Se não fosse pela hora tardia, sairia, com certeza, para a noite escura como breu.
O medo de si mesma prendia-a naquela cadeia de dor.
Ansiava ar puro, liberdade, insensatez...
Sentia que o coração não resistiria a tamanha dor, a tamanha afronta.
Explodia, por dentro, desfeita em pedaços.
Nunca voltaria a ser a mesma.
Era impossível, tão absurdamente impossível, como naquele momento se fazer dia de sol incandescente.
Quebrara-se o elo que ela julgava indestrutível, inabalável como o seu amor.
Precisava gritar.
O silêncio era uma tortura insuportável.
Um grito na noite.
Apenas um, mas que fosse único e irrepetível.
Sentia-se vácuo, buraco negro, medonho fim... nada.
Como conseguiria apanhar os estilhaços da sua dor?
Como poderia, alguma vez, recompor-se?
"E tudo o vento levou" em câmara lenta, muuuiiito lenta.
Teria de se levantar quando raiasse a manhã.
Era necessário fingir que continuava viva.
Procuraria juntar os pedaços de si mesma como num puzzle de infinitas e minúsculas peças imprecisas.
Teria toda a sua vida para o fazer...
Mara Videira
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