Hélder José Teixeira de Carvalho, nasceu em Carrazeda de Ansiães, distrito de Bragança. Como foi a sua infância?
Recordo com saudade e muito prazer esses momentos de juventude vividos no interior transmontano. Gostei muito das condições que tive e que sei que são bem diferentes das condições que outros encontram, sobretudo os do litoral. Vivi a juventude com muito gosto, com muito prazer e acho que não será por acaso que grande parte da minha prática de cidadão e de professor radica muito daquilo que trouxe dessa experiência de juventude.
Onde fez os seus estudos antes de ir para a Faculdade?
Realmente a partir do agora chamado ciclo preparatório, desci o Douro e fui continuar os meus estudos no porto, onde estudei no Colégio Universal e no Colégio Lúmen e aí fiz o liceu e depois ingressei em Belas Artes.
E que recordações guarda desses tempos?
Custou-me bastante a adaptação à cidade, estava de facto muito enraizado ao interior. E é evidente que também havia a questão familiar. Eu fui para a cidade sem o apoio dos pais. Éramos e somos muitos irmãos e portanto fomos um grupo de irmãos estudar. Alugou-se uma habitação e foi entre nós que a gente conseguiu, de facto, fazer aquele percurso que geralmente é acompanhado pelos pais.
Mesmo assim, o facto de ter os irmãos por perto ajudou a tornar as coisas mais fáceis?
É evidente que os irmãos ajudaram, uma delas era mais velha que eu, a suplantar a falta dos pais, e vale a pena sublinhar esta questão porque realmente isto confirma o que é na realidade. Nós, no interior, lutamos um pouco mais, sofremos um pouco mais, precisamente por não termos condições, neste caso da educação e, portanto, tínhamo-nos desenraizado do meio e da própria família para lutar e vencer, essa questão no meu caso, foi realmente uma questão que me levou a sofrer bastante, realmente custou-me a adaptar à cidade. É evidente que hoje estou perfeitamente adaptado à cidade. Mas, como digo, a fase inicial, todas as convenções e regras e os processos, os meios, os métodos, o falar, tudo isso causava alguma confusão num meio completamente ignorado. Na altura eu fui para o Porto com 14 anos e antes tinha estado no Porto duas vezes, conhecia mal a cidade, tinha poucos dados sobre a cidade.
Mas o tempo lá o habituou...
É evidente que nos fomos habituando. Começa a conviver-se e a encontrar referências que se vão também, entendendo e a gente depois há-de saber entender as normas e as regras que realmente, às vezes, são diferentes e as condições. A verdade é que a partir do momento em que se começou a estudar a gente fazia o percurso à terra trimestralmente, só no período das férias é que a gente voltava a reaver os pais e o ambiente de que tinha saído.
Acabado o liceu ingressou na Escola Superior de Artes Plásticas. O que o levou a seguir esse caminho?
É curioso, realmente houve sempre alguma apetência da minha parte para o brincar e o lidar com as matérias, com os materiais, tentar moldá-los… mesmo no desenho parece que, desde tenra idade, houve alguma apetência para desenhar, houve algum incentivo de algumas pessoas amigas. Na altura, poucas noções tinha sobre o que é que me ia esperar ao ingressar num curso de belas artes mas, realmente, depois dei conta que era por ali que eu me sentia capaz de realizar e, portanto, a experiência, apesar de o período ter sido de alguma instabilidade ao nível das estruturas, porquê ainda vou apanhar o período pós 25 de Abril mas, a experiência no curso acabou por ser frutuosa, sobretudo todo o experimentalismo que surgiu após a revolução. Aceitei aquilo com um certo agrado porque surgiu uma abertura bastante grande e a liberdade de a gente poder evoluir e sem condicionalismos de academismos e isso tudo no meu caso acho que me ensinou alguma coisa.
Um percurso que faz lembrar Graça Morais. Não é?
É provável. Eu não quero comparar-me, de modo algum, a Graça Morais que passa em belas artes talvez três, quatro anos antes de mim. Ainda frequentámos a escola juntos, estaria eu, talvez, no primeiro ano, portanto conheço pouco do percurso dela na escola. A verdade é que a Graça segue um rumo que lhe permite a projecção que ela hoje tem. Ela vai para os grandes centros, vai para Lisboa e para além da apetência e da capacidade inata dela, é evidente que a aproximação aos centros de decisão ajuda sempre muito para poder divulgar a nossa obra.
Está tudo mais próximo também…
É evidente. Isto parece que não mas, interfere muito e quem está capaz de recordar os trinta anos atrás é capaz de sentir… embora o Porto tivesse algum dinamismo, é evidente que Lisboa era o centro das decisões, digamos que ao nível, sobretudo da arte contemporânea, Lisboa era, de facto, a referência que tínhamos no país. O Porto começou depois a evoluir um pouco mas, até chegarmos a Serralves, passaram-se quase trinta anos.
Depois de acabar o curso universitário regressou às origens ou, pelo contrário, deixou-se seduzir pelo Porto?
É uma boa pergunta porque eu achei que, depois de ter acabado o curso, talvez sentisse alguma obrigação de vir para o interior tentar corresponder com algo dos conhecimentos adquiridos e vim de facto para o interior dar aulas. Foi no interior que eu comecei a dar aulas. É evidente que senti que não teria as condições necessárias para evoluir um bocadinho mais, dado que, paralelamente ao ensino, gostei sempre de continuar a fazer a obra plástica e, no segundo ano, tive de voltar às origens, neste caso à cidade, centralizando-me no Porto, onde, entretanto, passei a residir. Essa experiência cá em cima foi, penso eu, frutuosa. Foi aqui que eu comecei a praticar a leccionação mas, comecei a ver que, de facto, tinha poucas hipóteses de poder projectar-me ao nível das artes plásticas e então voltei à cidade, ao litoral, na certeza porém de que não esqueci o interior. É um facto que no interior não tinha acesso aos materiais, à troca de experiências, de contactos, de gente que opine, era tudo mais carente.
É co-fundador da Associação Recreativa e Cultural de Carrazeda de Ansiães e colaborou também na criação da Cooperativa de Artes e Ofícios Dom Lopo. Que importância tem para si a participação nestas duas iniciativas?
Eu voltei ao interior centrado numa coisa: promover serviços ligados à educação de adultos, e nessa qualidade dei um pouco mais de implemento a um querer próprio que é o de dar um contributo como cidadão interveniente no meio, neste caso dar um contributo recreativo e cultural, e é aí que apareço ligado a algumas associações e cooperativas onde procuro, naturalmente, dar o meu contributo ao nível da minha área na tentativa de sensibilizar as pessoas para a arte, envolvendo nesses projectos, para a preservação e manutenção do património que a gente conhece, que é o nosso, é aquele que nos identifica como uma região com características muito próprias na minha opinião e que, infelizmente, já pouco cuidado vai havendo no sentido de as preservar, das potenciar e de as manter vivas.
E isso preocupa-o?
Realmente é uma preocupação minha ver a globalização e todo este sistema que hoje a gente conhece, sistema que visa suplantar estas micro culturas que não têm condições de subsistir porque ninguém olha para elas, ninguém trata de ver onde está o seu potencial e o seu interesse, tudo na base do interesse que há para motivar as pessoas à procura daquilo que as identifica, que as caracteriza e que, afinal de contas, é a cultura delas, ou era.
Julgo saber que foi actor, tendo participado um curso de actores sobre a direcção de Roberto Merino, no teatro experimental do Porto. Fale-nos dessa experiência.
Essa experiência é passageira. Quando há bocado se comentava o problema da ligação à cidade e de como se tornou difícil integrar-me num meio que me era hostil numa determinada fase, depois também se tornou mais fácil até porque, como digo, havia alguma liberdade. Realmente, a ida para a cidade foi também deixar a referência… os pais deixam de representar aquele papel de liderar um pouco sobre o nosso evoluir na juventude e, por mim, integrei-me nalgumas experiências de dinâmica cultural no meio onde estava inserido na altura, dentre as quais essa experiência de teatro que já tinha experimentado na aldeia mas, que me parecia que podia ser curioso, mesmo ao nível de adquirir um à vontade que, quer queiramos quer não, também é importante na própria actividade de professor. Uma pessoa sentir-se à vontade perante uma turma, ou perante um agregado para expressar-se e transmitir conhecimentos, é uma mais-valia. Nesse aspecto essa experiência foi bastante curiosa porque constatei que me ajudou a ultrapassar eventuais erros de dicção e de à-vontade, boa expressão e ainda, a experiência em si que também foi muito interessante. Na altura havia ao nível do teatro um período efervescente de dinamismo e de inovação experimental. Roberto Merino era uma pessoa que vinha como desterrado da revolução de Allende, do Chile e chegou com novidades ao nível das práticas de encenação e aprendizagem do teatro e da expressão corporal. Foi uma experiência muito interessante. Entretanto, claro que a experiência não teve continuidade porque eu não me sentia capaz de, ao mesmo tempo, dar o meu contributo num grupo de teatro e concluir o meu curso que era, afinal de contas, o mais importante, o curso de belas artes.
O teatro foi uma brincadeira, digamos assim?
Para além do passatempo e da brincadeira houve, de facto, uma experiência que me trouxe dividendos curiosos, mesmo para a prática profissional de professor. Para além do mais, o próprio teatro, em determinados níveis e em determinadas áreas vai ao encontro também das expressões plásticas. A expressão corporal, que tem a ver com as encenações, com a criação de cenários, com a própria luz e, portanto, acho que também aprendi; inclusive, no meu quarto ano, apresentei um projecto numa das disciplinas, que era, precisamente, o cenário de uma peça de teatro que foi depois realizada no anfiteatro de belas artes e avaliada nessa altura e, no fundo, o teatro trouxe-me um pouco mais para a vertente do próprio curso de belas artes que eu estava a tirar ao mesmo tempo.
A sua vida está ligada ao ensino e à escultura. Serão essas duas facetas, indissociáveis?
Não direi que podem ser indissociáveis, agora, na minha prática de vida, naquilo que eu perspectivo para o futuro, queria continuar precisamente a desenvolver uma parte ligada à produção plástica e outra ligada à leccionação.
Sempre esteve ligado à escultura de cariz regional. Tem muitíssimas obras espalhadas pelo país e também no estrangeiro. Sente que a sua obra é valorizada?
Não sei se ela merece ser muito valorizada. Aquilo que tenho feito no âmbito das artes plásticas pode ser dividido em duas áreas: uma tem a ver com a realização de encomendas e aí os condicionalismos são vários, as pessoas são muitas vezes muito concretas naquilo que querem e, portanto, dão pouca margem ao escultor para poder, ele próprio, dar espaço à sua capacidade criativa e à inovação. E depois há uma outra vertente que se prende mais com a execução de obra sem esses condicionalismos e que, geralmente, é a obra que tenho mostrado em exposições. Aí já se poderá dizer que há outra liberdade e, portanto, admito que por aí se possa, a médio e longo prazo encontrar algum valor mais concreto ao nível da real qualidade daquilo que, afinal de contas, é o que eu crio.
Sente-se limitado na sua criatividade, quando lhe dizem por exemplo: “eu quero isto; é exactamente isto que eu quero”. Sem lhe darem essa tal margem de manobra de criação.
É evidente que me sinto preso. Mas, também entendo, se não entendesse seria complicado. Que haja alguns condicionalismos no que respeita àquilo que, geralmente nos cumpre, a nós, escultores, fazer: que é fazer obra pública para um determinado público. Eu considero que deveremos, até onde for possível e, também, não temos que dar “a papinha toda” mas, deveremos ter em atenção o público que vai usufruir da obra; porque sendo uma obra pública é uma obra de todos. Se eu for para uma galeria apresentar os meus trabalhos, eles podem, eventualmente, ser adquiridos por instituições públicas e por privados e esses têm o direito de tornar mais privada uma peça que gostem. Indo para o espaço exterior, pessoalmente, acho que deveremos aceitar que o público não entenda tudo o que hoje é considerado arte e, como tal, deveremos criar algumas excedências, porque também acho que é pedagógico não apresentar formas demasiado abstractas ou difíceis de interpretar sem que o público tenha condições para poder interpretá-las, sem que tenha formação. E nesse ponto se aceitam alguns condicionalismos e é por isso que eu vou aceitando alguma obra pública mediante os condicionalismos que me são impostos.
É sócio fundador da Confraria Queirosiana de Vila Nova de Gaia. Fale-nos disso.
É um projecto que eu acho bastante curioso. E posso dizer-lhe que a minha ligação à Confraria vem do início. Primeiro, gosto da obra do Eça, por sua vez sou o executor da escultura do Eça de Queirós que existe precisamente em Canelas, em Vila Nova de Gaia e é uma das peças que me deu mais gosto fazer. Aparece num espaço muito bonito, muito vivido, um espaço com muita história para o autor, para o Eça de Queirós, e embora seja um espaço pouco conhecido é um espaço muito agradável, que vale a pena visitar. O prazer foi o de perspectivar, à minha maneira, como terá sido o ambiente em que Eça de Queirós há-de ter escrito a sua obra e o espaço é realmente muito bonito. A peça, acho, que não está muito mal integrada no espaço. Depois há uma série de acontecimentos que a Confraria vai realizando anualmente que passa da obra e da vivência da obra de Eça de Queirós nessa zona de Gaia, onde, inclusivamente, esteve casado com uma filha dos condes de Resende e, portanto, há toda esta ligação à Confraria que tem tido bastante dinamismo e acho que a médio prazo se projectará mesmo a nível nacional.
Sente o peso da confluência do Tua com o Douro?
Ao nível das regiões, não é? Eu, na minha região não sinto muito a influência do Tua. Como sabe a minha região é o concelho de Carrazeda e hoje parece-me que procura a ligação a Vila Real em vez da ligação histórica a Bragança mas, isso se calhar não passa de uma politiquice passageira. De qualquer maneira a influência do Tua nunca se sentiu muito porque, sendo um concelho voltado para a agricultura, digamos que é o vinho generoso que funciona e esse é mais voltado para o Douro, embora, também tenhamos vinho generoso lá do Tua. A ligação do caminho-de-ferro, havia algumas aldeias que privilegiavam essa ligação, mas a ligação via camioneta, a ligação terrestre fazia-se muitas vezes por estrada e conduzia mais facilmente ao Porto que a Bragança. Digamos que o rio em si não me parece que tenha uma influência por aí além. Nunca houve a preocupação do aproveitamento hidroeléctrico do Tua e, se calhar, nem terá sido mau, mas a verdade é que para além da poluição que ainda consegue transportar, sobretudo aquela zona do Cachão e que, infelizmente, ainda não foi completamente resolvida. O rio em si não é um grande motivo de atracção, ou de importância económica ou turística ou coisa assim.
Com o Douro, como sabe, as coisas têm-se modificado um pouco. E até lhe posso dizer que ainda neste fim-de-semana que passou estive a assistir a umas conferências em Alijó ligadas a uma associação da Confraria dos Amigos do Douro Vinhateiro e realmente continua a falar-se em projectos com alguma envergadura sobre o ponto de vista turístico para a zona do Douro que poderá, eventualmente, beneficiar, neste caso, o meu concelho. Mas eu continuo a achar que a nossa região continua a ser muito preterida e, sinceramente, não vejo grande vontade política para darmos a volta a isto e conseguirmos, digamos, justificar investimentos na nossa região, como se justificam noutras, se calhar, com menos potencial, mas vamos ver o que é que o futuro nos traz.
Apesar dessa desvinculação de Carrazeda de Ansiães a Trás-os-Montes. Continua a sentir-se transmontano?
É evidente. Primeiro terei de afirmar que enquanto não me esclarecerem melhor sobre quais são os reais motivos para esta nova estruturação administrativa, eu continuo a ser céptico, a não entender, e só o tempo dirá se valeu ou não a pena. De qualquer maneira, uma das criticas que eu fazia era ao facto de, mais do que a questão cultural e a ligação histórica e cultural a uma região que tem uma identidade própria onde nós nos integrávamos, eu considero que privilegiaram factores de ordem económica, ou pelo menos futuras perspectivas económicas nesse novo agrupamento administrativo do espaço. Acho que esse factor não tinha que ser suficiente para justificar que se fizessem projectos conjuntos com outras regiões no sentido de potenciar realmente a vertente económica da região, não tem que se reformular administrativamente as coisas. É necessário que as pessoas se entendam e planifiquem, a nível central, infra-estruturas e investimentos englobando outros concelhos porque, sobre o ponto de vista da história e da tradição, até mesmo morfológica, de morfologias de solo, não me parece que tivesse de se estar a pensar em teorizar sobre outras divisões administrativas mas só a prática é que vai ditar, e vai provar se é ou não importante reformular.
Em Bragança encontramos várias obras suas, entre as quais destaco o carteiro e o busto de Humberto Delgado. Fale-nos da sua obra.
Esses exemplos que me dá, são exemplos de encomendas. Realmente já se falou dos condicionalismos.
São as tais que não dão muito prazer?
É provável. A verdade é que temos realmente… Bragança tem conseguido e tem feito algum esforço no sentido de enquadrar, nos seus espaços públicos, obras com bastante qualidade plástica. É evidente que eu também espero um dia poder realizar uma obra com um pouco mais de liberdade e poder eventualmente apresentar um trabalho que tenha um pouco mais de originalidade e de inovação do que os trabalhos que me sugere. É evidente que como escultor tenho obrigação para determinado tipo de trabalho, como seja neste caso, o de fazer retrato, poder corresponder porque acho que é como tudo começa. Cada um de nós tem a obrigação, na sua área, de ter competência suficiente para poder corresponder a determinados desafios. Eu penso é que, se calhar, com um pouco mais de liberdade podia ter surgido qualquer coisa com um pouco mais de originalidade e eventualmente com uma leitura menos acessível mas, também me parece que a gente, como lhe disse, ao estarmos a fazer a escultura, estamos a trabalhar para a população que a usufrui. Temos também que nunca nos esquecer dos netos, daqueles que vem depois e que deverão encontrar alguma coisa que ultrapasse o tempo e continue a ter validade, trinta, ou quarenta anos ou um século depois.
Acho que há propostas em Bragança que são polémicas, precisamente porque nem toda a gente assimila. Entendo que a polémica também é importante porque é da discussão que nasce a luz, como sabemos. A verdade é que admito que há projectos que futuramente venham a ter uma certa projecção, uma certa qualidade como propostas, não serão muitos mas há alguns. Acho que é importante, quando estamos a investir dinheiros públicos, preocuparmo-nos com isso, preocuparmo-nos em fazer coisas que, à partida, perspectivem qualidade plástica para se perpetuar no tempo.
E uma universidade em Bragança? O que acha desse projecto?
Eu acho que a Universidade em Bragança justifica-se tanto como se tem justificado as do Porto. Eu tive de ir para o Porto estudar porque não tinha universidade em Bragança. Se eu tive de ir para o Porto os do Porto também poderiam vir para Bragança, e portanto deveríamos estar em igualdade de circunstâncias.
É evidente que quando me falam na universidade de Bragança, costumo sempre perguntar: Mas que projecto? Que universidade? E aí as pessoas já deveriam saber o que é que se quer com mais rigor, porque me parece que se a gente fosse capaz de apresentar um projecto original, potencialmente válido em termos de perspectivas futuras, de inovação e de leitura à distancia. Para além do mais talvez estivéssemos a ser pioneiros em relação a projectos que, se calhar, estarão ao mesmo tempo a ser concretizados noutros lados e, ao mesmo tempo, isso dava-nos, na minha opinião, mais direito de reivindicação porque a gente estava a apresentar um projecto válido e confirmadamente e comprovadamente baseado em estudos conscientes e competentes.
Será que Viseu teve essa visão?
O problema é que eu também não conheço o projecto de Viseu, é o que se lê e também pouco se sabe sobre isso. É evidente que também se pode dizer: bem, eles começaram e agora lá vão seguindo, lá vão evoluindo… eu acho que da maneira que o ensino está era importante tentar queimar etapas o mais rápido possível no sentido de se procurar perspectivar o futuro ao nível do ensino o mais rápido possível. Em Bragança havia condições, se tivéssemos de facto ideias ou se tivermos ideias originais que pareçam válidas em termos de perspectivar o futuro de um ensino com qualidade e se tivermos quadros. É evidente que para mim se os quadros não existem não há como os ir buscar onde existem, haja é condições ou então formar os que temos com potencial de poderem pensar porque na minha opinião tinha de ser inovador, tinha de se apostar na alta tecnologia.
Conheço experiências… quando se fala em universidade fala-se geralmente em grandes investimentos e eu não penso assim, se calhar o investimento estaria essencialmente nas ideias, que também podem ser grandes e não propriamente nos dinheiros que são precisos para isto e para aquilo mas, eu conheço por exemplo algumas experiências que se estão a fazer, por exemplo, em Inglaterra onde se criam cursos concentrados na especialização do professor. Quer dizer o professor é especialista em determinada área de antropologia e tem alunos para dar esse curso.
No fundo tudo passa pela capacidade inovadora que tenhamos e pode ser que as coisas avancem por aí. Eu gostava, sinceramente, de apoiar um projecto concreto em vez de se falar de universidade para aqui e para ali, falar do projecto concreto da universidade que queríamos para aqui que deve ser um projecto inovador, nada de repetir o que já existe, fazer algo de novo a pensar no futuro que aí vem.
Para terminar, que personalidade ou personalidades o marcaram ao longo da sua vida?
Bom, tinha que começar pela minha mãe. É evidente que não conhecendo as pessoas, quem me estiver a ler levantará algumas questões: Quem terá sido a mãe dele, para ele achar que é uma das referências? Direi apenas que é uma senhora que não tinha grande formação mas, conseguiu criar seis filhos, conjuntamente com o meu pai, que é a segunda referência e dar-lhes um curso, trabalhando como funcionária pública conjuntamente com o meu pai. Digamos que deu um contributo social a vários níveis, suficientemente importante para eu a considerar uma referência.
Depois posso procurar alguns professores que na minha área foram, também, muito importantes e alguns confirmam-no com uma obra, que é uma obra de referência, poderei citar por exemplo um Júlio Resende, um Alberto Carneiro, o próprio Duarte Tavares que é uma pessoa que poucos conhecem e que tem neste momento um espólio museológico em São João da Pesqueira, que foi trabalhado por mim e que dá uma ideia da sua capacidade de escultor que, no meu caso, demonstrou, essencialmente, como professor e haverá muita outra gente, pessoas da minha relação próxima, amigos que me vão ajudando com as suas críticas, com as suas opiniões, com a sua companhia, para eu próprio ir andando.
Abraço muito grande ao Escultor Hélder Carvalho! Parabéns por tudo! Abraço amigo!
ResponderEliminarEduardo Alves