segunda-feira, 18 de março de 2013

A pedra

a pedra apareceu de súbito
como se voasse
poisou suavemente
como se pluma fosse
e impediu-me a passagem
para lado nenhum

tentei circum-navegá-la
qual Fernão de Magalhães
mas ela cresceu, desmesurada
pensei subir por ela acima
com as mãos nuas
descobri que não havia reentrâncias
onde me pudesse agarrar

perante problema tal,
sentei-me no meio do caminho,
serenamente, a olhar para ela
como se o facto de a ver
me ensinasse a vencê-la
pelo cansaço

ali estivemos a duas
noites e dias
invernos e verões
eu, sentada, qual faquir
ela, alheada, pelo devir
nada aconteceu
e à sua sombra, deixei-me dormir

Mara Cepeda

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