domingo, 28 de abril de 2013

Câmara inaugurou o centro de fotografia a que deu o nome do fotógrafo francês (George Dussaud)

 
No Verão de 2007, o fotógrafo francês Georges Dussaud (n. Brou, Bretanha, 1934) apresentou no Porto, no Centro Português de Fotografia/Cadeia da Relação, uma exposição retrospectiva dos trabalhos que foi fazendo em Portugal desde que visitou o país, pela primeira vez, em 1980.

Chamou-lhe Crónicas Portuguesas - uma viagem que ficou também registada no livro-catálogo com o mesmo título editado pela Assírio & Alvim. Cento e cinco da colecção de 135 fotografias que compuseram esta exposição foram doadas à Câmara de Bragança, que, com este acervo, criou o Centro de Fotografia Georges Dussaud, que foi inaugurado no âmbito do programa de comemoração do 25 de Abril.

\"Que a Câmara de Bragança tenha decidido atribuir o meu nome a um centro de fotografia, e que tenha ainda decidido inaugurá-lo num dia de tão grande importância para o país deixa-me muito emocionado\", comentou para o PÚBLICO Georges Dussaud, num email enviado no início desta semana, no mesmo dia em que partia da sua Bretanha natal para uma viagem de barco e de carro até à cidade de Trás-os-Montes.

Trata-se da 86.ª viagem que o fotógrafo e a sua companheira de vida e de trabalho, Christine Dussaud, fazem a Portugal, onde têm realizado sucessivas reportagens e produzido livros - o primeiro dos quais, Trás-os-Montes, foi editado em 1984, com um texto de Miguel Torga - e exposições. Algo que promete continuar a fazer no nosso país, \"enquanto tiver saúde e energia\".

A decisão de doar a Bragança parte da colecção das fotografias de Crónicas Portuguesas tomou-a depois de lhe terem comunicado que a autarquia tinha o projecto de criar um centro de fotografia com o seu nome. E também depois de, durante mais de dois anos, não ter recebido por parte do Centro Português de Fotografia (CPF) nenhuma resposta concreta à sua anterior oferta daquele acervo a esta instituição nacional. \"Inicialmente, propus esta doação ao CPF, há mais de dois anos, mas, apesar do interesse e do desejo manifestado em receber a colecção, o centro não avançou com nada de concreto\", justifica Dussaud.

No arquivo do CPF ficaram, contudo, 30 fotografias das 135 que fizeram a exposição Crónicas Portuguesas - e que entretanto foram também expostas no Museu de Portimão. Às 105 que transitam agora para o novo centro em Bragança, Dussaud acrescentou 43 novos trabalhos realizados para o novo espaço. O centro é hoje inaugurado com uma selecção de 92 imagens desse acervo, comissariada por Jorge da Costa, director do Centro de Arte Contemporânea Graça Morais, que fica na mesma rua da nova galeria.

Memórias de Trás-os-Montes

A decisão da Câmara de Bragança de criar o Centro de Fotografia Georges Dussaud foi tomada, por unanimidade, em Novembro, e registada num protocolo assinado com o fotógrafo em Janeiro. Para acolher a nova colecção - que \"representa um relevante valor artístico e documental\", diz-se no texto do protocolo -, a autarquia decidiu reconverter quatro salas no Edifício Paulo Quintela, velha sede da câmara no centro histórico da cidade.

\"A doação de Georges Dussaud é muito importante para Bragança, porque, para além do seu valor estético e documental, as fotografias vão certamente trazer muitas memórias às pessoas da terra e da região de Trás-os-Montes\", disse ao PÚBLICO a vereadora da Cultura da autarquia, Fátima Fernandes. \"Queremos que o centro seja um espaço de arquivo e de estudo que desafie outros olhares, e não apenas de fotógrafos\", acrescenta a responsável autárquica, realçando que a instituição vai ter também \"uma função pedagógica\" aberta às escolas da região.

Das quatro salas que constituem o centro, três estarão destinadas à colecção Crónicas Portuguesas, sendo a quarta aberta a exposições temporárias. \"O negro e a luz são a matéria com que Georges Dussaud descortina, como um poema visual, a cartografia de um universo visceralmente telúrico, ainda que aparentemente antigo e agreste\", escreve Jorge da Costa no texto de apresentação da exposição. \"Da sua ampla narrativa de imagens, que convocam simultaneamente as suas vivências, sobressaem histórias de vida, povoadas de homens, mulheres e crianças, mas também de lugares, de olhares, de gestos, de instantes irrepetíveis que congela a cada rigoroso disparo da máquina fotográfica\", acrescenta o comissário.

Georges Dussaud é um nome de referência na fotografia francesa. Está ligado, desde 1986, à agência Rapho, criada em Paris em 1933 pelo húngaro Charles Rado, e refundada depois da 2.ª Guerra (na época em que Cartier-Bresson e Robert Capa lançavam a Magnum), num momento em que o fotojornalismo se afirmava como veículo privilegiado de comunicação. Com figuras como Robert Doisneau e Edouard Boubat, a Rapho sempre cultivou uma fotografia de pendor humanista. É esta a marca de Dussaud, e Portugal (e a região de Trás-os-Montes) tem nele um dos olhares mais dedicados.

Sérgio Andrade in Público
Retirado de www.diariodetrasosmontes.com

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