quarta-feira, 2 de maio de 2012

Finalmente, acordada...

como se o tempo não tivesse passado,
encontro-me aqui, como quem tem medo de viver.
os dias não sabem o que fazer.
apenas passam como as alegrias.
ficam as tristezas que não conseguem passar.

as pontes que atravesso são altas e estreitas
nada direitas, como caminhos tortuosos,
aos quais é preciso ir, que ninguém vai por ti.
cumpres as passagens e as margens não as vês
porque não são visíveis, porque tens de demandar por elas

e estas demandas, dolorosas, algumas enganosas
são como paisagens ao anoitecer
cobertas por tristes ululares de lobo solitários.
queres juntar-te a eles como quem não tem para onde ir.
queres ser um deles e, ao mesmo tempo, fugir.
queres ser vida, guarida de um amor irreal

mas, apenas acontece, desvanece-se em nevoeiro denso
e sombrio como um pensamento só,
mudo, sem destino, sem palavras, olhos tristes
onde dizes o indizível, segredo inconfessável,
austero, como uma viúva negra.

clamas amor que não terás, corpo morto,
vulcão adormecido, eminente explosão!
aguarda. amanhã será, talvez, nova era,
nova estrada, nova ponte, corpo em exuberante liberdade
em que te encontres, finalmente, acordada.

Mara Cepeda

 

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