Sinto-me só como a última folha a balouçar ao vento no ramo despido da árvore que avisto da minha janela.
Pode não ser mais do que o facto de ser mulher, com uma convicta pretensão de sensibilidade.
Ou a tentativa de ver o mundo pelos olhar de um poeta naturalista como Cesário Verde.
Sinto-me folha amarelecida pelo tempo que não demorará a ser tapete outonal.
Uns pequenos pés pontapeiam o tapete multicolorido e o rosto da criança é só risos e gargalhadas felizes.
Ouço o estalar das folhas e imagino-as a partirem-se com a facilidade de um cone de gelado com pequenas mordiscadelas de dentinhos novos.
Levanta-se o vento que revoluteia a pacatez das folhas que são atiradas aleatoriamente tecendo novos tapetes.
Muitas voam para longe como insignificantes fingidoras de borboletas.
A minha folha insiste na sua solidão.
Mantém-se agarrada à vida que já não tem.
Simplesmente, saboreia a alegria inocente da criança que brinca com as folhas que o vento levanta.
Vive porque o riso é puro e livre.
Se viver é apenas o simples existir num ramo nu de uma árvore a hibernar, porque a sensação de vazio?
Mara Cepeda
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