1- Qual a ideia que esteve na origem deste seu livro
«As Paisagens Junqueirianas em A Velhice do Padre Eterno»?
R- A principal ideia subjacente a esta investigação
está, naturalmente, relacionada com a necessidade de apresentar o poeta Guerra
Junqueiro à geração atual e até às últimas gerações, uma vez que, não sendo um
autor estudado no ensino secundário e, raramente, no ensino universitário, há
que despertar para a vida e a obra de um homem imensamente intervencionista no
seu tempo, não só do ponto de vista social, mas também político. Além disso, e
por se tratar de um autor multifacetado, o estudo de uma das suas principais
obras («A Velhice do Padre Eterno») viria a tornar-se, como, aliás, se veio a confirmar,
muitíssimo aliciante.
2-Como nasceu o seu interesse por Guerra Junqueiro e
pela sua obra?
R- Tal como muitos portugueses, também eu conhecia
somente o nome Guerra Junqueiro e a sua origem transmontana. Sabia, contudo,
ter sido um político e um sociólogo de génio. Faltava a incursão pela sua vida
e pela sua obra. O interesse surgiu no dia em que abri «A Velhice do Padre
Eterno» e pasmei perante a força e a audácia das palavras. Pasmei ainda mais
quando li «Os Simples» e a restante obra. A partir daí, a busca tornou-se
incessante e transformou-se num projeto de Pós-doutoramento concluído em
janeiro passado sob a orientação do Professor Ernesto Rodrigues, na Faculdade
de Letras de Lisboa. É claro que o interesse não se esgota num
pós-doutoramento. Investigar Guerra Junqueiro, nas suas mais variadas facetas,
requer um trabalho contínuo e apurado, integrado no seu tempo e para lá deste.
3-Porque considera importante ler “A Velhice do Padre
Eterno” nos dias de hoje?
R- «A Velhice do Padre Eterno» é, antes de tudo, uma
das pérolas da literatura portuguesa, como também «D. João», «Pátria», «Os
Simples», etc. Ler «A Velhice» é ler o período que antecedeu a República
portuguesa; é ler sobre a viragem do século no ponto de vista religioso, social
e político. Está tudo lá: “a Luz, a Injustiça social, a Morte, o Desespero, a
Fome, a Ignorância, a Degradação, mas também o apelo à Fé, à Mudança, à
construção de um Mundo Renovado capaz de assentar em valores promulgados pela
Paz, pela União e pelo Bem-estar coletivo”. «A Velhice» é um retrato fiel do
Portugal de então e representa os grandes temas pelos quais se debateu Guerra
Junqueiro” tal como digo em «As Paisagens Junqueirianas em «A Velhice do Padre
Eterno»». «As Paisagens Junqueirianas» são isso mesmo – um conjunto de cenários
através dos quais o leitor é convidado a ver e a integrar-se, a refletir. Não
são cenários/paisagens inocentes. São cenários/paisagens aos quais o narrador
pretende atribuir um fundo de verdade para a seguir espicaçar a sociedade do
final do século XIX.
Retirado de www.novoslivros.pt
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