terça-feira, 10 de dezembro de 2024

Jorge Morais - Personagens (9) - Serafim em Janeiro de 1998




Serafim, que criatura interessante. De corpo direito, aprumado até, com cara longa e perfeitamente frontal e paralela à nossa, embora disforme, quando nos mirava de olhos bem abertos numa beatitude desconcertante incutia em nós um misto de empatia e algum receio também em comunicar. Porém era possível essa comunicação. Dizem que num nível quase de criança, uma criança grande. Não sei porquê a mim sempre que ouvi e fotografei parecia-me uma espécie de anjo que conseguia incutir uma vibração positiva, uma paz também que é pouco comum com a maioria dos congéneres humanos. Uma simplicidade que não impelia ao dichote, ao desprezo, ou ao sorriso de rejeição. Por isso não há notícia de alguém o ter molestado como a outros personagens da nossa vivência comum em Bragança como aconteceu com o "Leribau" e outros, até com o "Carlinhos da Sé". Serafim era um ser alegre, que gostava de ir a festas e, se possível, composto na indumentária se o que possuía o permitisse.

Fotografei-o com o seu transístor na festa do S. Lázaro quando esta era apenas popular e ainda pouco conhecida; também frente ao famoso teixo de mais de 500 anos que existe em Bragança no recinto do antigo albergue distrital aonde lhe davam guarida e proteção. Nasceu em Vila Flor e faleceu em Bragança em 2019, aonde passou grande parte da sua vida adulta. Também viveu algum tempo em Benlhevai aonde foi muito acarinhado. Quem quiser saber mais sobre a história e vida do Serafim consulte o bonito texto de José Maria Sousa Fernandes no blogue:

https://www.benlhevai.net/benlhevai.php?id=56&ca=1

Justamente Artur José de Sousa Fernandes, ligado a Benlhevai, escreveu no mesmo blogue, aquando da sua morte em 2019, o seguinte: "A grande paixão do Serafim era a sua terra do coração, Benlhevai. Vivia o ano inteiro a pensar naquelas duas semanas de felicidade, em Agosto, que passava connosco. Todos queríamos que fosse almoçar ou jantar a nossa casa, tínhamos que organizar uma lista". Fica a memória, Serafim, e o mês de Agosto já não vai ser mais o mesmo. Fica a memória dele, porém, gravada num banco de granito finamente elaborado e mandado fazer por essa gente de Benlhevai e que fica justamente situado no largo da aldeia aonde se costumava sentar nessas tardes quentes de confraternização e proteção.

Jorge Morais (Fotografias e texto)


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