sábado, 28 de julho de 2012

Entrevista com Rui Mouta - jornalista da Rádio RBA - Bragança


Rui, hoje demos a volta ao texto e o entrevistador passa a entrevistado…

É verdade, é mais difícil para mim.

À sua entrevista vamos chamar “À Procura de Todas as Coisas”. Ainda é muito novo Rui e, por isso muito próximo do princípio. Fale-nos um pouco da sua meninice.

A minha meninice foi um pouco dividida entre… eu nasci cá em Bragança. O meu pai era camionista. Depois de eles (Os pais) terem vindo de Angola, tínhamos de andar um pouco ao sabor de onde o meu pai trabalhasse e, lembro-me de viver em Mirandela, na aldeia de Valongo das Meadas, onde me lembro de uma fonte que se tinha de manejar com a mão para que a água saísse e tinha uma roda gigante. Lembro-me também de umas brincadeiras que se passavam por lá que deram para o torto. Depois vim para a aldeia do Zoio e, posteriormente, os meus pais construíram a casa na aldeia de Martim e foi aí onde eu vivi com os meus pais durante muito tempo.

Depois de deambular pelas traquinices próprias da idade e da profissão do seu pai, resolveu ir à luta e seguir o seu caminho. Fale-nos do seu percurso estudantil.

O meu percurso estudantil teve início na aldeia de Refóios, na escola primária, já que na aldeia de Martim não havia escola primária e fazia três quilómetros, todos os dias, de minha casa até à aldeia de Refóios. Depois, conforme fui crescendo, frequentei a telescola que, muita gente, se calhar, hoje em dia, não sabe o que era, pois a telescola teve o seu fim vinte e cinco anos depois do seu início…

As últimas telescolas acabaram o ano passado.

Na minha aldeia acabaram vinte e cinco anos depois. Ainda sou do tempo de termos aulas pela televisão e, depois disso, vim frequentar o ensino secundário na Escola Secundária Emídio Garcia, em Bragança, até ao 10º ano, onde frequentei a área de humanidades e transferi-me posteriormente para o Instituto de Emprego e Formação Profissional a frequentar um curso de caixeiro automóvel. Depois estive uns anos sem estudar e optei finalmente por fazer um curso superior, onde estou agora, que é de Animação e Produção.

Com dezasseis anos iniciou a sua vida de trabalhador e começou a trabalhar como vendedor de peças de automóvel dando continuidade a um curso que tirou mas deixou as peças na prateleira, não foi?

Deixei…


Então, fale-nos dos caminhos percorridos até aqui.


No início, além de técnico de vendas de peças de automóvel, também trabalhava como DJ numa discoteca. Estive, também, a montar cozinhas e instalar móveis. Trabalhei na RBA desde bastante cedo, onde era colaborador num programa e foi assim que foi começando o “bichinho” da rádio, desde bastante novo, pois eu fazia rádio em casa numa aparelhagem que o meu pai tinha e brincava com aquilo, portanto, sempre tive o sonho da rádio, até que surgiu a oportunidade de fazer rádio e vim parar aqui. Quando era pequenino, pedia à minha mãe que me desse a chave da televisão para poder ir lá para dentro. (Risos)
A rádio é uma das suas paixões. Fale-nos da rádio e dessa sua paixão.

A rádio é, de facto, uma paixão enorme. É das coisas que eu mais gosto de fazer e sou daqueles que posso dizer que gosto daquilo que faço. Essencialmente, trabalho em publicidade, criar publicidade é algo que me fascina. Gosto da rádio porque tem sempre algo de diferente, mesmo quando nós entramos para o ar. A minha opinião é que nós não devemos transportar as coisas do dia-a-dia, mesmo que sejamos as pessoas mais tristes do lado de lá do microfone, pois temos de parecer as mais alegres, mais felizes, porque quem me está a ouvir não tem que pagar por aquilo que é o nosso estado de espírito, ou seja, o nosso estado de espírito tem de ser sempre alegre. Algumas pessoas têm uma ideia diferente de nós, de um produtor de rádio como sendo uma pessoa mais altiva. Agora, claro que com a televisão e os novos meios de comunicação, essa ideia desvaneceu-se um pouco, mas mesmo assim, ainda existe um certo misticismo relativo às pessoas que fazem rádio, à locutora e ao locutor, há sempre um mistério que nos envolve.
As pessoas que nos chegam a casa pela rádio, são só uma voz. Não conhecemos essa pessoa e, claro que isso cria alguma… é quase como se a pessoa adivinhasse através da voz como é o indivíduo que connosco “fala”…
Às vezes fazem-se juízos interessantíssimos! Eu próprio já me deparei a imaginar como será aquela pessoa que está ali a fazer rádio, locutores de outras rádios, pois também ouço outras rádios. É bom ouvirmos a concorrência para nós próprios sermos melhores, pois não podemos ter a ideia que somos os melhores e, quando assim for, é sinal que estamos a evoluir.

É daquelas profissões que não permitem que a pessoa se sente “à sombra da bananeira”, não é?

De forma alguma! Eu penso que não. É a minha forma de pensar. Temos de estar sempre a evoluir, apesar de o facto de fazer rádio parecer sempre a mesma coisa, mas não é pois, se todos os dias, ao entrarmos para o ar dissermos sempre a mesma coisa, as pessoas começam a saturar-se. Deve-se moldar de maneira diferente o início do programa, o conteúdo do programa, para que as pessoas não estejam sempre a ouvir a mesma coisa.

Neste momento, penso que tem em antena três programas, pelos quais é responsável…

Por ai, por ai, às vezes perco-lhe a conta…

Portanto, dos programas que tem agora, destaco o “Bandeira”. Fale-nos dessa sua actividade radiofónica e de como é fazer rádio hoje em dia.

Fazer rádio hoje em dia, como já disse há pouco, é algo fantástico. O programa “Bandeira” foi o meu primeiro programa de rádio, que começou vai fazer dez anos. Actualmente tem uma página na Internet, um programa que nasceu para dar apoio às bandas de garagem, para que tivessem um lugar onde a música delas fosse ouvida, a voz delas se soltasse, onde alguém lhes desse conhecimento e, como hoje as coisas estão em constante evolução, criámos uma página na Internet, o site www.portalbandeira.com, que é uma página que serve para dar divulgação às entrevistas que nós fazemos todas as semanas. Todas as semanas fazemos uma entrevista que disponibilizamos para download durante uma semana, com fotografias da banda entrevistada e tudo mais. Depois tenho outros tipos de programas, por exemplo o “Café da Noite” que é um programa de música calma. Tenho os “Grandes Concertos” que é um programa só de grandes concertos. Cada programa é um programa diferente e, isso, também, é de certa forma, excitante, porque nós estamos sempre a fazer coisas diferentes, coisas novas.

E tem tido o “Nordeste com Carinho”, como locutor…

Com muito prazer tenho tido o“Nordeste com Carinho”, que é um programa de me orgulho muito de estar envolvido, um programa do Sr. Marcolino Cepeda e da Mara Cepeda…
A nós também nos dá imenso prazer que tenha sido o Rui a fazer as locuções. Sei que tem um novo programa que está mesmo a sair, não é?

É. Tenho um programa que começa Sexta-feira. É às Sextas-feiras, da meia-noite às duas da manhã. Chama-se “Sem Censura” e é um programa onde as pessoas têm uma linha directa para ligarem quando quiserem para falar sobre um assunto que está menos bem, um assunto que está bem, pois nem sempre se deve falar mal. Às vezes também é importante as pessoas mostrarem algo que é interessante, que está bem feito. Essencialmente, é um programa que vai falar da vida das pessoas, vamos ter bombeiros, emigrantes, falar dos dois lados da emigração, vamos falar dos problemas que estão na moda, de religião também, trazer várias religiões para debater, o fanatismo, enfim, essas coisas todas, sem censura, onde as pessoas podem dizer aquilo que quiserem e que sentirem.

Parece-me interessante, espero que tenha sucesso. Durante os anos de duração do programa“Nordeste com Carinho”, fomos descobrindo a pessoa que o Rui é e descobrimos que a sua faceta artística não comporta apenas uma vertente. Vai da pintura à escultura, passando pela poesia. Fale-nos da sua descoberta da arte.

A minha descoberta da arte nasceu já há algum tempo, quando editei um livro chamado “Os sentimentos”. Apesar de lamentar ter sido o primeiro e único, pois há mais na prateleira mas, por razões económicas nem sempre temos possibilidade de editar um livro e as coisas vão ficando guardadas, enfim, vai passando o tempo e nós sem conseguirmos lançar o que temos para conhecimento do público em geral. A escrita é uma paixão neste momento e estou a escrever um guião para entregar a um realizador de cinema para um filme, guião esse que já estou a escrever há algum tempo. Já deveria estar escrito mas, entretanto, apareceu a escola, que é de facto a minha prioridade máxima. Depois desta paixão apareceu também a pintura…

Eu já vi alguns quadros seus e posso dizer que são muito bons…

Vai-se tentando aprender um pouco de cada vez, em cada traço que se dá numa tela, em cada cor nova que se conhece, vai se aprendendo a mexer constantemente com as tintas e a moldá-las de forma que a tela fique cada vez mais atraente. Essencialmente, que as pessoas gostem pois eu, normalmente, tenho uma coisa comigo: não gosto daquilo que faço e vou tentando exigir um pouco mais de mim no próximo trabalho. Cada coisa que faço é, de facto, fruto de uma paixão. É preciso sentir a arte para se conhecer, para saber apreciar, pois nem toda a gente sabe apreciar a arte. Infelizmente, nem toda a gente olha para uma tela e se preocupa em ver o que a tela tem. Agora, sentir que aquilo tem sentimento, que aquilo tem noção, que aquilo tem uma história…se calhar, se as peças de arte tivessem, todas, uma placa com a informação a explicar o que é, seria mais fácil, compreendo isso, mas também…

Deixava pouco à nossa imaginação!

Exactamente, isso é que torna a arte fértil, interessante e atractiva.
Sem dúvida. É um apaixonado por cinema, Porquê essa atracção pela sétima arte?

É fantástica a representação, criar uma história e desenvolvê-la desde o seu início até ao fim, criar, tentar fazer do cinema português algo mais do que ele é actualmente. O cinema português é um pouco, na base do cinema europeu, à excepção do cinema inglês, que é um cinema parado, um pouco mórbido. Temos o Manoel de Oliveira que é um exemplo disso, que tem cinema fantástico, os filmes são fantásticos, só que muito mórbidos, muito lentos…

Não atrai o grande público…

Não atrai o grande público. Atrai, se calhar, meia dúzia de fanáticos que gostam mesmo do verdadeiro cinema puro pois para mim, Manoel de Oliveira, é cinema puro. Mas, actualmente, o cinema exige mais, exige dinamismo, exige atractividade, coisas que o cinema português raramente tem. Temos também o Miguel Vieira que vai remando um pouco contra a maré, mas é único. Existem depois outros da nova vaga que são pouco conhecidos ainda, mas que vão caindo um pouco na rotina, um pouco mais do mesmo. Nós, em Portugal, precisamos de arriscar um pouco mais, pois tínhamos comédias fantásticas antigamente. Não sei porque é que se deixou de produzir comédias em Portugal, pois o português é um comediante nato, apesar do fado e da saudade que o atormenta constantemente, mas é um comediante nato e acho que a comédia em Portugal…
Seria um caminho a seguir, não é?

O cinema/comédias é um caminho a seguir e que daria imensos frutos, penso eu.

Marcolino Cepeda, ainda no âmbito do cinema, desenvolveu enquanto Presidente do Clube de Bragança, diversas actividades ligadas à cultura, entre as quais destaco um Festival de Cinema com a projecção de 100 filmes. Neste momento trabalha sobre a ideia de um festival internacional de cinema da natureza, património, tradições populares, a realizar em Bragança, anualmente, e ao qual se dará o nome de Festival de Cinema de Montesinho e cujo prémio a entregar será, eventualmente, uma escultura representando um javali. O que acha da ideia?

Muito boa. Um javali de ouro que é um animal da nossa região e que nos caracteriza, sendo um ciclo do cinema, um festival de cinema neste caso, e virado para a natureza seria o prémio ideal, porque nós sabemos que o javali é um animal que tem uma força enorme, tem raça, que depois de ferido ainda dura muito tempo e isso significa um pouco, também, a força que pode ter o cinema e, se isso chegar a ir para a frente, como espero que vá, conhecendo o Sr. Marcolino. Dou-lhe todo o meu apoio e tem alguém aqui pronto para o ajudar em caso de necessidade, e espero bem que saia esse festival, por muitos anos...

Quando propusemos ao director da RBA a inserção do “Nordeste com Carinho” na grelha de programação, ele pensou logo no Rui para a locução do mesmo. O que representa para si esta experiência?
Eu confesso que, no início, seria mais um programa, porque eu tinha imensos programas, mais a publicidade. No início“Nordeste com Carinho” seria um programa de entrevista mais a sério. Um programa onde eu ia entrevistar políticos fora do activo, pessoas que marcaram a nossa região, artistas de toda a espécie, desde música, escultura, pintura, fotografia, tudo um pouco. Foi algo a que, no princípio, não dei importância. Confesso que na altura nunca imaginei que existisse tanta gente com tanto valor em Trás-os-Montes e Alto Douro, gente que continua constantemente a surpreender, cada nome que vocês me trazem a dizerem-me que este “senhor” é de Bragança, ou esta “senhora” é de Lisboa mas está em Bragança a desenvolver um trabalho nesta determinada área e vamos-lhe fazer uma entrevista, é fantástico, porque é mais alguém que nós vamos conhecer, mais um valor da nossa região que nós não conhecemos e vamos dar a conhecer. É por isto que este programa tem imenso valor. Sei que o trabalho que desenvolvem até me apresentarem as perguntas, o guião, digamos assim, da entrevista é muito. Desde os contactos até à elaboração da entrevista há muito trabalho.

Espero que tenhamos conseguido chegar a alguém. Basta que tenham sido poucas pessoas, mas que tenhamos conseguido chegar lá, era essa a nossa intenção.

Houve feedback, que é o principal.

Como um jovem do seu tempo, interessado, o que pensa que se poderá fazer para que os jovens não abandonem a região?
Isso é algo complicado. Fazer algo para que os jovens não abandonem a nossa região… Da maneira como os políticos nos tratam, como o poder político nos trata, é complicado que os jovens não tenham de abandonar a região. Acredito que não seja porque eles o querem, mas porque têm mesmo de abandonar a região. Suponhamos nós… Temos o IPB, que não satisfaz, obviamente, todas as necessidades das pessoas que saem das escolas do distrito e, se houvesse uma Universidade com mais cursos, com mais valências, segurava, de facto, muita gente.
Logo por aí já seria fantástico e depois os apoios que o estado dá às empresas para se fixarem no nosso pais e criarem postos de trabalho são dados sempre para as mesmas zonas, sempre para o litoral, sempre para zonas com demasiada gente, sem qualidade de vida, sem qualidade de ambiente, sem qualidade nenhuma.
Não estou a pedir com isto que se venha para aí começar a poluir o ambiente. Não é por aí. Existe indústria natural, indústria ecológica que pode muito bem ser colocada em Trás-os-Montes, pode ser feita essa aposta, tendo em conta todas as qualidades da natureza que nós temos, pode ser feito também um investimento na região pelo turismo, em termos do ministério que esteja ligado à natureza, para tratar Trás-os-Montes de uma maneira diferente e investir aqui no turismo, que é um caminho que muito poucas regiões têm para explorar, uma natureza virgem ou quase virgem que nós temos em grande parte de Trás-os-Montes e que não existe em quase mais nenhuma parte do resto do pais. Temos um Parque Natural de Montesinho que é belíssimo, temos um Parque Douro Internacional que é fantástico, aldeias que cada vez estão mais abandonadas e que se houver incentivos do estado para pegar nessas aldeias e recuperar casas antigas, transformá-las em casas de turismo rural. Isso dá sempre, é uma questão de marketing, de publicidade não só em Portugal como no nosso país vizinho.
Agora, explorando isso e mais uma auto-estrada ligando Bragança ao resto do país e ao estrangeiro que é fundamental para a entrada de estrangeiros, que da forma como as coisas estão, se calhar, nem vêm, não passam por aqui e vão sim pelo lado espanhol. Penso que uma ou duas linhas-férreas dariam imenso jeito, trariam mais indústria, pois está provado que as vias de comunicação trazem mais indústria, fixam pessoas, etc.

Ainda há dias, o Rui deve ter visto, deu na RTP1, uma matéria sobre turismo de habitação, em que ele é inglês, ela holandesa, e investiram na aldeia de Montesinho. Portanto, eles correram o norte do país todo e escolheram, sem dúvidas, Montesinho. Logo, os estrangeiros sabem dar valor ao que nós temos cá, coisa que nós ainda não sabemos.

A natureza é um ponto em que se deve apostar e os jovens deviam apostar mais nisso, pois nem toda a gente pode ter cafés, apostar nos cafés. Se apostarem noutros produtos, por exemplo animais, agricultura, agricultura biológica, seria bom, pois temos imensas qualidades na natureza.

Pelas suas palavras anteriores, deduzo que é a favor da universidade.

Sem dúvida! Desde há imenso tempo, desde o primeiro minuto em que se falou na universidade, porque entrar num instituto politécnico é uma coisa, enquanto que entrar numa universidade é outra.

E o mal do IPB é que não consegue dar saída às pessoas que forma…

Uma universidade traz indústria, desenvolvimento e, apesar de não ser uma via de comunicação, é uma via de desenvolvimento que nós precisamos urgentemente e o estado não pode dormir nesta situação, porque quanto mais nos abandonar, mais tarde chegará o desenvolvimento à nossa região. Nós bem tentamos no “Nordeste com Carinho”!

Já apresentou várias estratégias em que devemos apostar para que esta região não se torne ainda mais periférica e abandonada pelo poder central. Portanto, além de todas estas apostas, eu penso que o aeroporto regional seria uma excelente opção e aposta.

Lá está, mais uma porta aberta ao desenvolvimento do turismo de Trás-os-Montes, porque não existe, neste momento, um desenvolvimento industrial por aí além que o aeroporto vá beneficiar. Claro que havendo um aeroporto, existe sempre espaço para carga e descarga. Vem um avião duas vezes por dia, portanto, há muito espaço para aterrarem mais aviões, empresas que apostem em trazer turistas com hotéis marcados, com locais de visita, com um percurso, então, um aeroporto regional é uma excelente aposta em termos de futuro.

Se conseguirmos aliar o aeroporto regional, com os caminhos de ferro, que nos ligassem efectivamente ao Porto e a Celorico, que por sua vez nos ligariam ao resto do país, isso seria, como se costuma, dizer “ouro sobre azul”.

Eu penso que seria, de facto, o tiro certo mais correcto para desencravar Trás-os-Montes, porque isto está muito encravado. As pessoas é que não querem ver, estamos mesmo esquecidos…

Em sua opinião, que cultura se faz ou não se faz por cá?

Faz-se alguma, podia-se fazer mais, pois as pessoas cada vez se acomodam mais. Não existe em Bragança uma tradição de teatro. Se o teatro, por exemplo, não fechasse no mês de Agosto e apostasse mais em espectáculos mais acessíveis, se calhar enchia. Penso que, para ter um teatro, para estar fechado, então é melhor não ter. Não sei de quem é a culpa, mas se existem os espaços e os meus parabéns à autarquia que está a trabalhar muito bem nesse campo, é necessário que se faça uso deles, que as pessoas saibam explorá-los com exposições, colóquios, teatro, pintura, dança, enfim tanta coisa que se pode fazer num teatro. A cidade não pode estar à espera de três espectáculos por ano, na semana académica, na semana do caloiro e nas festas da cidade. Se a cidade está habituada a estes três espectáculos, não pode passar o resto do ano sem nada. Se for criado um outro hábito, por exemplo todos os meses, as pessoas habituam-se à cultura de uma outra forma.

Eu sei que antigamente o teatro estudantil em Bragança tinha tradição, faziam-se coisas muito boas a nível do teatro estudantil e, realmente neste momento não existe nada, o que é uma pena…

Sim, é uma pena, pois é o início.

Para terminar, uma pergunta que fazemos a todos os convidados e que o Rui já repetiu muitas vezes. Que personalidade ou personalidades mais o marcaram ao longo de toda a sua vida?

Há duas personalidades que muito me marcaram e que são os meus pais. O meu pai e a minha mão são as únicas pessoas que me merecem o respeito total, um carinho e um amor enorme por tudo o que fizeram por mim, tendo em conta as necessidades, o que podiam e não podiam dar, mas que sempre souberam dar, às vezes fazendo esforços que hoje percebo, mas que na altura não percebi, são pessoas formidáveis. Falar do meu pai e da minha mãe, é falar do que me toca muito, duas pessoas simples, duas pessoas humildes, mas com um saber de ajudar as pessoas que me foi transmitido e passado. Foram as pessoas que mais me deram.

Obrigada Rui. Foi um prazer enorme trabalhar consigo e agradecemos imenso o tempo que nos dedicou.

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