domingo, 3 de março de 2013

Entrevista com Pedro Guerra, Sociólogo, Director Técnico do Centro Social e Paroquial Santo Condestável

É natural de Santa Comba de Rossas, aldeia do concelho de Bragança. Fale-nos da sua infância e o seu tempo de estudante.
 
Eu vivi em Macedo de Cavaleiros apesar de ter nascido em Santa Comba de Rossas que, na altura, era uma vila. Foi uma infância como a de qualquer outra criança da minha idade e tive o privilégio de viver numa vila onde eu pensava que tinha tudo o necessário para uma infância feliz como, de facto, foi. Eu penso que tive uma infância muito normal e muito serena.
 
Porquê a Sociologia?
 
Há quem diga que os professores não têm influência quando nos dão aulas mas, de facto, eu fui influenciado por um professor de Sociologia no meu décimo primeiro ano. Gostei tanto que foi, nessa altura, muito antes de completar o décimo segundo ano, que decidi enveredar por esse tema.

Já era e sempre fui uma pessoa sensível às problemáticas sociais e estava aí, provavelmente, um bichinho mas, de facto, aquele professor marcou-me um bocadinho tal como um professor de filosofia que acabei por ter no décimo segundo ano e não tive mesmo dúvidas. Só me candidatei para a área de Sociologia quando foi na altura de concorrer.
 
É, ainda, muito jovem mas já desenvolveu uma actividade muito importante a nível social. No entanto, há muito a fazer, não é?
 
Sim e haverá sempre. Infelizmente, vai haver sempre.
 
Porque caminhos?
 
Penso que pelo trabalho em rede sobretudo. Eu estou numa instituição há dez anos, O Centro Social e Paroquial Santo Condestável e comecei como Técnico Superior de Sociologia, a desenvolver um trabalho num projeto de luta contra a pobreza. Felizmente, gostaram do meu trabalho. Fui ficando e cheguei até ao cargo de Diretor onde tenho desenvolvido, de facto, algum trabalho. Já nesse projeto de luta contra a pobreza existia uma rede de parceiros que eram os organismos públicos da cidade de Bragança e, já na altura, eu percebi que realmente teria que ser por aí.

Ninguém, sozinho, consegue fazer nada e o trabalho conseguido pelo Centro Social e Paroquial Santo Condestável deve muito aos seus parceiros, aos organismos públicos que, semanalmente, às vezes mensalmente, iam partilhando e traduzindo em concreto as nossas ideias, as nossas opções, o que nós gostaríamos de fazer e sempre com a nossa abertura, nós fomos fazendo o que o Centro Social conseguiu até hoje.

Penso que a solução está, mesmo, no trabalho em parceria, no trabalho em rede, na partilha de informações, em não trabalhar para si mesmo. A instituição que trabalhar para si mesmo vai ter, no futuro, cada vez mais dificuldades. Dou-lhe um exemplo muito concreto. Nós somos das instituições que mais candidaturas a projetos comunitários ou nacionais faz e posso-lhe dizer que, de há um ano para cá, é quase presença obrigatória haver um consórcio ou uma parceria. Ou seja, uma instituição que antigamente se podia candidatar a qualquer coisa sozinha, neste momento, praticamente não o pode fazer. Tem mesmo que se juntar a outras IPSS (Instituições Privadas de Solidariedade Social) ou organismos públicos para poder fazer candidaturas. Acho mesmo que estamos no caminho certo. É através da parceria e da colaboração em rede que podemos fazer alguma coisa.
 
O isolamento não é o melhor caminho…
 
Não é o melhor caminho seguramente.
 
Acha que as pessoas estão cada vez mais alheadas dos problemas sociais?
 
Penso que começam… com este problema da pobreza persistente, as pessoas a aperceberem-se de que há ciclos de pobreza e que há famílias inteiras que continuam nesses ciclos de pobreza. As pessoas começam a desacreditar numa possível solução para os problemas da pobreza e, de facto, mesmo nas aldeias, se nota isso. Havia muito mais solidariedade e, claro que, nos centros urbanos, essa solidariedade, quanto a mim, se está a perder um bocadinho… até nas próprias aldeias se está a perder.

É uma questão, também, de políticas do próprio governo. Passa um bocadinho por mais informação, mais divulgação e mais ajudas para combater os fenómenos de pobreza, embora haja alguns casos onde seja extremamente difícil intervir e tentar tirar da situação de pobreza porque há muita resistência por parte das pessoas. Há pobrezas que são pobrezas envergonhadas, que só mesmo através de alguém que divulgue, é que se consegue perceber que ali há um caso de pobreza porque, aparentemente, não o são. Há pobreza explícita e clara e que muitas vezes não quer e não acha que está em situação de pobreza, o inverso da outra.

Dentro da pobreza há muitas situações e todas elas são diferentes, umas das outras e isso torna também muito difícil o trabalho no terreno.
 
Porquê é que há cada vez mais esse alheamento das pessoas dos problemas sociais?
 
Porque julgo estarmos a viver numa conjuntura em que as próprias pessoas que sentiam bem, neste momento também, estão como diria o governo “a apertar o cinto” e até aí se pode ver que as pessoas estão a passar alguma dificuldade. Não se poderá dizer que estão em situação de pobreza mas, também, estão a passar dificuldades e fala-se no endividamento das famílias que, de facto, é brutal nos créditos para tudo e mais alguma coisa, para viajar, para comprar carro, para comprar casa, para comprar móveis e isso é deveras preocupante porque não sabemos como é que vai ser o amanhã. Estamos numa situação em que eu arriscar-me-ia a dizer que podemos chegar à situação de França, de Espanha que, segundo li, os bancos estão a ficar, literalmente, com montes de imóveis, casas de pessoas que não conseguiram pagar os seus créditos.

Aparentemente, não eram pessoas pobres. Eram pessoas de uma classe média que correu mal e foram perdendo o controlo e acabaram por ficar… eu temo que Portugal possa, também, vir a sofrer um bocadinho esse exemplo que eu dei.
 
Comemora-se, desde 1993, no dia 17 de Outubro, o Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza. Que importância tem esse dia?
 
A importância está no próprio nome, embora a palavra erradicação seja, quanto a mim, mal escolhida. É uma opinião minha, muito pessoal porque, erradicação é um tema muito forte. É acabar de vez com ela e isso é uma coisa que nem os mais optimistas acreditam que se consiga. Não é que eu não quisesse, é lógico que eu queria mas nem os mais optimistas acham que, algum dia, esperam ver a erradicação completa da pobreza. Também por aquilo que eu já disse, há situações em que eles não se sentem em situação de pobreza e vivem daquilo que nós conhecemos que são as situações em que as condições em que vivem já não se justificam neste tempo, nesta era em que vivemos. O dia serve para assinalar que a pobreza existe, que a nível mundial as coisas estão a atingir níveis preocupantes, que em Portugal estão a atingir níveis preocupantes. Há estatísticas que dizem que há dois milhões de pessoas a viver em situação de pobreza. Que há cerca, não me lembra agora a percentagem, mas há um numero excessivo de pessoas a viver com um euro por dia e, convenhamos, que um euro por dia dá para dois cafés, não dá para mais nada.
 
É o Coordenador do Núcleo Distrital de Bragança da Rede Europeia Anti Pobreza. Fale-nos desta instituição.
 
A Rede Europeia Anti Pobreza não existe só no nosso país. Ela faz parte de uma ONG a nível europeu EAPN (European Anti Poverty Network). Ela existe em todos os países membros da União Europeia e tem um género de pressão de lobby para falar com os governos e tentar que o tema da pobreza e exclusão social não seja esquecido. Essa ONG a nível europeu tem, como a Comunidade Europeia, membros de quase todos os países e funciona, um bocadinho, como lobby junto de Bruxelas para que o tema da pobreza não seja esquecido. Aliás, a estratégia de Lisboa no ano dois mil durante a nossa presidência e a elaboração do PNAI (Plano Nacional de Acção Para Inclusão) que é um filho da Rede Europeia Anti Pobreza da EAPN a nível europeu.

A nível nacional como é que ela está articulada? Tem a sua sede no Porto e depois tem um núcleo distrital em cada um dos dezoito distritos de Portugal continental. Tem um técnico contratado que tem como missão tentar sensibilizar as IPSS desse distrito a associarem-se e a trabalhar em rede.

Quais são os grandes objectivos para o trabalho a nível distrital? Promover a troca de informação; Promover formação para quadros dirigentes técnicos, funcionários, que tem também uma vertente de investigação. Poderemos dizer, ainda, que tem um quarto objectivo que não está claramente assumido nos estatutos que é: desenvolver trabalho em conjunto através de sinalizações de dias como o 17 de Outubro, como o 5 de Dezembro que é o Dia do Deficiente, o Dia do Idoso. Esses dias são sempre assinalados em conjunto pelas estruturas distritais que tentam, de certa forma, que esse dia não seja esquecido através de algum tipo de iniciativa.

O Núcleo Distrital de Bragança é dos últimos seis a serem implementados. Só aparece em 2005. De há um ano e meio para cá temos feito um excelente trabalho. É isso que nos tem dito a Coordenadora Nacional, que é dos núcleos novos o mais activo de todos os dezoito núcleos e o que tem tido uma maior adesão das IPSS, uma maior articulação e trabalho em rede. Se calhar, um dos que tem tido melhores resultados a nível de impacto do que é o objectivo da rede: promover formação, trocar informação e investigar.

Das actividades mais salientes, eu referiria dois grandes momentos: O 15 de Março, na Escola Superior de Educação, fizemos um seminário onde tivemos cerca de duzentas pessoas, com o padre Jardim, Presidente da Instituição a nível nacional e com o Dr. Sérgio que é o vice-presidente a nível europeu que é português.

Esta atividade serviu como uma explicação para quem esteve presente, da política de pobreza a nível internacional, a nível europeu, a nível de Portugal continental e apresentámos o exemplo do núcleo distrital de Bragança para quem não conhecia. Divulgámos o que tínhamos feito durante um ano e depois, à noite, demos um pequeno passo, que este núcleo entendeu ser muito importante: a pobreza não se combate só com a Segurança Social nem com as IPSS. Tem que ser com todos e cada um de nós. Nós fizemos um trabalho anterior a esse quinze de Março, que foi tentar arranjar quatro ou cinco casos de famílias que necessitassem de alguma coisa e a sociedade civil, empresas, doassem alguma coisa. Conseguimos uma televisão, um fogão, um frigorífico, uma mobília de quarto e uma máquina de lavar roupa doados por particulares ou por empresas da cidade de Bragança que, gentilmente, cederam ao nosso pedido.

Depois dessa conferência, à tarde, na ESSE (Escola Superior de Educação) tivemos um espectáculo gratuito no Teatro Municipal de Bragança com duas tunas, uma masculina e outra feminina de duas IPSS de Bragança, seguido por um espectáculo de beneficência dos Gallandum Galundaina que vieram abrilhantar, e de que forma, a noite. Depois, a meio do espectáculo, sensivelmente, foram chamados ao palco as empresas e particulares que doaram esses electrodomésticos, esses bens de primeira necessidade e as famílias para os receber e foi um momento bastante bonito, porque aí demos um primeiro passo para tentar com que as pessoas pensassem naquilo que nós tentamos transmitir: Que a pobreza não é só da responsabilidade da segurança social e das IPSS. É de toda a sociedade civil e se todos colaborarem vai ser muito mais fácil.
 
Se quem puder dar, der um bocadinho, acaba por ajudar mais do que o que se pensa…
 
Há coisas que se poderiam resolver com baixíssimos custos, com gestos de solidariedade e de altruísmo para com o outro e era isso que nós pretendíamos. Um segundo momento foi este fórum “Pobreza em Debate” que fizemos em 17 de Outubro em Macedo. Como temos um âmbito distrital procuramos ser descentralizados. Macedo era mais central e voltámos a ter um público variado. Bastantes estudantes do ensino superior, técnicos, dirigentes de IPSS, comunicação social, muitas câmaras, muitos organismos públicos a presenciarem.

Um trabalho, feito por nós, de pesquisa, de investigação, que apontava quais são os três ou quatro grandes problemas do distrito e, depois, tínhamos convidados para falar sobre esses temas, num género de debates Prós e Contras que foi moderado por um comunicador por excelência que é o Dr. Alves Mateus, que engrandeceu aquela tarde, e que foi um momento de debate bastante proveitoso. Pena é que não houvesse mais participação das pessoas que estavam a assistir porque, dúvidas, ficaram de certeza absoluta. Soluções deram-se algumas, de certeza, mas poder-se-iam ter dado muitas mais.

Pistas foram lançadas e ideias e, de facto, é a falar que muitas vezes aprendemos e vamos tentando conhecer algumas falhas onde poderemos trabalhar. Outra coisa que é bastante importante nesta Rede Europeia Anti Pobreza é que são 92, 93 IPSS em todo o distrito. Nós temos cerca de trinta, trinta e duas, trinta e três IPSS a trabalhar em rede e, sempre que há uma reunião, elas são mensais, é sempre num sítio diferente. Se repetimos alguma foi uma ou duas vezes na mesma instituição, mas temos tido, sempre, a oportunidade de ir a diferentes lugares. Já fomos a Moncorvo, a Macedo, Mirandela, Vimioso… às diversas instituições das aldeias como Coelhoso, Rossas, Pinela, Parada, Talhas aonde vamos na próxima reunião.

As reuniões são sempre numa das IPSS. Falamos, temos os trabalhos… é uma tarde por mês, não é grande transtorno. Até nos transportes já há a colaboração. Uma vez leva uma IPSS, outra vez leva outra IPSS para não ir toda a gente no seu carro. Há sempre um lanche convívio, a apresentação da instituição que nos acolhe e temos a tarde de trabalhos onde trocamos informações, onde fazemos candidaturas, trabalhamos em rede.
 
Onde debatem todos os problemas da pobreza… Calcula-se que existam em Portugal dois milhões de pessoas que vivem em situação de pobreza. É um número assustador, ainda mais assustador se pensarmos que o nosso país tem uma população de dez milhões. O que fazer para lutar contra esta crua realidade?
 
Vou-me repetir mas, vai passar, um bocadinho, pela segurança social, IPSS e pela sociedade civil. Tem que haver um esforço para combater o desemprego que é um dos principais problemas que leva as pessoas a entrar em situações de pobreza. Vai ter de haver um aumento do índice e dos níveis de escolaridade e formação profissional.

Ouvi dizer e, quanto a mim, é uma medida justa ou correcta do governo, que eles pretendem a curto prazo, que as escolas passem a ter tantos cursos técnico-profissionais como os chamados de escolarização e penso que, por aí, poderá estar um bocadinho da solução porque, neste país, daqui a uns anos vão fazer falta sapateiros, picheleiros, canalizadores qualificados, electricistas e, de facto, nem todos podemos ir para áreas de gestão, para áreas de solidariedade, para áreas de economia, advocacia, professorado… como vimos, isto está tudo sobrelotado.
 
Se for preciso cria-se um curso de doutor para sapateiro. Às vezes, as pessoas têm essa ideia de que é necessário ser-se doutor para se ter dignidade.
 
Não é preciso porque, eu conheço muitos licenciados a ganhar ordenados muito mais baixos que sapateiros, canalizadores. As pessoas têm, cada vez mais, de perceber que é preciso ter uma profissão, fazer-se aquilo de que se gosta e, de certa forma, isso de ser doutor ou engenheiro, para mim, não faz qualquer tipo de sentido. É uma profissão, é o que eu gosto de fazer. Felizmente, eu tenho essa oportunidade. Eu sei que muita gente também gostaria de estar a trabalhar noutras coisas e, infelizmente, não podem. Como isto é cíclico esperemos que dentro de dois três anos a curva comece a descer e comecemos a entrar num ciclo bom e há que aproveitar esses próximos três anos, quando o ciclo começar a baixar, temos de aproveitar esses dez anos de conjuntura favorável para ver se conseguimos reduzir, pelo menos para metade, os casos de situações de pobreza, o que já era muito bom.
 
O que é bom mesmo é nós fazermos aquilo de que gostamos. No contexto europeu, este cenário, também é bastante perturbador com cerca de 72 milhões de pessoas em risco de pobreza. Já a nível mundial, os números são ainda maiores. Chegam aos 307 milhões, onde uma em cada cinco pessoas, vive com menos de um dólar por dia. Quer comentar esta afirmação?
 
É um problema que não afecta só Portugal. Sabemos que há países que estão em pior situação do que em outros. Temos o caso do Brasil, temos o caso dos países africanos… É lógico que, também, há pobreza na América, também há pobreza em França, Alemanha, Inglaterra onde estará mais escondida, menos sentida pela população mas, existe e é um problema como o fenómeno da droga. O fenómeno da pobreza é um fenómeno internacional. Não conhece fronteiras, nem cor, nem religião, não conhece nada.

A pobreza é um fenómeno que não é como se pensava há uns anos atrás, nos países africanos, no Brasil com a história das favelas… Não. É um problema que existe em todos os países e, agora, na união europeia com este alargamento das fronteiras, com esta adesão dos países de leste, começamos a aperceber-nos que existe onde, se calhar, muita gente nem sabia que poderia existir.
 
Já fizeram algum levantamento do número de pobres no distrito de Bragança?
 
É uma investigação praticamente impossível de fazer. A nível da Rede Europeia Anti Pobreza estuda-se aquilo que as redes sociais e estatísticas do INE, os associados, as instituições, a Segurança Social conseguem ter. De facto, nós conseguimos apurar que há um elevado índice de envelhecimento da população, ou seja, a nível distrital, em cada 100 jovens, há cerca de 156, 157 idosos. Sabemos que a população activa é inferior à população inactiva e a população activa engloba os desempregados, população inactiva como os estudantes, pensionistas, reformados e outras situações, como os deficientes.

Por população activa entende-se que são os que estão a trabalhar, à procura de emprego ou desempregados e, de facto, um distrito que tem mais gente inactiva do que activa. O sistema não está preparado para ter mais situações deste género. Não sei como estará a situação noutros distritos mas, provavelmente, o nosso será um dos piores. Presumo que seja como 55% da população inactiva e 45% da população activa e nós sabemos que o ideal seria ser o contrário: mais população a produzir para os que ainda não podem ou os que já não podem.
 
Dividir o mal pelas aldeias… O problema da toxicodependência é muito grave e de difícil resolução…
 
É e, ao contrário das situações de pobreza que afectam determinado estrato da sociedade, o problema da toxicodependência é um problema que não conhece estratos sociais e que vai desde o rico ao pobre, à classe média, a todos. De facto, no combate à toxicodependência, a minha opinião sincera é que tem de haver uma redução. Mais uma vez, é uma situação que é muito difícil de erradicar mas, para haver uma redução drástica do número de consumidores e de situações de toxicodependência, teremos de apostar muito em prevenção, mas de forma diferente do que se tem feito. Não sei ainda como.

Está aí um novo quadro de apoio para combate à toxicodependência. O Centro Social, através da câmara e da Segurança Social, está a tentar estudar esse novo documento e tentar partir para uma coisa diferente para ver se conseguimos obter resultados que sejam animadores.

É um problema que eu tenho muitas dificuldades em explicar, embora conheça e lide, diariamente, com muitos casos. É um problema que eu considero muito difícil de explicar, como considero difícil de explicar o alcoolismo e outras doenças, outros problemas que afectam a população no seu geral.

Como nunca experienciei, só posso falar daquilo que ouço. Há coisas que às vezes me levam a pensar: “A Holanda despenalizou o consumo.” Tiveram, no início… o fruto proibido é o mais apetecido. Como deixou de ser proibido, houve uma redução drástica do número de consumidores mas, pelo que ouvi dizer, agora volta a aumentar. Não sei. Sinceramente não sei…

Toxicodependentes há cada vez mais. É a noção que tenho. É um dos alvos prioritários deste novo Plano Nacional de Acção para a Inclusão que defende que o combate ao desemprego, à toxicodependência e à inclusão dos imigrantes de leste, mas não só, de toda a população de outros países, mas que reside em Portugal, alvos prioritários a atacar no combate às situações de pobreza e exclusão social. Mas, também, os idosos que são outro problema e principalmente no distrito de Bragança, com o índice de envelhecimento que já referi, no isolamento do idoso. O idoso gosta de estar na sua aldeia, gosta de estar em sua casa, mas há situações em que não deveriam estar, ainda, em suas casas, enquanto há outros que estão institucionalizados em lares ou em centros de dia que até poderiam estar em casa. É uma questão de consciência.
 
Também deveria ser uma questão de prioridades.
 
Sim, também é difícil porque, neste momento, não há resposta para o número de pedidos. Essa racionalização torna-se praticamente impossível porque, ainda, não há uma cobertura para o nível de respostas que temos.
 
Desenvolve actividades como Director Técnico no Centro Social e Paroquial Santo Condestável. Fale-nos desta obra.
 
O Centro Social e Paroquial do Santo Condestável existe desde 1989. É uma IPSS inserida numa zona que, antigamente, era bastante problemática, a zona do bairro da Mãe D’Água do Fundo de Fomento da Habitação, em plena freguesia da Sé da cidade de Bragança desde 89. Começou com a construção de uma igreja com um ATL, com um refeitório social e um centro de dia. Uma instituição pequenina que foi crescendo e em 95 é convidada pela segurança social a desenvolver um projecto de Luta Contra a Pobreza, porque se verificou, na altura, que as Técnicas do Serviço Social da Segurança Social tinham a maioria dos atendimentos desta zona da cidade e, também, muita da população que estava detida, seria oriunda desta zona da cidade. Houve um conjunto de factores que levaram a pedir, na altura, ao doutor Adelino, padre da instituição, que assumisse, em conjunto com alguns parceiros, uma candidatura, um projecto de luta contra a pobreza. O que veio a acontecer. Em 96 deu-se início ao projecto “Mãe d’água, Direito à Cidadania”. Foi quando eu entrei a trabalhar para esta instituição. Fizemos um estudo de investigação sociológica onde entrevistamos cerca de 2165 pessoas desta área de abrangência e procurámos saber onde é que estaria o problema. Vimos, de facto, que havia múltiplas e diversificadas tarefas a ponderar e a analisar.

Tentamos todos os anos, lendo o relatório final, implementar medidas para combater todo aquele fenómeno que tínhamos observado no trabalho de pesquisa, no trabalho de campo. Assim fomos criando diversas acções de combate àquilo que seriam os principais problemas. Fizemos programas de higienização em casas do Fundo de Fomento de Habitação em cooperação com o IGAPE. Fizemos recuperação de casas em cooperação com o IGAPE. Fizemos uma candidatura para sermos entidade formadora que ainda se mantém até hoje e, desde então até hoje, já fizemos cerca de 15 a 16 cursos de formação profissional. Formámos mais de 200 pessoas das quais, cerca de 50%, estarão ou teriam conseguido arranjar emprego derivado a essa formação profissional e, nos últimos anos, tem inclusive, a vertente escolar de uma equivalência escolar, principalmente nono ano. Entram com o sexto ano e saem com o nono ano de escolaridade. Tentámos fazer que não houvesse pessoas sem médico de família, que houvesse casas que tivessem higiene, problemas de pensões, de reformas, de rendimentos mínimos… todo o tipo de problemas com a ajuda dos nossos parceiros. Fizemos um gabinete de atendimento, de encaminhamento de situações, inclusive, de regularizações de dívidas, de problemas em tribunal, toda a espécie de problemas que existissem tentávamos, diariamente, conversando com as pessoas, ouvindo os seus problemas, resolver.

Fizemos um outro estudo para ocupação dos tempos livres dos jovens no âmbito do Programa Quadro para prevenção da toxicodependência. Criámos uma “Sala Jovem” para desviar os jovens da marginalidade e da criminalidade e, potencialmente, da toxicodependência. Uma série de sessões, acções, formação, seminários, divulgação. Tentámos combater o absentismo escolar, tentámos, de certa forma, acabar com… acabar, não, mas diminuir aquilo que nós tínhamos verificado naquele estudo que fizemos em 96.

Entretanto, uma das coisas que verificámos, era a falta de serviços a prestar em situações de pobreza e exclusão social e daí nasceu, em 2000, uma candidatura para a construção de um centro comunitário. Esse centro comunitário viria a dar resposta a essa grande lacuna, falta de respostas sociais, embora houvesse outras IPSS, embora já houvesse valências ou serviços na nossa instituição, não chegavam para a população desta zona e, então, foi aumentado o refeitório de dez para cerca de quarenta, cinquenta pessoas/dia. O apoio domiciliário que seria para dez pessoas, passou a ter vinte e oito. O centro de dia aumentou para 25. Temos um centro de convívio para idosos para cerca de 30 idosos. O ATL passou de trinta, quarenta para 114, 120 crianças. Criámos uns balneários públicos para as pessoas tomarem banho. Havia muita gente que não podia, ou não tinha condições para tomar banho. Lavandaria pública para auxiliar pessoas que não tinham condições para lavar roupa e passar roupa. O gabinete de atendimento, mantivemo-lo como veio do Projecto de Luta Contra a Pobreza. Continuamos a atender as pessoas, a tentar encaminhar e resolver os seus problemas, o ATL jovem completamente gratuito para as crianças, armazenagem de recursos, distribuição peças de roupas, electrodomésticos e um sem número de coisas que particulares, sociedade civil e empresas nos dão para doar; um centro de alojamento temporário para passantes, para pessoas que temporariamente estejam numa situação difícil para que não haja, em Bragança, pessoas sem abrigo.
 
Existem, felizmente, para além do Santo Condestável, várias IPSS que têm desenvolvido um trabalho meritório a nível da erradicação da pobreza e da inserção social. Fale-nos da importância destas IPSS.
 
De facto, Bragança, neste momento, começa a ficar bem coberta em termos de cidade. Há tempos, na rede social, tentamos fazer um mapa do concelho para verificar onde existiam IPSS e onde existiam IPSS próximas. Nalguns núcleos como o eixo do IP4 estaria bastante coberto, com aldeias muito próximas, com IPSS em todas elas. Há muitos sítios onde não há qualquer tipo de IPSS. Há uma concentração em determinados pontos do concelho e há outros que não têm.

Aqui em Bragança estamos a ficar numa situação razoável em termos de IPSS. Se calhar, a nível do meio rural, nem tanto mas, para isso, a rede social vai ter o seu papel a dizer. Esperamos nós que, com a implementação de novas valências, seja estruturado nesse sentido, ceder o privilégio a zonas não cobertas, aldeias inteiras, freguesias inteiras não cobertas por algumas situações mas, felizmente, a Santa Casa da Misericórdia tem feito, pelo menos a nível domiciliário, uma cobertura quase total do concelho e é bastante bom juntamente com outras IPSS. As instituições de Bragança estão todas na Rede Europeia Anti Pobreza e há um excelente entendimento entre todas. Se calhar, há cinco anos atrás não havia, nem sequer se conhecia quem era o director técnico de uma ou de outra, quem são os técnicos e o que faziam. Neste momento, todos conhecemos o trabalho de todos. Há encaminhamento de situações, há trocas de utentes de um lado para o outro: “Olha, tenho um utente da tua zona que precisa disto.” E vice-versa o que facilita a vida ao utente. “Nós não podemos de momento, mas vou já telefonar ao meu colega da instituição A,B ou C e o problema vai-lhe ficar resolvido de certeza.” E com este trabalho em rede, com esta troca de informação, com esta entreajuda entre todos é muito mais fácil trabalharmos os problemas de exclusão.

É muito bom. Quantas mais houver… Há alguns anos atrás trabalhavam muito para si fechadas. Neste momento, as portas estão-se a abrir todas e a rede europeia veio a dar uma maior mobilidade a esta situação, um maior entrosamento entre os técnicos.
 
Os problemas políticos no médio oriente, na África, na Ásia e a emigração ilegal do México para os Estados Unidos da América e de África para a Europa fomentam a pobreza e a exclusão social. Poderão os sociólogos fazer a diferença?
 
Os sociólogos poderão identificar as causas. Cabe, no entanto, à sociedade civil no seu todo mas, principalmente, às políticas das nações, ou das uniões como da União Europeia, promover medidas políticas no sentido de combater estes problemas, não no sentido de não poderem entrar, mas no sentido de as integrar, de fazer algo por isso. De facto, o sociólogo, a missão que tem, é saber como e quando e com quem se deve fazer o levantamento, a pesquisa de situações. No fundo, terá o papel de alertar para, fazendo o trabalho de campo, o trabalho de pesquisa e, se possível, dar a sua opinião, a interpretação dos dados, qual o caminho a seguir mas, não cabe ao sociólogo implementar as medidas. Ele é um actor privilegiado no sentido de conhecer e dar a conhecer onde é que estarão as situações, as problemáticas; onde será necessário, ou não, intervir; se poderá, ou não, a aposta ser feita para chegar aquela ou a outra solução mas, nesse sentido e não, no sentido de tomar medidas ou de dizer quais as medidas a tomar em termos investigação ou de divulgação.
 
O estudo que levaram a efeito em 1996 foi repetido alguns anos depois. Fale-nos um pouco sobre os resultados.
 
O Centro Social e Paroquial voltou a repeti-lo, dez anos depois. Em jeito de brincadeira o nosso presidente disse há dias que, em 2016, cá estaremos novamente para ver a nossa intervenção destes últimos dez anos e projectar os próximos dez porque, a ideia e fazer esse estudo foi precisamente essa: ver o impacto que tivemos nos dez anos de intervenção, se as coisas melhoraram ou não e projectar o que é que falta fazer. De facto, tendo nas equipas pessoas da área social e, principalmente, da sociologia é que se tem a noção de que estes estudos são necessários para termos pistas para trabalhar porque, Portugal tem um défice de conhecimento ao nível técnico sobre onde é que está o problema.

As coisas, muitas vezes, fazem-se sem haver um suporte de estudo para saber o que é que se deve fazer e eu não poderia dizer outra coisa como sociólogo. Isso é fundamental. Termos o problema identificado é meio caminho para o poderemos tentar resolver.

Nesse estudo destes últimos dez anos, recentemente feito e que foi divulgado há pouco tempo, temos pistas não só para a intervenção dos próximos anos como, também, uma comparação com o trabalho que foi sendo feito. O que nós observamos foi que houve bastantes melhorias a vários níveis e há coisas que ainda é preciso fazer e que ainda não está totalmente coberta. Ainda há muito desemprego, ainda há muita toxicodependência e há o envelhecimento acentuado da população. Conseguimos minorar o absentismo escolar, aumentamos o índice de escolaridade das pessoas, não só nós, como todas as outras IPSS e organismos públicos. Não temos a pretensão de dizer que aqueles dados foram conseguidos apenas por nós porque, nós sempre dissemos que, só através da ajuda dos outros parceiros é que esse trabalho foi possível mas, ao dizer nós, é nós o Centro Social que fez esta investigação nesta área e comparando os mesmos públicos de 1996 e 2006, houve aspectos que nos deixaram bastante sensibilizados, que o trabalho foi bem feito e que para nós isso serve de algum estímulo para continuar a trabalhar e que estaremos no bom caminho.

O estudo foi alargado a muito mais zonas, a zonas como a Braguinha, a Ricafé e Loteamento das Comunidades, zonas onde, aparentemente, não há problemas mas onde, também, aparecem e alargámo-lo ao Campelo, Bairro do Pisco, Urbanização Novecentista e todo o bairro de Vale de Álvaro, tentando expandir ainda mais a zonas recentes e não só, aumentar o nosso leque de abrangência, uma vez que este Centro Social não é só a nível de freguesia nem só a nível de bairros mas, prioritariamente, para intervir nesta zona mais próxima.
 
Passemos agora para assuntos menos técnicos. Como transmontano, diga-nos o que entende que pode ser feito para que a nossa interioridade não se transforme em isolamento?
 
Podemos esperar que, de uma forma ou de outra, os eixos rodoviários de transportes, finalmente, cheguem até Bragança, sem mais demoras, porque Bragança só poderá ter industrialização que não tem e, isso, o nosso estudo verificou assustadoramente. O sector terciário é que manda. O primário vai deixar de existir, industrialização não há. De facto, só podemos combater e estar com índices iguais a outros distritos, de qualidade de vida e de combate ao desemprego se tivermos industrialização, se tivermos empresas aqui sedeadas e as empresas não veem para cá se não tiverem condições para se instalarem. Incentivos fiscais seriam uma opção, melhoramento de redes viárias, outra.

Posso dizer-lhe como disse há dias, um orador no “Pobreza em Debate” que há vinte anos atrás demorava, para ir de Macedo de Cavaleiros a Espadanedo, demorava-se meia hora, hoje continuamos a demorar a mesma meia hora e de Macedo ao Porto demorávamos cinco, agora demoramos duas.

Houve melhoramentos mas, temos de falar na rede viária rede viária concelhia, nas vias de acesso de entrada no distrito, as ligações a Espanha, ao Porto que ainda não estão concluídas como a A4, o IP2, o IC5 e outras.
 
Vinte anos ainda não é tempo suficiente. Em Trás-os-Montes anda tudo muito devagar, não por nossa culpa…
 
Os trasmontanos não andam nada devagar. É um povo que é bastante combativo e persistente e lutador. Se não o fosse, julgo que a situação ainda estaria pior e, felizmente, que é um povo que gosta da sua terra e que, provavelmente, até vai para fora com a ideia de poder regressar um dia para a sua terra porque é aqui que gosta de estar e, infelizmente, muitos tiveram que ir para o litoral ou para outros países. Estou em crer que, e tem-se verificado isso, alguns estão a regressar. Ainda há dias soube, com muito agrado, que há um empresário que estava no Porto e que se vai mudar de armas e bagagens para Bragança. É isso que é preciso e é aí que se vai combater a pobreza e se o Estado pudesse ajudar com incentivos fiscais aí, garantidamente, as coisas melhorariam porque nós, a partir de há uns anos para cá, começámos a ter tudo o que é necessário. Neste momento até shopping e teatro temos.

Os que mais tendiam a criticar que aqui não havia lazer, não havia cultura, já não o podem dizer. Já temos um bom programa de teatro, de programação cultural, das instituições. Já somos uma cidade que tem programação cultural, Macedo de cavaleiros também, Mirandela eventos desportivos nacionais, internacionais. Ainda há muito a ideia, em Lisboa e no Porto, que Bragança deve ser o fim do mundo, onde não há semáforos, não há nada e é um caos e depois as pessoas… sempre que eu trago amigos meus a Bragança que nunca vieram cá dizem-me isso: “Nunca pensei que Bragança fosse assim tão bonita, tão calma e vocês têm aqui tudo.” A ideia que a televisão passa não é essa, é que isto é um gelo, que aqui não há nada.
 
Em que devemos apostar para não se perderem as características mais importantes de Trás-os-Montes e acompanharmos os avanços do mundo em que vivemos?
 
A nível da nossa cultura, acho que deveríamos mantê-la e se os cursos técnicos profissionais vão ser uma realidade, há que apostar e manter as tradições que são deste povo e que são muito úteis e muito válidas.Há que dinamizar o turismo e as potencialidades turísticas e culturais que esta região tem. Estão a desleixar-se e a perder a nossa riqueza cultural e paisagística tão grande e acho que estamos a falhar aí, na aposta no turismo a sério porque, não digo que o problema não esteja nas gentes de Trás-os-Montes, penso que esteja, mais uma vez, na falta de incentivos do Estado para com uma região que poucos votos lhe dá e, por isso, os dinheiros não chegam cá para investir no turismo porque nós temos condições e tradições que são únicas. O litoral têm apoios para tudo e mais alguma coisa e não têm a riqueza e a tradição que tem as nossas terras e as nossas gentes e que temo que se percam ao longo dos tempos e, claro que as pessoas vêm cá e adoram comer alheiras e carne e castanhas e o pão no forno mas, se não se intervir, eu temo que daqui a quarenta anos não haja nada disto. Ninguém trata a terra, ninguém come pão caseiro, ninguém come alheiras nem chouriça e depois não há nada a fazer. Se se perde a tradição não há nada a fazer.
 
Para terminar, que personalidade ou personalidades mais o marcaram ao longo da sua vida?
 
Essa é uma ratoeira muito grande. Os meus pais, a minha esposa e mais, recentemente, houve duas pessoas que a nível profissional me marcaram: primeiro, o cónego Adelino, doutor Adelino, Presidente da instituição. Neste dez anos da minha estada aqui, o doutor Adelino esteve comigo, pelo menos, durante os primeiros sete anos. Saiu há dois, três anos e foi uma pessoa que me marcou pela vivacidade, pelo espírito que tinha, principalmente, pelo que as pessoas diziam dele, não tanto da minha conversa com ele, mas daquilo que ouvia aos outros: “Que era uma pessoa sempre receptiva e aberta para toda a gente”. É um pároco digno dessa minha escolha porque, de facto, o admiro muito e, em segundo lugar, o que se mantém neste momento como Vice-presidente da instituição, o professor Marcolino Gonçalves, que é uma pessoa como ainda não conheci, tirando o meu pai, que se dedica às causas perdendo até dinheiro do seu próprio bolso, nunca ganhando nada com isso e sempre lutando e estando sempre do lado da verdade e da transparência que me influenciou muito e que facilitou a partilha dessa mesma opinião, a maneira de estar na vida e me influenciou muito positivamente, que foi uma grande inspiração para mim. É um grande homem, que admiro e ele sabe disso e que ainda continua connosco.

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