quarta-feira, 2 de outubro de 2013

A Lei de Moisés em Trás-os-Montes

 

Sobre os Judeus em Trás-os-Montes muito se tem dito e até fantasiado, parecendo-me mais correcto dar crédito aos estudos bem documentados e a alguma tradição oral que chegou até ao século XX. É do senso comum que Carção, no concelho de Vimioso, é terra de descendentes de Judeus. A este pequeno pólo do comércio podem juntar-se mais três aldeias trasmontanas. Duas no concelho de Vinhais, Moimenta e Rebordelo. E Lebução no concelho de Valpaços. A origem judaica de muitos dos seus habitantes foi descoberta durante a segunda Grande Guerra Mundial, de que já estariam marcadas, no mapa, para extermínio, por Hitler, caso invadisse Portugal. Embora Torre de Moncorvo fosse um centro importante, aquelas três aldeias, tal como Carção, são terras de negócio, quer de comércio tradicional, quer de produtos agrícolas. Conforme refiro em «Memórias da Maria Castanha», Rebordelo, nas décadas de setenta e oitenta tinha os três maiores e mais temidos «peleiros da castanha» ou armazenistas/ajuntadores. A este propósito, o contista moimentano, Jorge Tuela (pseudónimo de Isaque Barreira), passou a conto o dito, «bem aventurados são, os que não têm contas com os de Moimenta, Rebordelo e Lebução». Nesta última localidade, na primeira metade do século XX havia um dos maiores negociantes de cavalos de Trás-os-Montes, o Messias, amigo do meu avô materno, Manuel Deimãos. Hoje os estudos e congressos judaicos estão na moda porque respinga a dinheiro nos projectos de rotas das judiarias e das sinagogas.
Acho que Mirandela não pode ficar de fora, havendo alguma tradição de judeus em Mirandela e mais em Carvalhais e na Torre Dona Chama. Mirandela tem uma das sete maravilhas da gastronomia nacional, a alheira, que a nossa tradição cola, de forma não sustentável, a sua divulgação aos judeus. Haja audácia para na nossa região se produzirem produtos kosher (produzidos segundo o preceito judaico) tais como, este popular enchido, o azeite, o queijo e o vinho. Bragança na criação de infra estruturas culturais e artísticas passa por Mirandela à velocidade de um comboio pendular, enquanto nós não vamos muito além dos movidos a carvão. E, assim, Bragança, que aplaudimos, já está a construir um «Centro de Interpretação Judaico», com projecto do arquitecto Souto Moura. Sobre a história dos judeus em Trás-os-Montes temos como grande especialista o moncorvense, António Júlio de Andrade. Sobre a palavra «marrano» o Capitão Barros Basto, autor da obra «Resgate» diz que a sua etimologia está na língua hebraica: «mar» quer dizer «amargamente» e «anuss» significa «forçado». Ou seja, os judeus são um «povo amargamente forçado» a errar pelo mundo, desde que o Templo de Salomão foi arrasado pelos romanos. Na Idade Média, sempre que o número de judeus superava a dezena, era criada uma comuna ou aljama com a sinagoga.

Escrito por Jorge Lage. Publicado em Origens
Retirado de www.jornal.netbila.net

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