domingo, 24 de junho de 2012

Coisas do mar e da serra

Embora nascida entre montes, em terra banhada por pequeno e límpido Tuela, tenho mar dentro de mim. Sou dual. O azul-verde mar que tanta tranquilidade me transmite, ensombrece quando não há verde, penedias, giestas floridas, estevas e abelhas em sonoros beijos ao doce alecrim.
Estou aqui, definitivamente, granito e xisto, lousa onde me escrevem e escrevo. Granito onde anseio sonhos de príncipes e princesas em mágicos bailes de aragens estranhas, de fadas e bruxas em lutas sem fim.
Camponesa não sou. Sou o que se define como água corredia, em ligeiras e alegres cascatas.
Pequenos peixes encostados às remansosas margens não dimensionam o tempo, apenas a água que não para de correr para o mar... para o mar...
O meu tataravô foi marinheiro. O mar salgado, espumoso, revoltado, ceifou-lhe a vida. Ficou com ele porque ao mar pertencia.
Nascido da pedra, da terra saído, rumou para o mar que o havia escolhido. Nos filhos deixou o sabor salgado, o cheiro a maresia e a incapacidade de ser só daqui.
E lá, espraiando o olhar azul pelo azul infinito, chorava o azul do céu transmontano que tanto ansiava e então chovia, na terra ressequida das ondulantes e sofridas searas, espalhadas a esmo, por todos os montes.
As mãos calejadas dos cordames da proa, sentiam ardentes a brancura alva da pele veludo da mulher, que deixara em terras de cá. O filho, no rubicundo ventre, cheirava a café do Paraná. A mãe sabia que ele partiria.   
Sou transmontana, de serranias, de montes bravios, de cheiro a paisagens que se entranham no meu coração e ao mesmo tempo a água do mar bravio, bate na areia e deixa poemas que guardo, serenamente, em meu dorido peito.
A minha alma é universal, cósmica, arrogantemente cósmica, mas tão absolutamente transmontana que o cosmos desceu para aqui descansar.

Idalina, em resposta, ou não, ao teu belo texto.
Beijinho
Mara Cepeda 

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