Tenho evitado falar de políticos e de política. Porque só gostam dela e a servem, cada qual ao gosto do seu umbigo, aqueles que dela vivem. A política define-se como a ciência ou arte de bem governar. Mas se a teoria é de aplaudir, a prática é de lamentar.
O que se tem vivido a nível europeu é uma charla que dá para todos os gostos. Mas eu prefiro falar de Portugal e, em especial de Trás-os-Montes, do norte e do país real. Por país real considero o povo anónimo, aquele que ainda vive nas encostas planálticas do Gerês, da Cabreira, do Montesinho, das Beiras; daquele que ainda não tem, mas paga para a televisão e para a rádio nacional como se as tivesse; do povo que percorre, a pé ou de burro, as distâncias que o separam das Finanças, das tesourarias da Câmara ou das farmácias, para cumprir com os seus deveres cívicos. Desse mesmo povo que só é aliciado na hora do voto, mas que, nos quatro anos seguintes, está isolado do mundo, dos centros de decisão, das greves, dos perturbações sociais. Era esse o povo a que Torga se referia quando disse: pobre povo, gozam-te, maltratam-te e até te escarram na cara. E, apesar de tudo, continuas a ajoelhar quando passa a procissão...
Foi sempre esse o povo com o qual me identifiquei, desde quando era metido entre a carga do carvão, no burrico de meu Pai, quando ia fazer carvão para a serra de Ferronho. É a esse povo que me refiro no livro de poemas que se chama «É preciso amar as pedras» e cujo título foi plagiado por António Lobo Antunes, 34 anos depois, quando publicou : «Eu hei-de amar uma pedra». Sempre o povo a servir de trampolim, de burro de carga, de escadote, a pigmeus intelectuais que se reclamam deuses dos sonhos que vomitam no papel inocente.
Com este preâmbulo que os meus 60 anos de tarimba da escrita me autorizam a usar, prendo dizer aos políticos do poder central que têm legitimidade democrática, mas não têm autoridade moral para gizarem nos gabinetes do Terreiro do Paço, verdadeiras aberrações nacionais que colidem com a verdade, com a dignidade do povo que os elegeu e com a prudência que deve suportar qualquer decisão que afronte a ética dos valores da Pátria.
O mundo não tem dono nem regras para remar contra o seu destino. Essa predestinação de mantê-lo na sua órbita não pertence aos políticos. Quantos chegam ao poder com ambições de mexerem em matérias que desconhecem e que procuram alterar, sem consultarem o povo, como é o caso da criação das Comunidades intermunicipais, da divisão administrativa e da propriedade privada, erram, fatalmente, porque não custa elaborar uma lei e fazê-la aprovar, às vezes num dormitório solene, outras vezes em circunstâncias burlescas. Se a divisão administrativa das freguesias se fez à pressa e deixou mazelas que as próximas eleições autárquicas, vão pôr a nu, a criação das Comunidades intermunicipais não correu melhor. A orgânica administrativa de um país, mesmo pequeno como o nosso, deveria exigir consensos alargados, não sendo possível, a 100%, pelo menos com uma maioria coesa o mais alargada possível. Ele mexe com a cultura das pessoas, mexe com aquilo que se aprendeu e que não pode apagar-se com uma lei iníqua, mexe com a própria História de Portugal. À Lei nº 45/2008 foram os responsáveis pela implementação das freguesias buscar interpretações polémicas. E com a promulgação da Lei 11-A/2013 cometeram-se mais afrontas ao poder popular, com a prévia certeza de que o povo lesado, por desconhecimento e falta de reacção, vai aceitar todos os males como se fossem milagres ou tragédias naturais.
Talvez não saibam os decisores que Portugal começou como Condado que era o espaço entre os Rios Minho e Douro. Desde Egas Moniz, a Vasco Gonçalves Barroso, a tantos outros titulares, que ao tempo se chamavam «Senhores de Entre Douro e Minho». Foi assim entre 868 e 1071. E voltou a ser entre 1096 e 1128, em S. Mamede. Como chão Português já tem 885 anos, bem contados. Sempre Trás-os-Montes e Alto Douro foi o coração desse Condado. Como o foi entre 1376 até 1910 para os nacionalistas até 1480 (com a morte da Santa Duquesa em Guimarães).
Se durante quase nove séculos de Portugalidade foram os rios Cávado, Tâmega, Tua e Douro, as fronteiras que identificaram esta Região por que motivos vêm os políticos de agora, espartilhar este naco de chão em três pedaços?
Jorge Nunes, autarca de Bragança já veio dizer que «a região Transmontana vai ficar fragilizada com a divisão em três comunidades: Alto Tâmega, Douro e Terras de Trás-os-Montes. Em nome de que princípios o Douro e o Tâmega vão deixar de ser «Terras Transmontanas»? Eu quero ser Transmontano até voltar ao chão de que provenho.
Opinião - Barroso da Fonte
Retirado de www.netbila.net
O que se tem vivido a nível europeu é uma charla que dá para todos os gostos. Mas eu prefiro falar de Portugal e, em especial de Trás-os-Montes, do norte e do país real. Por país real considero o povo anónimo, aquele que ainda vive nas encostas planálticas do Gerês, da Cabreira, do Montesinho, das Beiras; daquele que ainda não tem, mas paga para a televisão e para a rádio nacional como se as tivesse; do povo que percorre, a pé ou de burro, as distâncias que o separam das Finanças, das tesourarias da Câmara ou das farmácias, para cumprir com os seus deveres cívicos. Desse mesmo povo que só é aliciado na hora do voto, mas que, nos quatro anos seguintes, está isolado do mundo, dos centros de decisão, das greves, dos perturbações sociais. Era esse o povo a que Torga se referia quando disse: pobre povo, gozam-te, maltratam-te e até te escarram na cara. E, apesar de tudo, continuas a ajoelhar quando passa a procissão...
Foi sempre esse o povo com o qual me identifiquei, desde quando era metido entre a carga do carvão, no burrico de meu Pai, quando ia fazer carvão para a serra de Ferronho. É a esse povo que me refiro no livro de poemas que se chama «É preciso amar as pedras» e cujo título foi plagiado por António Lobo Antunes, 34 anos depois, quando publicou : «Eu hei-de amar uma pedra». Sempre o povo a servir de trampolim, de burro de carga, de escadote, a pigmeus intelectuais que se reclamam deuses dos sonhos que vomitam no papel inocente.
Com este preâmbulo que os meus 60 anos de tarimba da escrita me autorizam a usar, prendo dizer aos políticos do poder central que têm legitimidade democrática, mas não têm autoridade moral para gizarem nos gabinetes do Terreiro do Paço, verdadeiras aberrações nacionais que colidem com a verdade, com a dignidade do povo que os elegeu e com a prudência que deve suportar qualquer decisão que afronte a ética dos valores da Pátria.
O mundo não tem dono nem regras para remar contra o seu destino. Essa predestinação de mantê-lo na sua órbita não pertence aos políticos. Quantos chegam ao poder com ambições de mexerem em matérias que desconhecem e que procuram alterar, sem consultarem o povo, como é o caso da criação das Comunidades intermunicipais, da divisão administrativa e da propriedade privada, erram, fatalmente, porque não custa elaborar uma lei e fazê-la aprovar, às vezes num dormitório solene, outras vezes em circunstâncias burlescas. Se a divisão administrativa das freguesias se fez à pressa e deixou mazelas que as próximas eleições autárquicas, vão pôr a nu, a criação das Comunidades intermunicipais não correu melhor. A orgânica administrativa de um país, mesmo pequeno como o nosso, deveria exigir consensos alargados, não sendo possível, a 100%, pelo menos com uma maioria coesa o mais alargada possível. Ele mexe com a cultura das pessoas, mexe com aquilo que se aprendeu e que não pode apagar-se com uma lei iníqua, mexe com a própria História de Portugal. À Lei nº 45/2008 foram os responsáveis pela implementação das freguesias buscar interpretações polémicas. E com a promulgação da Lei 11-A/2013 cometeram-se mais afrontas ao poder popular, com a prévia certeza de que o povo lesado, por desconhecimento e falta de reacção, vai aceitar todos os males como se fossem milagres ou tragédias naturais.
Talvez não saibam os decisores que Portugal começou como Condado que era o espaço entre os Rios Minho e Douro. Desde Egas Moniz, a Vasco Gonçalves Barroso, a tantos outros titulares, que ao tempo se chamavam «Senhores de Entre Douro e Minho». Foi assim entre 868 e 1071. E voltou a ser entre 1096 e 1128, em S. Mamede. Como chão Português já tem 885 anos, bem contados. Sempre Trás-os-Montes e Alto Douro foi o coração desse Condado. Como o foi entre 1376 até 1910 para os nacionalistas até 1480 (com a morte da Santa Duquesa em Guimarães).
Se durante quase nove séculos de Portugalidade foram os rios Cávado, Tâmega, Tua e Douro, as fronteiras que identificaram esta Região por que motivos vêm os políticos de agora, espartilhar este naco de chão em três pedaços?
Jorge Nunes, autarca de Bragança já veio dizer que «a região Transmontana vai ficar fragilizada com a divisão em três comunidades: Alto Tâmega, Douro e Terras de Trás-os-Montes. Em nome de que princípios o Douro e o Tâmega vão deixar de ser «Terras Transmontanas»? Eu quero ser Transmontano até voltar ao chão de que provenho.
Opinião - Barroso da Fonte
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