quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

O 25 DE ABRIL CONTADO NOS EPISÓDIOS CARICATOS.... O FIO DAS LEMBRANÇAS (10)

(Excerto da Biografia que escrevo sobre Amadeu Ferreira)

«- A missão que nós vamos dar-vos é uma missão fácil: vão ocupar o Quartel-General da Legião Portuguesa.
- É pá, mas isso pode ser complicado, pode estar cheio de legionários e tal…
- Vocês tratem disso, resolvam esse problema, mas antes de irem ao Quartel-general vão ao 3º Batalhão da Legião Portuguesa.
- Onde é que é o 3º Batalhão da Legião Portuguesa?
- Oh, pá, não sei! Descubram. É ali para os lados do Campo Pequeno, na Rua António Serpa.
E lá vamos nós. Enchemos umas camionetes de soldados, que eram cozinheiros, estropiados, gente que não sabia como é que se disparava uma arma e que era preciso ter cuidado com eles e lá vamos nós. O Santa Clara Gomes, o Paula Ferreira e eu a comandar aquela tropa fandanga, mais alguns oficiais que se foram juntando, e lá vamos nós ao quartel do 3º Batalhão da Legião Portuguesa, que ficava num terceiro andar, mais tarde transformado numa sede do Partido Comunista.
Era complicado subir até ao terceiro andar. Então lá usámos aqueles métodos que tínhamos aprendido nos manuais, de subir por lanços de escadas, sempre junto à parede. Quando lá chegamos, tocamos à porta e aparecem-nos dois velhotes, já com bastante idade e um fulano madeirense, completamente borrado de medo.
Quando nos viram, disseram-nos logo: “nós entregamo-nos, nós não queremos saber de nada, o que é que querem que a gente faça?”. E nós, sim senhor, perguntámos se tinham armas, desarmámo-los e prendêmo-los. Tínhamos carrinhas, em baixo, à espera e mandámo-los para Caxias. Quando as pessoas se aperceberam que havia militares naquele quarteirão, juntaram-se ali à porta e queriam matar os homens e nós não os deixámos linchar e lá os levámos para Caxias.
A esse fulano madeirense perguntámos-lhe onde eram os outros quartéis da Legião Portuguesa, que nós queríamos ocupar esses quartéis. Que sim, que podíamos ir ao Quartel-General na Penha de França. Telefonámos para a Cova da Moura e ainda ninguém tinha ocupado o Quartel-General da Legião Portuguesa, porque não tinham achado importante. Requisitámos uma Chaimite, fomos para o Quartel-General e entrámos por ali a dentro. Aquilo já não tinha praticamente ninguém e ficámos ali.
Desse 3º Batalhão da Rua António Serpa trouxe como recordação um cinzeiro de mármore, era assim uma espécie de velhote do Restelo que há-de andar por aí. E também um casse-tête que eles tinham na Legião Portuguesa, que também andou muito tempo lá por Sendim e, entretanto, desapareceu.
Aquilo, não tinha nada de importante. Apareceram os jornalistas a querer noticiar e nós lá demos notícias do que fizemos. No dia seguinte lá estavam as parangonas nos jornais, “Militares ocupam a Legião Portuguesa.” O Santa Clara Gomes disse “Puto, o teu nome não vem cá, pá, não deste o teu nome? Devia vir cá o teu nome! “É, pá, não quero saber, quero lá saber do meu nome para alguma coisa!
E então diz o Santa Clara Gomes “Ó pá não estamos aqui a fazer nada, pá, estamos aqui a ocupar este terceiro andar, pá, aqui não acontece nada, pá, temos que fazer mais qualquer coisa, vamos à Cova da Moura pedir outra missão, pá!”.


Escrito por Teresa Martins Marques

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