Ontem, ao fim de um dia de trabalho, desloquei-me a uma superfície comercial a fim de efetuar algumas compras.
Estacionei o carro no parque e dirigi-me ao supermercado. Junto da porta de entrada do mesmo, fui interpelada por um homem dos seus quarenta anos, convenientemente vestido, talvez pouco agasalhado, que me disse:
- Minha senhora, dê-me um dinheirinho para comprar comida.
Por norma, não costumo dar dinheiro a pedintes e devo ter feito uma expressão indiciadora dessa minha maneira de ser. Ato contínuo, apercebendo-se da minha expressão, disse, rapidamente, o senhor:
- Ou então, compre-me lá dentro alguma coisa para comer, por favor...
Não sei o que senti. A alma caiu-me aos pés, um nó instalou-se-me na garganta e entrei fazendo um leve aceno com a cabeça ao homem, que o compreendeu.
Estava frio, bastante frio até, em dia de nevoeiro denso...
Os meus olhos, marejados de lágrimas, dificultavam-me a visão. Embotou-se-me o pensamento. Ao passar junto do pão, peguei no maior que lá havia e segui, diretamente ao corredor dos frios, de onde tirei um fiambre. Passei pelo espaço destinado à fruta e coloquei alguma no carrinho. Assim segui até fazer um pequeno cabaz de produtos alimentares básicos. Dirigi-me à caixa, paguei, agarrei nos sacos e saí para o frio da noite onde me esperava o pobre homem, sem pedir mais nada a ninguém.
Entreguei-lhe os sacos e ele agradeceu, sem subserviência, dignamente e, desejou-me Bom Natal...
Agradeci. Quando cheguei ao carro, chorava já, sem pejo das lágrimas que corriam livres pela minha face.
A minha imaginação, sempre criativa, transmitiu-me uma história para aquele homem, pai de filhos, trabalhador desempregado, sem dinheiro para fazer face às necessidades da sua família. Mal agasalhado mas dignamente vestido, não tinha nenhum cigarro na mão. O aspecto era cuidado. Não se notavam vestígios de ingestão de drogas. Era digno na sua, julgo, recente pobreza.
Estamos em 2011. Como será o ano de 2012?
Mara Cepeda
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