quarta-feira, 15 de maio de 2013

Entrevista: Prof.ª Doutora Anabela Martins, Escola Superior Agrária, IPB

Olá Doutora! Obrigada por nos conceder esta entrevista. Como é que alguém nascido em Santarém veio parar a Bragança?

É uma história longa. Eu nasci em Santarém, mas fiz a minha licenciatura em Lisboa e vivi em Lisboa, aliás, grande parte da minha vida, até vir para Bragança. Na altura em que conclui a licenciatura, dei aulas no ensino secundário durante algum tempo. Depois, no sentido de prosseguir estudos de pós graduação, tentei encontrar uma vinculação a uma instituição pública, nomeadamente, a uma instituição do ensino superior. Candidatei-me a vários lugares entre eles, o Instituto Politécnico de Leiria, Universidade de Trás-os-Montes e alto Douro e o Instituto Politécnico de Bragança e, circunstancialmente, tendo sido chamada para as três instituições, acabei por escolher o Instituto de Bragança por me ter parecido, no seguimento da entrevista, que era, eventualmente, aquela que me oferecia as condições que eu gostaria de ter para trabalhar, ou seja: muita liberdade de decisão pessoal para trabalhar. Optei pelo Instituto Politécnico de Bragança há vinte anos atrás e ainda me mantenho cá.

Não teve medo da distância?

Eu posso dizer que, na altura, a quem eu falei da minha vinda para Bragança, há vinte anos atrás, que não era o mesmo de hoje, todos os meus amigos em Lisboa acharam que eu não estava muito boa da cabeça, passe a expressão, e que era uma verdadeira loucura. No entanto, aquilo que pesou muito na minha decisão foi, por um lado, como eu já disse, a forma como fui recebida na entrevista, por outro lado, a opinião do meu orientador de então que era do Instituto Gulbenkian Ciência e que me disse: “Se puder vá para longe porque, senão, passa o tempo todo em viagens a querer vir a casa. Portanto, Bragança é uma boa opção. Fixa-se, trabalha e não está o tempo todo na estrada.”Tenho que admitir que a opinião dele era, particularmente, importante para mim, e se não foi esse o factor primordial, digamos que eu tinha já alguma inclinação para vir para aqui e a opinião dele era favorável, também, e eu acabei por optar e até agora não me arrependi. A ideia era um bocadinho essa. Não querer andar sempre na estrada que era uma das desvantagens de eu ir para Leiria. Tive a opção de ir para a Escola Superior de Leiria e das duas coisas que pesaram na não escolha de Leiria, uma foi exactamente por ser uma Escola Superior de Educação e eu preferia uma escola com características mais tecnocientíficas do que pedagógicas e, por outro lado, o facto de saber que se fosse para Leiria acabaria por andar a cada fim de semana a ter a tentação de ir a Lisboa, porque era suficientemente próximo e não me fixaria, não me adaptaria ao local e, portanto, a opção por Bragança teve em conta um conjunto de factores. No início, tenho de admitir que tive um certo receio. Eu nunca tinha vindo a Bragança até essa altura. Era, digamos assim, a minha falha geográfica. Tinha ido até Vila Real e Chaves, mas nunca Bragança, a minha família é ribatejana e vive praticamente toda em Lisboa e não tinha ninguém conhecido por aqui. Vim com um espírito muito aberto, com a certeza absoluta de que me adaptaria. Se assim não fosse, também, não teria nada a perder. Voltaria para o ensino secundário em Lisboa. E, portanto, o risco era calculado, digamos assim, não era pequeno, mas era calculado.

Fale-nos da sua experiência como bolseira na Fundação Gulbenkian.

Foi uma experiência muito boa. O que aconteceu foi que no último ano da minha licenciatura de Biologia, tinha de fazer um estágio e das várias possibilidades que surgiram, foi a de ir para o instituto Gulbenkian Ciência. Eu e uma outra colega abordamos os laboratórios e pedimos, explicitamente, estágio e não íamos com a intenção de ser bolseiros, íamos pura e simplesmente para trabalhar, para fazer um estágio curricular. Finalmente, acabou por nos ser dito que poderíamos candidatar-nos a uma bolsa para fazer esse estágio e que tínhamos boas possibilidades de obter a bolsa. Assim foi, eu fiquei dois anos no Instituto Gulbenkian e Ciência à mercê de uns contratempos que houve na época, como umas inundações em Lisboa e arredores que inundaram os laboratórios nos prologaram o tempo de estágio. Portanto, fui cerca de dois anos bolseira da Gulbenkian, com excepcionais condições de trabalho e foi uma experiência que, não o posso deixar de o dizer, me valeu para a vida porque aprendi muito mais do que a trabalhar na área científica. Aprendi, também, a perceber como é que um laboratório se organiza, como é que se fazem encomendas de material, como se faz uma pesquisa relativamente a determinados tipos de equipamentos e a forma de os adquirir. Enfim, sendo muito jovem na época, compilei um conjunto de experiências que me foi extraordinariamente útil quando vim para o IPB, porque o instituto não tinha instalações, não tinha equipamentos, não tinha laboratórios e, portanto, essa experiência veio avaler-me no futuro. Foi, sem dúvida nenhuma, uma experiência que recomendo a quem tiver oportunidade de trabalhar numa instituição do género Instituto Gulbenkian e Ciência ou do ICTB ou outra instituição de investigação do mesmo tipo. Não descartem a possibilidade de o fazer.

Está ligada desde de 1986 ao IPB, já lá vão mais de 20 anos. Como tem sido este período da sua vida? (A entrevista foi realizada em 2007)

Eu sou um bocadinho avessa a fazer balanços, mas o primeiro balanço que faço é que se me mantive cá, em princípio foi porque a experiência não foi negativa. E não foi. É óbvio que tivemos dificuldades. É óbvio que as coisas nem sempre foram fáceis e, inicialmente, foram tudo memos fáceis, mas é uma experiência muito positiva.

É preciso notar que eu e um conjunto de colegas restrito, fazemos parte de um grupo de pessoas que ajudaram a construir a casa desde o início. Não tínhamos laboratórios como já disse. Não tínhamos sequer instalações. A quinta de Santa Apolónia estava em fase de aquisição e de projecto de obra, nem sequer eram ainda obras. Portanto, nós começámos a trabalhar em instalações provisórias e instalámos laboratórios, provisoriamente, para dar aulas em 86, ainda na antiga Escola Superior de Educação que é, actualmente, a Escola Augusto Moreno.

As coisas eram complicadas, mas era um desafio enorme. Para já eramos muito mais jovens e era um desafio muito grande estar a ajudar a construir uma instituição que prometia vir a ser grande. Nós começámos com quarenta alunos. Havia dois cursos, quarenta alunos e cinco professores.

Depois disso, os aspectos positivos e negativos, porque tenho de apontar os dois. Os aspectos positivos foram todas as facilidades que a instituição nos deu para construirmos, de facto, esta casa. As dificuldades foram um atraso no nosso avanço em termos de profissão académica pós graduada porque, enquanto actualmente a maioria dos colegas que chegam acabam a licenciatura e fazem de imediato mestrado e depois doutoramento, nós, naquela altura, eramos necessários, não só para construir a casa, como para dar aulas e, portanto, tivemos que sair para fazer mestrado e depois doutoramento, muito mais tardiamente, já depois de termos organizado a instituição e isso atrasou-nos tremendamente em termos de formação académica, já para não dizer que a levou para uma fase das nossas vidas em que temos menos disponibilidade para esse tipo de formação. Mas o balanço é francamente positivo, porque pertenço àquele grupo de pessoas.

Se há alguma coisa que não me agrada mudo. Se ainda não mudei é porque definitivamente me sinto bem aqui.

Logo no ano do seu ingresso na ESAB, desenvolveu um papel importante na instalação das áreas monitoriais da escola e na instalação da mesma. Fale-nos brevemente sobre esse assunto.

Foi um período extraordinariamente entusiasmante, simultaneamente trabalhoso porque, basicamente, o nosso trabalho era pouco técnico. Era, digamos, um trabalho genérico de resposta à necessidade de mão-de-obra para instalar tudo aquilo que era necessário para começarmos com aulas práticas. Fizemos questão absoluta de começarmos de imediato com aulas práticas logo no ano de arranque, em 1986 e, portanto, como não tínhamos laboratórios, não tínhamos nenhum equipamento instalado, muito embora algum dele existisse já, por aquisições prévias em concursos internacionais. Fizemos todo o trabalho, eu, alguns colegas e alguns funcionários, que tiveram um trabalho absolutamente inestimável. Todo o trabalho de ir buscar todo o equipamento aos armazéns, carregar e descarregar, montar e desmontar… Lembro-me de todo o trabalho de montar e desmontar microscópios, balanças, etc., para ter o primeiro laboratório operacional, porque tudo vinha desmontado em peças, de concursos internacionais. Alguns dos fornecimentos, não sabíamos muito bem de onde é que vinham e nem tudo estava embalado nas melhores condições e, portanto, o trabalho inicial foi um desafio muito grande, pôr em ordem laboratórios que eram salas normais e que foram adaptadas, e que funcionaram de tal forma que os alunos que vinham para uma escola que sabiam que era nova, ficaram espantados porque não estavam à espera de ter aulas práticas. Vinham com aquela sensação de que aquilo ia ser fácil, porque estava tudo a começar, ainda não estava em velocidade de cruzeiro e, portanto, “vamos ter umas aulas teóricas e vamo-nos divertir muito, porque vamos estar fora de casa”. A maioria dos alunos não era de Bragança, como imaginam, como alias ainda hoje não são, o que é muito bom para a cidade.

Esse começo foi, de facto, muito envolvente, porque exigiu um grande esforço mas, também, dava um prazer particular, quando começámos a ver as coisas a funcionar e operacionais. Foi muito trabalho, mas os resultados, penso que ainda hoje estão à vista.

Toda esta construção e todas as pessoas que vieram a seguir, acabaram por se empenhar, mais ou menos, da mesma forma, pelo menos, nos primeiros cinco anos, em que as coisas foram extraordinariamente activas e tiveram um crescimento exponencial e um empenhamento muito grande das pessoas que estavam envolvidas, de todas as categorias profissionais.

Preciso dizer isso porque poderia parecer que eram só os docentes que estavam empenhados, mas não é verdade. Todas as pessoas, todos os funcionários não docentes e funcionários docentes estavam igualmente empenhados nesta construção. Aliás, atrás disto estava o entusiasmo do professor Dionísio e, na época, ainda não era o Presidente do Instituto, era o Presidente da Escola Agrária. O Presidente do IPB era o professor Lima Pereira e todo o entusiasmo deles foi transmitido à equipa que recrutaram e isto deu uma dinâmica de construção muito grande.

Tem desenvolvido importante actividade de investigação relacionada com a cultura in vitro, de algumas espécies de interesse económico na área de influência da escola. Em que consiste essa investigação e quais são as espécies que privilegia?

Bem, o trabalho de cultura in vitro tem, de facto, já bastante tempo e tem duas componentes essenciais. Uma componente de investigação e uma componente pedagógica, porque nós temos aulas de cultura de células e tecidos, o que também foi uma inovação. Começámos a ter aulas de cultura de células e tecidos porque, de facto, eu trabalho em cultura de células vegetais, cultura in vitro desde 1987, sensivelmente. A espécie com que comecei a trabalhar e ainda hoje trabalho é o castanheiro. Evidentemente, não foi por mero acaso. Foi porque era uma espécie com interesse económico regional e foi-me proposto. É uma espécie difícil e, na época, era importante para o instituto politécnico, era importante para a região e, por outro lado, a Faculdade de Ciências de Lisboa, de onde a minha formação vem, estava com um projecto de cultura in vitro do castanheiro no qual me integrei e fiquei com a sua orientação aqui em Bragança. Fez desenvolver todo o meu trabalho de investigação à distância, instalando aqui toda a parafernália necessária para permitir fazer cultura in vitro.

Comecei a fazer cultura in vitro em condições completa e totalmente deficientes, com câmaras improvisadas, com meios de cultura improvisados, e as coisas, umas vezes funcionaram, outras vezes não, mas fomos avançando. Depois disso, algumas outras espécies se vieram a associar, por interesse regional, por projectos nos quais nos fomos integrando, entre eles o lúpulo. Trabalhámos alguma coisa com lúpulo e houve, mesmo, uma colega que agora integra a equipa, que fez doutoramento em transformação genética de lúpulo.

Trabalhámos ainda outras espécies, já com mais interesse pedagógico, porque são espécies muito úteis nas aulas práticas. Têm um crescimento rápido, o que permite aos alunos fazerem todas as manipulações que necessitam e ver os vários aspectos. Encontram-se nestas o tabaco, que é uma planta excepcional do ponto de vista da resposta à cultura in vitro que, por ser muito rápida adequa-se a aulas que tem um período de funcionamento limitado. A roseira, a batateira e o hipericão são outras das espécies com que trabalhamos. Estamos envolvidos com a universidade do Minho num projecto de micropropagação de umas variedades de hipericão.

Temos vindo a desenvolver trabalho em várias espécies, umas com interesse mais pedagógico, outras com interesse mais técnico-científico. Aquelas em que estamos envolvidos em projectos actualmente são quatro: o castanheiro, o lúpulo e o hipericão. Outro projecto envolve a couve portuguesa. Estamos com um projecto para produção de compostos químicos com interesse na indústria farmacêutica.

Fale-nos da micropropagação e microenraização in vitro… Em que consistem estas técnicas e que aplicações práticas podem ter para a agricultura transmontana?


Exactamente. Isso é um outro aspecto do castanheiro. Temos a microenraização. Ora bem, a micropropagação é uma técnica teoricamente bastante simples. Na prática não é tão simples porque implica condições laboratoriais para se realizar. A micropropagação não é mais, tal como o nome indica, um propagação de estacas pequenas, micro, que se faz em condições estéreis, em meios de cultura que também estão estéreis, dentro de frascos ou tubos e daí, a questão in vitro, portanto, em ambiente fechado, com um meio de cultura controlado, com uma composição química definida, e essa propagação é feita de tal forma que nós, a partir de uma planta, aquilo que pretendemos é obter o máximo de plantas possíveis, multiplicação de rebentos. As plantas rebentam, nós vamos separando esses rebentos e vamos fazendo mais plantas, sempre por cultura in vitro e sempre com micro estacas, o que permite produzir uma grande quantidade de plantas, em condições controladas, quer do ponto de vista sanitário, quer do ponto de vista do seu crescimento, e num pequeno espaço, portanto, muitas plantas num pequeno espaço. Esta é uma das grandes vantagens da micropropagação. Não precisamos de grandes áreas para fazer micropropagação. As plantas, como o castanheiro e muitas outras, são naturalmente plantas difíceis de propagar, quer por propagação vegetativa convencional, não se faz estacaria de castanheiro na generalidade com grande sucesso… é possível fazer-se, obter-se o enraizamento de algumas estacas mas, fazer uma produção massiva de castanheiro, é algo complicado, portanto, a propagação de castanheiro é tradicionalmente feita por semente. Ora, quando nós fazemos um castanheiro por semente, não temos a garantia da qualidade desse castanheiro. Pode ser um castanheiro excepcional ou pode ser um castanheiro que não tenha as características que nós pretendemos. A micropropagação permite, exactamente, poder agarrar numa planta com as características que nós pretendemos, de produção de fruto ou de madeira, e fazer o número de plantas idênticas àquela, tantas plantas quanto as que se necessitam.

Esta era a grande vantagem da micropropagação. Até agora este objectivo não está posto em prática, de maneira massiva, porque a tecnologia não insiste nela. Ela continua a ser cara, mais cara do que a propagação por via seminal e, portanto, continua a ser a propagação por via seminal, predominante. Penso que chegaremos a essa situação mas, de momento, ainda não acontece.

A microenraização é outra tecnologia que trabalhamos e na qual eu fiz a minha formação académica. Consiste, também, na reprodução da planta, daquilo que na natureza acontece. Os castanheiros e a maioria das espécies florestais e não só, encontram-se na natureza associados a fungos. Têm fungos associados às raízes, mas não são fungos que lhe causem algum problema. Antes pelo contrário. São fungos benéficos e, por isso, são chamados fungos micro rícicos, no caso dos fungos micro rícicos do castanheiro, grande parte deles são conhecidos das pessoas porque dão cogumelos em determinadas épocas, nomeadamente, na Primavera e no Outono. Preferencialmente, no Outono, aparecem nos soutos, associadas a outras árvores também e esses cogumelos não aparecem ali por acaso. Aparecem porque o micélio daquele fungo está associado as raízes da árvore e é benéfico para a árvore. O cogumelo aparece para criar mais esporos que, depois, vão dar mais fungos. Portanto, é a forma de o fungo se reproduzir e dar mais fungos. Sabendo nós que a micro raização é benéfica para o castanheiro e, sabendo nós, que é difícil aclimatar plantas micro propagadas do castanheiro com sucesso e obter plantas que sobrevivam em quantidade suficiente, pensámos que era bom juntar os dois conhecimentos que tínhamos. Há espécies que não sobrevivem sem o fungo associado à raiz. Provavelmente, se nós associarmos o fungo à raiz do castanheiro, estamos a trabalhá-lo em laboratório, é possível que isto nós venha a facilitar a tarefa e, quando levarmos as plantas para o campo, elas já levam o fungo, que precisam para sobreviver. Foi o trabalho que iniciámos há cerca de quinze anos, se tanto mas, seguramente, entre doze, quinze anos.

Temos trabalhado com fungos que nos foram fornecidos por laboratórios internacionais mas, também, com alguns fungos que isolamos nós próprios a partir de castanheiros. Neste momento, inclusivamente, temos um projecto em andamento, de inventariação dos fungos de castanheiros e não só, de carvalhais e de pinhais, no sentido de conhecer, um bocadinho, o que é que existe para saber, como é que os podemos trabalhar.

Mas essas plantas trabalhadas em laboratórios, quando inseridas no campo, sofrem a influência ambiental e podem falhar…

Nós não estamos a introduzir no campo, nada que tenha sofrido alguma alteração, que seja estranha ao campo. Nós usamos fungos que são fungos nativos e naturais e usamos plantas que são plantas que existem também na região. Portanto, quando nós introduzimos uma planta, o fungo associado às raízes, é dessa planta. Na generalidade dos resultados temos concluído que, efectivamente, sobrevivem melhor. Isto é verdade para as plantas micro propagadas mas, também é verdade para as plantas obtidas a partir de sementes porque temos trabalhado nas duas vertentes e, passado algum tempo essas plantas têm, não só o fungo que nós lá pusemos, mas conseguem também receber os outros fungos que existem no terreno para onde são transplantadas, o que significa que, de facto, essas plantas não têm nenhuma alteração no seu equilíbrio. Elas continuam a manter o equilíbrio com o solo em que se integram e a conseguir associar-se a outros fungos. Aliás, isto é uma particularidade curiosa. Nós verificamos que se pusermos plantas, nós pomos plantas com fungo e sem fungo para as podermos comparar, claro, e o que verificamos que cerca de um ano, as plantas que foram postas no terreno do solo sem fungo, continuam a não ter fungo nenhum, enquanto que as plantas que nós pusemos com um fungo, passado um ano continuam a ter cinco espécies associadas, ou seja: aquele fungo facilita, não só a climatização da planta como, também, a colonização por outros que existem no solo, a ausência de fungo retarda, é evidente que as outras plantas mais tarde acabam por se microraizar. Todas as plantas micro rizam excepto as que morrem, claro, mas o processo é muito mais lento e, portanto, todo o desenvolvimento é mais lento, até porque o fungo fornece nutrientes e não só à planta porque é evidente que o fungo existente no solo vai funcionar como raízes extra para a planta.

Para além de espécies como o castanheiro, dedica-se também a plantas ornamentais. Que tipo de plantas ornamentais produz em laboratório?

Eu fiz referência a algumas. Fiz referência às roseiras. Temos trabalhado com santo polia e a violeta africana. Temos trabalhado, sobretudo, em ornamentais, sobretudo estas duas porque, como digo, nós tentamos simultaneamente juntar as características de plantas que nós permitem ter um trabalho que possa ter interesse comercial mas, por outro lado, que nas aulas seja suficientemente rápido para que os alunos possam ver resultados. A santa polia tem uma particularidade e o tabaco também, mas o tabaco…não usamos o tabaco como ornamental, é preciso que se note. Usamos de uma outra forma, até porque, a flor do tabaco é bastante bonita. Usamos em vasos e, portanto, não temos tabaco no terreno. Temos tabaco em vasos. Usamos como ornamental para decorar o laboratório, umas das salas que não é um laboratório, umas das áreas laboratoriais.

A santa polia e o tabaco têm uma particularidade muito curiosa que leva a que tenham um grande interesse para as aulas, que é o facto de podermos fazer rebentamento a partir das folhas. Conseguimos pôr uma folha em cultura e, a partir da folha, conseguimos rebentos e é extraordinário para os alunos poderem ver que uma folha vai dar centenas de rebentos, o pedaço de uma folha posta no meio de cultura. O mesmo acontece com o tabaco.

Isto é uma técnica que precisamos de lhes exemplificar, que nós chamamos moforgenese directa em folhas e, portanto, usamos estas duas mas, disponibilizamos aos alunos, se eles quiserem levar para oferecer a alguém, quer dentro do frasquinho, quer depois aclimatizando. Não temos produção intensiva do material de ornamentais para comercializar. Não fazemos, muito embora, tenhamos a intenção de vir a fazê-lo proximamente, utilizando-o sobretudo para as aulas e para fazermos a nossa campanha da escola agrária quando vamos a escolas, ou quando vamos a exposições. De uma maneira geral levamos frasquinhos, utilizamos, aliás, frasquinhos reutilizados, frasquinhos do iogurte por exemplo e levamos esse tipo de plantas ornamentais para oferecer às pessoas. Os jovens do ensino secundário apreciam particularmente porque são técnicas que, na generalidade, não têm na sua própria escola e, portanto, usamos essa técnica de propagação de ornamentais, sobretudo, para oferecer.

Trabalha, também, já aqui o referenciou, com o hipericão e a couve portuguesa. Que resultados pretende alcançar com estas espécies?

Estas duas espécies são projectos conjuntos. O projecto não é da nossa iniciativa. No caso do hipericão, esse projecto terminou este ano. É um projecto da Universidade do Minho, de um grupo de colegas de longa data, que nos propuseram fazer uma parte das tarefas e eles fariam outra parte. Basicamente, nós ficamos com a parte de propagação de plantas in vitro e, também, a produção de plantas em estufa. Depois de usarmos todas essas técnicas de micropropagação, o projecto era um projecto composto, que usava, ainda, um fungo patogénico de hipericão, para tentarmos fazer uma selecção de variedades resistentes ao fungo patogénico.

Portanto, foi esse o trabalho que desenvolvemos durante três anos e que teve estas duas vertentes: a vertente de produção de fungo patogénico e a produção de plantas e a junção dos dois com uma tentativa de avaliar a resistência de alguns dos clones, trabalhamos clones, de hipericão portugueses e de outras origens, nomeadamente chineses, coreanos, etc. Tentamos averiguar, entre outras coisas como disse, os clones mais resistentes ao fungo. Depois disso, produziam-se plantas. Essas plantas eram liofilizadas aqui. Era calculada a sua biomassa, etc. Esse material liofilizado era enviado para as colegas da Universidade do Minho, onde faziam a avaliação de teores em alguns compostos químicos, nomeadamente, em compostos químicos com potencial de plantio intensivo, sendo o hipericão, usualmente, usado em chás como antidepressivo.

Portanto, era feita a avaliação dos teores de alguns compostos químicos, que nos levariam a seleccionar, por um lado, as variedades mais produtivas nesses compostos e por outro lado tentar conjugar isso com a resistência ao fungo patogénico, no sentido de seleccionar os clones que teriam mais interesse para serem utilizados em produção agrícola, para serem produzidos em larga escala, para podermos ter compostos antidepressivos para a indústria farmacêutica. O projecto pretende produzir biomassa por via da micropropagação.

É evidente que a questão é sobretudo esta: nós podemos do ponto de vista da germinação seminal, seleccionar qual é o clone mais resistente mas, depois, tendo esse clone, queremos muitas plantas iguaizinhas a essa. Então, aí, a micropropagação tem utilidade, porque podemos agarrar nos clones com mais interesse e propagá-los em larga escala, fornecê-los aos agricultores para os porem no campo e, a partir daí, fazer produção.

O consumo de preparados farmacêuticos e de suplementos dietéticos derivados de Hypericum perforatum aumentou nos últimos anos. Nesse sentido, o cultivo de variedades selecionadas, em alternativa à colheita de plantas no seu habitat natural, tem vindo a aumentar e a ganhar importância económica. É aí que desenvolve a sua investigação?

Também, em colaboração com as colegas da Universidade do Minho. Digamos que, esse, é um projecto da Universidade do Minho, no qual temos vindo a colaborar e, a colaborar no sentido de poder fazer alguns ensaios de campo, e de podermos, depois de seleccionar algumas variedades, fazer a sua micropropagação. Esse tem sido o nosso trabalho, a par da caracterização química e de análise dos componentes, quer produzidas por nós, quer produzidas por eles próprios. É da responsabilidade do grupo da universidade do Minho porque, dessa forma, foi estabelecido o projecto que tínhamos, que era um projecto com financiamento para a ciência e tecnologia e que terminou este ano. Pensamos que virá a ter novos desenvolvimentos. De momento, terminou o conjunto de tarefas e o respectivo financiamento mas, os colegas do Minho têm um interesse muito particular nesta espécie e o desenvolvimento de aspectos químicos e, penso, que continuam a contar connosco para a produção biológica, quer das plantas, quer dos testes de produção e micropropagação.

E ainda há muito a fazer com o hipericão?

Há muito a fazer com o hipericão, como há muito a fazer com as espécies que não estão, suficientemente, exploradas. Nós submetemos este ano, um projecto que não sabemos se virá a ser financiado, até porque, a Fundação para a Ciência e Tecnologia tem, evidentemente, limitações de financiamento. Submetemos um projecto, no sentido de fazer uma avaliação química, e alguma caracterização química de algumas espécies autónomas nativas que as pessoas usam, tradicionalmente, na sua medicina caseira privada e que não estão caracterizadas quimicamente. Não se sabe, com rigor, porque motivo é que as pessoas as usam. No entanto, o uso é centenário. Usam-se determinadas plantas para a dor de cabeça, outras quando se tem ferimentos, outras quando se tem dores reumáticas e chás.

Nós temos uma colega de departamento, a minha colega Ana Maria Carvalho, que fez o doutoramento em eco botânica, na zona do Parque Natural de Montesinho, fazendo uma caracterização das espécies que as pessoas utilizam com variadíssimos fins, não só alimentares, como medicinais, como em veterinária, como outros, nomeadamente, a cestaria, etc. etc.

As pessoas usam plantas, naturalmente, nas suas vidas, com fins variados. Ela fez esse levantamento exaustivo, aliás, muito interessante e com resultados muito, muito promissores. Depois disso, levantou-se-nos a questão de que seria interessante partirmos desse trabalho de levantamento e continuarmos, tentarmos ver agora, do ponto de vista químico, o que é que se passa porque é que as pessoas usam essas plantas e, considerando que algumas delas podem ser produzidas, essas plantas são muito interessantes.

Então, andamos por aí, no campo, a apanhar de tudo e a levar tudo, com regras bem definidas, para evitar o fim da biodiversidade. É possível agarrar algumas dessas plantas e fazer uma propagação delas, quer por micropropagação, quer por outras técnicas associadas à cultura in vitro, quer mesmo por soluções alternativas, como uma agricultura alternativa fazendo, não só, uma agricultura de espécies comestíveis, por exemplo, uma agricultura de outros tipos de interesses, nomeadamente, a produção de compostos químicos com fins variados em medicina, em veterinária, em cosmética… os fins podem ser muitos.

A valorização da produção de frutos de elevada qualidade, o caso do castanheiro, e a obtenção de boas madeiras, poderá contribuir para a fixação de pessoas, especialmente jovens, permitindo ultrapassar um pouco a desvalorização social do trabalho agrícola? Será esse o caminho a seguir em Trás-os-Montes?

É um dos caminhos. Não acredito que haja um caminho, mas há que ter engenho e arte para ir aproveitando o que se têm e para se inovar com as coisas que se têm. Em Portugal há produção do fruto do castanheiro de elevada qualidade. Há possibilidade de aumentar essa produção e se formos verificar, o mercado internacional faz o escoamento total da nossa produção de castanha. É necessário garantir a qualidade que o mercado exige. Na generalidade, as nossas produções de castanha estão absorvidas pelo mercado internacional. Uma minoria da castanha é consumida em Portugal. Nós, na generalidade, somos muito maus consumidores daquilo que produzimos. Outros apreciam mais o que nós fazemos do que nós próprios. Isso, também, é uma característica muito portuguesa que eu espero que nos próximos anos mude, que a breve prazo mude.

O que vem de fora é sempre melhor, não é?

Continuamos a ter essa perspectiva de que, o que vem de fora é sempre melhor. Nós sabemos, se pensarmos e se pusermos a mão na consciência, que não é rigorosamente assim. Há coisas lá fora que são melhores e outras são melhores aqui. Há uma questão que nós, frequentemente, comentamos na Escola e que lamentamos, que é termos variedades de fruta, nomeadamente, as mais vulgares dentro das maças, peras, etc., algumas variedades tradicionais que eram excepcionais e, no entanto, nós aderimos completamente, às variedades que se massificaram a nível internacional e, as nossas, perderam-se. Ainda hoje, alguns de nós, temos memória de alguns sabores de algumas frutas que existiam e que desapareceram, quase completamente, porque não eram competitivas no mercado e nós não as valorizamos. Achamos que todas aquelas variedades standard que nos foram impostas de fora porque eram muito mais produtivas, eram mais bonitas, vendiam-se melhor e, portanto, eram melhores.

Agora lamentamos isso. Aquilo que vem de fora não é, necessariamente, melhor e a prova disso é que lá fora compram-nos aquilo que nós temos e a castanha é um exemplo claríssimo disso.

Por alguma razão…

…E por alguma razão, esse é um dos caminhos e eu acredito, sinceramente, que o castanheiro continua a ser uma espécie com interesse económico, e depois pode ter associado outros interesses que há bocadinho falamos, embora, o estar atento, por exemplo, os cogumelos valem muito dinheiro e além disso algumas pessoas que me estão a ler, sabem disso.

E é por aí que vamos. A produção de cogumelos comestíveis é uma actividade económica de grande importância para as populações rurais. Este facto resulta da enorme procura que este recurso natural tem tido na última década, por parte de mercados externos, como Espanha, França, Itália… Como poderemos ajudar os nossos agricultores a tirarem partido desta riqueza?

Primeiro que tudo, têm de os conhecer. As pessoas, na generalidade, conhecem mal os recursos que têm, até que porque, os cogumelos… nós somos um povo com caracteristas particulares, relativamente aos cogumelos. Somos muito micófilos. Temos medo dos cogumelos e eu percebo esse medo. Percebo e respeito. A única maneira de ultrapassar esse medo, é por uma única via que a via, para tudo, aliás que é, conhecendo, conhecendo, conhecendo, estudando, estudando, cada vez mais. Ainda este ano, tivemos, em Bragança, uma reunião internacional, a Micologia 2006, reuniu aqui, micologistas de toda a Europa e, felizmente, foi um ano muito bom de cogumelos, e demonstrou que, de facto, é um recurso difícil. É difícil porque há muitas espécies, porque, às vezes, as espécies se confundem, porque é preciso saber, quando pretendemos comer ou comercializar um recurso como este, é preciso conhecer bem e, nos casos em que não se conheça, é preferível não arriscar. Espécies que não se conheçam, não devem ser colhidas.

A única via é, de facto, aprender a conhecer. Não há regra nenhuma. Não existe a regra das colheres de prata, do ficar azul ou verde… não existe regra nenhuma, nenhuma, nenhuma mesmo. A única regra que existe, é nós sabermos o que é que ali está e se aquela espécie é, ou não é, comestível. Isso está descrito. Existem manuais, existem guias de campo que permitem às pessoas, agarrar num guia e tentar ver as características que estão descritas e, depois, se os conhecerem, é possível ter um rendimento interessante.

É evidente que, se as pessoas vão viver dos cogumelos, que só aparecem na primavera e no Outono, não vivem, muito embora, haja quem o faça. Mas, no entanto, pode ser um recurso extra a ser explorado e, em épocas específicas, que são estas duas, é extraordinariamente interessante e importante. As pessoas sabem que há gente que, quando chega a primavera e o Outono, largam o trabalho que estão a fazer e vão colher cogumelos. Não é, de certeza absoluta, porque gostam muito de apanhar cogumelos. Também pode acontecer, que haja um caso ou outro mas, na generalidade, é um trabalho rentável.

Se pensarmos muito bem, na generalidade, não é consumido em Portugal. É consumido em Espanha, é consumido em França, é consumido em Itália e, depois, é consumido pelos chineses e pelos japoneses. Se os chineses não vêm cá comprá-los, os japoneses vêm, por intermédio dos espanhóis e dos italianos.

Ora bem, de facto, é preciso pensar se os espanhóis ou os italianos vêm comprar esses cogumelos aqui e os compram a um determinado preço, vão vendê-los, certamente, mais caros no seu país. Portanto, há que organizar este comércio, não o deixar nas mãos de duas ou três pessoas, como tem estado, que funcionam como angariadores, que pagam um preço abaixo do que seria justo comercialmente e que, por outro lado, levam este recurso para o exterior sem ficar aqui a mais-valia que deveria ficar. O caminho é as pessoas organizarem-se e aprenderem a conhecer aquilo que têm. É deixarem de considerar que o cogumelo, os cogumelos na generalidade, como não foram semeados, nem plantados, são de todos, porque em princípio, os cogumelos que estão na propriedade de determinada pessoa, em primeira análise, pertencem a essa pessoa, ou deveriam pertencer.

Quais são as principais potencialidades desta região e como poderiamos tirar partido delas?

Trás-os-Montes tem muitas potencialidades e há muitas formas alternativas de tirar partido de algumas das coisas que existem. Eu falei em algumas delas. Só posso falar naquelas que estão mais relacionadas com a minha área de trabalho. Não ouso pensar que sei definir estratégias de desenvolvimento para Trás-os-Montes, porque não é a minha área de especialidade e nem me atreveria a fazê-lo. Outros especialistas estão muito mais habilitados para isso. Eu diria que, do ponto de vista agrícola, há muita coisa para fazer, quer valorizando os produtos tradicionais que as pessoas vão fazendo e produzindo com qualidade, comercializando e fazendo valorar essa qualidade, e temos tido provas disso com a valorização de alguns dos produtos, directa ou indirectamente, ligados à agricultura.

Graças a algumas espécies, como será a raça mirandesa, ou o porco bísaro, ou o cabrito de Trás-os-Montes, de Montesinho, etc., são provas de que é possível valorizar produtos que temos e que são de boa qualidade.

As pessoas valorizam cada vez mais a qualidade dos produtos que consomem na sua alimentação e, Trás-os-Montes, tem possibilidade de fazer algum investimento a esse nível.

Considero que os frutos secos continuam a ser uma boa aposta, as castanhas, as nozes, as amêndoas, continuam a ser uma boa aposta. São frutos que as pessoas apreciam e, sobretudo, algumas das variedades produzidas em Trás-os-Montes, são particularmente apreciadas pelo sabor. Nós todos sabemos que poderemos comprar umas amêndoas da Califórnia, três vezes mais baratas do que as da zona de Moncorvo mas, pomos umas amêndoas da Califórnia num bolo e elas não sabem a nada e pomos umas de Moncorvo e elas tem o sabor a amêndoa.

Portanto, temos de valorizar essas coisas e fazer de alguma maneira, caracterizar essa diferença, o sabor, o tamanho, a quantidade de nutrientes que tem, de sais minerais e vitaminas… enfim, há que valorizar mas, para isso, é preciso conhecermos. É preciso, ainda, haver algum trabalho técnico que nos permita, definitivamente, dizer: Este nosso produto é, do ponto de vista alimentar, melhor do que outro. E pô-lo no mercado para valorizar essas características.

Há todo esse trabalho a fazer e, depois, há todos os recursos alternativos que eu já falei. Imensas plantas. Se formos pelas aldeias e perguntarmos às pessoas mais velhas, sobretudo, continuam a lembrar-se de usos tradicionais, quer alimentares, quer não alimentares, quer associados a várias outras aplicações, como é o caso das medicinas tradicionais. As medicinas tradicionais não tem nada que não seja conhecido, ou seja, não há, praticamente, nenhum medicamento no mundo, dos medicamentos que estão certificados e são vendidos nas farmácias, que não tenha extractos de plantas cujo a produção de alguns compostos não seja produção natural porque, continua a haver compostos que não são passíveis de ser feitos por síntese química, ou que são tão caros por síntese química, que não compensa e, portanto, é melhor ir buscá-los às plantas.

Temos de aprender onde é que essas plantas estão, o que é que produzem, e produzi-las como culturas alternativas para podermos vir a valorizar, do ponto de vista agrícola.

O mesmo para algumas plantas aromáticas. A indústria de perfumaria precisa de essências e nós temos muitas plantas, conhecidas pelo cheiro, que são interessantes para a indústria cosmética e para a indústria de perfumaria e que não podemos andar a colhê-las pelo monte porque não são suficientes mas, podemos produzi-las. Existem algumas áreas agrícolas marginais, onde podemos fazer lavandas ou outras espécies como os tomilhos e por aí adiante, que são passíveis de virem a ter interesse fitoquímico e fitofarmacológico. Aliás, nós, na Escola Agrária, iniciámos no ano passado, uma licenciatura em fitoquímica e fitofarmacologia que pretende, exactamente, criar técnicos com capacidade para intervir nessas áreas e culturas.

Para terminar… que personalidade ou personalidades mais a marcaram ao longo da sua vida?

Isso é uma coisa muito difícil, porque eu não sou muito ligada, digamos assim, a pessoas com características particulares que aprecie muito. Bem, tenho a dizer que, do meu ponto de vista pessoal, tenho uma pessoa que me marcou extraordinariamente e que foi, obviamente, o meu orientador de licenciatura que eu considerava uma pessoa absolutamente excepcional. Não é uma pessoa conhecida a nível nacional mas, na área dele, era muito conhecido. Foi o Engenheiro Tristão de Melo Sampaio. Ele era engenheiro agrónomo e foi ele que me introduziu nas questões de ligação entre a Biologia e a Agronomia, se bem que a Agronomia seja uma Biologia aplicada. Nós, na licenciatura de Biologia, temos alguma tendência para ser mais teóricos. Digamos que essa foi, definitivamente, uma pessoa que me marcou. De resto é difícil…

Do ponto de vista profissional há várias pessoas que aprecio, mas não tenho, digamos assim, uma apreciação de dizer que são excepcionais. Posso dizer alguns nomes, por exemplo: o professor Alexandre Quintanilha que é uma pessoa por quem tenho uma apreciação muito particular, dentro dos investigadores portugueses, e tenho uma apreciação, quer do ponto de vista científico, quer do ponto de vista pessoal pela forma de divulgar a ciência.

Depois, tenho alguma dificuldade, assim de repente, de dizer outras figuras que me tenham marcado, particularmente. É mais complicado.

Muito obrigada, pela sua entrevista.

Eu é que agradeço.

1 comentário:

  1. Parabéns pela entrevista e aproveito o ensejo para agradecer à Anabela, tudo o que fez, e faz, em defesa da preservação da natureza na nossa região. Foi sempre uma guerreira incansável e, quase, intransigente na defesa desses valores.
    Parabéns Anabela.

    Um beijinho

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