quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

FEIRA DA CAÇA DE MACEDO DE CAVALEIROS A CRESCER E A ATRAIR CADA VEZ MAIS VISITANTES


Esta é uma Feira que surge de uma festa de caçadores, há 24 anos, que acabou por dar lugar a um dos eventos de referência a nível nacional, reunindo milhares de caçadores e curiosos no Parque Municipal de Exposições, onde estão instaladas as naves que já são insuficientes para albergar todos os expositores que procuram o certame.

Benjamim Rodrigues, Presidente da Câmara Municipal de Macedo de Cavaleiros:

Este é um momento icónico no âmbito do turismo de Inverno, tendo em conta que é um dos maiores eventos cinegéticos do país. Traz muitos visitantes, representando um móbil importante em termos económicos para o concelho e para a região, uma vez que mexe com os concelhos vizinhos, até porque só nós, no concelho, não temos capacidade hoteleira para dar resposta a tanta gente durante os dias da feira.
A Câmara Municipal de Macedo de Cavaleiros tem preparado um investimento de cerca de 80.000 euros que se deverá multiplicar várias vezes ao nível do investimento que fica no concelho, tendo em conta o que os visitantes deixam ao nível da hotelaria e comércio local, não só durante os dias da feira, mas também ao longo de todo o ano.
O que começou como uma festa ou uma feira, vai para 24 anos, sendo que como feira da Caça e Turismo, vai fazer 22 anos, é uma iniciativa que toca já vários pontos importantes como o desporto, a competição, o turismo, a economia, faz mexer economia da região.
Esta é uma feira que pode crescer ainda mais. Tem potencial para isso, há ainda muita coisa por fazer. Por exemplo ao nível do turismo de Inverno. Eu dou um exemplo: neste momento estamos a investir na criação de cursos só virados para a cinegética e para o turismo de época, portanto, em breve penso que podemos arrancar com esses cursos, porque vemos grande potencialidade e é óbvio que temos que ter gente criativa, gente que inova e gente com capacidade técnica para este tipo de organizações. A Feira da Caça e Turismo funciona como um âncora para desenvolver e potenciar o turismo de Inverno e de natureza.
Temos já muita gente que vem especificamente para esta feira, com uma grande vontade de participar no espectáculo que é a natureza e a sua dinâmica com animais selvagens como é o caso das montarias, que atraem sempre muita gente de fora.
Tendo em conta que esta feira continua a crescer, não colocamos fora de hipótese aumentar para mais um pavilhão, uma outra nave, porque já se justifica, tendo em conta as solicitações que têm chegado, atendendo ao número crescente, fundamentalmente de expositores espanhóis.
O regresso da corrida de galgos é este ano uma das novidades promete animar ainda mais a feira. Para além disso estão previstos passeios no âmbito da biodiversidade, o contacto com a natureza, o cercado com os corços, temos ainda um centro interpretativo que é único a nível nacional, onde criam exemplares e onde pode ser vista uma exposição em parceria com o Safari Club Internacional, tudo isto reunido são motivos que certamente serão do agrado de todos.

Com a Feira da Caça à porta, falámos com o Presidente da Federação de Caçadores da 1.ª Região Cinegética, Artur Cordeiro, que se mostra optimista relativamente ao sector, apesar dos números apontarem para uma perda de caçadores de ano para ano, estimam-se que neste momento sejam cerca de 370 mil em Portugal. Aponta o dedo ao Instituto da Conservação da Natureza que atrapalha mais do que ajuda os caçadores, bem como o próprio Estado que está mais preocupado com taxas e licenças do que tratar dos reais problemas do sector. Assume ainda que as próprias associações e federações deviam juntar-se mais para trabalhar em conjunto e reconhece que há ainda muito trabalho por fazer pelos próprios agentes que têm a obrigação de promover a caça. O responsável pela federação das associações de caçadores da 1.ª Região Cinegética reconhece que, a dimensão por vezes demasiado reduzida das estruturas associativas não permite organizar e estimular a caça como esta mereceria.

Como analisa o actual momento que atravessamos no sector?
Artur Cordeiro - Nós estamos num meio em que o tipo de caça que tem vindo a conhecer um crescimento significativo é a caça maior. Há dez anos julgava eu que teríamos atingido o pico do interesse neste tipo de caça e, como já se percebeu, tem continuado a ganhar adeptos e espero que daqui a dez anos possa continuar a dizer o mesmo. A razão para que isso aconteça tem a ver com a possibilidade de ver aqui animais ainda em estado selvagem. Às vezes diz-se em tom de brincadeira que, aqui ao lado, em Espanha, os javalis são de “granja”. Nós não queremos isso, queremos javalis nascidos e criados no campo. É verdade que começamos a esticar um pouco a corda quanto ao número de batidas que se estão a fazer, mas também é verdade que o javali tem proliferado bastante, uma vez que não tem predadores. O único predador poderia ser o lobo mas não há lobos em número suficiente para poder ser considerado como tal. O javali tem vindo a revelar-se muitas vezes uma praga, no entanto o Instituto da Conservação da Natureza proíbe a caça em muitas destas áreas, depois claro, temos javalis a ir beber à praia.
O panorama ao nível da realidade da caça mudou. Hoje temos uma geração de caçadores mais formada e sensibilizada para como se devem comportar com a caça. Eu ainda sou do tempo em que havia caçadores a quem tudo o que saísse era para matar. Hoje não é assim, não podemos fazer isso. Sabemos que se o fizermos estamos a impedir o normal desenvolvimento da espécie.

Caçar é um desporto caro?
A. C. - Pode ser encarado como um desporto caro, embora nas aldeias continue a ser possível ser caçador sem precisar de despender muito dinheiro. O problema tem mais a ver com as obrigações legais como taxas, licenças, livretes, mais obrigações para guardar e registar as armas. Se começarmos por aí, é verdade que pode começar a ser visto como um desporto caro e cheio de burocracias. Compreendo o esforço da polícia em ter acesso a um registo mais fiel das armas que existem.

Mas é verdade que há ainda alguma falta de união dos caçadores e dos diferentes organismos que os representam?
A. C. - O que devíamos fazer, e que não estamos a fazer, era criar um melhor entendimento entre as diferentes organizações da caça, acho que ganharíamos todos. Poderia ser um bom motivo de discussão desde logo para uma das próximas edições desta feira, por exemplo.
A existência de associativas é também um factor de desenvolvimento e união locais, por norma são exemplos de boa convivência.

E a caça furtiva, continua a ser um problema?
A. C. - Nem me fale nisso. Continua a ser um grande problema. Na maior parte dos casos são pessoas locais que saem à noite e chegam de madrugada. Os meios de fiscalização são insuficientes para controlar esse problema. Estão mais preocupados em ver se as placas estão bem colocadas.
Acredito que esta feira serve também para sensibilizar as pessoas para esta questão, assim como também potencia o aparecimento de novos caçadores que se vão motivando com aquilo que aqui se vai mostrando. Eu sou um optimista, por isso acho que as coisas vão melhorar.


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