terça-feira, 1 de julho de 2014

Estamos sem orçamento há três anos para actividades.

Envolver o Museu Abade de Baçal na comunidade é o objectivo da directora deste espaço cultural, instalado em Bragança. Ana Maria Afonso depara-se, no entanto, com algumas dificuldades financeiras para desenvolver actividades, mas assegura que não vai baixar os braços e vai continuar a lutar para enaltecer o Museu Abade de Baçal.

Jornal Nordeste (JN) - Como é que define este espaço cultural?
Ana Maria Afonso (AMA) – É um espaço extraordinário. Eu diária que é a alma transmontana, porque nós temos efectivamente aqui a Cultura, a História, a Memória deste nosso território, que é Trás-os-Montes. Um acervo muito diversificado, com uma amplitude cronológica muito vasta, que nos fala de toda esta História e de toda esta Cultura.
Abade de Baçal está aqui presente pelo seu nome, pelo patrono, pelo seu busto, há várias peças que o referenciam. Temos aqui a sala dedicada ao Abade de Baçal, temos o seu acervo, temos os manuscritos, a correspondência, a biblioteca, ou seja todo este edifício respira Abade de Baçal.

JN - Desde que assumiu a direcção do Museu Abade de Baçal, que a sua preocupação é trazer as pessoas para que conheçam este espaço. A adesão do público a este espaço está a corresponder às suas expectativas?
AMA – Não, não está. Efectivamente nós conseguimos incrementar em muito as estatísticas, a própria receita, a diversificação das actividades, mas ainda não corresponde àquilo que nós pretendemos, que é não haver um cidadão desta região que não conheça o Museu Abade de Baçal. Penso que é uma referência obrigatória. Só quando efectivamente toda a comunidade, quer urbana, quer rural, e estamos a falar do distrito de Bragança, de 12 concelhos, conhecer o museu é que nós poderemos dizer que atingimos esse objectivo. Mas eu acredito que esses públicos virão e para além de virem que sentirão este espaço e depois o ideal é que a programação seja partilhada e a própria comunidade colabore na programação deste espaço.
No ano passado já tivemos mais de 24 mil visitantes, tem havido um aumento, este ano estamos também no bom caminho, mas a verdade é que eu acho que ainda não é suficiente para a riqueza que encerra este museu.

JN - O Museu tem divulgado diversas actividades para se dar a conhecer à comunidade. Tem tido sucesso nesta aposta?
AMA – Tenho tido sucesso, sobretudo na missão da responsabilidade social que os museus também têm, na questão da democraticidade, na questão da inserção social também, na questão da coesão, porque temos tido públicos que nunca tinham vindo antes ao museu, estou a falar de utentes da ASCUDT, da APADI, de pessoas de alguns bairros sociais que vêm também, da comunidade imigrante. E isso tem sido algo que nos tem entusiasmado bastante.
Temos tido projectos com estagiários do IPB que também têm sido bastante positivos. E é nessa senda que vamos continuar.
Em relação às escolas, acho que é uma área que tem que ser muito trabalhada, com novos programas, provavelmente com novos projectos de Educação Patrimonial, com novo material pedagógico. Essa ligação tem que ser muito mais trabalhada relativamente às escolas.
Temos uma equipa pequena, as escolas muitas vezes também se queixam com a questão dos transportes, também com a questão dos programas muito extensos. É preciso trabalhar esta curiosidade, o amor à terra, porque eu acho que isso é fundamental e isso é muito importante que seja transmitido às novas gerações. É uma missão nossa também, mas temos ainda um longo caminho a percorrer nessa área.

JN – A Cultura em Portugal está a atravessar momentos difíceis do ponto de vista financeiro. Na gestão deste Museu também sente essa dificuldade ao nível dos recursos financeiros?
AMA – Sim, isso é inquestionável. Nós estamos sem orçamento há três anos para actividades. E de facto conseguimos ter todas estas actividades, porque a comunidade participa também, muitas vezes são as pessoas que nos trazem as exposições, temos parcerias que nos têm ajudado imenso, neste caso até com a Junta de Freguesia e também com a Diocese, com o Museu da Presidência, que nos tem permitido trazer exposições de carácter internacional, mas de facto tem sido difícil trabalhar sem recursos financeiros.
Estamos agora a preparar algumas candidaturas no âmbito do próximo quadro comunitário de apoio, que nos permitam ter projectos mais ambiciosos.
Porque isso também tem sido um obstáculo grande, quer a falta de recursos financeiros, quer a falta de recursos humanos.

JN - Que personalidade ou personalidades a marcaram mais ao longo da sua vida?
ANM – Eu diria que é o Abade de Baçal, uma pessoa extraordinária, que vai fazer agora 150 anos, que conseguiu de facto deixar-nos uma obra extraordinária. A forma como amou a História, como amou este território, todo o seu legado, faz dele uma figura e uma personalidade fascinante, que eu muito admiro.

Destaque
“Estamos agora a preparar algumas candidaturas no âmbito do próximo quadro comunitário de apoio, que nos permitam ter projectos mais ambiciosos”.

Retirado de www.jornalnordeste.com

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