segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

MARCOLINO CEPEDA - Um AMIGO DE SEMPRE

Conheço o Amadeu desde muito novo. Os nossos caminhos cruzaram-se em Bragança, onde nasci e onde ele estudava. Ambos, «jornalistas» do jornal Mensageiro de Bragança. Por ali nos cruzámos mas nunca convivemos muito. Por ser cinco anos mais velho do que eu, quando comecei as minhas deambulações jornalísticas, já ele se tinha afastado e estava a lutar pela sua vida. Como ele próprio diz, «eu sou uma pessoa que nunca me queixo e portanto olho as coisas e luto». «… empenho-me nas coisas até à exaustão, até cair para o lado. Não o faço deliberadamente, nem o procuro.» Ele é assim.
Quando em 2005 decidimos fazer um programa de entrevistas na rádio Bragançana, RBA, tínhamos como intenção entrevistar transmontanos que, de alguma forma, tivessem feito algo em prol da sua terra. Ninguém melhor que o Amadeu e, por isso, encetámos contactos para falar com ele. Servimo-nos de amigos para conseguir o seu telemóvel e, atrevidos, não perdemos tempo. Para nossa satisfação, apesar da sua enorme modéstia, disse que sim, «mas que não merecia, que havia outros que tinham o mesmo mérito…»
Chegado o dia, de manhã, à hora marcada entra pela rádio um casal… ele, como me contou a minha mulher, com semblante sorridente, simpático e uma boina mirandesa na cabeça, vinha acompanhado pela esposa. A cumplicidade foi imediata. Parecia que ainda ontem havíamos estado no Mensageiro, cada um empenhado no seu trabalho. Estava ali um verdadeiro transmontano, puro e genuíno, humilde e sábio, muito sábio. Tão acessível, tão próximo, tão amigo.
À medida que a entrevista avançava, fui descobrindo muitas similitudes entre nós. Quisemos, eu e a minha esposa, uma entrevista algo intimista, sem esquecer a razão principal: falar de Trás-os-Montes. Senti-me retratado quando declarou a sua fome de livros e contou que todos os seus amigos os requisitavam, no carro da Gulbenkian, para que ele pudesse ler.
Descobri um homem que mais não faz do que dedicar ao bem comum a sua vida. A luta pelo reconhecimento da sua, e nossa, língua mirandesa é exemplo significativo mas, mais importante ainda, é a sua entrega aos amigos e a quem precisar da sua ajuda. Não sabe dizer não.
Não poderei, nunca, agradecer-lhe o facto de se ter deslocado de Lisboa até Bragança, num Sábado, apenas para assistir ao lançamento do nosso blogue, Nordeste com Carinho, onde temos divulgado as entrevistas realizadas na rádio através da rubrica com o mesmo nome. Ofereceu-me a sua amizade como facto consumado, com a naturalidade de um dia de sol.
A sua inteligência não sofre contestação. A sua dedicação a causas é-lhe intrínseca. Não deve dormir muito. Não tem tempo. Trabalha como se não houvesse amanhã. Os seus projectos parecem não ter fim. Concretiza-os a todos com a qualidade que só as grandes inteligências são capazes de alcançar.
Homem de letras, não poderia deixar de ser fundador da Academia de Letras de Trás-os-Montes. E aqui está um retrato brevíssimo de um transmontano, homem do mundo, como todos os transmontanos, mas absolutamente único e irrepetível. Um homem de causas: «Eu não as procuro mas, não sei… dá-me ideia que é um defeito meu…» / «As causas, elas, como que se me impõem.»
Tenho o enorme prazer e a honra incomparável de o ter como amigo. Obrigado Amadeu.

Bragança, 10 de Novembro de 2013


Publicado por Teresa Martins Marques – O Fio das Lembranças. Uma Biografia de Amadeu Ferreira

Sem comentários:

Enviar um comentário