sábado, 7 de abril de 2012

Entrevista: Eng. Álvaro Barreira

Salgueiros foi o seu berço, pertence ao concelho de Vinhais. Como foi a sua infância?

Foi uma infância vivida no campo, foi uma infância agradável porque, naquela altura, desfrutava, ainda, da presença dos meus pais, dos meus avós e eu. Considero-me um homem do campo e talvez essa infância me tenha marcado para toda a vida porque, para mim, o campo é vida.

Fez os estudos primários na sua aldeia?

Não. Fiz em Tuizelo e hoje aquelas pessoas que vivem a centenas de metros da escola primária e tem que ser o pai que os leva de carro. Eu deslocava-me três quilómetros para ir à freguesia a Tuizelo onde fiz a instrução primária, portanto, na minha aldeia não havia escola e hoje não há outra vez porque não há crianças mas, naquela altura, a nível da sede da freguesia é que havia escola e, portanto, eu tinha que me deslocar todos os dias três quilómetros para cada lado para ir à escola.

Guarda boas lembranças desses tempos?

Sim. Esse percurso que fazia entre a minha aldeia, Salgueiros, e a freguesia de Tuizelo onde se encontrava a escola, fazíamo-lo em grupo, com rapazes, com raparigas… havia sempre conversas, troca de impressões… além disso atravessávamos um vale, que é o vale da ribeira de Tuizelo, uma zona bonita. Foram tempos agradáveis e acho que vale a pena as pessoas que hoje desfrutam de todas as condições, de automóveis, escola ao pé, inclusivamente eu tenciono levar os meus netos, muito brevemente, a fazer esse percurso porque eles hoje estão a dezenas de metros e é preciso levá-los. Naquela altura estava a quilómetros e tinha que ir a pé, mas acho que vale a pena reviver e ter vivido, de uma maneira muito intensa, esses tempos.

Depois da primária, onde prosseguiu os seus estudos?

Vim para Bragança, para o liceu e depois transitei para Santarém onde completei o liceu e tirei o curso de regente agrícola. Ali estive durante cinco anos e hoje, para mim, Bragança é uma terra dotada, mas Santarém… tenciono ir no próximo fim-de-semana, marcou-me de uma maneira muito forte. Santarém é uma terra com características muito fortes, onde há touradas, onde vivi aquele ambiente ribatejano de uma maneira muito intensa. É evidente que eram tempos muito diferentes daqueles que são hoje. Só para lhe dar uma ideia, eu, com cinquenta escudos, saía de Santarém à sexta-feira à noite e regressava no domingo à noite e passava duas noites em Lisboa e divertíamo-nos, íamos ao futebol… eram outros tempos mas, também, é bom que as pessoas pensam “Então fazias uma vida, assim, de lorde e os teus pais davam-te, muito dinheiro.” Não, eu colaborava… conto esta história aos meus netos… estava em Santarém e vendia presuntos que levava de Vinhais. Havia um negociante de gado de Santarém que fazia as feiras em Vinhais e Bragança e então o meu pai metia-me os presuntos numas arcas de madeira e eu depois era o fornecedor de presuntos naquelas cervejarias, naquelas casas de petiscos e só para dar uma ideia, estive em Santarém de 1948 a 1954 e ganhava em cada quilo de presunto dois escudos e cinquenta centavos e isso era realmente muito dinheiro, era a comissão se vendesse dois presuntos. Dava-me para ir passar um fim-de-semana a Lisboa e, portanto, é bom que se pense que as coisas, é preciso fazer por elas. Eu não lhe vou dizer um verso que vinha no meu livro de fim de curso mas, realmente, a vida de Santarém era uma vida muito intensa mas tinha de arranjar suporte para elas e uma das maneiras era realmente vender presuntos nas cervejarias da zona e inclusivamente em Lisboa também.

O que levou um Vinhaense a deslocar-se para Santarém?

Naquela altura, a zona de Bragança tinha muito poucos regentes agrícolas. Tinha o que foi presidente da câmara, o Adriano Pires, o Sr. Godinho, um senhor que veio de Tomar para Bragança e ficou cá. Foram estes dois colegas que realmente me entusiasmaram. Apareceram na minha aldeia a fazer inspecção à batata porque havia batata certificada na minha aldeia e, portanto, depois iam fazer as inspecções. Achei um curso interessante, um curso da minha natureza e foram eles que me entusiasmaram, concorri e fui para Santarém porque havia três escolas: Évora, Santarém e Coimbra e, já nessa altura, há mais de cinquenta anos, as escolas só admitiam o número de alunos que saíssem, se saíssem vinte metiam vinte e eu concorri às três escolas mas, aquela que eu tinha realmente preferência era Santarém e além disso foi aquela onde primeiro arranjei vaga. Portanto, fui para Santarém e realmente gostei imenso, pelo ambiente. Santarém, em termos académicos, era a escola de regentes agrícolas porque aquilo tinha cerca de cento e vinte alunos e dominava a cidade.

E como era ser estudante nessa altura?

Primeiro é preciso ser estudante responsável. Fui daqui, de uma aldeia transmontana, para Santarém e tinha de pensar que primeiro tinha de tirar o curso, mas é preciso ter um certo equilíbrio. Em Santarém a escola era frequentada pelos meninos ricos do Ribatejo e Alentejo. Vinha muita gente da África tirar o curso e aos fins-de-semana, normalmente, toda a gente ia para casa. É evidente que a mim não me dava para vir, de maneira que é preciso a gente introduzir-se em todo aquele meio ribatejano. Eu sou transmontano e sinto muito orgulho mas, o Ribatejo diz-me qualquer coisa. Fui para lá com uma determinação muito grande, para tirar o curso, eram cinco anos, tirar o curso em cinco anos e já agora atrevo-me a dizer, no livro diz assim:
“Cá nos books foste um às,
nas paródias sublime rei,
namoricos eram todos mensais,
por vergonha não os descreverei.”
Portanto, eu, às vezes, digo aos meus netos que é possível divertirmo-nos, passarmos um tempo agradável, mas é preciso sermos responsáveis e não podemos esquecer os livros para pensarmos só nas paródias. Julgo que consegui fazer um certo equilíbrio entre a diversão e o trabalho.

A sua vida profissional está indiscutivelmente ligada à floresta, à caça, à pesca e outros recursos silvestres. Está-lhe no sangue essa faceta ou é fruto do acaso?

Não, não é fruto do acaso. Eu antes de trabalhar nos serviços florestais, trabalhei noutros organismos. Primeiro na Junta, depois transitei para a Junta Nacional do Azeite, mas eram empregos de ocasião, de passagem porque o meu grande objectivo era ir para os Serviços Florestais, porque era o organismo que tutelava a caça. Na altura Bragança tinha melhor implantação e permitia fazer a vida que eu gostava realmente de fazer e consegui concretizar esse sonho. Os Serviços Florestais foram um organismo realmente importante nas zonas onde estavam implantados. Vir a Bragança um Director Geral das Florestas na década de 60 era tanto ou mais importante do que se viesse hoje o Presidente da República ou o Primeiro-ministro, por uma razão muito simples, era um organismo que tinha maior peso, maior interferência, mais interesse nos meios rurais e eu considero que, naquela altura, os Serviços Florestais eram quase a segurança social porque as pessoas nas aldeias não tinham onde ganhar dinheiro que não fosse na floresta e, no Inverno, ia toda a gente para a floresta trabalhar, novos e velhos, só ficavam aqueles que eram minimamente necessários para ir com as vacas ou para deitar o gado, porque o resto da gente ia para a floresta trabalhar. Portanto, era para eles importante trabalhar nos Serviços Florestais porque não havia reformas, era o sustento, era o suporte económico de muitas famílias, primeiro porque tinham dinheiro, tinham serviços durante todo o ano e as pessoas recorriam aos serviços florestais. É evidente que não era tudo bom, era um organismo que impunha alguma disciplina na questão do pastoreio, dos cortes de lenha, de fogos e tudo isso e, por vezes, essa instituição era mal vista e não é por acaso que Aquilino Ribeiro escreveu um livro sobre os serviços florestais cujo titulo é “Quando os lobos uivam”, porque tinham uma grande acção e uma grande interferência na vida das populações. Mas, se havia disciplina nos cortes de lenhas, nos pastoreios, inclusivamente no lavrar os baldios, tinha também a compensação de que no Inverno havia onde ganhar dinheiro e isso só para lhe dar uma ideia. Nós não fazíamos pagamentos mensais, fazíamos pagamentos quinzenais e para fazer o pagamento de uma quinzena andávamos três dias de manhã à noite pelas aldeias, pelos locais de trabalho a pagar e chegávamos a juntar cento e oitenta pessoas. Recordo-me, por exemplo, numa zona onde chegávamos a trazer grupos de trabalho de seis capatazes e deslocava-se gente de Terroso e de Espinhosela para o Zeive e para o Parâmio que andavam duas, três horas a pé de manhã e à noite para trabalhar. Inclusivamente, havia pessoas que iam para a serra de Montezinho no Domingo à noite em cima da caixa de um tractor, dormiam lá em Barrancos, trabalhavam até sábado, no sábado regressavam à aldeia e no Domingo regressavam ao local de trabalho, portanto, esta gente nova, desta era, cinquenta anos é pouco mas também é muito, em cinquenta anos muita coisa muda na vida. Muitas aldeias têm estradas porque foram os Serviços Florestais que as fizeram. A estrada de Baçal, a estrada de Sacoias, Varge, Rio d’Onor, todas essas estradas foram feitas pelos Serviços Florestais, a estrada de Montezinho, de Carrazeda, da Serra da Nogueira, todas essas estradas, a estrada da Senhora da Serra, a partir das cruzes, foram os Serviços Florestais que as fizeram. Portanto, tiveram uma marca importante nas décadas de 60, 70, 80 e é evidente.
Quando há bocado me perguntou se foi por acaso, não. Era realmente o meu objectivo, era realmente o que estava no fundo do túnel em termos de percurso da actividade profissional porque, na maior parte da minha actividade nos Serviços Florestais e, estive lá trinta e seis anos, foi no sector da caça que era a grande motivação e que é ainda hoje a grande motivação da minha vida e mais interesse me desperta.

A importância da floresta na nossa região é incomensurável. O que é necessário fazer para o desenvolvimento desta actividade?

Com alguma tristeza reconheço e constato que, nos últimos anos, a floresta foi renegada para segundo plano e nós seremos cada vez mais um país florestal e cada vez menos um país agrícola. Era de valorizar equipar os serviços florestais no sentido de utilizar as nossas terras, os nossos campos naquilo que tem maior aptidão que é, realmente, a floresta. Os serviços florestais foram esvaziados, foram integrados nos serviços agrícolas e estes é que deviam ser integrados nos serviços florestais primeiro, porque tinam uma estrutura que trabalhava, que funcionava e, portanto, os nossos campos, as nossas florestas… Bragança tem trinta e tal mil hectares de terrenos baldios, que estão praticamente abandonados, onde foram feitos grandes investimentos e, portanto, era necessário tratar as nossas florestas, preservá-las, defendê-las dos fogos. Antigamente víamos uma brigada florestal, uma brigada de incêndios constituída por vinte e dois homens que estavam disponíveis durante todo o ano, permanentemente, preparados a todo o momento para acudir a um incêndio, inclusivamente com máquinas de rasto, de bulldozers para apoiar. Neste momento não existe. Por exemplo, ainda agora, há pouco tempo, na zona de caça onde sou gestor tive cinco incêndios e foram lá os bombeiros uma única vez e, quando lá chegaram, o que tinha a arder já tinha ardido e, portanto, é necessário primeiro, que as florestas sejam limpas e os fogos não se combatem, devem-se evitar e para se evitar é preciso que as matas estejam tratadas, que estejam limpas e não estão.
Mesmo no aspecto do privado, o privado faz um projecto, enquanto recebe dinheiro para fazer a limpeza, tem que os ter limpos, tudo bem, mas eles desflorestam. Os que são apresentados, a maior parte deles é para receber os subsídios e receber a perda de rendimento e, se tiver um terreno florestal não pode apresentar um projecto de florestação mas, se tiver um terreno agrícola e porque o deixou de o utilizar como terreno agrícola pode florestá-lo e até tem um subsídio para a parte de perda de rendimento da parte agrícola. Somos um país essencialmente florestal mas não temos, ao nível do estado, as estruturas necessárias para rentabilizar essa vertente.
Isto leva-nos a outra questão. Bragança, em termos rurais tem que saber utilizar os seus trunfos e os trunfos da zona de Bragança passam, essencialmente, pela floresta, pelo ambiente, pela natureza, por isso é preciso tratá-la e, inclusivamente, para a própria caça, porque se tirarmos a Trás-os-Montes a paisagem, a caça, a gastronomia, eu pergunto: “O que é que temos mais?”

É, portanto, da opinião que a caça em Trás-os-Montes é uma mais-valia…

É uma mais-valia mas não está a ser utilizada. Nós temos a melhor zona de caça do país. Eu não tenho dúvidas nenhumas disso. Eu conheço o país, em termos de caça, quase palmo a palmo. Já cacei em todo o país, já tive intervenção em todo o país enquanto funcionário da direcção geral dos serviços florestais. Bragança tem a zona da Lombada que é a melhor zona de caça do país. Tem veados, quinhentos a seiscentos veados, tem muitos corços, tem javalis, é uma boa zona de coelhos, é uma boa zona de perdiz, vale muito dinheiro. Está a ser menosprezada por não haver força política, capacidade de intervenção numa zona daquelas. Tem qualidade e quantidade e basta dizer uma coisa: a lombada tem veados. Legalmente não se mataram dezasseis ou dezassete veados, mas concorrendo com dezasseis ou dezassete e o resto do país concorre com milhares de veados, nos dez melhores troféus dos veados mortos, em Portugal, a lombada tem três e isso dá-nos uma ideia. Um veado da lombada, devidamente seleccionado, devidamente escolhido, vale entre três a cinco mil euros e é um património que não está a ser devidamente utilizado e aproveitado e rentabilizado. Quem é que perde? Perde a região, porque as pessoas vêm caçá-lo e, quando vêm cá, deixam sempre qualquer coisa. A região perde, as populações locais perdem, porque é um factor de valorização daquelas zonas e que não está a ser devidamente utilizado.

E as espécies migratórias indígenas, como coelho, lebre, perdizes, estarão ameaçadas de extinção?

Eu não digo que estejam ameaçadas de extinção mas, pelo menos, estão ameaçadas de diminuição e é evidente que nós temos de ter uma noção da evolução do uso das terras, do uso do solo. Nós, à medida que vamos fazendo menos agricultura e vamos deixar mais terrenos para mato, para matas, seremos cada vez menos uma região de caça menor e cada vez uma região de caça maior e, neste momento, a minha percepção é que o coelho, a lebre e a perdiz está a baixar.

O que é que se pode fazer para resolver esse problema?

No caso da perdiz há uma coisa de que eu não tenho dúvidas nenhumas. É que o problema da perdiz é um problema de alimentação. A perdiz tem que se lhe proporcionar alimento e eu tenho a prova mais evidente, inquestionável, em relação à perdiz. Sou gestor de uma zona de caça. Tenho vinte comedouros permanentes para javali, não há nenhuma zona dessas que não tenha perdizes e, às vezes, em condições que não são as mais indicadas em termos de revestimento e uso do solo. São zonas arborizadas mas, mesmo assim, há perdiz, portanto, em relação à perdiz, tem de se fazer campos de alimentação. Há que lhe proporcionar alimento.
É evidente que a perdiz também tem outras componentes, cada vez, temos menos. A perdiz alimenta-se essencialmente de ervas, de grão, de sementes mas, também, de insectos e quanto menos animais houver no campo menos insectos há e isso também tem influência na alimentação da perdiz, até a própria mudança do clima. Salvar a perdiz passa por campos de alimentação. A perdiz é uma espécie que evoluiu em termos de capacidade de defesa que é extraordinária. Antigamente a perdiz, pousava, subia sempre, agora não, desce, faz trinta mil por uma linha. Antigamente tinha um voo regular, hoje é capaz de vir por uma encosta abaixo. Evoluiu, sabe defender-se e, portanto, nós só temos de lhe proporcionar alimentação.
Faço um apelo aos gestores das zonas de caça para que façam campos com zonas de alimentação se querem perdizes e, como é evidente, é preciso ter cuidados na altura dos ninhos como não deixarem andar os cães no monte porque o cão é um grande predador.
Quanto ao coelho, o grande problema são as doenças. Teve a nishamatose, neste momento aparece-lhe a hemorrágica que realmente é muito difícil porque o coelho é um animal que tem grandes capacidades, grandes defesas em termos, não só de alimentação, como também dos predadores. Infelizmente tem sido vítima das doenças porque, se as outras eram más, a hemorrágica ainda é pior porque os mata, de um momento para o outro, com um aspecto são.
A lebre gosta de terrenos de pousio, zonas planas e nós não temos, portanto, em termos de caça menor, estamos a descer a quantidade e a qualidade e em termos de caça maior, cada vez temos mais javalis, o corço, abertamente, está em expansão. Hoje existem corços praticamente em toda a zona de Bragança e toda esta zona do nordeste ao longo da fronteira mas, o corço é um animal muito procurado e nós temos óptimas condições para isso. O Estado, eu tenho feito algumas pressões nesse sentido, deve abrir mão da caça ao corço, porque, hoje, temos corço para se começar a caçar.

E o que acha da introdução de espécies oriundas de outras regiões para repovoar Trás-os-Montes?

Não é necessário. Tudo o que é introduzido em termos de espécie é como fazer uma arborização e ir buscar espécies florestais que não são as nossas. Aquelas que cá estão é porque encontraram naturalmente as condições necessárias para se poderem resolver e não temos necessidade nenhuma de importar. Nós temos o coelho, a lebre e a perdiz que são as áreas de caça menor as espécies que, realmente, vamos fomentar e proteger e em termos de caça maior o corço, o veado e o javali. Primeiro porque são espécies muito apetecíveis pelos caçadores.
Hoje temos de pensar. O caçador é um ser humano e hoje muita gente diz  que tem pena de matar os animaizinhos. Eu também concordo. Quando vejo uma perdiz morta choca-me, um animal tão bonito com um conjunto de penas tão bonito mas, realmente, é um animal. O corço também é um animal muito bonito.
Já o javali é um animal com uma resistência à morte que os outros não têm, é mais agressivo, é mais violento, é mais difícil abatê-lo, porque o javali e o rinoceronte são as duas espécies que, a nível mundial, são mais difíceis de abater. Um javali pode levar um tiro no coração e andar cem metros. Pode ter as tripas de fora e viver ainda dias.
Isto da caça é uma luta entre dois seres, o caçador e a espécie. No caso do javali é um desafio que se põe, primeiro porque é um animal muito inteligente, com uma capacidade extraordinária, não quero dizer o número de javalis que já matei, machos, porque só controlo os machos mas, até lhe vou dizer, cento e dezasseis machos e nunca matei um javali com um dia de vento porque, num dia de vento, ele perde as suas capacidades de defesa. O nariz, quando há vento, falha, existe alguma perturbação e também não ouve e não entra porque tem a noção de que não tem as suas capacidades de defesa, de nariz e de ouvido. Conhece os riscos que corre. O javali é um desafio que se põe ao caçador.
Trás-os-Montes tem javalis, veados, corços, são as espécies em que realmente se deve apostar. Não vale a pena estar a introduzir novas espécies, estas estão cá, apareceram, e há que as cuidar.

Lobos, corços, veados, javalis são espécies protegidas, no entanto, ouvimos muitos agricultores a queixarem-se dos prejuízos provocados por esses animais. O que fazer para resolver esse problema?

Primeiro, desses animais, o único que é uma espécie protegida, é o lobo. As outras não são espécies protegidas, só se podem abater pontualmente e perante determinadas condições. Quanto abre a caça à perdiz, a gente vai e caça perdiz. Para o caso do veado e do corço, tem que se ter autorização específica. Não são espécies protegidas são espécies cinegéticas e portanto podem ser exploradas no acto venatório.
De qualquer modo, uma coisa que é preciso ver, os animais para viver têm que comer, têm que beber e têm determinadas exigências, por exemplo o veado e o corço… uma coisa que muita gente lhe causa estranheza é porque é que um veado tem uma armação tão grande com mais de um metro de comprimento, com muitas pontas, nove, dez pontas em cada haste, como é que aquilo cresce num ano e cai todos os anos. Aquilo cai todos os anos e consegue crescer todos os anos mas, temos medo que aconteça uma coisa; inicialmente quando está a desenvolver está coberta por um veludo que depois na fase em que ele tem necessidade de eliminar o veludo, que é quando vai entrar em cio ele tem necessidade de se coçar nas árvores para limpar o veludo e ao mesmo tempo para marcar o território porque quando, tanto o corço como o veado, marcam as árvores fazem-no porque têm necessidade disso, porque são duas espécies essencialmente territoriais, marcam o seu território.
Ainda ontem estava-me a rir com uma senhora a propósito disso. Os animais são uns felizardos, sabe porquê? Marcam o seu território e depois esperam que as fêmeas os vão procurar, não precisam ir à procura delas, elas é que vêm à procura deles e portanto têm duas necessidades uma delas, marcar o território, outra que é limpar o veludo e, portanto, essas são realmente as duas necessidades mas que provocam prejuízos.
Então o que é preciso ter presente? Em primeiro lugar, os gestores das zonas de caça têm que ter em atenção esses prejuízos e os seus proprietários devem ser indemnizados dos prejuízos que a caça lhes causa, mas a caça paga isso tudo. A caça é uma fonte de riqueza que dá para tudo. Dá para o dono da terra, dá para os gestores… simplesmente temos que ter noção daquilo que vale a caça.
Só para lhe dar uma ideia, um corço custa em média mil euros. Um animal tão pequenino… só o direito de o matar são mil euros. São três, quatro, cinco mil euros por matar um veado. Esse rendimento deve vir para quem suporta a caça, para o dono da terra. É evidente que a solução desse problema é difícil. Nós estamos numa região de minifúndios. A propriedade está muito dividida mas, se nós tivéssemos outra estrutura agrária era dar a caça ao dono da terra, porque há algo que nós não podemos nunca esquecer. Quem é que suporta a caça, quem é que lhe dá abrigo, comida e bebida? É o proprietário, é o dono da terra, esse é que deve ser o grande beneficiado com a caça e, se nós queremos que as pessoas suportem as espécies que nós gostamos de caçar, temos que lhes dar algo em troca.

As montarias atraem gente de todo o país a Trás-os-Montes. Que benefícios advém dessas actividades para a região?

Olhe, se não fosse o javali, em termos de movimentação de caçadores, em termos, até mesmo, sociais, nós tínhamos entrado num marasmo muito grande. Hoje as pessoas que vêm para cá caçar perdiz e lebre são uma gota de água. Agora, as grandes deslocações, não há dúvida nenhuma, são as montarias.
Sinto um certo orgulho e uma grande satisfação em poder dizer que Bragança teve a primeira montaria no país depois de um grande interregno em que realmente não houve montarias em Portugal. Desde mil novecentos e setenta e pouco até mil novecentos e setenta e sete não houve montarias em Portugal e  a primeira montaria que se fez em Portugal, depois desse interregno, foi em Bragança e foi uma montaria muito especial. Aqueles que defendam o lobo e que são os grandes amantes do lobo são capazes de ficar arrepiados mas, nessa montaria, mataram-se três javalis com mais de noventa e cinco quilos e mataram-se cinco lobos em Deilão mas, durante muitos anos vinham a Bragança pessoas desde o Algarve a Lisboa, do Ribatejo, do Alentejo, às montarias.
Eu aproveito para cumprimentar o senhor Presidente da Câmara por ter recriado, lá em baixo, no fundo da avenida do Sabor, aquela imagem dos burros da Aveleda. Inclusivamente, aqui há uns anos, tive a ideia de recriar aquela cena, mas ao vivo. Que as pessoas percorressem a cidade como se fazia na década de quarenta, cinquenta. Dez, onze, doze burros a deslocarem-se, a vender a palha, as brasas, o carvão, a lenha.
Eu acho interessante aquilo, mas vou fazer um desafio ao senhor Presidente da Câmara. Que numa das praças ponha um javali, porque eu considero que o javali foi um factor de divulgação de Bragança. Há gente que há vinte e cinco anos vem a Bragança, todos os anos, às montarias e, por exemplo, no encontro venatório há gente que tem frequência em todos não tem uma falha e vem gente todos os anos de Madrid, Salamanca, de Oviedo, de Zamora de Lisboa… as montarias são importantes, deslocam muita gente a Bragança e Bragança deve muito aos javalis porque foi, realmente, um factor de divulgação e de promoção e há pessoas que hoje continuam a vir a Bragança todos os meses.
A zona de caça de que sou gestor tem caçadores de Lisboa e do Porto que vêm a Bragança todos os meses. Qual é a atracção? É o javali.

Os nossos recursos cinegéticos, talvez pela caça descontrolada que se praticou ao longo de muitos anos estão muito debilitados. Neste momento a lei é muito mais rigorosa e exigente. Será esse o caminho ou deve-se apostar na educação e formação de todos os caçadores. O que é que é mais importante?

O grande problema da caça em Portugal é que nós temos caçadores a mais para a área de caça que temos. Eu que já fiz uma análise da situação da caça em quatro países: Itália, França, Espanha e Portugal. Onde tem maior área por caçador é Espanha e destes quatro países é aquele que tem a menor área e Itália.
A caça, em Espanha, é importantíssima. É grande fonte de receita de turística. Tem uma área de cerca de quarenta hectares por caçador. A Itália está nos vinte e poucos, uma situação caótica. Portugal tem mais ou menos trinta hectares por caçador e está numa situação intermédia.
O problema de Portugal é que tem caçadores a mais para a área de caça que realmente tem. Se nós somos muitos candidatos a ver um espectáculo e se não cabemos lá todos temos que… tem que haver uma selecção e Portugal tem que conter o aumento do número de caçadores e está a fazê-lo através dos exames para a carta de caçador mas, se nós queremos, realmente, rentabilizar a caça, temos que fomentá-la e há uns anos, a esta parte, que ando a chamar a atenção das pessoas responsáveis.
Uma zona de caça tem que, todos os anos, dizer aquilo que vai matar. Era muito mais importante que dissesse aquilo que vai fazer para que haja caça. Porque, a uma zona de caça, não lhe é exigido o que é eu vai fazer para ter caça, é só exigido dizer “vou matar tantas espécies”.
O que é preciso é mentalizar e dar formação, não só aos caçadores. Qual é o espírito e a ética da caça?
Infelizmente, muitos caçadores portugueses não têm a ética e a noção de que estão a utilizar um recurso que tem limitações. Um recurso natural mas que tem os seus limites, tem as suas próprias regras e, portanto, qual é o mal da caça em Portugal?
Primeiro: os gestores das zonas de caça não fazerem nada pela caça, ou melhor fazem mas, fazem pouco. Á caça é preciso proporcionar-lhe alimento, melhorar-lhe os bebedouros, as zonas de refúgio. É preciso fazer por ela, é preciso fomentá-la, é preciso criá-la e, depois, o caçador também tem que ter uma noção de que deve utilizar a caça com disciplina, com regra, com ética e a maior parte dos caçadores, ainda há pouco tempo tive a oportunidade de dizer isso numa reunião e num jantar onde estavam cinquenta caçadores que, uma das coisas que a mim me magoa é, por exemplo, que todos queiram matar numa montaria. Não podemos matar todos numa montaria. Caçar não é só matar. Caçar é desfrutar da presença da caça, analisar aqueles actos de caça.
Este ano tive uma cena terrível, que me chocou. Fui a uma montaria e no final, alguém veio ter comigo e diz-me assim: “Sinto-me roubado (mas com cara de mau).” “Porquê?” Não vi um javali.”
Então, ir a uma montaria onde há cinquenta, cem caçadores todos eles tem que ver o javali?
Primeiro, nem todos podemos matar, mas caçar não é só matar é conviver, é viver tudo aquilo, conviver com outro caçador, inclusivamente saber interpretar um acto ou outro que ele fez, mas com ética, com disciplina, com respeito total. O caçador tem que ter uma noção à partida. Tem que respeitar o companheiro mas, acima disso, tem que respeitar a natureza, tem que respeitar a caça e nisso, infelizmente, há muito ainda para fazer.
É preciso que os gestores das zonas de caça façam que haja melhores condições para ela se poder reproduzir e é preciso mentalizar o caçador que é preferível matar durante três dias, uma perdiz por dia do que matar dez perdizes num dia e nos outros nove não matar nada.

Fale-nos, agora, da sua experiência como gestor da Zona de Caça Turística da Serra da Coroa.

É para mim uma zona que me proporciona momentos muito agradáveis. Em primeiro lugar porque é uma zona onde existe grande disciplina, controle. Nunca tivemos uma única transgressão dentro da zona de caça e há um respeito por parte das populações locais e que são três aldeias, Mofreita, Dine e Montouto, onde nunca houve um conflito, onde houve sempre uma convivência muito sã, muito agradável, onde tenho a noção exacta de que as pessoas gostam. Não é para elas um fardo, é para elas uma mais-valia, porque o caçador local caça sem pagar absolutamente nada e tem algumas zonas onde, praticamente, só ele é que caça. Evidentemente, há espécies de caça menor como coelho, lebre e perdiz e tenho a certeza que o caçador local está satisfeito. Os agricultores não têm problemas com prejuízos. Têm rendas pagas a tempo e pagamos seis mil euros por ano, são mil e duzentos contos por ano, portanto os caçadores locais caçam gratuitamente, não pagam nada.
Depois disso temos o privilégio de ser uma zona que tem bastantes corços e que realmente estamos a explorar. Temos uma quantidade de javalis que nos permite fazer caçadas todos os meses durante todo o ano e, portanto, independentemente de sentir que a nível local as pessoas estão satisfeitas, não só a nível dos caçadores como também, a nível das juntas de freguesia e, além disso, as juntas de freguesia fazem parte da administração. Aquilo é um concelho de administração onde as juntas estão representadas pelo seu presidente e portanto eles têm uma participação activa na zona de caça.

Toda a zona tem direito de voto, não é?

As juntas de freguesia intervêm e aquilo tem cinco administradores, dos cinco, três são das juntas de freguesia, estão até em maioria. Depois, há o aspecto social e a caça tem um aspecto social muito importante que proporciona durante dez dias por mês gente que se junta para caçar. Ainda ontem veio o ministro da Agricultura com dois amigos que saíram do Porto. Vieram, caçaram, conviveram, petiscaram, desfrutaram de uma lareira e isso é realmente agradável.
A componente social é hoje muito importante porque tem gente de todos os níveis desde Lisboa ao Porto, sou daqui desta região e para mim é algo muito importante que me proporciona muito prazer. Mofreita, a zona de caça, está a vinte e sete quilómetros de Bragança.
Posso dizer-lhe que nos sete dias da semana pelo menos quatro ou cinco vou lá é chego a ir lá dez dias seguidos, por exemplo. Normalmente só não vou uma ou duas vezes. Hoje não vou por ter uns anos de família, mas vou sempre que posso e com muito prazer, aquilo é agradável. Tem uma casa de guarda recuperada onde se está muitíssimo bem. Tem todas as condições, uma boa lareira, água quente, tem luz de gerador de gás e tem uns candeeiros.
Julgo que em termos de gestão de zonas de caça, não me fica bem dizer isso mas, é um exemplo, porque temos zonas onde não há perturbação, onde não há montarias por causarem muitas perturbações, grandes agitações, nas espécies.
Além disso, há uma coisa que é muito concreta. Se nós transformarmos a gestão da zona de caça, se transportarmos o modelo de gestão da Zona de Caça Turística da Turicorço para a Lombada, a Lombada recebia de renda qualquer coisa como doze mil contos, porque vale isso e muito mais.

Sendo sócio do Conselho Internacional de Caça desde 1969, quais são as principais diferenças entre a actividade cinegética que se pratica noutros países e a que se pratica em Portugal?

A caça, nalguns países, é do Estado e noutros, é dos donos da terra. Por exemplo, nos países de Leste que eu conheço, como a Roménia, quem explora a caça é o Estado. Então, a caça está explorada de uma maneira muito disciplinada. Hoje, é quase, de certeza absoluta, a maior fonte de riqueza, de receitas pela via do turismo na Roménia e, para fazer uma ideia do que realmente vale a caça, a Roménia está neste momento a utilizar várias espécies, o javali, o urso, o lobo e o corço. Para lhe dar uma ideia, matar um javali na Roménia custa no mínimo quarenta contos, o acto de matar, porque depois há as outras componentes, tem de pagar transportes, estadia, acompanhantes e essa coisa toda. Matar um lobo é relativamente barato aos preços que se estão a praticar, por exemplo, na Espanha.
Se hoje fosse aberta a caça em Portugal havia quem pagasse mil contos para matar um lobo. Um corço, na Roménia, também anda na ordem dos cento e cinquenta contos, mas um urso, a taxa mínima é de mil e setecentos contos e pode atingir três mil e quinhentos contos.
Respondendo à sua pergunta, concretamente, há várias situações de caça, onde a caça é ordenada e ordenar a caça é realmente ter o cuidado de dizer “aqui há tantas espécies, temos de lhes proporcionar condições de alimentação, de refúgio, podemos utilizar x espécies”.
Isto chama-se ordenar a caça. É uma grande fonte de receita. É evidente que para ter muita caça é preciso ter áreas onde haja realmente uma vivência humana, áreas selvagens, silvestres.
Já lhe disse há bocado que nos países que têm muitos caçadores, a caça está realmente em piores condições e nos países latinos, o que está pior é a Itália. Hoje, matar um melro em Itália já é bom e não é por acaso que os Italianos vêm para Portugal para matar tordos.
Nos países onde a caça é do dono da terra, a caça aí, também, está muitíssimo bem, porque o proprietário é senhor absoluto, domina todas as componentes, controla todos os factores que podem proporcionar mais ou menos caça, desde a utilização dos solos, agricultar ou não agricultar, limpar ou não limpar. A caça, quando está na terra de alguém, é realmente onde ela se encontra melhor, com maior rentabilidade e nos países onde a caça é do Estado, no caso dos países de Leste, é a grande fonte de receita.

Vinhais é um dos concelhos mais bonitos de Trás-os-Montes. A sua diversidade é uma riqueza de que ainda não soubemos tirar partido. Acha que estamos no bom caminho, ou o concelho de Vinhais é uma região condenada à desertificação?

Falo um pouco pela minha própria vivência, pela minha própria apetência de viver no campo. Considero-me talvez, um campesino e Vinhais é dos concelhos mais bonitos, não por ser o meu concelho mas é dos concelhos, mais bonitos porque tem muita diversidade. Aqueles vales, com aqueles lameiros, com aquelas arborizações… então, em termos de caça, o concelho de Vinhais, toda a zona da serra Coroa, dava um couto turístico de alto gabarito.
Mas nós temos de ter a noção de uma coisa. Os concelhos, para terem desenvolvimento e produzirem riqueza, têm que ter recursos e têm que ter gente mas, as pessoas só podem estar nas localidades, nas terras, nas cidades, nas vilas, nas aldeias se houver postos de trabalho, porque as pessoas não vivem do ar, da paisagem e o grande problema de Vinhais é que realmente não tem postos de trabalho e nós temos de ter uma noção, hoje, eu sou um bocado pessimista em relação ao nosso Portugal, ao nosso país, porque temos uma agricultura que não tem viabilidade.
Não temos indústria aqui e, aquela que temos, estamos a perdê-la porque há mão-de-obra mais barata. Em termos comerciais as grandes superfícies abafaram os pequenos comerciantes e, portanto, com a agricultura que temos, com a indústria que não temos, com o comércio dominado pelas grandes superfícies, que futuro é que tem a nossa região?
E aqui transporto-me para Vinhais. Se Vinhais não tiver postos de trabalho, se não souber aproveitar a riqueza da gastronomia e os valores naturais, a paisagem, é evidente que neste aspecto Vinhais tem algumas dificuldades. De qualquer maneira, hoje, só vai viver para o campo quem não viver de um rendimento directo onde vive, ou tem uma reforma ou tem rendimentos noutro lado e Vinhais, não tendo postos de trabalho, não pode fixar pessoas. O número de habitantes terá sempre as suas limitações, embora que eu considere que a nível de Trás-os-Montes, Vinhais é dos concelhos mais ricos em termos de paisagem, gastronomia. Vinhais é uma terra extraordinária, tem que apostar na natureza e na gastronomia e a caça pode ser um factor de valorização do concelho de Vinhais.

Para terminar, que personalidade ou personalidades mais o marcaram ao longo da sua vida?

Duas, muito fortemente. A nível regional Camilo de Mendonça. Foi um homem que soube ler, viver e prever o grande futuro. O Cachão era uma grande obra e tudo aquilo que ela fez em termos da organização da lavoura, de arranjar escoamento para os produtos e fomentar, entusiasmar as pessoas a produzir aquilo que tinha saída. Foi uma pessoa de grandes visões.
Em termos mais próximos, o padre Firmino Augusto Martins, que era o padre na minha freguesia. Uma pessoa com quem tive uma convivência muito forte. Inclusivamente foi o meu primeiro empregador. Era um homem inteligente, era um pastor, tinha um grande dom de palavra, era um homem de uma clarividência e, veja, foi Presidente da Câmara de Vinhais, sendo um padre de uma freguesia do norte, da serra, durante vinte anos. Em determinada altura, houve uma guerra com o Ministro das Finanças por causa da construção do terminal de Vinhais. Era um homem que sabia aquilo que queria, sabia enfrentar os adversários quando eles se lhe apresentavam e para ir para casa dele que era em Tuiselo, passava-se à minha porta. Nunca vi nenhumas eleições, a nível nacional, desde o Presidente da República, a Assembleia da República, que os políticos, uns dias antes, não fossem bater à porta ao Sr. Padre Firmino para pedir a colaboração dele porque ele era uma pessoa, um homem que sabia ajudar quem precisava, conhecia os caminhos da solução das coisas. Era realmente um homem extraordinário, de uma inteligência sem par e vale a pena ler os livros que ele escreveu sobre folclore. Era um homem de uma oratória fácil, um homem que admiro e sendo um padre de uma freguesia do concelho de Vinhais tem o nome nas ruas de Bragança e Vinhais e além disso o ciclo preparatório de Vinhais teve o seu nome. Uma pessoa que me marcou muito.

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