Germano Rocha Lima nasceu em Izeda, concelho de Bragança. Vamos convidá-lo a recordar pedindo-lhe que nos fale da sua infância e juventude…
A minha infância foi semelhante a tantas outras. Éramos crianças, muito felizes, crianças que brincávamos, jogávamos ao pião, à bilharda, ao esconde-esconde… não havia televisão, mas éramos tão ou mais felizes, comparativamente com os nossos filhos, as nossas crianças neste momento. Tive uma infância feliz, uma infância com pais, apesar de o nosso pai nos deixar ainda muito novo, mas os primeiros anos, digamos até aos catorze anos, fui efectivamente feliz na minha casa com os meus amigos, onde não se falava em racismos, não se falava nessas confusões todas que temos agora de droga… enfim todos os problemas que os nossos jovens têm agora e começam relativamente cedo, neste tipo de relação com o exterior.
Onde frequentou os seus estudos, até ingressar na universidade?
Comecei exactamente em Izeda, onde fiz o primeiro ciclo, na altura com um único professor, desde o primeiro ao quarto anos, o professor Norberto que vive nesta cidade de quem tenho muito boa impressão e, de vez em quando, o vejo e relembramos os momentos que passamos juntos, curiosamente fazíamos anos no mesmo dia.
Mais tarde, frequentei um colégio, colégio Maristas durante 3 anos, posteriormente voltei para Izeda, ainda com o falecido Padre Cancela, com todas as virtudes e defeitos que eventualmente poderia ter, foi alguém que marcou a Vila. Foi alguém que proporcionou um ensino que praticamente só as grandes cidades tinham, que era o caso de Bragança, e foi aí que muitos de nós, vivendo em Izeda, tivemos a oportunidade de iniciar os nossos estudos e mais tarde seguir o nosso rumo. A partir do nono ano fui para o Porto para casa de familiares onde conclui, no antigo liceu D. Manuel II, actual liceu Rodrigues Freitas, o antigo segundo ano do curso complementar, correspondente agora ao sétimo ano e fiz ainda o último ano do propedêutico no Porto, entrando a seguir na faculdade de engenharia.
O que foi que o levou, depois de engenheiro já formado, a trabalhar nas Minas da Borralha, a enveredar pelo ensino?
As Minas da Borralha foram o meu primeiro emprego. Lembro-me que em 1985, salvo erro, fiz estágio e foi considerado já um primeiro emprego como engenheiro, em que ganhava na altura 30 contos por mês, mas 30 contos líquidos porque tinha casa, tinha comida, tinha todas as condições, digamos então que eram líquidos no verdadeiro sentido da palavra. Nessa altura tive a minha primeira experiência na escola profissional das Minas da Borralha como professor de matemática e, é evidente que adorei e, desde essa altura mais ou menos, ficou marcado o meu destino como profissional, rapidamente a família foi crescendo. Na altura a minha namorada era professora e veio para Bragança era, por isso, completamente incompatível ter dois locais de destino. Esse factor fez com que envereda-se definitivamente pelo ensino, coisa que agora é bastante complicado. Na altura fiquei vinculado ao Ministério de Educação logo no primeiro ano em que dei aulas; hoje em dia andasse anos, muitos anos, para conseguir esse vínculo.
Vive em Bragança já há dezassete anos, aqui nasceram os seus filhos, é esta a cidade onde verdadeiramente quer viver?
Foi a cidade eleita desde muito cedo, a partir do momento que deixei a parte prática do meu curso de engenharia e enveredei pelo ensino, nunca tive outra perspectiva que não fosse Bragança como local de residência.
De há sete anos a esta parte preside ao Conselho Executivo EB2,3 Paulo Quintela, fale-nos da sua escola?
Penso que a escola Paulo Quintela, neste momento, é uma referência a nível local. É uma escola onde encontrei uma grande família, uma família de professores, uma família de funcionários, uma família de alunos. É uma escola que tem evoluído com esta família, que entretanto veio crescendo. Somos hoje, dentro da escola Paulo Quintela, cerca de cem professores e cinquenta funcionários a que acrescentamos, desde há um ano a esta parte, as escolas que foram integradas no agrupamento onde perfazemos um total de mil e trezentos alunos, cerca de trezentos professores, cinquenta e cinco funcionários. É uma escola que pretendemos que seja realizada, pretendemos que quem está se sinta bem, se sinta em casa, porque só assim conseguimos que o trabalho efectivamente renda e tenhamos sucesso e vontade de fazer aquilo que fazemos.
Este ano comemora-se o centenário do nascimento do ilustre bragançano Dr. Paulo Quintela que, sendo de origens humildes, filho de família numerosa, conseguiu transformar-se numa referência a nível mundial. É, com certeza, uma lição de vida para todos nós, não acha?
Certamente que sim, o Doutor Paulo Quintela nasceu em Bragança em 1905, foi o oitavo de dez filhos da família Pires. Mais tarde, na década de quarenta, optou pelo cognome de Quintela que é originário de uma aldeia do concelho de Vinhais que, penso ter sido a aldeia do avô materno. Curiosamente o Paulo Quintela foi sempre um aluno distinto. Dizem-nos agora que, de vez em quando, dava uns tirinhos às aulas mas, efectivamente, o Paulo Quintela fez o antigo liceu, actualmente escola Emílio Garcia com distinção e vou dizer-vos que foi convidado para trabalhar num banco. Terminou o sétimo ano, era muito bom a línguas, tinha sido um aluno brilhante e um banco da localidade quis, de facto, contratá-lo logo de início. O irmão era reitor no Liceu, uma pessoa com alguma influência dentro da cidade e o Paulo Quintela foi fazer os testes a pedido do pai e do irmão mas, tudo fez para não passar, ou seja, deu erros de português, não conseguiu traduzir, porque o objectivo dele, de facto, era mesmo ir para Coimbra, onde ingressou na faculdade de Letras na Universidade de Coimbra, onde foi um aluno brilhante tendo numa fase posterior, como todos sabem, ido para a Alemanha, para Berlim, com uma bolsa de estudos, onde concluiu a licenciatura em 1932, salvo erro e, mais tarde voltou a Coimbra também, com uma bolsa de estudos em 1933, na altura em que o nazismo atingiu o seu apogeu. Paulo Quintela estava ligado, digamos assim, a uma esquerda já existente em Portugal.
Deve ser uma grande responsabilidade ter uma personagem desta craveira como patrono, não é?
É, e essa responsabilidade está a afectar-nos de alguma forma nestas comemorações que decidimos, efectivamente, realizar em Bragança. Paulo Quintela , que para muitos bragançanos é um ilustre desconhecido como alguém já disse mas, se assim é, a culpa é nossa porque nós não fizemos o esforço suficiente para dá-lo a conhecer.
Bragança e as pessoas que têm responsabilidades na cidade, além do nome do auditório e da nossa escola que o escolheu para seu patrono, não têm feito muito para a divulgação daquele que foi efectivamente o vulto de Paulo Quintela. A escola já está há algum tempo à espera deste centenário para poder fazer o “lançamento” definitivo do Doutor Paulo Quintela, daí que tenhamos pegado em tudo aquilo que temos e avançámos com esta ideia junto da autarquia, inicialmente, na perspectiva de conseguirmos apoio financeiro para fazer um busto e a medalha comemorativa. Evidentemente a câmara foi muito receptiva porque entendeu que era necessário fazer justiça a uma das figuras mais importantes da cultura portuguesa e decidiu apoiar a escola, incondicionalmente, em tudo aquilo que quisesse fazer relativamente ao seu patrono. Avançámos com o projecto de lançamento de uma revista comemorativa dos 100 anos que sairá em Dezembro e tem o apoio directo da Porto Editora. Já em Janeiro realizámos um encontro no Instituto Politécnico de Bragança, no auditório Alcino Miguel e, vamos continuar eventualmente com o lançamento de um livro sobre o Paulo Quintela que irá sair com a revista em Dezembro da autoria do Dr. João cabrita.
Sabemos que a escola que preside está a desenvolver uma série de actividades com docentes; a comemoração tem recebido algum apoio institucional sem ser da parte da câmara?
Temos recebido muito apoio da comunicação social. Muitos jornais locais da nos têm contactado, muitos jornalistas locais têm, de alguma forma vasculhado, entre comas, no arquivo e em outros locais, toda a vida de Paulo Quintela, de forma a publicarem alguns artigos com coisas de que pouca gente, neste momento, tem conhecimento.
Paulo Quintela é mais conhecido pela sua actividade enquanto tradutor de alemão, mas também pela sua acção à frente TEUC, teatro de estudantes da universidade de Coimbra que, algumas vezes, trouxe a Bragança, nomeadamente em 1959. Existe uma placa comemorativa na rua Alexandre Herculano, na casa onde viveu. Acha que a sua obra tem merecido a atenção devida?
Efectivamente não. Paulo Quintela tem sido o ilustre transmontano desconhecido, um ilustre transmontano a que a terra não deu o devido valor. Não é por acaso que Paulo Quintela tem uma rua com o seu nome em Coimbra; não é por acaso que tem também um auditório na faculdade de Coimbra e, efectivamente, em Bragança, tirando aquilo que estamos a fazer neste momento, pouco se conhece da sua vida e a obra.
Paulo Quintela foi, por vários vezes, condecorado e premiado pelo governo alemão, pela grandeza da sua obra, verifica-se aqui o célebre ditado “Santos da terra não fazem milagres”?
Sabe, que isto é uma questão política. Paulo Quintela seria hoje, digamos, o correspondente a alguém de esquerda, mas esquerda mesmo, aquela esquerda do PS. Paulo Quintela foi condecorado em Portugal no ano de 1985, já numa fase muito posterior à vinda dele e posso dizer-lhe que Paulo Quintela foi proposto a deputado da assembleia constituinte em 1974 pelo PS curiosamente só que, efectivamente, nessa época, perdeu as eleições, não foi eleito deputado por Bragança e entrou numa fase em que a idade já começava a pesar.
Fale-nos um pouco mais das actividades desenvolvidas por Paulo Quintela?
Paulo Quintela, basicamente, é conhecido pela sua obra no âmbito da tradução de obras alemãs; tem alguns ensaios em português e tem, sobretudo, a actividade dele no TEUC de Coimbra, onde foi fundador e director durante mais de 30 anos. A nível do governo alemão teve duas medalhas significativas, uma de prata e uma de ouro do Goethe Institut, a nível do governo português e mais concretamente da universidade de Coimbra teve a homenagem que referi em 1985.
Fale-nos também um pouco dessas actividades que estão a ser elaboradas para o Centenário de Paulo Quintela.
O centenário de Paulo Quintela está a ser programado desde há dois anos pela escola. Iniciámos em Janeiro com um encontro de educação. Várias acções têm decorrido dentro da própria escola, não directamente relacionadas com Paulo Quintela, mas no âmbito das comemorações do seu centenário. Em Março fizemos o lançamento do concurso literário, concurso literário que envolve, desde alunos do pré-escolar até alunos do 12º ano, incluindo também pais e professores a nível da cidade e do concelho de Bragança. Temos o ponto alto das comemorações no próximo dia 24 de Junho em que vamos ter a inauguração do busto e o lançamento da medalha comemorativa da autoria do Dr. Hélder Carvalho. Vão estar presentes, para além da câmara municipal, que patrocinou todo este trabalho, a própria Universidade de Coimbra, ainda hoje nos ligou o reitor que soube, presumo, através da imprensa nacional que uma escola em Bragança estaria a comemorar o Centenário de Paulo Quintela e nos pediu se poderiam estar presentes na merecida homenagem de alguém que eles conheceram e respeitam, enquanto professor daquela instituição e homem de cultura. No final do ano lectivo paralelamente ao lançamento da revista, está previsto uma homenagem mais simbólica com a realização de uma missa em sua honra e uma visita ao cemitério onde está sepultado.
O anfiteatro da reitoria da Universidade de Coimbra tem o nome de Paulo Quintela. Foi em Coimbra que ele desenvolveu a sua actividade profissional, no entanto foi aqui que ele quis descansar na sua última morada, que comentar?
O Doutor Paulo Quintela era um bragançano e, sendo bragançano, sempre fez questão de facto que os seus restos mortais viessem para Bragança e vieram a seguir ao dia do seu falecimento.
Foi aqui então que ele escolheu ficar eternamente?
Sim, é uma escolha sua, é uma escolha que a família, de alguma forma, também aceitou porque, apesar de estarem distantes, acabam por ter raízes na cidade de Bragança.
Há pouca obra publicada sobre Paulo Quintela. Referimos aqui dois pequenos textos, um de Augusto José Monteiro na revista “Amigos de Bragança” publicado em Dezembro de 1985 e outro de Cristóvão de Aguiar publicado em Coimbra em 1986. A que se deverá essa situação?
Eu penso que são duas vertentes que devemos ter em consideração na obra de Paulo Quintela. Ele, de facto, não foi fazedor de livros, um escritor no verdadeiro sentido da palavra, foi tradutor e escreveu alguns ensaios mas, foi tradutor de uma língua, de poetas e escritores alemães de renome internacional. Não foi por acaso que o governo alemão de alguma forma o homenageou com dois prémios. Aqui, a nível local, o afastamento de Paulo Quintela durante muitos anos, ele viveu em Bragança apenas na sua juventude, passou grande parte da vida dele em Coimbra e, digamos que a Alemanha pode ser considerada um segunda pátria para Paulo Quintela. Neste momento como lhe disse, Bragança está a trabalhar na obra do Paulo Quintela e está-se a trabalhar actualmente na publicação de um livro que pensamos publicar no final deste ano civil, em Dezembro.
Acha importante que as escolas desenvolvam uma vertente cultural?
Isso é uma das funções da escola. Hoje as escolas não são só as de aprendizagem, os currículos… a escola hoje é um pouco de tudo, é a vertente cultural, vertente dos currículos, é a vertente do saber viver, do saber estar, do saber, de alguma forma, comportar-se e essa vertente cultural está sempre presente no nosso dia a dia.
Para quando uma rua com o nome de Paulo Quintela?
Olhe, essa questão já a colocámos à câmara municipal e fizemos uma proposta muito concreta; ao que julgamos saber vai ser aberta uma nova rua entre a Av. D. Sancho e o mercado que fica contínuo à nossa escola no actual campo do 30, e propusemos à câmara que a essa rua lhe seja atribuído o nome de Paulo Quintela, por motivos óbvios, já que a escola está ao lado e propusemos, também, nessa altura à câmara que investisse mais algum dinheiro e enveredasse por uma pequena rotunda onde se erigisse uma estátua a este ilustre bragançano; o busto que vamos inaugurar na nossa escola penso que é bonito, que está bem conseguido, mas é apenas uma parte simbólica da homenagem que nós queremos prestar a Paulo Quintela.
Falemos agora de Trás-os-Montes que tem perdido uma quantidade alarmante de alunos nos vários níveis de ensino. Em sua opinião a que é que se deve esta situação?
A razão é fácil, os casais não têm os filhos que tinham, por exemplo, os nossos pais. Eu sou o sexto dos filhos dos meus pais, Paulo Quintela era o oitavo de dez e por ai fora; paralelamente a este fenómeno, há um outro que é a desertificação das nossas aldeias e da nossa cidade, embora neste momento julgue que há uma certa estabilização relativamente ao número de alunos.
Não acha que uma universidade em Bragança fixaria muito mais gente e traria outras pessoas de fora?
Eu tenho alguma dúvida que traga mais gente porque o nosso politécnico, se calhar, é maior do que muitas das universidades que temos em Portugal e, então, se se falar nas universidades particulares que estão praticamente por todo o pais, verificamos que muitas delas correm o risco de fechar em breve, porque o número de alunos que segue para a universidade está a reduzir assustadoramente, de forma, que eu temo que em breve muitas das universidades vão ter um número reduzido de alunos e a nova medida do governo, ao que julgo saber, é fechar todos os curso com menos de 10 alunos. Isso vai acelerar muito mais o processo de só ficarem aquelas que têm qualidade e aquelas em que o aluno saiba que, à partida, tem mais hipótese de emprego, porque hoje já não chega ser engenheiro ou ser doutor porque não dá garantia de emprego, seja onde for. Os pais e os alunos têm que pensar seriamente noutro tipo de alternativas e eu tenho uma opinião muito própria, que passa pelo ensino técnico-profissional. A nossa vida e a vida dos nossos alunos, bons alunos, maus alunos, alunos médios, passa necessariamente pelo ensino técnico-profissional. Penso que é ai que temos todos de investir desde o governo, às escolas, aos institutos, é muito importante para o país ter cursos técnicos porque são esses que são procurados em termos de emprego. Ninguém pede um engenheiro ou ninguém pede um professor porque tirou o curso A,B ou C porque efectivamente não há saída profissional.
Espalhados pelo país e pelo estrangeiro encontramos transmontanos de grande valor. Teremos capacidade de os reconhecer ou andaremos muito concentrados no nosso metro quadrado de vida?
Eu digo-lhe mais, nós não os conhecemos, que é diferente. Vou-lhe dar um exemplo muito concreto de um transmontano ilustre que praticamente ninguém conhece: Álvaro Gomes. Ouviu falar nele?
O Álvaro Gomes é um conterrâneo nosso do Parâmio, tem setenta e tal livros publicados, é um ilustre que vive no Porto, é professor aposentado da Universidade do Minho e tivemos a felicidade de o conhecer no encontro de educação que fizemos em Janeiro aqui em Bragança. Foi a primeira vez que ele veio a Bragança na situação de conferencista e para nós foi um prazer enorme; ainda hoje falei com ele, convidei-o a vir às nossas comemorações. É um dos convidados, também, para fazer um artigo na nossa revista e é alguém com muito valor que os transmontanos, neste caso concreto os bragançanos não conhecem, pura e simplesmente.
Por acaso conhecemos Álvaro Gomes e contactámo-lo para o entrevistar. Ele aceitou mas, em virtude de um pequeno problema de saúde, não lhe foi possível deslocar-se a Bragança. Aguardamos por uma melhor oportunidade para concretizar esse nosso desígnio.
Felizmente ainda vai havendo pessoas como vocês que se vão interessando pelos nossos homens e mulheres de cultura.
Voltemos ao tema dos problemas dos nossos jovens… O que podemos fazer para evitar a debandada dos jovens para o litoral e para o estrangeiro?
Só há uma hipótese de fazermos isto que é criar emprego, essa é a única forma de evitar que os nossos filhos vão para fora; temos hipóteses, em termos de estudos, de eles permanecerem cá. O Politécnico já fixa muitos desses jovens; eventualmente, o Instituto de Emprego também tem um papel importante e a Escola Prática Universal, tal como algumas escolas secundárias que já têm neste momento cursos profissionais, o que permite aos nossos jovens sair da escola e terem emprego, fixando-se na nossa região. Mas não é tudo. Falta mesmo é a indústria e o trabalho para todos poderem ficar e quem vem de outras localidades poder fixar-se aqui na cidade e na região.
E as acessibilidades para a região?
Neste momento eu acho que já não é desculpa andarmos sempre com as acessibilidades, lembrarmo-nos que ainda não há muitos anos eu ia daqui ao Porto pelo Marão e demorava sete, oito horas, íamos ao Porto de comboio e demorávamos oito, nove horas. Neste momento o Porto está a duas horas de Bragança em condições normais; Acho que neste momento não é o problema principal a acessibilidade; se calhar, refiro-me mais às acessibilidades em relação à Europa, de estar mais perto de Madrid, de Paris, de outras cidades europeias que, quer a nível terrestre quer a nível aéreo, me parece que são, de facto, mais importantes esse tipo de acessibilidades.
E o futuro dos transmontanos acha que passa pelo turismo?
Passa por nós e o turismo é uma peça essencial nestes parâmetros. O Dr. Francisco Cepeda, no lançamento do livro que fez há relativamente pouco tempo na feira do livro, referia exactamente os vectores que pensa que serão essenciais para o desenvolvimento da nossa região, e eu concordo com ele. Um deles, senão o mais importante, é o turismo; passamos pelo turismo para termos muitos visitantes mas, falta-nos alguma qualidade, nomeadamente nos serviços.
E em termos de infra-estruturas, não acha que estão a ser pouco aproveitadas algumas vertentes naturais existentes em Trás-os-Montes?
Estão a ser pouco aproveitadas efectivamente porque falta a tal qualidade nos serviços. Eu admiro alguns empresários, nomeadamente aqueles que investiram bastante na nossa cidade. Pessoalmente não os conheço mas, admiro-lhes a coragem para estes investimentos na área de Bragança, nomeadamente os hotéis que foram construídos nos últimos 16 anos, porque efectivamente têm muitas camas; Bragança tem neste momento uma oferta fabulosa em termos de alojamento e eu às vezes, questiono-me face á expectativa que lhes foi criada e qual será exactamente o fruto que vão ter desse trabalho e dessas aplicações nas suas economias aqui na nossa cidade.
Quer agora deixar alguma mensagem sobre Paulo Quintela?
Quero. Quero dizer para visitarem a escola Paulo Quintela durante esta semana onde temos exposições de trabalhos feitos pelos alunos da escola e do agrupamento de escolas Paulo Quintela. Quero convidar todos a visitarem a nossa exposição de espantalhos e aproveito também a oportunidade que me dão para convidar toda a gente a ir assistir ao lançamento da medalha comemorativa do Centenário e do busto de Paulo Quintela. Aproveitem também para nos visitarem no dia 23 às nove horas da noite em que vamos ter um desfile de moda da materiais recicláveis feitos pelos próprios alunos que vão desfilar desde o pré-escolar até ao nono ano.
Para terminar, que personalidade ou personalidades mais o marcaram ao longo sua vida?
Nós temos sempre tendência a olhar para os nossos progenitores, e eu não sou excepção. Perdi o meu pai muito novo, tinha treze, catorze anos e das lembranças que nos ficam, fica sempre algo que nos marcou e não esquecemos. Recordo a capacidade que a minha mãe, também já falecida, teve em levar a bom porto a minha educação. Eu tinha catorze anos, a minha irmã, quinze e ela sozinha conseguiu dar-nos uma educação e levar-nos até onde conseguiu.
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