quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Entrevista com Telmo Verdelho

Entrevista realizada em 13 de Março de 2004

Nasceu no concelho de Mirandela, Vale de Gouvinhas, como passou a sua meninice e que recordações guarda desse tempo?

Tive uma infância que pode ser lembrada como um lugar aprazível, como a de quase toda a gente. A consciência que eu guardo e que, de certo modo cultivo, é que fui uma criança muito mimada, muito protegida, muito estimada. As crianças em Vale de Gouvinhas eram todas tratadas com imensa ternura. Até a minha mulher, quando chegou à aldeia, nunca antes tinha ido a Trás-os-Montes, notou esse facto, reparou que as pessoas tinham uma paciência e uma vivência lúdica e de felicidade em relação às crianças que lhe não parecia comum.
As lembranças de infância que eu guardo, não sei se as selecciono, são duma quase plena satisfação, são a expressão do acolhimento, do bem-estar, de um natural carinho que as pessoas repercutiam no encontro do dia-a-dia. Não me lembro de uma expectativa de sorriso frustrada, por entre a pequena multidão de rostos, de pessoas de todo o tipo, de todas as idades, de todas as condições, que preenchiam o horizonte do quotidiano, nesse lugar e nesse tempo, já agora tão remoto, e que nunca mais poderá ser revivido.


São, portanto, boas as recordações que guarda dessa altura?

São óptimas. Houve, naturalmente dias de sol e dias de chuva, e tempestades em copos de água, como em todas as infâncias e adolescências. Nesse tempo não se consideravam crime os “castigos corporais” aplicados oportunamente, com moderação e sem ira. Era uma forma de comunicação muito imediata que ensinava a reconhecer o corpo como instância de informação e de acção responsável. Era uma prática pedagógica tradicional, considerada eficaz. É claro que a eficácia não é um critério absoluto de perfeição, em todo o caso, acho que não se deve ser fundamentalista, há um nível de naturalidade nas relações humanas que pode integrar alguma informação físico-corporal.
Pela minha parte, mesmo sob este ponto de vista, não tenho muita razão de queixa. Tive um espaço familiar muito acolhedor que de algum modo compensava uma certa imoderação nos castigos físicos aplicados na escola primária pelo professor que era muito espartano e um tanto áspero.
Eu tinha uma família muito numerosa. Em casa éramos habitualmente quinze pessoas, mas além deste quadro vernacular, havia sempre muita mais gente que frequentava a casa para participar nos trabalhos agrícolas, ou no âmbito de um assíduo relacionamento com a aldeia. Esta comunidade era um espaço de realização e de entrada no mundo que me parece irrepetível. Infelizmente o nosso quadro familiar hoje não pode ter essas condições. Foi uma experiência que se integra na história do tempo passado.

Avançando agora no tempo, a princesa do Tua tornou-se efectivamente uma bela cidade. Sente com certeza orgulho das suas raízes e da sua terra?

Obviamente, gosto de Mirandela, mas não devemos ser presumidos e sobretudo acho que fica sempre bem uma certa modéstia na avaliação do que é nosso. No que respeita a Mirandela, tenho razões para ser bastante crítico, mas prefiro assumir essa atitude quase como uma conversa de família. É a minha "tribo". Não é necessário desconsiderá-la entre os de fora. Há alguns aspectos, em todo o caso, que podem vir à colação. Mirandela foi uma terra que cresceu naturalmente, como muitas outras, nos últimos cinquenta anos. Cresceu até um pouco desimpedidamente e é claro que esse crescimento, assim casualmente ordenado ou desordenado, não pode evitar alguma disformidade. Por outro lado, não consigo ultrapassar a impressão de que houve demasiado cultivo das aparências. Este fogo de vistas condiciona e prejudica toda a nossa vida pública, a política nacional e a política regional. Mirandela também teve não poucos prejuízos. Não faço ideia, por exemplo, sobre o que se passa com o famoso metro, nem sei se ainda funciona. É absolutamente necessário que as pessoas saibam quanto é que custa e em que condições se mantém um objecto daqueles, porque eu julgo que uma terra não pode dar-se ao luxo de manter brinquedos que são excessivamente caros, quando pode dar qualidade de vida de modo muito mais barato e mais eficaz. E neste caso, concretamente, oferecer um transporte colectivo mais funcional e menos dispendioso.

Talvez dar outras condições sociais às pessoas?

Enfim, ser realista. Não trocar a projecção ficcionada, a projecção quixotesca, a projecção da promessa por uma realidade que se deve realizar, por uma qualidade de vida que pode ser garantida, afastando toda a ideia de efeito fácil. À parte isso, é preciso dizer que Mirandela ganhou muito com a tomada de consciência do seu lugar, das suas potencialidades, do seu enquadramento regional, da condição hidrográfica que a tornam um lugar interessante para viver. Não posso deixar de dar o testemunho de todas as pessoas que encontro por esse mundo fora, que são de Mirandela ou que conhecem Mirandela, e que, unanimemente, me dão a opinião de que é uma terra de boa gente, de muitos encantos naturais e em franco progresso. Eu nunca vivi propriamente em Mirandela, sou de Vale de Gouvinhas, que é uma aldeia um tanto distante e, portanto, não tenho essa experiência mais directamente sentida por quem habita na própria cidade.


De que forma o facto de ter nascido nesta região o marcou?

Julgo que me marcou de muitos modos. Primeiro por essa infância que foi uma boa iniciação para o gosto de viver. Depois pela educação austera que deve ter dado algumas vantagens para os rigores da vida. Marcou-me ainda como uma persistente referência de imaginário, porque nasci numa aldeia de Mirandela mas ali vivi só até aos dez anos. Levo cinco sextos de existência em terras estranhas e em modos de vida muito distantes do horizonte aldeão. Portanto, é uma marca mais de referência, é um modelo ausente em relação ao qual desejaria manter uma certa fidelidade um compromisso com as raizes. Esse modelo ausente é marcado por todo um simbólico, quase mítico. Trás-os-Montes é um reino sonhado maravilhoso, que nos acompanha como um lugar onde o pensamento pode sempre refugiar-se por conta sua. Lá se encontra a liberdade, lá se encontra o bem-estar, lá julgamos que poderíamos ter aquela felicidade que nos foge sempre como a linha do horizonte. É uma referência que eu julgo que é quase anímica. Dizem que todas as formas de vida animal guardam uma dependência de memória, em relação aos lugares de origem, que são os lugares da segurança. Como quer que seja, Trás-os-Montes é o lugar onde eu não posso deixar de ter nascido, e por isso, de muitos modos me implica.

Julgo saber que o seu percurso estudantil foi algo diferente. Os espiritanos deixaram marcas?

Fiz o percurso liceal nos seminários dos Padres do Espírito Santo. Foram sete anos essenciais na minha vida. Pude beneficiar de um modo de ensino e de uma dedicação pedagógica absolutamente excepcionais. Tive excelentes mestres, mestres que não eram muito especializados mas muito aplicados e tinham da relação didáctica um sentido de grande solidariedade e de grande responsabilidade.
Sou naturalmente desorganizado, tenho uma grande dificuldade em disciplinar-me, o facto de ter sido integrado numa instituição como aquela em que as pessoas eram orientadas para uma auto-disciplina e em que lhes eram dadas condições para se poderem disciplinar, juntamente com um quadro de informação científica que era dado com muito rigor, acho que foi um privilégio para mim e para os meus colegas. Devo dizer que era uma instituição com um grande sentido do respeito pela realização pessoal, pela liberdade e auto-responsabilização. Era a única instituição de formação religiosa que dava, nessa altura, equivalência à formação liceal, era uma formação plena, actualizada e mais completa. Íamos fazer exames ao liceu de Braga, sempre aliás com muito êxito. Guardo desse tempo de formação a melhor das recordações, não posso senão manifestar a minha gratidão em relação a essa prestimosa instituição e a todos aqueles professores, membros da Congregação que me deixaram um impressionante testemunho de vida, com um elevado sentido das motivações religiosas e humanas.

O apelo da universidade foi mais forte que a vida contemplativa?

É muito complicado o percurso das pessoas. Não temos uma completa capacidade de nos planearmos existencialmente. E não sou daquelas pessoas muito planeadas, que dizem:
— “Hoje faço isto, amanhã farei aquilo … Em tal ano decidi não ser rico e depois me arrependi…”.
Os modelos dos romances influenciam muito o pensamento comum, mas as vidas das pessoas são mais imprevisíveis do que todas as histórias dos livros e das novelas.
Pela minha parte nunca cultivei muito a obsessão de um percurso planeado. O que observo é que a nossa possibilidade de escolha se vai reduzindo cada vez mais conforme entramos no trilho da vida. No meu caso, chego a ter a sensação de que a vida me aconteceu sem dar por ela. Tenho obviamente a consciência crítica de que fui sempre um não herói, ainda que muitas vezes me tenha esforçado e mobilizado… Correu bem apesar de tudo. Pude aliar o espírito de liberdade e de insubordinação que parece caracterizar um pouco os transmontanos, com alguma eficácia ao nível da concretização profissional.

A sua vida profissional está intimamente ligada ao ensino, à investigação, ao estudo da nossa belíssima língua portuguesa. Foi essa a vida que inevitavelmente escolheu?

Como disse, não sei se escolhi, a gente acontece, acontecemos, somos muito condicionados nas nossas decisões e no curso da vida. A orientação para o estudo da língua e o facto de isso ter constituído uma ocupação profissional e de trabalho científico e de investigação, aconteceu um pouco naturalmente, aconteceu também provavelmente pela própria formação que tive desde a escola primária e depois no secundário. Na altura, valorizava-se muito no ensino da língua a componente da expressão, valorizava-se muito a gratificação estética da palavra, a língua como um lugar de realização, um lugar “prazeroso”, um lugar de sedução. Essa perspectiva era bem acompanhada pelo tipo de textos que estudávamos, pela admiração dos grandes escritores portugueses, pela memorização e recitação de textos antológicos.
Acho que esta ideia é muito importante, porque hoje, no ensino da língua, parece ter-se perdido o fascínio do encantamento literário. A escola pratica uma interpretação muito reduzida, muito elementar da relação didáctica, do interesse e da eficácia da palavra. É uma ideia insensata pensar que se promove a competência linguística e a eficácia da comunicação, alienando ou sequer subalternizando a componente literária no ensino da língua portuguesa. Julgo que isso é um erro gravíssimo porque é retirar uma parte essencial na elaboração e na motivação do uso da palavra. A palavra será utilizada com tanta mais eficácia quanto mais as pessoas nela investirem e quanto mais reconhecerem os modelos de elaboração linguístico-literária. Não é a ensinar gestos elementares de comunicação do quotidiano, (não só elementares como estereotipados e nada expressivos) que se dá uma boa competência linguística. Seria bom que se esclarecesse este erro que está a prejudicar gravemente os estudantes portugueses na aprendizagem da língua e a reduzir-lhes essa componente essencial do uso da língua com gosto e, o mais possível, com um bom aproveitamento dos recursos que se encontram exercitados na memória literária.
A memória literária foi para mim uma fortíssima motivação. Não digo que essa tenha sido a única motivação, mas foi certamente um factor determinante para eu me ficar por este percurso do estudo da língua, e mesmo mais do que no estudo da própria literatura. No meu trabalho, nunca o estudo da língua se desprendeu da dimensão literária. A reflexão linguística não pode esquecer que nas palavras, na mais pequena parte da frase, está repercutida a memória de todo o universo literário. A língua repercute indefinidamente a invenção literária no seu uso e na sua estruturação. Querer ensinar a língua sem a dimensão literária, é como ensinar a culinária sem condimentos.

A Universidade de Aveiro está considerada quase uma das melhores e mais exigentes do país. Exigência é sinónimo de qualidade?

A exigência é provavelmente um dos factores importantes para se obter qualidade. Mas exigência não significa trabalho servil, ou condição de trabalho desagradável.

Mas o trabalho tem de ser feito de uma forma correcta também, não é?

Quando se fala em rigor e exigência, facilmente se associa a ideia de condenação ao trabalho, de vida inóspita. Não é o meu caso. Naturalmente a noção de trabalho envolve algum investimento de sacrifício, trabalho é uma “tribulação”, uma espécie de transe crítico, um exercício em que, pelo menos durante algum tempo, se adia a obtenção de uma satisfação imediata. Como quer que seja, acho que na Universidade de Aveiro se trabalha com gosto. Não sei se somos muito exigentes. Recebemos de fora muitos reflexos positivos e isso favorece a nossa “auto-estima”. Tenho colegas excelentes e a Universidade tem alguns bons indicadores de qualidade. Mas enfim, “presunção e água benta cada qual toma a que quer”. Tenho uma razoável consciência crítica da nossa real valia e gostaria que fôssemos ainda melhores.

Tem trabalhado muito com universidades estrangeiras nomeadamente em França, Espanha é a tão falada universalidade dos transmontanos?

A universalidade dos transmontanos não significa forçosamente isso. O relacionamento com o estrangeiro corresponde ao que hoje se chama internacionalização e de certo modo também globalização. É um facto que nos ultrapassa e que poderá ser vivido de maneira particularmente dramática em Trás-os-Montes. A universalidade dos transmontanos é outra coisa. É um conceito muito frequentado por Miguel Torga e não sei se foi ele mesmo quem o inventou. Ele costumava dizer (tive o privilégio de muitas vezes conversar com ele e era este um tema recursivo na sua conversação quando se referia a Trás-os-Montes) retomo, ele costumava dizer que “o lugar universal é o lugar sem paredes”. Nós, por acaso, até temos bastantes paredes, mas são paredes que não retiram o horizonte, podemos subir acima das próprias paredes para vermos mais longe. De facto, esse universalismo é a capacidade de nos reconhecermos como observadores privilegiados do mundo. É uma ideia que encontra a sua expressão metafórica justamente nesta nossa possibilidade de subir ao cimo das montanhas e de ver longe. Reconheço que é profunda, e para nós lisonjeira, esta imagem do poeta.
Em todo o caso, acho que não é esse o aspecto mais marcante na caracterização do transmontano. Poderemos ter esse sentido universal, e até uma grande capacidade de ver o mundo, de alargar o horizonte, mas julgo que não é esse o facto que mais nos marca no nosso imaginário. Há outros factores que provavelmente nos instituem com mais pertinência. Destaco entre todos o da liberdade. Não digo que outras gentes o não tenham, mas também é nosso.
Numa análise muito caseira diria que há dois conceitos básicos na constituição do que poderíamos designar a “transmontaneidade”, sem presumir. Diria que o primeiro é de facto o sentido da liberdade e o segundo é aquilo que poderíamos designar como a presunção de herói. É um pouco complicada esta minha perspectiva mas gostaria de conseguir explicá-la. A presunção de herói resulta do facto de nós nos confrontarmos com uma vida de grande aspereza, quer dizer, Trás-os-Montes é um lugar onde a vida é difícil, onde é necessário as pessoas terem uma certa capacidade de resistência ao frio, à inospitalidade, até, provavelmente, a uma certa rudeza das pessoas. Portanto, esta consciência de que viver em Trás-os-Montes envolve uma tensão superadora da dificuldade dá-nos uma certa presunção de heróis.

Força e capacidade para enfrentar a vida?

Temos esse sentimento ou essa impressão que preenche sobretudo o domínio do imaginário e que nos acompanha ao longo da vida como uma espécie de reminiscência patriótica: "nós vencemos as dificuldades que tornam a vida complicada, vimos de longe e caminhámos por ladeiras agrestes".
Esta superação da dificuldade é muito marcante no transmontano em geral e por isso nos dá essa dita consciência de ser heróis que se repercute em muitas histórias, em muitos tópicos. Por exemplo, lembro-me das referências aos soldados de Mouzinho de Albuquerque que iam de Trás-os-Montes. Os soldados que nas campanhas de África eram constituídos pelos contingentes que iam de Trás-os-Montes eram considerados soldados excelentes, porque justificavam esta capacidade de resistência, de sentido da heroicidade um pouco da aventura. No estereótipo de transmontano acho essencial esta presunção de alguma heroicidade.
O segundo é o da liberdade, é a história do “lobo magro, mas sem coleira”, que é também uma forma de heroicidade. Trás-os-Montes sempre foi uma terra pobre, onde nunca houve grande concentração de riqueza, nós não temos grandes monumentos, não tínhamos em Bragança sequer uma catedral. Mesmo em Miranda há uma catedral feita à custa de grandes sacrifícios económicos para as populações. Quer dizer, não há em todo o Trás-os-Montes uma manifestação óbvia de grandes concentrações de riqueza, o que é natural, o espaço é pobre e tem que ser vivido com sobriedade. Além disso, é um espaço distante e inacessível para os centros históricos da geoestratégia do poder. Tudo isso significou que a terra foi menos disputada por poderes senhoriais. Assim, não havendo ninguém com grande concentração de riqueza, nem com poder efectivo para controlar a propriedade, não havia ninguém que pudesse concentrar uma grande capacidade de domínio sobre os outros. A ocupação da terra foi feita com uma gregariedade propícia ao espírito comunitário. Quase todas as terras tinham um conjunto de casas de famílias que eram autónomas, que viviam sobre si, como se dizia, e que eram subsistentes e que podiam garantir a sobrevivência a outros. Não é o que se passa com certas sociedades que têm um dono monopolizante, que têm um senhor e que têm o privilégio de poder condenar à fome aqueles de quem ele não gostar. Isso é uma coisa terrível, acontecia um pouco no Alentejo, em que havia espaços em que o senhor podia condenar à fome quem não lhe agradasse. Entre nós isso não era muito possível porque as pessoas tinham sempre a possibilidade de recursos alternativos, justamente também porque tinham sido um pouco criados nessa capacidade de resistir às adversidades.
Acrescento mais um testemunho recolhido nas “Memórias Paroquias” que são um conjunto de inquéritos que foram feitos no séc. XVIII, em 1757/8, e que recolhem um depoimento dos párocos das aldeias de todo o país. Estive a ver as Memórias Paroquiais referentes a Vale de Gouvinhas, um pequeno texto, e lá se dizia que em Vale de Gouvinhas havia não sei se seis se sete casas que viviam sobre si e que vendiam trabalho, quer dizer, não havia ninguém que pudesse monopolizar o trabalho de ninguém. Quem não quisesse trabalhar para um, tinha mais cinco ou seis alternativas para poder trabalhar para outros. Isso é uma coisa muito importante. Isto significa que as pessoas têm no seu horizonte de realização, uma expectativa de liberdade relativa, ninguém os pode condenar à fome ou à morte. Este sentido da liberdade acho que é importante no estereótipo do transmontano, a liberdade e um pouco a presunção de herói. Evidentemente isto é uma análise ensaística, próxima do poético, mas sem pretensões de doutrina de salvação. Se eu fosse poeta, certamente a minha interpretação seria muito mais interessante. De resto, as pessoas e ainda mais as comunidades são mais fáceis de amar ou de desamar, do que de entender.

Que gosto tem a língua portuguesa nesta torre de Babel em que vivemos?

A língua portuguesa é nossa e tem o nosso gosto de viver. De resto todas as línguas são iguais, isso é o que se pode dizer com algum fundamento científico. Todas as línguas são igualmente disponíveis para serem úteis aos falantes, para servirem para dizer tudo o que é necessário ser dito e para serem também lugares de realização feliz. É natural que cada um valorize a sua língua, que cada um considere que a sua língua é o melhor lugar do mundo, é a sua pátria. Mas, com objectividade, dizer que a língua portuguesa é melhor ou mais eficaz do que qualquer outra, isso não é justo nem tem fundamento. É uma opinião próxima do racismo dizer que há línguas mais perfeitas, e outras menos perfeitas, porque todas as línguas são igualmente criadas à medida do humano. Vem aqui o caso do mirandês, por exemplo, que até se autodenomina uma língua “charra”, e que é efectivamente uma língua social e politicamente deprimida, mas enfim, isso é outra história, é uma história de preconceitos e de dominação simbólica.

Sei também que integrou e que foi júri de uma tese sobre a língua mirandesa. Foi também essa uma grande vitória para nós que ela fosse considerada como a segunda língua de Portugal?

É um acto sensato, do ponto de vista do nosso universo cultural, da nossa prática cultural, do reconhecimento da nossa realidade, é um acto de justiça e enriquecedor. Não diria que isso é uma vitória do mirandês (sobretudo se ele não for habitualmente falado), acho que é uma consequência natural desta visão mais razoável que hoje temos do convívio e da variação linguística. Não podemos considerar uma variedade linguística como uma ameaça à nossa segurança linguística, ao nosso império linguístico. Este aspecto é muito importante. A nossa reacção primária é sempre a de procuramos garantir e salvaguardar o nosso espaço, as nossas seguranças, incluindo as seguranças linguísticas.

Foi o acontecer das coisas naturalmente?

É um facto que eu acho normal. Sei que a maior parte dos deputados que participaram nesta decisão da Assembleia da República, faziam uma interpretação reduzida desse gesto. Consideravam o reconhecimento do mirandês uma coisa sem significado e sobretudo sem relevância política. É natural, as pessoas não têm que ter uma justificação bem fundamentada para muitos dos gestos que fazem, e que vão integrando a sua obrigação quotidiana. Mas o reconhecimento do mirandês vai muito para além do facto político, é sobretudo uma salvaguarda da memória que nos enriquece e nos não divide, como acontece infelizmente com outras comunidades linguísticas. Importante seria que o mirandês fosse efectivamente falado em Terras de Miranda.
É preciso distinguir a língua como um instrumento de comunicação, que nos oferece esta possibilidade de recorrer às palavras para dizer o que precisamos, para nos relacionarmos, para nos desbloquearmos, e, por outro lado, entender a língua como memória, como monumento, como um património. Nós somos seres vivos e morremos. Acumulamos uma memória perecível. Para que essa memória se não perca temos que a transmitir numa relação interindividual, recorrendo a instrumentos que a significam e a referenciam. Transmitimos a nossa memória por meio de gestos, por meio de sinais organizados, como são as palavras, ou por meio de objectos perduráveis como as pedras do nosso castelo que têm mais mensagens do que muitos livros. Os monumentos são um instrumento privilegiado da memória. As palavras “memória” e “monumento” têm a mesma raiz etimológica e, se as considerarmos na sua origem, significam a mesma coisa. Ora, a língua além de ser instrumento de comunicação é também um monumento. Guarda a memória activa, funcional, da comunidade e permite, com o recurso à escrita, uma amplíssima acumulação da grande mensagem dos nossos antepassados. A língua guarda a melhor memória do exercício da inteligência, repercutido ao longo das gerações. As nossas palavras repercutem os pensamentos, as emoções e os desejos dos poetas, dos sábios e dos santos. As línguas são patrimónios preciosíssimos.

A língua é como a alma de cada país?

Isso mesmo, a língua é um pouco a alma de cada país. Uma alma particularmente enriquecida quando pode contar também com o património literário. A distinção entre a língua instrumento de comunicação e a língua memória ou património é que torna diferentes as várias línguas da face da terra. As línguas são todas iguais, mas todas as línguas têm uma memória diferente. Assim como todos os países têm castelos diferentes, todas as línguas que têm memória, têm obras de arte diferentes. Nós temos Camões e mais ninguém no mundo tem Camões. Nós temos Fernando Pessoa e mais nenhuma língua do mundo tem Fernando Pessoa. Nós temos Miguel Torga e mais nenhuma região em Portugal tem Miguel Torga. A língua património é uma coisa diferente da língua como instrumento de comunicação. Se nós, no ensino da língua, não valorizarmos essa memória estamos a empobrecer, e perdemos o que por meio da língua nos transcende. Há muitas línguas que tem patrimónios preciosos como é o caso do Latim, do Grego antigo, e que, mesmo não tendo falantes (praticamente já não servem para falar) têm ainda o privilégio de prolongarem de modo activo e dinâmico a sua memória e de continuarem a transmitir a genial mensagem dos seus autores.

Apesar de se dizerem línguas mortas…

Direi antes “línguas clássicas” ou “línguas antigas”. “Línguas mortas” são aquelas de que se perde completamente a memória (como aconteceu infelizmente com milhares de línguas deram vida aos desejos e ideais de muitos povos). As línguas clássicas continuam apesar de tudo a repercutir-se nas línguas modernas. É necessário ter em conta esta dimensão interactiva das línguas patrimoniais sobre as línguas actuais. A língua portuguesa como património literário, como memória, como monumento que os nossos antepassados nos legaram, preciosa herança da sua inteligência, e do seu espírito criativo, oferece-nos hoje o privilégio dessa interacção com o passado. De certo modo podemos continuar a falar com os poetas. Este privilégio dá à língua portuguesa um lugar apreciável e distinto entre as várias línguas. Não somos a língua mais rica, mas temos um património bastante valioso para dele nos podermos orgulhar. E não sei se o merecemos suficientemente, porque justamente o tratamento que hoje damos à língua é de modo a que não homenageamos devidamente, não aproveitamos essa generosidade extraordinária, esse dom que é um dom faustosíssimo que nos foi legado pelos nossos antepassados.

O governo continua a insistir na ideia de uma só universidade para esta região. A UTAD é de Trás-os-Montes e Alto Douro ou o nome é apenas um equívoco?

Bem… até parece que agora vai mudar de nome e vai passar a chamar-se só UAD – Universidade de Alto Douro. Não sei nada de política nem tenho elementos para poder fazer uma avaliação que me dê autoridade para me pronunciar sobre o que é o melhor, o que é que convém, o que é que se pode fazer. Tenho opiniões e tenho desejos, tenho grandes motivações em relação a esse facto. Evidentemente que gostaria, como toda a gente, que Bragança tivesse uma universidade. Seria natural, para além de ser justo. Desde a institucionalização da educação em Portugal, Bragança impôs-se sempre como um lugar escolar de referência preponderante. Houve tempos em que Bragança tinha uma percentagem de estudantes, proporcionalmente à sua população, maior do que Coimbra. Portanto, era esperável que Bragança pudesse continuar a manter essa referência, isso corresponde obviamente aos desejos de todos os bragançanos. Quando se instituiu a UTAD, ela deveria ter sido sediada em Bragança. O peso da história e o interesse da geoestratégia portuguesa exigiam que se valorizasse a cidade fronteiriça como afirmação da vontade nacional. O abandono das abas raianas é uma leviandade grave dos mandantes dos últimos decénios. Gostaríamos de ter a certeza de que isso não foi traficado por capelinhas político-partidárias.

Penso que todo o distrito foi prejudicado.

Certamente. Aliás o Distrito de Bragança é particularmente coeso e solidário. E não só o distrito. Bragança era uma espécie de Jerusalém de Trás-os-Montes. Essa é também uma das memórias da minha infância. Bragança era uma referência para a minha aldeia remota, (que não pertence ao concelho de Bragança e fica num extremo do distrito), Bragança era uma referência que nenhuma outra cidade nem do país nem do mundo tinha, era o ponto de encontro imaginário de uma comunidade que sabia da sua identidade. A criação de uma universidade é um desejo que tem que continuar a ser acarinhado e mantido e julgo que será tanto mais possível quanto mais os bragançanos forem capazes de justificar essa realidade que eu julgo que seria natural em Bragança. Não tenho desempenho político-partidário, nunca tive nenhuma prática nesse quadro político, nem tive nem tenho nenhuma adesão e portanto sou absolutamente livre, acho que os políticos merecem todas as críticas a este respeito.
A administração pública tem praticado e imposto distorções nesta região, próximas de um centralismo colonialista. Estimo muito Vila Real que é certamente uma terra muito dinâmica. Mas não se justifica que seja um espaço excessivamente privilegiado pelos poderes públicos, com prejuízo e às vezes à custa do restante território transmontano. Alguns dos meus amigos de Vila Real manifestam a convicção de que lhes assiste o direito natural de colaborarem com Lisboa na “exploração” de toda a nossa região. Será bom lembrar que usufruem ou “abusufruem” de um investimento público, a título de representação de toda a região, que não se repercute de facto no espaço transmontano. A manter-se este processo, próximo da parasitagem, acentuam-se os factores de desertificação da orla fronteiriça.

Faz parte do conselho científico da revista Brigantia juntamente com outros ilustres transmontanos. Que importância podem ter este tipo de publicações?

Têm muita importância. Primeiro porque é uma publicação exemplar pelo objecto, pela apresentação, e pela qualidade e variedade dos seus colaboradores. É uma revista justamente prestigiada entre as publicações do género, feita com investigação estudiosa e actualizada. Em segundo lugar porque é uma tribuna privilegiada para a vida intelectual da nossa região, para o estudo e registo do seu património e para a notícia e discussão dos seus problemas. A Brigantia constitui uma manifestação de vida e vigor cultural que afirma e distingue a comunidade, é como um dos tais monumentos que preenchem a nossa “Cidadela”. Cabe aqui uma especial menção de homenagem ao Revº Cónego Dr. Belarmino Afonso, amigo antigo merecedor de toda a estima, a quem ficámos a dever a iniciativa generosa e dedicada da sua fundação e direcção.
A Brigantia foi um acontecimento de certo modo paralelo ao que devia ter sido a Universidade e continuará a ser um testemunho do ânimo, da motivação e da capacidade de realização dos bragançanos, independentemente e em contraste com as promessas dos políticos de Lisboa.

Até que ponto devemos defender a nossa nordestinidade e as nossas diferenças?

Até que ponto devemos e podemos defender a nordestinidade neste mundo de hoje é uma pergunta provocatória. A nordestinidade deverá provavelmente ser entendida como um conceito marcado por um sentido regionalista. Curiosamente, o regionalismo, que nasceu há pouco mais de cem anos, reagindo às políticas centralistas, com o cultivo do folclore, com os estudos de etnologia, de geografia linguística, de história local, etc. (O Abade de Baçal é o nosso preclaríssimo representante), parece reviver no nosso tempo, continuando naturalmente a reagir contra as políticas centralistas, e também contra o novo redimensionamento do mundo. É disso que se fala hoje: o mundo nunca foi tão pequeno e tão global. Qual é o lugar de Bragança, e de Vale de Gouvinhas, no meio disto?
Ouvimos hoje mais facilmente a palavra que nos vem doutro continente, da América ou de qualquer sítio da Europa, do que a mensagem do nosso Presidente da Câmara. Conhecemos mais facilmente o presidente dos Estados Unidos da América, da França, ou a Rainha de Inglaterra, do que o nosso Presidente da Junta. A maior parte dos portugueses que vivem nas cidades não sabem como se chama o seu Presidente da Junta e sabem muito bem o nome do Presidente dos Estados Unidos. Quer dizer, nós estamos num mundo que nos compromete com um quadro de intercomunicação e de relação interindividual que excede a nossa dimensão e a capacidade de aferirmos a sua fiabilidade, e que nos recusa a necessidade de retorno que caracteriza todo o processo de comunicação. Por isso, parece que temos necessidade de revalorizar as relações de maior proximidade. Neste sentido, hoje o regionalismo responde não só ao centralismo do estado-nação, mas também à globalização planetária. Por outro lado, beneficia de um redimensionamento do espaço de proximidade, em função dos novos meios de transporte e de comunicação. Julgo que há condições óptimas para a defesa e gestão dos interesses locais e supra-locais pela revalorização do encontro interindividual e de grupo, nestes novos quadros de relação e de possibilidade de reconhecimento, de retorno e de reciprocidade. Torna-se necessário refazer e reajustar a consciência de corpo da comunidade regional de acordo com os valores do reconhecimento e da reciprocidade.
As assembleias distritais ou associações de municípios deveriam ser incentivadas e mais ainda o relacionamento interfamiliar, inter-escolar, interlaboral, inter-empresarial, etc. O encontro e o reconhecimento das pessoas é a principal forma de reconfigurar o que poderá ser a nossa “nordestinidade”.
Não sei se ainda há hoje transmontanos com suficiente memória e consciência do seu território da sua história dos seus interesses e dos seus ideais. Penso que podemos falar de “nordestinos” porque há uma grande mobilidade e as pessoas que hoje vivem aqui no Nordeste não têm que ser forçosamente nativos do Nordeste (isto é transmontanos), mas em todo o caso o facto de viverem aqui deve constituir um factor de identificação com o lugar e com a região. Acho que esse regionalismo pode ser muito interessante sobretudo se for considerado positivamente, ser for um factor de estimulo para bons compromissos e para o seu desenvolvimento prático. Mesmo que não seja um factor de orgulho ou de simples vanglória. A nossa condição hoje, temos que o reconhecer, é de pouca euforia. Mas nem por isso os nossos montes se deixarão abater…

Fala-se muito da falta de acessibilidades e da desertificação desta região. Estaremos condenados a desaparecer do mapa mesmo estando muito bem localizados frente à Europa?

Não tenho nenhuma ideia de projecção para o futuro. Que estamos a ser condicionados por um processo de desertificação isso é óbvio, já vem de longe. Infelizmente nós não temos tido capacidade de a analisar ou de nos confrontarmos com essa realidade e de reagirmos em relação a ela. Lembro que quando nasci, e isto é uma observação que faço já há mais de 30 anos, quando eu nasci, fui o trigésimo sétimo registo do livro de baptizados da paróquia de Vale de Gouvinhas, e é claro que há muitos anos que os registos de baptizados são lá raros, ou não há registo nenhum. O que nós vemos é que há uma quebra. Toda a gente nota isso, encontramos-nos em perda de população, uma perda que não parece ainda estar estancada. Julgo que é possível viver e viver bem e ter sentido uma comunidade com menos gente que nós temos, embora haja muitos factores nomeadamente de envelhecimento e outros que deterioram um pouco essa possibilidade de haver condições de vida. É possível a região sobreviver com menos gente, hoje as comunicações são melhores essa é mais uma razão para se manter o lastro transmontano-duriense retomando nova consciência da sua capacidade de corpo com menos gente mas com mais interacção, com mais comunicação, com actividades que mobilizem mais as pessoas. Há muitas outras regiões no mundo que têm uma grande actividade que são lugares que se integram dentro de uma humanidade viva e que têm mais espaço e menos gente do que nós temos.

Pedia-lhe agora para comentar outro assunto que também está na moda que são as comunidades urbanas e toda a polémica que envolve a nossa região. O que é que lhe apraz dizer?

Acho que há um conjunto de pressupostos que é necessário ter bem presentes, como condicionantes, como factores motivadores. Desde logo a concepção do encontro como qualquer coisa de sinérgico e não como uma discussão de interesses. Essa é uma tentação imediata e primária. O nosso espaço é preenchido por núcleos muito pequenos, e no seu relacionamento confrontam-se com interesses e motivações muito particularistas e são levados a praticarem um relacionamento de disputa e não de encontro, de procura de efeitos de pequena política, em relação ao interesse colectivo. Acho que é necessário que essa comunidade tenha consciência que é uma comunidade em forte perda de população e que tem que valorizar os factores de intercomunicação entre os vários centros, no sentido de ocupar o espaço com dimensões nobres, com distribuição de especificidades e de funcionalidades pelos vários núcleos. Sobretudo acho que é absolutamente necessário que as pessoas pensem que tudo o que constitui variedade e diversidade é enriquecedor nesta região, e tudo o que constitui divisionismo ou separação é mortífero, disso não tenho a menor dúvida. Trás-os-Montes e Alto Douro formou-se numa coesão ancestral resultante das sinergias, agora mais propícias do que nunca, entre a “Terra Quente” e a “Montanha” ou “Terra Fria”

A região deve unir-se numa só, não é?

Seria bom que os políticos “protagonistas” reconhecessem essa necessária realidade, e quando se reúnem, que fossem capazes de encontrar e favorecer os seus interesses na partilha das respectivas especificidades.

Pergunto-lhe, para terminar, que personalidade ou personalidades o marcaram ao longo da sua vida?

Nunca fiz esse inventário, mas são muitas as pessoas a quem eu fiquei a dever tudo o que vivi de interessante e que ajudaram a inventar a minha existência. Pela vida fora beneficiei do exemplo, do incentivo e da generosidade de mulheres e homens fascinantes, dos quais guardo uma gratíssima memória. Muitos deles distinguiram-se pela sua inteligência e saber. Assisti a uma conferência inolvidável de Almada Negreiros, ouvi lições de Roman Jakobson, Jean Starobinski, Pierre Bourdieu, Yakov Malkiel, André Martinet, Greimas, Pottier, e tantos outros.
No nosso espaço, em Trás-os-Montes, acho que temos figuras que não podemos deixar de recordar. Lembro-me que faleceram há pouco tempo o Dr. Eduardo Carvalho e o Dr. Videira Pires, que eram para mim duas referências instituidoras do universo transmontano, como duas torres do Castelo de Bragança, que faziam parte do nosso mundo, davam grandeza à nossa terra e validavam o apego às raízes. Sobrevivem ainda, felizmente outras figuras que ilustram a nossa região, e muitas outras estão agora a emergir, julgo que não teria tempo de as enumerar, mesmo só aquelas que eu conheço e admiro.
Além dos Mestres, merecem também testemunho e grata lembrança, as pessoas com nome discreto, que fazem andar o “trem da nossa vida” e que nos ajudam a preencher as casas vazias da história. São quase anónimas, mas eu sei os nomes delas, também são nomes de heróis, e sei que têm estado sempre, sem paga nem reivindicação, no lugar imprescindível das minhas muitas dependências.

Estamos no final da entrevista, foi um prazer enorme estar à conversa consigo, é pena termos tão pouco tempo, esperemos um dia acabar esta conversa.

Quase todas as palavras se perdem, algumas se recuperam, mas também as que se perdem servem para mudar o mundo. Um abraço grande para vocês, e um voto de felicidades e auspicioso futuro para Trás-os-Montes.

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