sábado, 4 de maio de 2013
Cuco da ribeira
Canta o cuco na ribeira e pergunta a rapariga: "Cuco da ribeira, quantos anos me dás de solteira?" E respondia o cuco, quantas vezes lhe aprouvesse ao mesmo tempo que rapariguinha vai contando: um, dois, três...
É primavera, anuncia-a o pássaro a quem perguntavam, em tempos que já lá vão, as meninas casadoiras das nossas aldeias. Acreditavam, talvez, que fosse verdade... Quem sabe?
Hoje ouvi-o cantar, junto ao Fervença e recordei-me desse uso tão inocente do nosso povo. É fácil esquecermo-nos da pureza das nossas gentes, aliada a um certo cariz malandro e maroto, que não perdoa que o queiram enganar ou gozar.
Trás-os-Montes, apesar de todos os abandonos que tem sofrido ao longo de décadas, continua impoluto. Somos. Caracteristicamente, diferenciamo-nos dos alentejanos, dos algarvios, dos alfacinhas, dos tripeiros, dos beirões...
Os transmontanos, endurecidos por verões e invernos rigorosos, não têm medo do trabalho. Fazem-no com honra. Espalharam-se pelo mundo, da Austrália às Américas, da Sibéria ao Equador. Estamos em toda a parte. Adaptamo-nos a tudo, aprendemos todas as línguas, aprendemos novos costumes...
...não esquecemos os antigos e esperamos, ansiosamente, por ouvir o cuco cantar porque é sinal de que o tempo vai melhorar, ansiamos nós.
O que é interessante, é que, mesmo assim, quando regressamos à "Santa Terrinha" e ouvimos o cuco a cantar "cucu, cucu, cucu..." lembramo-nos de lhe perguntar o que ele não pode, decididamente, saber.
"Se o caroço da cereja não mente, é para ali que eu vou casar."
Mara Cepeda
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