quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

O BRIGANTINO PEDRO TEIXEIRA É CONSIDERADO UM DOS QUARENTA GESTORES DO FUTURO (Entrevista realizada pela Jornalista Olga Telo Cordeiro, para o Jornal Nordeste, Bragança)

Aos 35 anos, Pedro Teixeira, engenheiro civil e director geral de uma multinacional foi considerado um dos 40 melhores gestores portugueses com menos de 40 anos segundo o Fórum de Administradores e Gestores de Empresas (FAE) e o grupo Impresa. Depois de ter passado por Porto, Lisboa e Qatar, está actualmente em Singapura a trabalhar no grupo internacional Bureau Veritas, que tem actualmente 1400 escritórios em todo o mundo e dirige uma equipa de 160 engenheiros. O Jornal Nordeste entrevistou o gestor natural de Bragança para conhecer o seu percurso.

Jornalista Olga Telo Cordeiro

Foi eleito um dos 40 gestores do futuro, um dos 40 melhores gestores portugueses com menos de 40 anos. Como foi receber esse reconhecimento?

É sempre bom sermos reconhecidos e vermos que o fruto do nosso trabalho tem impacto na sociedade, nas empresas e também nas famílias, por via da criação de emprego. É com satisfação que vejo que apesar de estar no estrangeiro, ou também por isso, Portugal continua a estar atento à diáspora e a tentar valorizar a qualificação, o percurso e o desempenho dos seus concidadãos.

O que acha que contribuiu para essa distinção?

Antes de mais as qualificações. Acho que é fundamental que as pessoas enquanto podem e durante o seu percurso académico se esforcem e se qualifiquem nas áreas que gostam mas que também que têm maior procura na sociedade, outro aspecto é sem dúvida a forma como o meu percurso foi acontecendo, começando como engenheiro civil, depois trabalhando na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) e na área da gestão de projectos e fiscalização de edifícios e infra-estruturas, que me levou a entrar numa multinacional e depois todo o percurso que desenvolvi nessa multinacional e o facto de estar a gerir actualmente mais de 160 pessoas, numa empresa com um facturação superior a 10 milhões de euros em serviços. Isto associado à publicação de um livro e outras publicações, ao meu percurso de participação cívica e política, foi todo este conjunto de factores que fez com que tivesse este reconhecimento.

Como passou da engenharia à gestão?

Não foi passar de um para outro, eles complementam-se. Sou o director geral de uma empresa que a Bureau Veritas comprou em 2013, é uma empresa de revisão de projectos, de fiscalização, de engenharia, que tem a parte civil, estrutural e mecânica-eléctrica. É importante ter um mestrado em engenharia civil e depois aumentar as minhas qualificações através de um MBA e a minha experiência de gestão foi aumentado, neste momento, já sou mais gestor do que engenheiro, mas as duas funções não se dissociam, são complementares.

Como foi o percurso de Bragança a Singapura?

Requer alguma capacidade de adaptação a diferentes ambientes. Foi um percurso muito natural, saí com 18 anos para estudar na FEUP, depois mudei-me para Lisboa, para ser o director do departamento de edifícios e infra-estruturas do Bureau Veritas e a experiência correu bem. Depois houve a possibilidade de mudar para o estrangeiro, uma vez que a empresa se estava a expandir para outros destinos e precisava de gestores, na área de engenharia civil, fui então para o Qatar, e passados 3 anos e meio volto a sair, desta vez para Singapura. Foi um percurso contínuo, programado, calculado e com riscos limitados, mas que requer uma grande capacidade de adaptação, porque trabalhei em ambientes muito diferentes, num mercado europeu, sobretudo português e espanhol, depois num mercado de médio oriente, o Qatar em franca expansão, um mercado muito liberal, mas com um investimento público fortíssimo, muitas culturas diferentes, do ponto de vista religioso também bastante diferente do nosso e neste momento Singapura, que é uma cidade extremamente cosmopolita, onde convergem muitas nacionalidades e etnias, a maioria é chinesa e existem muitos malaios e indianos e a comunidade de europeus é menos acentuada.

Escreveu o livro “Novo êxodo português: Causas e Soluções”, que factores aponta em relação a este fenómeno?

O livro foi lançado em 2015 e aborda o fenómeno migratório, depois existe uma análise dos principais indicadores económicos e sociais associados ao saldo migratório, que na altura era extremamente negativo e muito mais grave que o cenário pessimista que o INE previa nas suas projecções e portanto estávamos a viver um período grave em que perdemos aproximadamente 500 mil habitantes num curto espaço de tempo, cerca de 3 anos e era necessário tomar medidas de modo a estancar este novo êxodo português que não tem precedentes, pela qualificação e pelo volume de pessoas que saíram num tão curto espaço de tempo. Mesmo nas décadas de 60 e 70 não foi tão concentrado. Fiz também um questionário a pessoas que estavam em 25 países dos 5 continentes, trabalhei estatisticamente essa informação, de modo a validar algumas das minhas teorias e a partir daí propor soluções. Uma das causas que me surpreendeu e que está no top é a existência de corrupção, claro que há também a questão associada aos salários e progressão na carreira, as diferenças de remuneração, de perspectivas e de qualidade de vida que havia nos períodos de grande austeridade.

Quanto às soluções que foram apresentadas de modo a melhorar o saldo migratório português, ou seja, a diferença entre o número de pessoas que saem e que entram, passa por um modelo que inclui a estagnação ou redução do volume de pessoas que saem. Outra medida é aproximar as pessoas que Portugal mais precisa do ponto de vista da empregabilidade e também aquelas que mais querem regressar, manter uma ligação com a diáspora tão presente quanto possível, porque segundo o questionário a maioria destas pessoas pensa regressar, não no espaço de 2 anos, mas no espaço temporal de 10 anos. Isso até se tem vindo a verificar, por via da melhoria das condições económicas e redução do desemprego. Também porque Portugal está na moda, há uma nova dinâmica de empreendedorismo e também devido a alguns benefícios que já existem em sede de IRS. No livro proponho a criação do estatuto dos cidadãos nacionais regressados a Portugal, ECNERP.

Então, na sua opinião, a saída destes cidadãos não é uma fatalidade?

Sem dúvida, não é uma fatalidade. Houve erros políticos anteriores quando se apelou à saída das pessoas, nomeadamente da geração mais qualificada de sempre em Portugal. Hoje em dia, vêem-se apelos no sentido contrário, ainda recentemente a Associação Industrial Portuguesa (AIP) organizou um evento que juntou grandes empresas nacionais de modo a atrair pessoas. A chamada fuga de cérebros que aconteceu está a causar impacto na nossa economia, porque é necessário o capital humano que em parte se perdeu, estão a tentar recuperar e isso nem sempre é fácil porque quanto mais tempo passa, mais as pessoas se vão enraizando na sociedade. Mas não é um a fatalidade. As pessoas se tiverem oportunidade e perspectivas de uma vida boa em Portugal não vão sair gratuitamente, saem também pela experiência de estar noutros mercados, noutros países, de crescerem profissionalmente, de aprenderem idiomas, tudo isso é bom e positivo, não se pode negar, mas é bom que as pessoas tenham oportunidades no próprio país.

Mas as pessoas mais qualificadas que saíram e que têm um nível de vida e salarial superior ao que teriam cá, vêem-se a regressar?

Eu consigo imaginar-me a regressar, não será para já. Uma das perguntas que estava no questionário era do que estariam dispostas a abdicar para regressar a Portugal, porque do mesmo modo de quando se sai há um ajuste salarial, mas também na qualidade de vida e na integração, quando se regressa também tem de haver uma readaptação ao novo contexto, e essa readaptação inclui provavelmente um salário inferior, mas o custo de vida será também inferior. Depois há factores, como a proximidade à família, que podem ser determinantes, existe o estatuto de não residente para pessoas que estiveram fora de Portugal durante mais de 5 anos que faz com que em sede de IRS só se pague 25%, e isso pode ser uma ajuda para o regresso de emigrantes a Portugal. Mas existem outros factores. Evidentemente que a carga fiscal é muito elevada, mas há ensino público gratuito e o serviço nacional de saúde é bom.

Como olha para a situação que se vive no território português de despovoamento e desertificação humana no interior?

Com muita preocupação. O fenómeno é comparável ao novo êxodo português, houve uma migração das aldeias para a cidade.  Bragança, por exemplo, beneficiou em termos populacionais desse êxodo e isso permitiu-lhe manter a população relativamente estável, apesar de perder população para o litoral, havia a população que vinha das aldeias. Esse fenómeno está a acabar, porque as aldeias estão a ficar cada vez mais desertas e não vão poder continuar a alimentar a entrada de população na cidade e Bragança vai continuar provavelmente a perder gente para o litoral. Isto traduz-se na perda de população, de deputados eleitos pelo distrito, perda de influência e capacidade mobilizadora, e isto é grave. Durante vários anos ainda foi feito um esforço no sentido de dinamizar as cidades do interior e torná-las apetecíveis e atractivas do ponto de vista da qualidade de vida, mas isso parece que estagnou. Tivemos investimentos do ponto de vista das infra-estruturas importantes, como o teatro, o polis, mas que agora desapareceram, também por força da dívida pública portuguesa. Tirando alguns elementos dinamizadores como o Instituto Politécnico de Bragança, que é um bom exemplo, algumas empresas internacionais que se instalaram na cidade, que são de facto dinamizadoras e criadoras de emprego e riqueza, há de certa forma um grande marasmo no interior, não apenas em Bragança, mas em toda a faixa interior, que é extremamente preocupante e com consequências muito visíveis como os incêndios, que não se devem só a isso, mas também, a uma incúria e uma despreocupação relativamente à floresta, ao ordenamento do território, à procura do lucro fácil através da plantação de eucalipto para a indústria da celulose, são tudo factores e consequências graves deste êxodo rural que tem de ser combatido.

Que propostas para mudar esta situação do interior? Ou não é possível travar este êxodo?

É possível travá-lo, há pessoas que defendem que se deve deixar seguir a dinâmica própria das cidades e regiões, e se as pessoas vão para onde se sentem melhor não deve ser feito nada para contrariar isso. Mas eu acho que não, não se deve deixar simplesmente ao livre arbítrio, porque isso vai levar a uma urbanização excessiva e a uma concentração que não é benéfica nas grandes cidades, fazendo com que as pessoas percam muito tempo no trajecto casa/trabalho. Acredito que tem de haver investimento do Estado, vontade, não pode haver um esvaziamento excessivo dos serviços, porque entramos numa espiral que depois é muito difícil de contrariar. Têm de se criar dinâmicas regionais que permitam a fixação das pessoas e criar uma nova dinâmica que privilegie a qualidade de vida. Se estas zonas continuarem a perder serviços de saúde, da administração central e não forem captadas novas empresas estamos de facto condenados. Mas existem bons exemplos, como o IPB ou a Faurecia, que é preciso replicar e aproveitar esta nova dinâmica de pessoas que querem viver com qualidade e também a diáspora que quer regressar, investir e que tem ideias e alguma capacidade de financiamento.

Também foi deputado municipal na Assembleia de Bragança. Continua a acompanhar a política a nível regional e a vida da cidade?


Sim, fui deputado entre os 19 e os 27 anos. Continuo a acompanhar, é algo que me interessa, a cidadania, a participação cívica e os desafios e problemas que Bragança tem. Vi sem surpresa, mas com alguma preocupação, haver uma disparidade tão grande entre o partido mais votado e os outros em Bragança, acho que não é benéfico. É bom que haja alternância, porque há um auto-controlo quando se muda. A disparidade é enorme e vi um artigo que me preocupou sobre a diferença entre os fundos atribuídos às juntas de freguesias que eram do mesmo partido e recebiam grandes montantes e dos outros partidos não. A serem verdade esses números são chocantes. Claro que os outros partidos também têm de criar dinâmicas mobilizadoras com programas autárquicos interessantes e equipas qualificadas, capazes, que compitam com o status quo.

Entrevista realizada pela Jornalista Olga Telo Cordeiro (Jornal Nordeste - Bragança, Portugal)
Retirado de www.jornalnordeste.com 

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