Um frade homossexual é queimado às ordens do Tribunal da Inquisição, condenado por breves amores de juventude na universitária Salamanca dos fins do século XVI. Através de personagens reais, perseguidos pela Inquisição, é passado em revista o ambiente sufocante do país nos anos vinte do século XVII, tomando como paradigma várias vilas e aldeias do planalto mirandês, habitadas por importantes comunidades de cristãos-novos que atravessam a fronteira conforme de onde se acendem os fogos da Inquisição. Aí, o ambiente de denúncia, a ameaça de prisão, a dissolução de costumes do clero, as perseguições permanentes, tornam o amor numa utopia e as relações entre pessoas num inferno, deixando marcas profundas que se prolongam até aos nossos dias.
A língua aparece como um modo de curar, mas também como castigo, quase uma maldição, pressentindo-se as dificuldades no confronto das línguas presentes: o português, o castelhano e o leonês/mirandês.
Três séculos depois, um professor primário resgata um manuscrito onde aquele frade tentou escrever, na prisão, um tratado das artes de curar pela fala, fazendo comentários relativos à sua prática e continuando a questionar-se sobre o sentido da vida e o problema de Deus.
De modo sereno e inovador são abordadas questões que sempre preocuparam o homem, como o amor e o sexo, o bem e o mal, a liberdade, a religião, o viver em comunidade, através de uma época de fundamentalismos, de que ainda não nos livrámos e que não podemos esquecer.
Amadeu José Ferreira (Sendim – Miranda do Douro, 1950) é mestre em direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa e professor convidado na Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa. Vice-presidente da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM). É presidente da Associaçon de Lhéngua Mirandesa (ALM) e professor em cursos desta associação desde 2000.
Assinou várias obras obras em língua mirandesa, desde poesia como Cebadeiros (Campo das Letras, 2000), L Ancanto de las Arribas de l Douro (INA-PDI, 2001), Cula Torna Ampuosta Quienquiera Ara (Tema, 2004), Pul Alrobés de ls Calhos (Fluviais, 2006), até contos como Las Cuontas de Tiu Jouquin (Campo das Letras, 2001), e literatura infantil como L Filico i l Nobielho (Chinchin, 2006) e L Segredo de Peinha Campana (Gailivro, 2008).
Além de Os Lusíadas, Amadeu Ferreira traduziu para mirandês obras de escritores latinos (Horácio, Virgílio e Catulo), Os Quatro Evangelhos e duas aventuras de Astérix (em colaboração), Asterix l Goulés e L Galaton. É coordenador científico e tradutor da banda desenhada Mirandês – História de uma Língua e de um Povo. Fracisco Niebro é um dos seus pseudónimos literários.
Titulo: Tempo de Fogo
Autor: Amadeu Ferreira
Editora: Âncora
Preço: 16€
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