
Na época natalícia que vivemos
o número de postais de Boas Festas vai, provavelmente, superar a astronómica
cifra dos anos anteriores e, contudo, é precisamente nesta altura que a empresa
dos correios anuncia a sua crise crescente por causa da redução continuada e
consistente de serviço. De qualquer forma, como no romance “O
Admirável Mundo Novo” do inglês Aldous Huxley, referido no início,
existe igualmente neste tempo que vivemos e que partilhamos uma reserva
histórica onde os antigos costumes e regras continuam a vincar as mais
ancestrais tradições, crenças e rituais. Que, ao contrário da novela britânica,
não causa qualquer conflito junto dos aderentes aos novíssimos modos de vida e
facilidades tecnológicas modernas. As couves tronchas podem ser compradas numa
qualquer grande superfície com pagamento eletrónico de cartão de crédito, os
momentos natalícios, à volta da lareira que crepita os incadescentes toros de
carrasco serão, seguramente, partilhados e replicados no facebook e qualquer
nordestino da Diáspora pode matar saudades e preservar as tradições de infância
comprando numa plataforma digital a máscara de celebração do solstício que mais
lhe agradar.
Não é necessário emigrar para
poder regressar a casa, após o jantar natalício, num táxi da rede Uber e a
deslocação ao Porto ou à capital para partilhar momentos com amigos e
conhecidos pode facilmente garantir alojamento adequada através do
Airbnb.
Queiramos ou não, o progresso
faz o seu caminho e não se vislumbra forma de o deter, nem sequer de o
abrandar, muito menos de o reverter. Resta-nos a reserva identitária que o
interior, cada vez mais despovoado e, mesmo que acompanhando os benefícios
civilizacionais, vai mantendo e preservando. E assim será enquanto houver gente
que o habite já que não será fácil encriptar o bacalhau, virtualizar o
borralho, digitalizar o calor humano das noites gélidas e programar em
computador o afeto de um abraço e de um forte aperto de mão.
Escrito por José Mário
Leite
Retirado de www.jornalnordeste.com
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