bom professor. Foi uma experiência bastante interessante. Assim pessoas de que goste, tipo os grandes portugueses. Se escolhemos uma pessoa próxima no tempo, corremos o risco de não termos distanciamento necessário. Se escolhemos uma pessoa muito longe no tempo, às tantas corremos o risco de não sermos muito precisos de irmos atrás da opinião geral, mas indo por esta última que eu penso que será mais correta e menos polémica, não sei… dentro daquele leque das que estão na televisão, às tantas escolhia, não sei… o Infante D. Henrique por na altura conseguir fazer o que agora queremos fazer todos, empreendedorismo e inovação. É um exemplo em como Portugal, sendo um país pequeno soube ser empreendedor e inovar naquele tempo. Portanto, escolhi esse. Escolher mais próximo do tempo, ou melhor, eu gosto mais de escolher pessoas que nos marcam mas temporariamente, são heróis mais pequenos mas mais próximos e esses são os heróis do dia-a-dia. Aquelas pessoas que na televisão e que ficamos contentes por ter sucesso. Obviamente e sem qualquer escolha clubística, um Zé Mourinho, ou os Madre Deus que nos enchem de orgulho pelo sucesso que conseguem ter, não só em Portugal mas também fora das nossas fronteiras.

Muito obrigado Professor Doutor Luís Pais.

Entrevista realizada em 2007, na Rádio RBA, por Maria e Marcolino Cepeda com locução de Rui Mouta.


Segunda língua oficial de Portugal pode vir a desaparecer dentro de 20 anos

Estudo da Universidade de Vigo conclui que o Mirandês vai desaparecer porque apenas 2% dos jovens usam a língua.



Foto de: Rui Manuel Ferreira / Global Imagens


Por Fernando Pires, 06 Março, 2023

O mirandês, reconhecida há 24 anos como a segunda língua oficial de Portugal, pode vir a desaparecer dentro de 20 anos devido ao abandono a que foi votada por parte de entidades públicas e privadas.

É pelo menos esta a conclusão a que chegou um estudo efetuado pela Universidade de Vigo, em Espanha, que aponta o dedo ao estudo da língua nas escolas por considerar que foi um fracasso.

A solução para inverter esta tendência, diz o mesmo estudo, é a ratificação da Carta Europeia das Línguas Minoritárias e a necessidade de uma nova Lei do Mirandês, atualizada de acordo com ações e medidas planificadas.

De acordo com o Xosé Henrique Costa, professor catedrático da Universidade de Vigo, que coordenou o estudo "Presente e Futuro da Língua Mirandesa", o mirandês está a cair em desuso, principalmente entre os jovens. Estima em cerca de 3.500, o número de pessoas que conhecem a língua, com cerca de 1.500 a usá-la regularmente. "Acontece por duas coisas, primeiro há uma queda brutal do uso. Entre a geração dos maiores o uso da língua está por volta dos 70 ou 80%, entre a geração os mais novos está nos 2%. Neste momento há 1 ou 2% dos falantes com menos de 18 anos. A língua não tem um futuro garantido", salientou.

O investigador considera que o estudo da língua nas escolas foi "um fracasso" e para que se salve é preciso haver um compromisso de toda a gente, principalmente do Governo. "Uma ou duas horas da semana para uma língua minoritária não é nada, tem que ser pelo menos metade da adolescência. Se se quer salvar a língua, têm que se comprometer a sério, um compromisso do aluno, dos pais do aluno, sobretudo da classe política, que são os que têm que tomar medidas e têm que aprovar os orçamentos necessários para levar a cabo essas campanhas, inclusive medidas fiscais", disse.

Por isso defende a criação de uma lei para a língua, uma vez que o despacho de 1999, que reconheceu o mirandês como segunda língua oficial de Portugal, "não é de todo suficiente".

Para Xosé Costa, "o despacho é muito vago, indica apenas que se reconhecem direitos à comunidade linguística mirandesa, e que podem receber ensino mirandês, mas não diz sequer quantas horas, quantas matérias, não especifica nada", diz.

Este estudo teve por base 350 inquéritos feitos à população do concelho de Miranda do Douro, no distrito de Bragança, por uma equipa de alunos da Universidade de Vigo, designada por Brigada da Língua. Contou ainda com o apoio da Associação da Língua e Cultura Mirandesa.

Retirado de www.tsf.pt


domingo, 5 de março de 2023

Município de Bragança já mandou executar o projeto da estrada até Puebla de Sanábria

Escrito por Glória Lopes (02 Março 2023) 

A Câmara de Bragança já adjudicou a execução do projeto da estrada de ligação Bragança-Puebla de Sanábria à empresa que ganhou o concurso público.

"Lançamos o procedimento para o projeto, que está neste momento adjudicado. Recebemos esta quarta-feira o visto do Tribunal de Contas e a empresa vai avançar com a elaboração do projeto que contempla o que estava definido no anteprojeto e que dará seguimento à construção da estrada. Nós adjudicamos o pacote completo, isto é o projeto incluindo o estudo de impacto ambiental, as expropriações e a obra", explicou o presidente da Câmara, Hernâni Dias.

A estrada de ligação entre Bragança e Puebla de Sanábria, reivindicada há mais de 20 anos em ambos os lados da fronteira, vai avançar com o perfil de "estrada melhorada" e não como uma via rápida, com o perfil de Itinerário Principal, tal como desejava o município brigantino.

A obra tem um investimento previsto de 16 milhões de euros e atravessa o Parque Natural de Montesinho, na zona de Rio de Onor, por onde já passa uma estrada municipal até Puebla de Sanábria, um troço sinuoso de 40 quilómetros que levam cerca de uma hora a percorrer de carro.

Segundo o autarca, "os prazos estão dentro do calendarizado" e a empreitada deverá estar concluída até 2026.

Esta via chegou a integrar o Plano Rodoviário Nacional, mas foi sempre chumbada devido a questões de natureza ambiental por atravessar o Montesinho, uma área protegida.

Retirado de www.jn.pt