estou árida como um ribeiro no verão
nada consigo fazer
a folha mantém-se impoluta
qual ausência de cor
que poeta quero ser
se não sou
mais que um dia que passa
como quem não acontece
pastora de palavras
que não pastoreio
e correm livres por espaços seus
beijando outras almas
o vazio impraticável
o desejo por cumprir
a hora que tarda
o dia que não há-de vir
no ribeiro que sou
a pequena rã verde
teima em não partir
como se o amanhã tivesse passado já
como se a vida fosse um traço
dos que faço
dos que passo
dos que calo
dos que embalo
dos que definitivamente emudeci
primavera travestida
de inverno
insiste em pequenos ovos
a tiritar no ninho
onde mãe se afadiga
em caloroso penar
peito despido
de penas perdidas
em cama mais branda
que as palavras,
apenas o são,
quando pensadas
Mara Cepeda
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