quinta-feira, 22 de setembro de 2011

História nº 7

Eu e os meus irmãos sempre gostámos muito de desporto e, como tal, arranjávamos maneira de nos entreter com alguma coisa ligada ao mesmo. Para além do futebol, a nossa grande paixão era o pingue-pongue.
Mas, quem éramos nós para ter uma mesa de pingue-pongue? Não tínhamos dinheiro para isso. Tínhamos muita imaginação e improvisávamos.
Na mesa da sala de jantar púnhamos um baraço a meio e a rede estava montada, muito bem montada.
Sendo os meus irmãos mais velhos, exerciam sobre mim, um grande ascendente. Nutria por eles, uma grande admiração. Devia ter na altura, quatro ou cinco anos e, nessa idade, a tendência natural é imitar os mais velhos em todas as suas atitudes.
Queria jogar mas, eles não deixavam. Lembro-me de acompanhar o movimento da bola da esquerda para a direita, e da direita para a esquerda, esquerda, direita, até que algum deles atirava com a bola para o chão. Então, feliz, exercia a minha função: apanha-bolas.
Era ver-me a arrastar pelo chão, para debaixo da mesa,das camas, para onde quer que ela fosse. A minha alegria era enorme, de bola na mão, a sacudir o pó e o cotão da roupa, a minha mãe a ralhar que me sujava todo e os meus irmãos:
- Dá cá a bola, anda, despacha-te.
Quem ganhava, quase sempre, era o Tojé. É canhoto e, apesar disso, ou talvez por isso, não dava hipótese aos outros. Era o campeão lá de casa emesmo foradela, quando o dinheiro dava para ir ao salão de jogos.
Eu zangava-me por não me deixarem jogar e, às vezes, fugia-lhes com a bola ou encondia-lha. Fingia que não a encontrava... e, como é normal nestes casos, apanhava, armava berreiro e lá vinha a minha mãe:
- Deixai o menino! Anda cá, meu filho, anda cá! Onde tens a bola? Dá-lhe lá a bola que, quando fores grande, também jogas, estábem?
Lá lha entregava, não sem relutância mas, sempre à espera que ela caísse ao chão para a apanhar, deslizando para debaixo da cama por ser o único que cabia e, sair a sacudir a poeira, tendo a certeza da importância do papel que desempenhava. Afinal, sem mim para apanhar as bolas, não havia jogo!
A mesa dos nossos jogos ainda existe, assim como existe a recordação muito viva desse tempo.
Apesar de muito novo, recordo as nossas brincadeiras como uma festa, pese embora todas as zangas que me faziam apanhar e de ser quase e apenas, o apanha-bolas.
penso que todos nós, homens ou mulheres, sentimos em algum momento das nossas vidas, um fraco pelo desporto, seja porque é o nosso país que está em causa, seja porque até gostamos de algum dos desportistas em jogo, seja porque gostamos mesmo de desporto.
Não sou nem nunca fui excepção. Sempre gostei muito de futebol; talvez por influência dos meus irmãos, talvez por ser o desporto mais divulgado, comecei muito cedo a jogar à bola em todos os intervalos das aulas, com muita seriedade e empenho.
Estraguei muitos pares de sapatos a jogar no campo do Toural, ouvi muitos raspanetes da minha mãe, mas o bichinho estava lá e muito entranhado.
O desporto e, desde tempos imemoriais - lembremo-nos dos gregos - um aglutinador de vontades, um bem para a saúde física e mental de que o pratica regularmente.
Transmite valores importantíssimos a quem faz dele a sua vida e pode ser a grande diferença entre umavida de vícios e uma vida sã e correcta.
É um complemento indispensável à vida de todos nós e, praticá-lo é bom para grandes e pequenos.
Dá gosto ver o entusiasmo e a alegria transbordante dos adeptos de um qualquer clube quando quando a vitória lhes sorri.
Pode provocar paixões irracionais e perigosas quando os indivíduos são mal formados: tantas desgraças têm acontecido...
O desporto é alegria e saúde, é paixão. Faz sonhar e, isso é das melhores coisas da vida.

Marcolino Cepeda
(Retirado do livro "Pontes - segredando segredos", 2001, edição do autor)

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