quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

LUÍS VAZ DAS NEVES (Presidente do Tribunal da Relação de Lisboa) (Depoimento para a Biografia O FIO DAS LEMBRANÇAS)

AMADEU FERREIRA: UM PASSO À FRENTE DO NOSSO OLHAR!

Entre zimbros, carrascos, freixos, carvalhos e searas ondulantes surgiu, em 1950, em Sendim, Miranda do Douro, uma luz na planície mirandesa: Amadeu Ferreira.
O Planalto Mirandês e Transmontano nunca mais será o mesmo!
Amadeu Ferreira e Fracisco Niebro caminham, lado a lado e a par e passo, numa única sombra.
Perdoem-me os Amigos, mas não vou falar da obra científica nem da obra literária do Amadeu Ferreira ou do Fracisco Niebro. Desta, fala magnificamente a autora da biografia.
Vou falar tão só do homem que temos a honra e o privilégio de conhecer. Do Homem que tem sangue e cânticos a correr-lhe nas veias, que pensa e se emociona como os habitantes da minha aldeia – também ela transmontana e situada no Planalto Mirandês. Do homem que sabe as horas do dia pela altura do Sol e o tempo das malhadas pela cor das searas. Um homem humilde, amigo do seu amigo, um homem verdadeiramente singular.De vulto pequeno e sonhos imensos, teve a ousadia de desafiar a terra fria a brotar poesia. E conseguiu.
Tal como um retratista instantâneo, traçou, de forma segura e sublime, a linha de Vida de cada uma das personagens desta região, colorindo de histórias os rostos marcados das mulheres e dos homens que povoam este território situado «para lá do Marão», sinal inquestionável de quem manda nestas geografias humanas.
Viajante de vários saberes, conquistador inato da alegria e ignorante da «derrota», ergueu um império de saber até então guardado no segredo das pedras. E a estas deu-lhes voz na sua língua e na dos outros, mostrando que o conhecimento é como o vento: leva e traz alegrias e tristezas, próprias do ser humano, e conserva-as no aroma da memória de um Povo. O Povo que ele exalta de forma única, seja na prosa, seja na banda desenhada, seja na música, seja no poema… O seu Povo sem bandeira de cores, porque esse Povo é ele próprio a Bandeira!
Invulgarmente amável, é com o coração que cativa. Um coração sem tamanho onde todos cabemos com espaço e em liberdade. Um sorriso franco e brilhante como as estrelas da manhã e um olhar envolvente que nos convida a ficar, cada vez mais e sempre, até se tornar tão familiar como nós a nós próprios, num tranquilo sussurrar do vento que embala, igualzinho ao embalar das crianças no peito das suas Mães…
Sempre que alguém tenta aprisioná-lo numa definição, Amadeu Ferreira, suave e elegantemente, solta-se das amarras e mostra-nos um outro ângulo de uma das suas várias facetas de artista. Mutante de si mesmo, está sempre um passo à frente do nosso olhar.
Mas, porque há muito mais dele em toda a natureza do que as palavras que temos para o poder dar a conhecer, sempre será recorrendo àquela que podemos encontrar um espelho para melhor poder falar do Amadeu Ferreira ou do Francisco Niebro. É através deste recurso que podemos afirmar que falar do Amadeu Ferreira ou do Fracisco Niebro é falar do cheiro da chuva que dança na erva dos lameiros, do Sol quente que faz cantar a cigarra, do vento frio do Norte que entrelaça os ramos das árvores… Falar do Amadeu Ferreira ou do Fracisco Niebro é falar da terra fértil que o arado rasga e de onde brota e cresce a Vida, essa Vida que ele tanto ama e a quem agradece, a cada momento, com o seu próprio respirar. A Vida de um Tempo que não se conta por minutos, por horas, por meses ou por anos mas apenas por momentos de afecto, eternos no seu provir.
Misto de um homem da ciência e do sagrado, ergue-se inteiro na poesia que o envolve, a quem trata por «tu», na intimidade das palavras. Sabe, antes mesmo de saber, a coloração da alma de cada homem, logo que lhe vê as mãos com que trabalha e/ou lhe sente o desassossego com que se entrega aos projectos para engrandecer o seu semelhante. E sempre que o seu olhar toca no olhar de um outro ser humano é vê-lo sorrir com aquele encanto de inocência que só as crianças, e alguns/poucos adultos, conseguem ter e conservar. Um sorriso imune que não se deixa atemorizar pelos desafios mais arriscados. O sorriso da esperança por um mundo melhor, que ele, diária e persistentemente, vai ajudando a construir.
Aos sessenta e quatro anos de uma vida secular, tem o seu recanto de Honra no bem-fazer a todos os que se cruzam no seu caminho, sem escolher credos, políticas ou raças, aceitando apenas coração por coração.
Todos temos aprendido, de uma forma imensurável, com o Amadeu Ferreira: aprendido a amar incondicionalmente; aprendido a compreender as diferenças e a aceitá-las, mesmo que não as tornemos nossas; aprendido a ser mais justos e, no final, mais humanos, porque é essa a principal meta do ser humano: ser cada vez melhor!
E porque acredito que a rota escolhida pelo nosso Amigo Amadeu Ferreira é a mais maravilhosa aventura que a Humanidade pode viver, convido todos a entrar e a viajar neste sonho de Luz e de Paz!
De Amigo para Amigo, obrigado, Amadeu! Até sempre!


Publicado por Teresa Martins Marques

Sem comentários:

Enviar um comentário