terça-feira, 17 de setembro de 2013

Trás-os-Montes deixou de ser a última Colónia Portuguesa

Foi concluída a «autoestrada transmontana numa extensão de  134 km»

Durante muitos anos, a Província de Trás-os-Montes foi, na prática, a última colónia Portuguesa. Por diversos motivos. Mas especialmente por ser aquela que estava mais longe, em horas de viagem, entre Bragança e Lisboa, centro de todas as injustiças e decisões iníquas.

Em 1401 nasceu a Casa de Bragança, através do casamento da filha de Nuno Álvares Pereira e de Leonor de Alvim, com D. Afonso, filho bastardo do Rei D. João I. Foi um casamento opulento, não pela festa, porque os noivos eram gente simples. Mas pelo enxoval, ou mais propriamente, dos títulos honoríficos, terras e haveres que cada noivo recebeu. D. Beatriz herdou toda a enorme fortuna da Mãe – a barrosã D. Leonor de Alvim – que casara (em criança) com D. Vasco Gonçalves Barroso, o alcaide do Castelo de Montalegre e senhor das Terras de Barroso, Chaves, Basto e Bragança. Casara pela  beleza daquela com a qual não terá chegado a consumar o matrimónio. O marido, já viúvo, vivia regalado na sua Quinta de Pedraça. O prior do Crato – D. Álvaro Gonçalves Pereira – oriundo da região de Basto, teve 19 filhos de Iria Gonçalves do Carvalhal, além de mais 13, de duas outras mulheres.  Foi homem influente nos negócios do reino e da monarquia. Conhecera Vasco Gonçalves Barroso. E, na herança que legou à jovem esposa, que não deixara de ser donzela, espreitou na viuvinha rica, bela e virgem, um excelente casamento para o filho Nuno que andava pelos 16 anos. Nuno não pretendia casar. Mas a Mãe, Bragançana de peso na Corte, deixara-se seduzir pelo Prior do Crato. E os 19 filhos de ambos constituíam uma preocupação que implicava grande esforço para a época.
Foi desse esforço conjunto que a nobreza do tempo usufruiu para juntar o útil ao agradável.
Um primeiro passo foi a concretização do sonho de D. Álvaro Pereira. O segundo chegou por acréscimo. O Braganção era figura humana de grande temor. Ou honravam a memória da familiar que o Prior manchara, ou andaria mouro na costa. Braganção impôs-se. Nuno estava no sangue deste e do Prior. Que melhor dádiva do que fundar a Poderosa Casa de Bragança que entre 1442 e 1910, tinha mais peso do que a Corte e a política desses 460 anos?
A cidade de Bragança entrou na história por esta via que os investigadores ainda não deslindaram. A República, gerou o Estado Novo que  cuidou dos ricos e ignorou os pobres.
Toda a fronteira norte que servira de atalaia às forças Lusas, viveu sempre mais perto da Galiza do que de Lisboa. Eram os Transmontanos os primeiros a pagar os impostos, a cumprir as leis e a ser chamados para extinguir os «incêndios». E sempre os últimos a receber os benefícios sociais. Chegavam a Coimbra, ao Porto e a Braga. Mas dali para norte era um espécie de colónia onde a luz do espírito só chegava pelas frinchas de uma ou outra nesga de sol de inverno. O comboio foi o transporte que mais tarde ali chegou. E, onde chegou, foi o primeiro a desaparecer. Chaves, Mirandela, Tua, mal chegaram a ouvir o apito. Estradas poucas e loucas. Curvas e contra-curvas, covas e mais covas, porque o alcatrão era desviado nas cidades onde morava o poder. O alcatrão chegou apenas às vilas e cidades e num revestimento que desaparecia em cada novo inverno.
A guerra e a emigração levaram os braços mais válidos. Nos meados do século XX  a mais distante Região do Terreiro do Paço, ficou reduzida a velhos e crianças que mais pareceram cidadãos indígenas no trato e no acesso aos bens essenciais. Partindo de Lisboa de avião chegava-se mais depressa a Angola, Brasil, Estados Unidos, do que saindo de comboio para Miranda do Douro, Babe ou Tourém.
Nos  fins do século e do milénio quiseram alguns mais influentes encurtar distâncias com um pequeno avião que, saindo de madrugada, ia a Lisboa e voltava com o sol posto. Foi sol de pouca dura. Porque as barras de ouro acabaram e os cofres ficaram vazios.
Do pouco que sobrou e depois de o país ter auto-estradas, aos pares, na beira mar e rumo às parias, alguém se lembrou de que Trás-os-.Montes nem um palmo desse feitiço cheirava. Congeminaram furar o Marão. E ligar o país rico ao país pobre. Quando a vergonha já tresandava lembram-se de ligar o Porto a Quintanilha (fronteira com a Espanha). Em 2007 era muita a vontade mas pouco o dinheiro que se gastou em desdobráveis publicitários que anunciavam um paraíso para todos.
Acaba de ler-se na imprensa Transmontana que, finalmente, foi concluída a «autoestrada transmontana numa extensão de  134 km». Esse percurso liga Vila Real a Bragança e apenas 14 km são portajados. Foram gastos 510 milhões de euros. Mas para que se conclua a A4 ainda é preciso terminar o Túnel do Marão, um troço de três dezenas de quilómetros, sendo  de 5, 6 km o túnel que parou em Junho de 2011, por causa da «pesada herança» que nos faz apertar o cinto, a cada dia que passa.
Ocorre esta abertura de 134 km quando também fica transitável ao público um troço de 12 km da EN 311, entre Cabeceiras e Lodeiro de Arque. Foram mais de três anos de pesadelos, de socalcos, de nevoeiros sem marcação. Um flagelo que se espera acabe depressa. As marcações estão prontas. Heureca!

Escrito por Barroso da Fonte
Retirado de www.netbila.net

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