Chove muito neste outono bragançano.
Como todos os dias, coloquei o telemóvel para despertar às sete horas e levantei-me com vontade de não o fazer. O dia chovia já, ininterrupta e constantemente.
Sempre gostei da chuva e do vento. Sempre gostei do aconchego de um livro enquanto lá fora chove.
Nada mudou nesse aspecto mas, agora, entra em mim tamanha melancolia que me misturo na chuva que cai e molha os campos.
Envolvo as castanhas que, desamparadas caem, enlameando-se na terra que lhes dá a vida.
Apanham-se as castanhas envoltas em dores nas costas e nas pernas de quem faz delas desafogo das muitas contas que é necessário pagar.
Os velhos continuam, insistentemente, a sua tarefa de as apanhar, esquecidos por quase todos, nas nossas pequenas aldeias.
Custa-lhes vê-las a forrarem o chão que tanto custou a ganhar e, mesmo com grandes sacrifícios que poucos jovens querem assumir, juntam-nas, porque o dinheiro faz muita falta, porque os filhos e os netos gostam delas e é "preciso dar-lhe uma mãozinha de castanhas".
Trás-os-Montes produz toneladas e toneladas deste fruto que em tempos alimentou muitas famílias, literalmente.
A Terra Fria oferece, com a melhor das boas vontades, aquilo que pode, sujeita às condições atmosféricas.
É quase S. Martinho e o verão que todos os anos dá o ar da sua graça não quer chegar. O cheiro a castanhas assadas não se espalha pelo ar. A chuva não deixa, o vento não o traz.
Faz frio no outono de Bragança e a chuva entristece mais do que liberta.
Mara Cepeda
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