(Esta entrevista foi realizada em 2004. Jorge Manuel Nogueiro Gomes, era, então, Presidente de Direcção do NERBA, Núcleo Empresarial da Região de Bragança.)
A pessoa que mais me marcou foi o meu pai que partiu muito cedo mas, que foi uma referência muito grande para mim e que eu gostava muito de conseguir ser o que ele foi. Depois, houve uma pessoa que me marcou muito ao nível do ensino, o célebre professor Ilharco. Quem me estiver a ler e for do meu tempo lembra-se de certeza absoluta. Era um homem duro, era um homem que tinha uma régua chamada Santa Luzia e que não perdoava quando fumávamos um cigarrito, quando nos apanhava a faltar, era extremamente severo. Depois, pela positiva, há um grande amigo a quem presto solidariedade e que foi uma pessoa que também me marcou bastante, o Armando Vara, de quem sou bastante amigo e com quem criei uma afinidade muito forte e que acho que foi uma pessoa muito importante para o nosso distrito. Numa época mais recente, surpreendeu-me pela positiva o actual presidente da Câmara.
O Jorge nasceu em Bragança, na freguesia da Sé, que recordações guarda da sua meninice e da sua juventude?
Uma freguesia bonita, uma cidade muito simpática, muito pequena onde toda a gente se conhecia. Nasci na Avenida João da Cruz, com entrada pela Guerra Junqueiro, e recordo-me muito bem do Toural que hoje é o bairro junto à Capela de Santo António que era um descampado então, onde jogávamos a bola na nossa meninice. Para além de ainda podermos jogar a bola na rua porque carros ainda não havia, não passavam. São recordações de uma cidade muito saudável, uma cidade sem competitividade, uma cidade com algum respeito pelo ser humano, uma cidade mais próxima de tudo mas, sobretudo, mais solidários, todos, uns com os outros.
De que forma o facto de ter nascido nesta cidade e nesta região o marcou?
Marcou-me tanto que vivo cá há 52 anos e isto é a maior marca que se pode ter. É uma cidade onde se criou, com muita facilidade, a amizade, onde se criou, com muita facilidade, o respeito, a solidariedade, embora com todas as diferenças sociais que houvesse, algumas muito complicadas mas, também, a vida que tínhamos… ninguém nos impunha regras, éramos muito livres de viver. Marcou-me sobretudo, de facto, o crescer da própria cidade que eu acompanhei e a que tenho estado mais ou menos atento mas, o conseguir manter nesse crescimento a criação de novas amizades, de novos conhecimentos ou seja, na cidade ainda hoje ninguém me é estranho quase, ninguém é desconhecido e isto é… é impossível sair de cá.
Nunca sentiu necessidade de sair?
Já senti e já pensei, enfim, há fases da vida em que uma pessoa se cansa um pouco de conhecer toda a gente, de não termos direito à nossa ida no passeio tranquilos e sossegados. Mas no dia em que isso nos falta apetece-nos voltar imediatamente porque de facto isso é mais agradável do que desagradável, é bom sentirmo-nos acarinhados pela pessoas, é bom darmos carinho também aos outros.
Que recordações guarda da Escola Industrial e das rivalidades existentes entre a Escola e o então Liceu Nacional?
Eu não senti muito essa rivalidade porque eu comecei os estudos no Liceu. Fui para o Liceu onde estive três anos, iniciei o primeiro ciclo preparatório que existiu em Bragança que foi aberto junto ao actual Governo Civil, onde funcionava uma secção do Liceu, que era só masculino. A recordação pior que guardo dos meus tempos de estudante era a separação entre o feminino e o masculino, era os muros de quatro metros de altura para não podermos ver as colegas, eram as entradas diferenciadas no estabelecimento de ensino em que as meninas entravam pela escada principal, os rapazes entravam pela rampa, enfim, toda essa separação… dá-me ideia de que isso foi o maior choque… eu quase diria, não digo traumatizasse, mas que foi um choque que na nossa geração foi muito forte. Até porque, isso, criava competitividade entre rapazes e raparigas, criava, não diria algumas agressividades porque éramos todos muito amigos mas…
Mas isso não servia de nada porque saiam do portão para fora da escola e juntavam-se todos não era?
Juntávamo-nos mas era sempre com alguma dificuldade porque quase nunca nos conhecíamos, o convívio mais importante que se poderia ter que era o convívio de escola, o convívio saudável, esse não existia. Era tudo cá fora, cá fora para os que podiam porque muitos tinham horários rígidos para entrar em casa, enfim, era só a conversa ao sair da escola. Mesmo nas brincadeiras cá fora havia muita separação entre rapazes e raparigas.
Era complicado namorar então?
Era, os namoros também eram diferentes e eram exactamente vividos com as circunstâncias que se tinham, havia regras mas, namorava-se. Ia-se namorando.
A rivalidade que existia entre a Escola e o Liceu era uma marca importante que havia em Bragança. O Liceu era dos leiteiros, a Escola era a Escola Comercial e Industrial que era a escola da cadela mas, depois tínhamos os chícharos que eram os que estudavam no Colégio S. João de Brito. As rivalidades existiam entre os três. Como lhe digo, tive a felicidade… porque a minha opção foi para o Liceu… era demasiado bom aluno (risos) e então decidi transitar para a Escola porque se calhar era mais fácil, pensava eu. Eu já trazia os amigos todos que tinha no Liceu e vim para a Escola, integrei-me na Escola e passei a ter os amigos da Escola mais os do Liceu. Mas, havia rivalidades fortes, ou seja, ser aluno da Escola era ser de segundo nível. Os chícharos viviam um pouco à parte porque lá havia alunos que frequentavam os dois estabelecimentos de ensino, era um regime de internato.
Era interessante, convivíamos todos, fazíamos campeonatos de desporto entre todos, aí é que as rivalidades vinham ao de cima, mas tudo bem, recordo-me mesmo que o desporto que pratiquei na Escola Comercial onde participámos em campeonatos nacionais, proporcionou-nos alcançar classificações bastante interessantes. Recordo-me que em basquetebol fomos uns campeões, ficámos em terceiro lugar a nível nacional, éramos superiores ao Liceu. Isto era interessante embora o Liceu fosse superior em andebol. Tínhamos todas estas questões, era engraçado. Algumas rivalidades apareciam nos momentos mais complicados, sobretudo, de manifestações académicas ou desportivas mas entre nós, cá fora, as coisas resultavam muito bem, porque vivíamos todos na mesma rua, a cidade era pequena. Depois também tínhamos as rivalidades de bairros, o Bairro da Mãe d’Água na altura ainda estava em nascença mas era complicado, havia o Bairro da Coxa, a Vila também, o S. Sebastião era muito complicado, a João da Cruz, enfim. Íamos jogar à bola ao bairro deles e, às vezes as coisas corriam menos bem: perdíamos na bola e perdíamos na pancada. Recordo isto com muita saudade pelo ar saudável que tinha embora bater e levar nunca fosse agradável.
Depois do futebol havia sempre molho…
Havia sempre o lanche, era importante irmos com o lanche para casa.
Como viviam os jovens de então?
Bragança era uma cidade bastante interessante, eu deixei de estudar muito cedo, não cheguei a concluir o último ano comercial mas, mantive sempre muito contacto com a vida académica porque tinha lá os meus amigos e convivia muito com eles. Era uma cidade com uma vida interessante, uma vida académica muito bonita, uma vida boémia bastante interessante. Fazia-se vida boémia com 16 e 17 anos. Com 18 anos já se andava pela rua com ar de adultos. Nós, os mais novos, também andávamos mas entrávamos em casa às nove da noite e depois… lá tínhamos uma varanda que nos permitia, depois de os pais adormecerem, sairmos. Não tínhamos os cafés que há hoje, nem os pubs, nem nada disso mas, tínhamos um Verbo que era uma tabernazinha. Hoje, Bragança não tem nenhum estabelecimento com o historial do Verbo e sobretudo com o que se vivia lá dentro.
Então, se os pais quisessem encontrar os filhos tinham alguma dificuldade…
Os pais sabiam que não podiam encontrar os filhos, que era melhor não encontrarem os filhos, era melhor deixá-los viver um pouco da sua juventude. Tínhamos de facto coisas interessantíssimas para a época, tínhamos a rota das tabernas mais características, começávamos pelo Zé da viela, íamos ao Figo Seco, íamos ao Horta, íamos ao Américo da Estacada, corríamos as tasquinhas em que a gente não fazia mais do que passear, outros cantavam, outros riam, outros bebiam um copo, um bebia aqui o outro já não bebia ali, com 16, 17, 18 anos. Vivia-se bem, vivia-se muito na rua, íamos para o jardim. O Jardim António José de Almeida era um jardim muito frequentado pela juventude, onde se vivia com tranquilidade, onde se estava bem, sobretudo onde a juventude comunicava muito.
A sua vida profissional está intimamente ligada ao mundo empresarial, é fácil ser empresário em Bragança?
Eu penso que ser empresário não é fácil em lado nenhum, em Bragança muito menos. O conceito de empresário, hoje, já nem sei onde começa, nem onde acaba. É melhor dizer entidade empregadora. É mais correcto porque abrange as várias áreas de negócio e realmente ser empresário é algo muito difícil. Chegar a esse patamar é difícil. Em Bragança as coisas complicam-se muito mais porque a cidade não tem aumentado em termos de população. De há 10 anos para cá aumentou cerca de 1%, 2%. O negócio está a ser visto muito como um escape para quem, por vezes, não lhe apetece estudar.
Eu tenho uma tradição comercial de família, tanto da parte da mãe, como do pai, costumo dizer que nasci atrás de um balcão. O meu pai tinha uma empresa já de alguma dimensão, bastante interessante, e eu não fugi à vertebrazinha de ter vontade de criar as minhas empresas. Passei momentos maus, como todos. Passei momentos bons que são muito agradáveis mas, vai havendo mais momentos maus do que bons, no entanto, considero-me realizado profissionalmente.
Não foi um percurso muito difícil, com muitos precipícios, teve alguns tombos mas, sempre assumidos e sempre de pé e com o respeito de toda a gente o que quer dizer que o comportamento não foi de todo errado. Viver hoje em Bragança como empresário não é fácil. A população não tem aumentado e abrem negócios a todo o momento. É evidente que estamos num mercado aberto, não tem que haver contingentação de abertura de negócios mas tem que começar a haver uma moralização na abertura dos negócios. Isto quer dizer que qualquer pessoa, por qualquer razão, ou apenas só porque sonhou à noite que devia ser comerciante ou empresário, é-o de manhã. Depois, admiramo-nos muitas vezes com o insucesso, o negócio não pode ser tratado por impulso. Nós enquanto comerciantes podemos e devemos aproveitar as compras dos nossos clientes por impulso porque essas também são muito rentáveis, agora sermos comerciantes por impulso normalmente não dá certo. Há que criar alguns critérios, há que criar algumas regras para se ser comerciante.
Dou-lhe só um exemplo, estou agora aqui a falar consigo de repente lembro-me e vou abrir um restaurante. Abro um restaurante e decido que sou eu que cozinho, eu que nunca peguei numa panela. Abro o restaurante e as pessoas porque abriu, porque é interessante vão lá comer e não há responsabilidade rigorosamente nenhuma em quem confeccionou a comida. Ninguém pode ser engenheiro sem estar inscrito numa ordem que reconhece que as pessoas tem formação para o ser, como ninguém pode ser advogado sem estar inscrito numa ordem que reconheça que tem formação e mesmo assim saem bons e maus advogados, bons e maus engenheiros, bons e maus médicos…
Ora, a classe empresarial não tem regra rigorosamente nenhuma. Há que começar a criar regras que habilitem o comerciante para definir o seu negócio. Basta dizer isto, uma coisa é ser empresário enquanto investidor, então aí tudo bem, a pessoa recorre-se dos seus quadros técnicos para poder ter esse negócio mas, quando é o próprio, tem que ter realmente qualificação para isso. Dei-lhe o exemplo da alimentação porque todos vamos a um restaurante e não sabemos quem nos fez a comida nem sabemos se está habilitado a fazê-lo mas, não tenho problema nenhum em que queiram abrir um restaurante, o que eu acho é que a pessoa que quer abrir o restaurante deveria ter, no mínimo, um cozinheiro com cartão profissional, um chefe de mesa com cartão profissional. Então, teríamos garantia de bom atendimento e tínhamos garantia de boa confecção.
Para isso se fazem os cursos de formação profissional?
Sim, para isso se fazem os cursos. Então, aí apareceria o empresário enquanto entidade investidora e que tinha quadros qualificados para a actividade a desenvolver. Quando é o próprio empresário a abrir o negócio que desconhece totalmente, até desconhece totalmente o que é o mundo do negócio é evidente que temos muitos insucessos em Bragança, como temos em todo o país.
Porque não haver o mínimo de regra e de cuidado? Ou criar, o que também não seria muito difícil, comissões de acompanhamento de negócios, uma situação interessante para as associações empresariais em que se acompanhasse o jovem que quer abrir um negócio, que disponibilizassem algum acompanhamento e apoio. Posso dizer-lhe que no NERBA há programas próprios e tem acontecido desenvolve-los nas empresas já existentes e esse trabalho pressupõe todo o tipo de consultoria, desde a criação de um plano estratégico para a empresa até ao acompanhamento desse mesmo plano.
E além disso formações contínuas?
Formações contínuas para empresários, também é importante, também temos formação contínua para trabalhadores. É preciso também que se crie aqui alguma regra na formação profissional, não só para o empresário como também para o trabalhador. O trabalhador frequenta a formação profissional e regressa ao seu trabalho e não tem mais-valias rigorosamente nenhumas. Isto não pode ser porque, ou o trabalhador está a criar mais valor, está a criar um valor acrescentado na sua sabedoria depois vai empregá-lo, ou não, na empresa onde está mas, não lhe é reconhecido, muitas vezes, o esforço que ele faz pós-laboral para ter maior qualificação. Então, tem que haver, na formação profissional, alguma cumplicidade entre trabalhador/patrão para que ele seja incentivado pela entidade patronal a frequentar a formação profissional mas, depois, deve poder usufruir de alguma regalia quando regresse à empresa com essa nova formação, nomeadamente, a regalia que mais conta habitualmente que é a material. Isto tem que ser reconhecido, ou seja, temos de criar este tipo de importância para as partes.
Tem desenvolvido grande actividade associativa, é, sem dúvida nenhuma, muito interventivo. É difícil motivar o investimento em Trás-os-Montes?
É difícil motivá-lo não só para quem está cá, como para quem queira vir de fora. Não se conseguiu ainda criar para esta região e para outras regiões do interior, uma decisão política para retirar o interior da depressão em que está, a depressão económica que arrasta para outras. Tem de haver uma decisão política forte que diga: “Vamos retirar o interior do caos e da interioridade”. Pergunto-me sempre: “Mas porque é que um investidor do Porto vem investir a Bragança? Tem mão-de-obra qualificada? Mentira. Tem mão-de-obra mais barata? Mentira. Tem regalias para vir para cá? Mentira.” Ou seja, qual é a mais-valia dele vir instalar-se a Bragança? A única regalia que pode ter é que para a estratégia do seu negócio seja importante estar em Bragança, do resto não tem mais nada. Quando falo em Bragança que é a nossa terra reporto-me a todo o interior do país. Neste momento se quiser instalar uma empresa que tenha como objectivo produzir para atingir grandes mercados, não posso ficar em Bragança, tenho de ir já para os grandes mercados. Mas se eu criar uma empresa em Bragança e se os meus trabalhadores não pagarem IRS, e se a empresa não pagar IRC ou tiverem redução no IRC, se a empresa tiver terrenos gratuitos para se instalar e apoios do governo, já cá posso ficar e ser rentável.
Seria muito mais fácil…
Os empresários fazem as suas contas e os trabalhadores também. Nós para instalarmos aqui determinado tipo de indústrias, quando falamos em indústrias na nossa região, em indústrias que não sejam poluentes mas, falo mesmo em indústrias de nova tecnologia ou de tecnologia de ponta. Se quisermos instalar uma indústria aqui não temos mão-de-obra qualificada para isso. Então pergunta-se: o que é que vamos fazer para que essa mão-de-obra que existe eventualmente no Porto, em Braga ou Aveiro, ou Lisboa, o que vamos fazer para a trazer para cá? Só dando regalias a essa gente. Porque nós já temos muita gente hoje em dia desses grandes centros que gostaria de viver em Bragança, mas também se interrogam: “Porque é que hão-de vir?” “Que vantagens usufruíram?” Era importante que o Estado, o governo tivesse realmente uma posição política de apoio à deslocalização das pessoas senão continuamos com a fuga do interior para o litoral. É mais apetecível, até tem mar para além de tudo o resto.
Como presidente do NERBA está satisfeito com o que se tem feito?
Não, é impossível. Eu não me quero definir como um lutador mas, bem pouco ambicioso seria se estivesse satisfeito. Não estou, acho que poder-se-ia ter feito, se calhar, muito mais mas não se conseguiu. O trabalho associativo é muito complicado, isto é de uma carolice impressionante. Há muita gente que pensa que eu ganho dinheiro por estar no NERBA, há gente que pensa que quando se está à frente de uma associação empresarial se ganha dinheiro. As pessoas não sonham sequer o tempo que se gasta, o tempo que uma pessoa perde. Perdemos mas, ao mesmo tempo, ganha-se porque se está no associativismo. As energias que uma pessoa desprende para fazer associativismo! Eu tenho um conceito de voluntariado, o associativismo é um voluntariado. Para mim o voluntariado exige mais responsabilidade do que o que se exige a um trabalhador no seu trabalho. Num trabalho estou porque me pagam, no trabalho estou para cumprir uma determinada missão, no associativismo estou porque quero, por voluntariado, logo, tenho que estar disponível 24 horas ao dia. Essa é a função de qualquer pessoa.
Porque tem que mostrar serviço…
Sim, porque uma pessoa que está em qualquer serviço voluntário tem obrigações para com a sociedade. Eu tenho obrigações para com os empresários. Não me preocupo se sou reconhecido ou não, é a coisa que menos me preocupa. Tento conseguir muitas coisas e o NERBA tem feito muito, não sendo nunca o suficiente. Não tem tido muito a preocupação de divulgar tudo o que faz ou seja, não há necessidade desse protagonismo, não há necessidade de dizer: “Fizemos isto e foi bom”. Divulgamos as acções com algum cuidado e, acções que penso que fogem do normal. De resto envolve-se muita acção no associativismo e o NERBA conseguiu, depois de alguns tempos maus que também, passou. Hoje é uma estrutura credível. O NERBA, hoje, é presidente da União das Associações Empresariais do Norte, não se chega aí por acaso, é porque alguma coisa está feita, é porque há algum reconhecimento.
Semeou-se para se colher?
É evidente, semeou-se para colher. Tem-se uma instituição credível, faz parte do Conselho Estratégico Regional, parece que não mas, é uma coisa a nível nacional que é importante, é a vice-presidência. Estamos a trabalhar muito na reformulação do associativismo nacional, é uma das associações que está extremamente empenhada. É evidente que tudo isto sai do bolso de quem o faz. É muito duro fazer associativismo mas, é muito bonito e é muito gratificante.
É mais por carolice?
É por carolice e, repare que, sinto-me bem a fazê-lo. Não peço que ninguém me agradeça nada porque ninguém tem que agradecer nada, sinto-me bem a fazê-lo. Sinto que estou a fazer algo pela nossa terra e pela classe empresarial, que é fundamental, tem de ser feito.
O pavilhão reúne as condições necessárias para o bom desenvolvimento de qualquer tipo de exposição/mostra?
Não, infelizmente não. Estamos a fazer um trabalho sério com a Câmara Municipal de Bragança para tentar reformular o pavilhão, para fazer ali um pavilhão, não quero dizer um pavilhão multi-usos mas, um pavilhão com multi-função. É fundamental retirar aquele tipo de cobertura que tem, não é de facto uma cobertura que permita fazer determinado tipo de eventos porque no Inverno é insuportável com o frio, no Verão é insuportável com o calor. Temos este tipo de dificuldades e em Bragança com nove meses de Inverno, três de inferno, isto diz tudo. Depois tem aqueles pilares centrais que também pretendemos tirar.
Limitam muito o espaço.
Limitam muito o espaço e obrigam a muita manobra, a muita organização de espaço. Estamos com a Câmara Municipal, com quem temos uma excelente relação, estamos a tentar fazer uma reconstrução daquele pavilhão, bem como o arranjo de todo o espaço exterior, onde se possa fazer todo o tipo de eventos de ar livre e quando, para determinados eventos não sirva o pavilhão, temos toda aquela zona exterior. Tudo aquilo pertence a uma estrutura empresarial mas, é bem que as pessoas se apercebam é pertença da comunidade, só assim é que tem importância e valor. Temos lá um auditório que, se calhar, é o melhor auditório da cidade e que eu continuo a dizer que aquele auditório é para ser usado. Bom será o dia em que se diga que está gasto se não, não vale a pena ter as coisas, as infra-estruturas não são para se guardar, não são para se esconder. É evidente que quando alguém o quer utilizar tem que pagar os custos, mas isso é natural. Aquilo é para ser usado por toda a gente, conseguimos, com muito esforço, que a semana académica passasse para lá, que a semana do caloiro passasse para lá porque eram feitas em instalações que não davam dignidade nenhuma à cidade.
Neste momento têm uma das melhores semanas académicas do país…
Exactamente, isso é importante. É importante que haja sítio para estacionar os carros, é importante que haja belíssimas casas de banho como o NERBA tem, é importante que haja um bom pavilhão, como é importante que as pessoas estejam num sítio que seja saudável, onde tem as tasquinhas para funcionar, onde tem o espaço exterior que dentro de um ano ou dois espero que esteja lindíssimo, onde realmente os pais venham e possam ver os seus filhos na semana académica, deixá-los porque a semana académica é dos filhos nunca é dos pais e perceberem que estão num sítio saudável.
E quanto aquele espaço exterior, aquele esqueleto em cimento que está ali há já alguns anos. O que é que vai ser feito?
Aquele esqueleto não é do NERBA, aquele esqueleto foi do NERBA, aquilo foi pensado numa direcção anterior à minha para a construção de uma escola hoteleira. A escola hoteleira nunca chegou a ser autorizada nem a ser feita. Foi feito aquele esqueleto e depois ficou para o IEFP. Neste momento ainda não sabemos o que é que vai ser feito ali, compete ao IEFP decidir, no entanto vamos ter uma reunião de direcção brevemente onde eu vou apresentar uma proposta para o NERBA tentar negociar com o IEFP para novamente ficarmos com aquilo. É fundamental aproveitar aquela estrutura que está lá criada, o NERBA parece-me que é a única entidade que tem condições para realmente fazer alguma coisa.
Mas está pensado para curto prazo?
Nós já pensámos, como lhe disse, é uma proposta que vou fazer à direcção. No entanto, em conversa com o senhor presidente da Câmara vemos que há possibilidade de fazer um projecto conjunto. Ou por outra, um projecto do NERBA apoiado pela Câmara. É toda uma zona industrial que se desenvolve ali, quem sabe criar ali infra-estruturas de apoio, alguma coisa é importante fazer daquilo.
A Espanha é aqui tão perto, a nossa centralidade é indiscutível. Na sua opinião, enquanto presidente do NERBA que possíveis caminhos se deverão seguir para que esta região tenha um desenvolvimento sustentado e efectivo?
Tivemos uma fase em que dizíamos: “De Espanha nem bons ventos, nem bons casamentos”. Isto foi uma fase em que realmente estávamos de costas voltadas. Hoje e, com algum trabalho que tem sido feito por muitas entidades, nomeadamente pela Câmara Municipal, por nós e outras entidades, temos o caso da Fundação Rei Afonso Henriques onde somos os membros de honor porque somos sócios fundadores, a Câmara Municipal também e mais gente, o Instituto Politécnico. O Instituto Politécnico, não nos podemos esquecer, é a maior indústria que Bragança tem. Todas essas entidades atravessaram esta fase sempre a estabelecer laços com Espanha. Nós, NERBA, temos projectos conjuntos de Portugal com Espanha, temos projectos de cooperação entre o NERBA e a ACOCPIM que é a congénere de Zamora. Temos vindo a desenvolvê-los, foi interessante, neste projecto de cooperação, uma ida a Praga, ou seja, dos novos países que entraram na Comunidade Europeia a primeira delegação empresarial oficial que visitou um desses países foi composta por empresários de Bragança e Zamora.
Como decorreu essa ida a Praga?
Muito bem, vai ser feito um balanço a curto prazo, surpreendeu-nos pela positiva. Essa delegação empresarial já foi ao nível de Portugal/Espanha, o que quer dizer que os empresários já estão a cooperar. Como se vê já temos empresários espanhóis instalados em Bragança, como temos já empresários de Bragança instalados em Zamora. Isto é muito agradável, as comunidades começam a misturar-se, o que quer dizer que Bragança também está a ganhar centralidade. Já temos a centralidade geográfica que essa está demonstrada, temos a centralidade mais importante que é a centralidade de boa vizinhança, de relação negocial, de relação cultural e essa é de facto muito importante. Temos um projecto bastante grande do NERBA e da ACOCPIM em que entra o Instituto Politécnico de Bragança e o Instituto Politécnico de Zamora, mais o Centro Tecnológico de Valladolid que envolve energias alternativas, recuperação sobretudo da biomassa, mata, lixo das florestas, tudo isso. É um projecto ambicioso, bastante interessante mas, esperamos que seja aprovado. É ao nível do INTERREG, portanto é uma aprovação europeia. Continuamos a trabalhar e a cooperar que é o fundamental e não podemos esquecer de que nós só precisamos de um click para que Bragança se desenvolva mais, que é a ligação de Bragança a Espanha, na minha opinião é fundamental ligar Bragança à auto-estrada das Rias Baixas. Entendo que isto só não acontece porque não temos massa crítica, somos poucos.
Ou falta de vontade política também?
É essa, quando digo que somos poucos é, exactamente, no sentido do voto. Se nós tivéssemos 50 deputados já tínhamos dez ligações a Espanha. Só temos quatro, os quatro que temos são muito poucos, não é representativo de organização governamental. O não abrir esta via é exactamente porque pode prejudicar algumas entradas que o país já tem. Então continuamos nós a ser penalizados. Pergunto-me porque é que Bragança não foi uma entrada para o destino EXPO 98?
E agora para o Euro 2004?
Para o Euro 2004 também não somos e porquê? Eu, às vezes, atrevo-me a perguntar se se pretende fazer aqui uma reserva humana? Muito bem, mas que o digam e que ponham o arame farpado para eu não poder sair.
Eu até digo de outra forma, se quiserem até podem fazer uma reserva de caça e ao fim-de-semana vêm os senhores doutores do sul…
Tudo bem e põem-nos a nós como reserva humana porque isto é a forma mais degradante de poder definir a falta de vontade política de todos os governos sobre o interior e, sobretudo, sobre o interior Nordeste, não tem havido rigorosamente cuidado nenhum.
O professor doutor Telmo Verdelho disse numa entrevista que fez o favor de nos conceder que a UATD passaria a chamar-se UAD, Universidade de Alto Douro, já que parece inevitável o avanço das comunidades urbanas. Chegará finalmente a Universidade de Bragança?
Penso que não precisamos de dividir as regiões para que Bragança tenha universidade, na minha opinião, não é fundamental. Talvez por essa razão, com medo que Bragança tivesse Universidade é que muita gente de Vila Real defendeu que deveria haver uma só comunidade, isso não tenho receio nenhum de o dizer. Eu defendi sempre a comunidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, se mais não fosse porque trabalhei muito pela Regionalização. Quando digo que trabalhei muito, não é que tenha trabalhado muito em tempo, mas trabalhei com convicção para que a região fosse Trás-os-Montes e Alto Douro e nunca gostei muito de ser incoerente. Devo ter algumas incoerências como toda a gente tem mas, defendi sempre a região e a comunidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. Eu ainda não percebi a aplicação prática das comunidades mas se, eventualmente, for uma divisão tão forte em termos administrativos e que se crie tanta autonomia, Bragança, com legitimidade, continua a pretender ter a sua universidade.
Mas parece-lhe provável, com a visita do Primeiro-ministro no 10 de Junho, que já anunciou a universidade de Viseu, que Bragança possa estar mais perto de ter a sua universidade?
Eu nunca falei com o senhor Primeiro-ministro, nunca tive essa oportunidade. Penso que uma pessoa para ser Primeiro-ministro tem de ser uma pessoa de bem. Ser uma pessoa de bem, pressupõe ter palavra. Ouvi-o, ainda não como Primeiro-ministro dizer que, se fosse governo, iria criar a Universidade de Bragança. É evidente que acredito nele e na palavra dele, até prova em contrário. Se bem que ficasse um pouco preocupado quando esteve em Bragança um ministro que disse que o que se promete nas campanhas eleitorais nem sempre é para cumprir. Se assim é, concluo que as pessoas não são sérias.
Mas a deputada Paula Malojo disse que o mandato ainda não chegou ao fim…
Claro e, por isso, digo que acredito no senhor Primeiro-ministro que disse que nesta legislatura iria criar a Universidade de Bragança. Temos que esperar com alguma tranquilidade, é evidente que também com alguma atenção e admito que o senhor Primeiro-ministro não vai dar o dito por não dito e vai criar a Universidade de Bragança. Para mim que, sempre lutei também por ela aliás, o primeiro movimento que foi lançado, era eu presidente da Associação Comercial e Industrial de Bragança. Não pode ser nunca feito à margem do Politécnico, é impensável. Isso é urgente que aconteça, este Politécnico trabalhou muito para isso.
Ou seja, se já assim é uma indústria grande, ainda vai ser maior?
Exacto. Muita gente não tem noção do que é o Politécnico, muita gente olha para o Politécnico como uma escola que tem sete mil alunos, quinhentos docentes, trezentos auxiliares, não faço ideia do quadro que tem, mas eu olho para o Politécnico de outra forma. Olho para o Politécnico primeiro, como uma mais-valia muito importante para a nossa cidade, que é a juventude, isto é fundamental. Apesar de as pessoas se queixarem muito que eles partem os bancos, partem os semáforos, isso são as irreverências da juventude. Uma cidade que tem sete mil estudantes só num estabelecimento de ensino tem de ser uma cidade preparada para aturar isso.
Tem que haver de tudo….
Repare se todos nós temos ali uma mais-valia, temos de estar preparados para suportar tudo isso. Quando digo suportar tudo isso, enfim, há limites para tudo, é óbvio. Sete mil jovens na rua, do Politécnico, mais os jovens do ISLA, mais os jovens de outras escolas, mais os jovens do secundário, Bragança deve dar-se por feliz pela quantidade de juventude que tem, isto é importante. Essa é a primeira mais-valia, a segunda mais-valia é aquilo que as pessoas nem se apercebem. Nós temos senhoras e senhores que vivem de uma reforma de cento e cinquenta euros, pouco mais. Hoje têm a sua pequena reforma e mais um quarto que alugaram a um jovem. Essas pessoas duplicam os seus rendimentos, o que é importante mas, o factor mais importante e que tem um jovem dentro de casa, já não está só. Isto também é um rendimento que o Politécnico nos traz e nos dá. Ou seja, o Politécnico, para além de ser a maior entrada de dinheiro na nossa região, é a mais-valia da juventude e sobretudo os quadros que se radicaram já em Bragança e que vivem em Bragança. Portanto, o Politécnico é, de facto, a maior indústria da nossa cidade para além de nunca podermos esquecer que é um centro de saber, não só a nível de professores, como de alunos e também, é um recurso que existe mesmo para as entidades empresariais.
Fala-se muito da falta de acessibilidades e da desertificação desta região. Ajudarão os IP’s e os IC’s a melhorar os problemas da nossa interioridade e abandono a que estamos votados pelo poder central?
Eu costumo dizer que os IP’s, os IC’s e auto-estradas tanto levam como trazem. Ou seja, não ajudam só a desenvolver uma região como também podem ajudar com mais facilidade as pessoas a sair da região. O que não podemos é querer que uma região se desenvolva sem ter boas acessibilidades e sem ter a capacidade de que empresas se possam instalar, quadros…
Eu nunca percebi como é que em Bragança se pretende fazer desenvolvimento ou como é que o governo pretende fazer desenvolvimento quando o desenvolvimento se deve fazer do interior para o litoral, na minha opinião. Quando se pretende que Bragança comece a ter melhores acessibilidades, criam-se sempre acessibilidades do Porto em direcção a Bragança. Quando a auto-estrada chegar a Bragança já criou mais um estrangulamento que há-de ser em Vila Real. Vila Real deu um pulo enorme porque tem auto-estrada e para Bragança continua a ser mais difícil o seu desenvolvimento. As vias de acesso são importantes para uma região, para o seu desenvolvimento e para ajudar a que as pessoas se radiquem nas suas zonas.
Podemos então pensar num futuro risonho para Trás-os-Montes?
Eu tenho o hábito de dizer que o sorriso, somos nós que o fazemos. Andamos, de facto, todos muito deprimidos, a situação do país não é fácil. Nós precisamos de um governo que nos moralize e que nos ajude a sair desta depressão, precisamos de palavras de ânimo. É necessário definir que comportamento adoptar, definir caminhos a seguir, estabelecer objectivos. Não podemos continuar a dizer isto está mau porque deixaram mal. Para nós não nos interessa, para nós o que interessa é como vamos resolver. A comunidade de Trás-os-Montes, na minha opinião, tem uma grande vantagem: somos um povo… eu não diria que somos um povo alegre mas, somos um povo que sofreu muito e que continua a lutar ou seja, Trás-os-Montes não baixa os braços, o transmontano não fica de braços cruzados à espera que venha do céu qualquer coisa, não, somos lutadores. Trás-os-Montes há-de ser aquilo que nós quisermos. É importante que todos nós nos unamos e não comecemos a criar situações de divisionismo. Nós, cidadãos temos que ser os primeiros a fazer força para que isto seja assim.
Que personalidade ou personalidades o marcaram mais ao longo da sua vida?
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