Professor Doutor Luís Manuel
Santos Pais nasceu em Aveiro a 3 de Dezembro de 1966. Ingressou no Instituto
Politécnico de Bragança em 1992, onde é professor coordenador da Escola
Superior de Tecnologia e de Gestão.
Foi presidente do conselho científico desta
escola, de
É doutorado em Engenharia Química pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. A tese de doutoramento, intitulada “Separação de Enantiómeros por Cromatografia Líquida em Leito Móvel Simulado” recebeu, em Fevereiro de 2003, o 1º Prémio CUF (Companhia União Fabril) para a melhor tese de doutoramento concluída por doutorados de nacionalidade portuguesa na área da Engenharia Química no triénio 1999-2001.
À
procura do futuro de todos nós…
Boa
tarde. Nasceu em Aveiro. Que recordações guarda da sua infância?
Prof. Doutor Luís Pais: Guardo as recordações normais e agradáveis já que é uma cidade bastante agradável, assim como Bragança, bastante diferente, mas penso que… estou a viver em Bragança e já guardo muito boas recordações de Bragança e, evidentemente de Aveiro, como já referi. Só vou lá de vez em quando mas as saudades são maiores.
Como
foi a sua vida de estudante?
Prof. Doutor Luís Pais: A minha vida de estudante… até aos dezoito anos foi integralmente em Aveiro onde nasci e vivi. Depois tive algumas dúvidas sobre qual seria o futuro em termos de ensino superior. Só me decidi a um ano de entrar para a faculdade, achei que engenharia química seria uma área interessante e, como em Aveiro não havia essa área, fui estudar para o Porto. Aí fiz a licenciatura. Acabando a licenciatura, ingressei logo depois no Instituto Politécnico de Bragança, apesar da minha ligação ao Porto ter continuado até ao Doutoramento iniciado em 1999, com a ligação ao litoral, fixando-me em Bragança a partir daí.
Sendo
natural de Aveiro, seria lógico que quisesse regressar à sua terra. Que razões
o fazem estar longe dela, principalmente quando assistimos a uma fuga
desenfreada para o litoral?
Prof.
Doutor Luís Pais: É uma pena essa fuga. Acho que estou em
Bragança, um pouco pelo acaso e pelas oportunidades que surgiram. Quando vim,
penso que até é uma história, se me permite contar, interessante. Conclui a
minha licenciatura em Setembro de 1991 e ao ver uma das últimas notas que
faltavam sair, eu e um colega meu daqui da região que também é colega do IPB,
vimos um anúncio a procurar assistentes para a escola superior de tecnologia e
gestão. E dissemos um para o outro, porque não? Ele era de Macedo, eu sou de
Aveiro mas já tinha vindo cá uma vez a Bragança porque um amigo de infância é
daqui, e, porque não? Vamos concorrer à procura de um emprego pós licenciatura
e fazer essa aposta. Passados três meses fomos chamados a entrar na instituição
e fomos construindo, naturalmente, o nosso futuro. Penso que o IPB constitui
uma muito boa oportunidade para os docentes que ingressam nele e é pena que na
região não haja outras instituições que potenciem essas tão boas oportunidades.
O que eu acho é que se o interior tivesse mais instituições que dessem condições de permanência aos seus trabalhadores, as coisas seriam um pouco diferentes. Quanto às saudades de Aveiro, acho que é bom sentir saudades. Acho que é bom voltar à terra onde se passou bastante tempo, mas eu acho que não sinto nenhuma preocupação de viver uma vida inteira no mesmo sítio.
Ainda
se sente totalmente aveirense ou já é um bocadinho transmontano?
Prof. Doutor Luís Pais: (Risos) Eu acho que sou de todo o lado. Sou do sítio onde me sinto bem. Bragança, acho que tem condições, digamos, ambientais fabulosas. E para se viver, acho que a qualidade de vida, nesse aspecto, não tem par. Acho que ganhava aí, se quiser. Infelizmente, o que falta a Bragança são estruturas de apoio que também faz pesar na escolha das pessoas.
A
sua vida profissional está, desde 1992, ligada ao Instituto Politécnico de
Bragança. Fale-nos brevemente desse percurso.
Prof. Doutor Luís Pais: Decidi concorrer para o lugar de assistente em 1991. Naturalmente demorou algum tempo. Fui chamado no segundo semestre de 1991-1992, em março de 1992. Entrei como assistente, dei aulas durante esse semestre e depois fui cumprir o serviço militar obrigatório, em Mafra. Foi uma experiência bastante diferente mas muito interessante. Finda essa contribuição, voltei, naturalmente ao Instituto, do qual não sai mais. Tive, a partir de Abril de 1993, findo o serviço militar, iniciar os estudos do doutoramento, na área da engenharia química, a ganhar em formação. Conclui em 1999. Depois tem sido a vida de Professor, digamos assim, que envolve a docência e fazer investigação e da forma que melhor sei e que os colegas achem que eu posso contribuir dessa forma, ajudar na gestão da Casa.
Ganhou
o 1º Prémio CUF (Companhia União Fabril) para a melhor tese de doutoramento em
Engenharia Química no triénio de 1999/2001. Fale-nos disso.
Prof.
Doutor Luís Pais: Então, vamos começar por explicar o nome da
tese que é um bocado comprido e um bocado esquisita. A tese, dito em português,
“Separação de Enantiómeros por Cromatografia Líquida em Leito Móvel Simulado”.
Vamos lá ver: enantiómeros são complexos químicos que são quase iguais, mas não
são definitivamente iguais. Ou seja, são compostos, se pensarmos numa estrutura
a três dimensões, são imagens um do outro do espelho, tal qual as nossas mãos.
Se nós olharmos para a nossa mão direita ou esquerda, elas são diferentes mas,
se colocarmos a nossa mão direita ao espelho, estamos a ver a nossa mão
esquerda. Obviamente, esses compostos têm propriedades muito semelhantes, mas
não iguais. E terão propriedades e acções muito semelhantes se estiverem num
meio que não os consegue distinguir, mas vão ter propriedades e acções muito
diferentes se estiverem num meio que o consiga distinguir. Nós, tecnicamente,
chamamos um meio tiral, porque os nossos compostos também podem ser chamados
tirais. O exemplo claro da presença e da utilidade desses compostos é na
indústria farmacêutica para fazer medicamentos. Na esmagadora maioria dos
medicamentos, o princípio activo é composto por esse tipo de compostos.
Ora, tendo em conta isso, que esses compostos
podem ter acções diferentes é, de todo, benéfico e posso dar dois ou três
exemplos daqui a pouco, separá-los. A técnica de separação, digamos que é uma
área nobre da grande área da engenharia química. Existem vários processos de
separação. O que eu estudei é um em particular que nós chamamos processo de
absorção. Mais propriamente em termos da tecnologia, o que eu estudei foi uma
tecnologia particular para potenciar essa separação que é o chamado leito móvel
simulado. Não vale a pena estar em pormenor a explicar a tecnologia mas,
digamos que é um conjunto de elementos de separação, interligando uns com os
outros, que potencia obter resultados bastante melhores do que eles em
separado. O meu objectivo foi, do ponto de vista tecnológico e matemático,
tentar compreender esse processo para de forma a optimizá-lo.
Já agora, se me permite voltar à questão dos
exemplos, só para terem uma percepção da importância de separar este tipo de
composto, posso dar-lhe alguns exemplos com consequências completamente
diferentes. Por exemplo, temos um composto que se chama aspartame. Na
realidade, é um composto tiral com dois compostos. Um adoça e o outro é amargo.
Obviamente, se nós queremos ter um produto como adoçante é melhor conseguir
separá-los e utilizarmos o produto só com o que tem de facto, essa função. Um
outro exemplo bastante descrito na indústria farmacêutica é o ibuprofeno que é
um princípio activo que é utilizado como analgésico. Na realidade, um desses
compostos tem esse efeito, o outro não tem efeito nenhum. É um inerte. Podíamos
dizer: “Deixá-lo lá que não está a fazer mal nenhum.”
De facto, não está mas, estudos científicos
já provaram que quando tomamos ibuprofeno com os dois compostos juntos, ou seja
50% de cada um, o tempo de acção é de cerca de quase quarenta minutos. Se
tomarmos só aquele que tem a acção analgésica, a dor de cabeça, ao fim de doze
minutos, passa. É um problema de eficiência que é óbvio. Um terceiro exemplo,
se me permite, que é mais trágico e que muitas vezes costuma ser também
descrito para explicar a importância de os separar, é a talidomida que nos anos
50, 60 era administrado como medicamento para os enjoos matinais das grávidas.
Ora, infelizmente, e penso que, talvez, quem seja dessa altura, ainda se recorde, de facto isso era o efeito de um deles, mas o outro tinha efeitos perversos que provocavam danos em fetos. Portanto, temos aqui o exemplo mais dramático. Felizmente não são todos assim, temos aqui o exemplo de que é de facto necessário separar esse tipo de para que os medicamentos sejam mais seguros e mais eficazes.
O
que é um leito móvel simulado (SMB) e como é que essa tecnologia que começou
com aplicações na indústria petroquímica se aplica agora na indústria
farmacêutica?
Prof.
Doutor Luís Pais: A tecnologia de leito móvel simulado não é
nova. Já vem dos anos 70. Foi inventada por uma empresa americana que se
dedicava à indústria petroquímica. A sua aplicação standard era separar
compostos à base de chilenos. Isso, obviamente, no mundo industrial existem as
patentes que protegem a ideia que uma determinada empresa teve e levou a cabo,
era uma patente que durava trinta anos. Ou seja, durante trinta anos, ninguém
mais no mundo industrial poderia utilizar aquela tecnologia. Isso durou até aos
finais dos anos 80 e início dos anos 90, findo o qual ficou a ideia aberta a
quem quisesse usar e foi nessa altura que algumas empresas entenderam que
aquilo era um óptimo processo para aplicar em outras áreas, nomeadamente, a
indústria farmacêutica. Isto porque a tecnologia de leito móvel simulado, da
forma mais simples se adapta muito bem a separar misturas binárias, ou seja, a
separar misturas que têm dois compostos que é precisamente o problema dos
compostos tirais.
Essa ideia surgiu no início dos anos 90 por uma empresa que já se dedicava a este tipo de separações mas em outros processos, decidiu na altura submeter um projecto europeu em que era essa empresa com uma série de parceiros académicos que iriam ajudar a resolver, quer em termos técnicos da instalação, quer em termos de previsão do processo em si e da sua autonomização. Nós tivemos a felicidade de ter sido convidados para ingressar nessa equipa nessa segunda tarefa e tivemos a felicidade de todo o processo correr bastante bem. Hoje em dia, a empresa mudou de nome e cresceu bastante e é hoje líder mundial na venda deste tipo de instalações para a indústria farmacêutica.
A
sua tese foi integrada num projecto europeu para a criação de uma empresa que é
hoje líder mundial na comercialização das unidades de leito móvel simulado
(SMB). Fale-nos brevemente sobre esse tema.
Prof.
Doutor Luís Pais: Esse projecto envolvia a construção de
instalações ou melhor dizendo, a adaptação da ideia que havia sido criada na
década de 60 para a indústria farmacêutica que em termos tecnológicos não era
bem a mesma solução. Não querendo ser um pouco maçador mas de uma forma muito
simples, digamos que temos um conjunto de colunas onde se processa a separação,
um carrossel de colunas e o truque, digamos assim, é achar a melhor forma de
rodar ou de utilizar essas colunas de forma a potenciar a separação. Esse
truque em termos da empresa americana dos anos 60 era feito com uma única
válvula que se chegou à conclusão de que era a solução ideal para instalações
de dimensões bastante grandes que eram as instalações típicas da indústria
petroquímica.
Ora, acontece que muitas vezes na indústria
farmacêutica é necessário fazer instalações piloto mais pequeninas porque queremos
separar apenas uma pequena quantidade, para fazer testes às possíveis drogas
que vão ser utilizadas e, portanto, tecnicamente chegou-se à conclusão que é
muito mais útil fazer uma instalação onde não temos uma única válvula mas uma
série de válvulas.
Posto isto, digamos que uma parte do trabalho foi desenhar uma instalação melhor para uma escala mais pequena. Do outro lado, onde nós entrámos tratava-se de tentar modelar matematicamente todo o processo para o tentar prever e para o tentar optimizar. Digamos que isto é um tema, é uma metodologia cara. Ou seja, um engenheiro químico faz um modelo matemático resolve-o numericamente ou tem resultado teórico e, depois, vai para o laboratório e faz experiências. E, obviamente, o que é bom é chegar ao fim e testar e as contas darem certo. Ou seja, a teoria bater em cima da prática e, portanto, foi aí a nossa contribuição.
Para
além das aplicações de que já falámos, que outras aplicações, práticas, pode
ter?
Prof. Doutor Luís Pais: Em termos da tecnologia leito móvel simulado é uma tecnologia que de facto teve muito crescimento, beneficiou de grande crescimento, como tinha dito, na indústria petroquímica, mesmo antes de terminar a patente, também desenvolvida pela mesma empresa. Foi aplicada à indústria dos açucares, em particular, para separar a frutose da glicose, e depois de ter findado a patente, em princípio, foi utilizada nos compostos de drogas na indústria farmacêutica e, agora, tem sido uma série de números de aplicações, nomeadamente na biotecnologia, separar aminoácidos, separar proteínas, ou seja, a gama de aplicação tem crescido bastante, em particular, na indústria alimentar, digamos assim.
Sente
o peso da interioridade reflectido no Instituto Politécnico?
Prof. Doutor Luís Pais: Acho que se sente em todo o lado um pouco. Agora, o IPB constitui-se como uma das maiores empresas da região pela sua capacidade de captação de vida, digamos assim, de gente para a região. Se sentimos esse peso, obviamente que sim, obviamente que é mais difícil recrutar alunos, será mais difícil recrutar docentes e etc. As condições são mais difíceis para uma instituição do interior. Quer dizer, se quiser alguns números rapidamente. O instituto vai ultrapassar, neste momento, os seis mil alunos. Esses seis mil alunos não são todos de Bragança. Ou seja, se estivéssemos à espera ou se estivéssemos confinados, ao nosso distrito de Bragança, às tantas a dimensão do Instituto Politécnico de Bragança não chegava a metade do que é agora. Manter uma instituição deste tipo, significa ter a capacidade de captar alunos ao litoral, em particular ao eixo Viana-Porto.
A
dicotomia litoral/interior é cada vez mais actual. Nós, os do interior,
queixamo-nos de abandono e descaso e a região de Trás-os-Montes é uma das mais
esquecidas do país. Caminhamos a passos largos para a desertificação. O que
poderá ser feito para combater este estado de coisas?
Prof. Doutor Luís Pais: O que poderá ser feito… Penso que a resposta tem que ser muito simples. É ter vontade de fazer. Se houver vontade de fazê-lo, as soluções depois, serão encontradas. Infelizmente, acho que se aposta na capacidade que a região tem e que isso tem levado a que as pessoas vão sempre dirigidas para a região que tem mais potencialidades. Obviamente, se apostar apenas nisso vamos ver que as pessoas vão continuar todas a ir para o litoral até não termos ninguém no interior. A solução é apostar. É criar estruturas, às tantas, grandes estruturas que o interior devia ter e não tem, é começar a criá-las aqui.
Somos
o único distrito do país sem um único quilómetro de auto-estrada. A que se
deverá esta situação?
Prof. Doutor Luís Pais: Ao que acabei de dizer, ou seja: há falta de vontade de apostar nesse desenvolvimento. Mas eu penso que valia a pena. É óbvio que as pessoas têm melhores condições de vida em termos ambientais, em termos de ordenamento aqui do que, obviamente, em Lisboa. As pessoas continuam a ir para Lisboa. Porquê? Porque lá estão as grandes oportunidades de trabalho, porque lá é que estão as grandes condições de saúde, etc. Inverter isso significa melhores oportunidades em Bragança.
Que
responsabilidade cabe ao governo e em que áreas devemos actuar, nós
transmontanos, para fomentar o desenvolvimento da região?
Prof. Doutor Luís Pais: Cabe a todos. O governo tem uma grande responsabilidade porque tem meios bastante melhores do que as pessoas que residem cá. São meios de dimensões diferentes. Haja a vontade desse desenvolvimento que eu penso que as soluções se encontrarão. Quer instituições como o IPB, quer instituições privadas, empresários, etc.
É
neste momento, Vice-Presidente do IPB. Acha que o IPB pode fazer mais ainda
para transformar esta região?
Prof.
Doutor Luís Pais: Eu penso que sim. O IPB tem uma contribuição
decisiva na captação de pessoas para a região. Isso é notório e ninguém pode
negar. Como disse há bocado, o instituto vive para além das pessoas que seria
normal, se as instituições se restringissem à área onde estão colocadas. Penso
que isso será um erro, pois se o interior precisa de instituições para captar
pessoas, uma instituição de ensino superior, é um exemplo típico de sucesso,
que pode ter essas iniciativas. O instituto politécnico neste momento tem o
dobro dos alunos que poderia ter se ficasse restringido à região de Bragança,
Bragança-Vila Real.
Estes tipos de exemplos têm que aparecer, mas o politécnico pode fazer mais, poderá sempre fazer mais. Devemos estar contentes com aquilo que temos, devemos sempre progredir mais. O IPB teve uma grande aposta na qualidade da formação do seu corpo docente. Acho que é uma aposta que está ganha, tendo em conta ainda estar em movimento. É com prazer que damos sempre este número. Nós somos o instituto com maior percentagem de doutorados no seu corpo docente. Podemos falar presentemente em 30% do corpo docente doutorado quando os outros politécnicos ainda não chegaram aos 20%. Obviamente isto teve custos, mas foi uma opção que se revela agora bastante bem feita. Todo o enquadramento da reestruturação do ensino superior vem provar que sem essa aposta, o IPB teria muito menos armas para vingar no futuro. Mas isto é só um caminho a que já chegámos, portanto convém focar para onde nós vamos. E, se há bocado eu disse que temos 30% do corpo docente doutorado, nós estamos à espera de daqui a três anos, ultrapassar os 60% do corpo docente doutorado por toda a dinâmica de doutoramentos que está em curso. Por outro lado, temos sentido isso por parte do exterior, penso que o IPB também deve, daqui pra frente, contribuir mais para o relacionamento com o exterior, uma relação que não é simples de levar para a frente. Depende da capacidade da instituição IPB, depende da abertura da capacidade de empresários e outras instituições. Hoje em dia, com o corpo que já formámos, estamos em condições de abrir largamente essa contribuição. Perguntou-me o que o IPB pode fazer por Bragança e pela região, digamos que são essas duas grandes valências que tem para oferecer.
Trará
obviamente um reflexo muito positivo no futuro…
Prof.
Doutor Luís Pais: É claro que sim. Só para lhe dar alguns
exemplos da importância desse serviço, o IPB com a alteração da Lei de Base do
Sistema de Ensino, tem a possibilidade de propor ciclos de estudos de mestrado
e, obviamente, que o critério para essa concessão ainda não foi decidido. Está
ainda na tutela para decidir. O grande critério é a atribuição da qualidade do
corpo docente e haver investigação desenvolvida na área onde é aberto esse
ciclo de formação. Obviamente, sem isso, não teríamos e seria um grande
handicap ao desenvolvimento e à manutenção da actual dimensão do instituto
politécnico em termos de alunos.
Se quiser um outro exemplo, vamos para o orçamento. Actualmente o orçamento de estado da instituição depende de outras coisas nomeadamente o número de alunos, o sucesso educativo mas, também, tem lá um item que depende do número de doutorados, portanto, esses dois exemplos claros da importância de ter um corpo docente muito qualificado para além do principal que é, de facto, acreditarmos que a formação do corpo docente é um garante da qualidade da formação que lhe oferecemos.
A
região norte vai receber agora muito dinheiro vindo da comunidade europeia,
esta última tranche que veio para as
regiões menos desenvolvidas. Acha que Trás-os-Montes vai ter alguns benefícios?
Prof.
Doutor Luís Pais: Pelo que tenho lido e pelo que tenho ouvido,
as perspectivas não são muito animadoras porque estamos junto com a grande
região Norte e pelo que tenho lido, penso que a redistribuição interna não vai
ser muito democrática, digamos assim. Obviamente se colocarmos, é a tal
pescadinha de rabo na boca, se damos para onde têm mais capacidade de
progredir, vamos dar pra fora, mas se damos mais para fora, nunca mais
desenvolvemos o que está cá dentro. Portanto, e geralmente costumo quando
converso sobre isso com os meus amigos, há uma imagem que é muito clara que é
notar que as verbas da comunidade europeia são verbas de coesão, ou seja são
para o desenvolvimento e harmonização de toda a comunidade europeia e,
obviamente, as regiões portuguesas recebem tanto mais quanto mais necessitadas.
Portanto, é um contraciclo, depois dentro de uma região Norte estar a apostar quase exclusivamente, precisamente nas áreas que estão mais desenvolvidas deixando a região de Bragança ou outra que fosse em desvantagem nesse aspecto.
Em
que áreas devemos actuar, nós transmontanos, para fomentar o desenvolvimento
regional?
Prof.
Doutor Luís Pais: Dadas as minhas limitações em termos da minha
vida profissional, vou restringir a minha opinião à minha área grande de
intervenção, mas acho que há pelo menos duas grandes áreas. Uma é a área do
turismo. Penso que poderia ser mais desenvolvida já que a região tem condições
excepcionais para o turismo. Penso que já passou o tempo em que todas as
pessoas queriam ir para o Algarve ou queriam ir para as Canárias. Obviamente
que é um sítio agradável e continuarão a ir mas penso que há uma muito maior
apetência para o turismo de montanha, digamos assim. Bragança tem condições
extraordinárias.
Uma outra área possível é todo o desenvolvimento dos produtos florestais e agrícolas onde temos aqui condições e o historial provado nessa área e que acho podemos continuar a desenvolver e modernizar.
Para
terminar, que personalidade ou personalidades o marcaram ao longo da sua vida?
Prof. Doutor Luís Pais: Ai, isso é uma pergunta assim um bocado difícil. É a família. Se quiser posso-lhe focar um exemplo de uma pessoa que me marcou, mas como é natural nestas coisas, essas pessoas passam e hoje em dia as pessoas que nos marcam são outras que nos marcaram no passado. Lembro-me agora, assim de repente, de um professor que tive no sétimo ano de escolaridade que me marcou bastante. Era um professor de português e que me levou a fazer teatro, primeiro num grupo da escola e depois num grupo da Universidade de Aveiro e foi uma experiência bastante interessante, quer em termos de formação da personalidade, digamos assim. Estamos a falar na adolescência, quer em termos de armas para ser bom professor. Foi uma experiência bastante interessante. Assim pessoas de que goste, tipo os grandes portugueses. Se escolhemos uma pessoa próxima no tempo, corremos o risco de não termos distanciamento necessário. Se escolhemos uma pessoa muito longe no tempo, às tantas corremos o risco de não sermos muito precisos de irmos atrás da opinião geral, mas indo por esta última que eu penso que será mais correta e menos polémica, não sei… dentro daquele leque das que estão na televisão, às tantas escolhia, não sei… o Infante D. Henrique por na altura conseguir fazer o que agora queremos fazer todos, empreendedorismo e inovação. É um exemplo em como Portugal, sendo um país pequeno soube ser empreendedor e inovar naquele tempo. Portanto, escolhi esse. Escolher mais próximo do tempo, ou melhor, eu gosto mais de escolher pessoas que nos marcam mas temporariamente, são heróis mais pequenos mas mais próximos e esses são os heróis do dia-a-dia. Aquelas pessoas que na televisão e que ficamos contentes por ter sucesso. Obviamente e sem qualquer escolha clubística, um Zé Mourinho, ou os Madre Deus que nos enchem de orgulho pelo sucesso que conseguem ter, não só em Portugal mas também fora das nossas fronteiras.
Muito obrigado Professor Doutor Luís Pais.
Entrevista
realizada em 2007, na Rádio RBA, por Maria e Marcolino Cepeda com locução de Rui Mouta.
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