segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Reforma administrativa vai parir um monstro (Barroso da Fonte)

De uma ditadura de meio século, já passámos por 17 governos

Nos quase quarenta anos de vigência democrática Portugal já passou por todo o tipo de  experiências que poderiam sonhar-se para um país acabado de nascer, mas nunca para um País com quase nove séculos de História.
De uma ditadura de meio século, já passámos por 17 governos. Cada qual o mais despesista, o mais incompetente, o mais perdulário e, por isso mesmo, o mais contestado. Nos primeiros anos da revolução viveram-se situações dramáticas, com  bombas assassinas que destruíram empresas, afugentaram empresários, semearam o país de académicos de tascas e de cantinas escolares. As barras de ouro do Estado Novo deram para aguentar essa balbúrdia, até que Mário Soares, já então primeiro Ministro, recorreu, pela primeira vez, à Troika da época, para pagar ao funcionalismo e instituições públicas. As fábricas que asseguravam  postos de trabalho para todos os cidadãos activos que sobravam da agricultura ou não emigravam, despovoaram-se e deram lugar a superfícies aos milhares com vidros partidos, telhados ao ar livre, portas escancaradas. Ainda hoje existem esses cadáveres, de norte a sul, a condoer quem viaja de comboio ou em estradas secundárias do interior do país. De uma sociedade pacífica com liberdade a menos, mas respeito a mais, resultou um país de gatunos, de pedófilos, de sanguinários profissionais.
A semântica gramatical desapareceu das escolas, dos largos públicos, das salas de cinema, dando lugar ao seu oposto. Ser sério em 2013 é crime, porque os mais «reguilas», os mais palavrosos, os políticos de cartola, à míngua de escrúpulos, montaram ratoeiras, onde caíram os compadres e as comadres que nos comeram a carne e os ossos. Os corvos do fim do século e do milénio trocaram a pureza da História Lusa, pela ladroagem que trouxe a Troika de regresso e que vai minar os calcanhares das gerações que vivem e que hão-de suceder-nos.
Não bastando este flagelo social, cultural e político, os mais recentes vampiros quiseram deixar nome na praça, através de reformas administrativas que nem os próprios conheciam a sua complexidade. Cada decisão correspondeu a mais uma brecha na estrutura social, cultural, administrativa e cívica da Comunidade.
Desde 1836 houve diversas tentativas de implementar uma Reforma assente em diversos factores: geográficos, económicos, climatéricos, orográficos, hidrográficos, culturais e sociais.
Dos 308 municípios e 4260 freguesias, graças às alterações viárias, à redução populacional e a factores económicos, com uma política séria, coerente e destituída de todo o tipo de caciquismo e afins, traria eficácia, riqueza e bem-estar social. Tal como se fez, foi, está a ser e será, uma salada  russa que o próximo acto eleitoral vai por a nu e que será a génese da maior catástrofe do século XXI. Querendo deixar nome na história, certos politiquelhos, esquartejaram regiões homogéneas, consequentes na geografia, na convivência e na coesão social. As fraudes eleitorais que se verificaram há quatro, há oito e há doze anos vão generalizar-se. Alguns autarcas ao nível de freguesias, são useiros e vezeiros em descortinar truques (cem vezes piores do que no Estado Novo), para se perpetuarem nos cargos que passaram a garantir salários e reformas. Compram bilhetes de identidade em aldeamentos onde sobram  votos ao partido pelo qual concorrem, pela certeza de que esses votantes «comprados», garantem a vitória a quem nunca a teria, em condições normais. Há outros autarcas que alugam autocarros em países da Europa; que viajam na noite que antecede o acto eleitoral, têm viagem e  tacho e ainda dá para assistirem à celebração da vitória. A anexação de freguesias espúrias faz com que  uma nova camada de comensais presida a freguesias que nunca conheceram, levando consigo factores de desordem e de má vizinhança que só fomentarão vícios e mau hálito comunitário.

De igual modo envolve alguns presidentes de Câmara. Nalguns casos sujeitavam-se a ir em 2º lugar. Passados uns meses, o primeiro renunciava. E lá estava, de novo, o que a lei proibira.
Quem fez a lei, propositadamente, deixou-a ambígua. Desculparam-se com um erro gráfico do Diário da República. Nesse aspecto foi mais prudente o líder do PS do que o do PSD que vai perder uma série de presidências de Câmara para as quais propunha nomes que há muito deveriam estar na prateleira. Coragem vão ter alguns jovens que sabendo, de antemão, que  vão sofrer nas urnas, tantos erros acumulados, se sujeitam a enfrentar aqueles que levaram o país à bancarrota e que – volvidos quatro anos – já serve de herói nacional, com palco domingueiro na Televisão pública.
Eis os frutos da democracia...

Escrito por Barroso da Fonte
Retirado de www.netbila.net

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