sábado, 4 de fevereiro de 2012

Entrevista: Escultor Manuel Barroco, natural de Quintas das Quebradas, Mogadouro

Com que idade abandonou o seu torrão natal?

Bom, eu posso começar pelo meu ano de nascimento, porque geralmente é um hábito ignorar o ano de nascimento e eu não vejo razão para que isso possa acontecer, eu nasci em 1940 e é curioso que na aldeia dizem que foi o ano do ciclone; parece que houve um ciclone nesse ano e deve ser também por isso que mudou um pouco a minha faceta de estar. Mas, nasci realmente nessa aldeia, é uma aldeia muito pequena, olhe nem freguesia é, a freguesia é Castelo Branco e fiz ali a instrução primária. Esses foram tempos muito complicados porque o nível de ensino nem sequer escola tinha, portanto, a que existe lá na aldeia foi construída pelo próprio povo sem qualquer intervenção do estado ou das autarquias, não era escola oficial, era apenas um posto onde exercia actividade uma professora, uma regente escolar e eu fiz aí a 3ª classe, andei com essa senhora a quem eu devo muito que já faleceu, infelizmente; os exames eram feitos na Sé da freguesia de Castelo Branco, a 2ª e 3ª classe; a 4ºclasse ela não tinha habilitação para me ensinar, e foi a troco de pagamento da minha família, dos meus país que ela me preparou para a 4ª classe, e eu fui fazer a 4ª classe a Mogadouro, portanto, a instrução primária; a partir da 4ª classe saí da zona da aldeia, onde passei todos os anos as férias, o resto do primeiro, secundo e terceiro período foram passados noutros sítios, em vários sítios.

Que recordações guarda do tempo da sua meninice?

Da minha meninice recordo-me das pessoas que eram excepcionais. Toda aquele gente um pouco agreste, rude mas, com uma simpatia, uma simplicidade excepcional; um problema que houvesse com alguém na aldeia, havia sempre resposta de outro alguém, mesmo aquelas pessoas que tinham alguma animosidade entre elas… acabava-se tudo naquela altura, ajudavam-se mutuamente, hoje não. Hoje essa faceta está um pouco perdida, o que é de lamentar.

Há outros interesses?
Sim, só para lhe contar um episódio, quando eu passei para a 3ª classe, era para ir ter aulas na Sé de freguesia de Castelo Branco que dista 5 km. Era um caminho de cabras. O meu pai comprou um burro para que eu e o meu irmão pudéssemos ir para a escola e disse à pessoa que lhe vendeu o burro que era um cigano, o Zé: “Arranja-me um burro para os rapazes poderem ir para a escola, mas tem de ser manso. Ora, eu e o meu irmão íamos no burro mas, não andámos mais do que 300 metros pois, o burro nem para a frente nem para trás e foi assim que tivemos que voltar novamente para a aldeia.

Onde fez os seus estudos? Já nos falou que foi para Mogadouro, mas antes de ir para a escola de Belas Artes em Lisboa onde estudou?

Portanto, uma vez acabada ali, a instrução primária um pouco conturbada, com bom aproveitamento fui para Valença do Minho para um colégio de freiras franciscanas, onde estive dois anos e onde fiz admissão ao liceu. O primeiro e o segundo anos, os exames foram feitos em Viana do Castelo. Depois fui para Braga onde fiz o terceiro, o quarto e o antigo quinto anos do liceu. Por influências familiares regressei a Trás-os-Montes onde estive um ano, em Macedo de Cavaleiros o que se mostrou uma má experiência, porque estava habituado a estar num ambiente citadino como era Braga, que era uma cidade espectacular, uma cidade linda… Regressar a Macedo de Cavaleiros que, apesar de ser vila, era uma aldeia pior que Mogadouro, que me perdoem os macedenses, mas é verdade, isto no ano de 56/57. Dei-me muito mal, foi o único chumbo da minha vida. Depois fui para o Porto, onde acabei o liceu no Grande Colégio Universal. Fui voluntário para a Força Aérea onde estive muitos anos, tendo ido para o ultramar e, só depois ingressei na escola superior de Belas Artes onde terminei a licenciatura em escultura.

Foi difícil a integração num meio maior?

Na Escola Superior de Belas Artes foi um pouco difícil, porque me apercebi-me, que havia grupos que pertenciam a umas certas elites. O bacharelato terminava-se com o quarto ano; a licenciatura só se podia concluir se passássemos para o quinto ano com uma média superior a quinze valores e era muito difícil tirar uma nota superior a quinze. Se tivesse na família, pessoas ligadas a artes plásticas, pintura, escultura ou arquitectura a coisa era mais facilitada. Aparece, ali, um transmontano em Lisboa, na Escola Superior de Belas Artes, sem qualquer pergaminho no campo das artes… Foi um bocado complicado mas, eu também sou teimoso; continuei, insisti e provei que realmente tinha mérito, lamento dizer-lhe pela falsa modéstia mas, terminei a licenciatura com uma nota bastante elevada e considerei-me realizado porque vi a dificuldade com que se conseguia a licenciatura naquela época, antes do 25 de Abril que é preciso frisar.

Quando é que sentiu que era esse o seu caminho?

Eu sempre senti isso, porque me apercebi… acho que as pessoas quando vêem fazer uma coisa a outros, pensam consigo próprios: “Isto também eu era capaz de fazer.” Dou por mim a criticar a maneira errada como as coisas estão a ser feitas. Eu achava que as fazia e, se calhar, até melhor. Eu sou um amante da música mas, quando ouço tocar um instrumento, sei que na vida nunca conseguiria aprender a tocar um instrumento musical, ou a cantar… agora na pintura, na escultura, na arquitectura, o caso muda de figura. Quando via as pessoas a fazer os canteiros, a picar as pedras, lá na minha aldeia para fazer as frontarias dos edifícios, passava horas a olhar para eles. Olhava e dizia “Isto também eu faço.” Aliás, pediam-me para fazer os desenhos. Há trabalhos feitos em pedra cujos desenhos foram feitos por mim quando eu andava na terceira classe. Na minha casa, às noite, com certa frequência, faziam-se tertúlias de fado e guitarradas, e eu desenhava as pessoas a cantar e a tocar o bandolim ou a guitarra. Fazia os desenhos deles, a pedido claro, e era pago. Hoje entendo que o dinheiro é um mal necessário mas, na altura, dava-lhe importância… Dava jeito para os rebuçados.

Viveu muitos anos em Lisboa. Foi a vida profissional que o obrigou a isso?

Não. Eu fui para Lisboa como voluntário para a força área. Era uma época muito conturbada, no início dos anos sessenta. Eu tinha um irmão em África que tinha sido ferido em combate. Ele escreveu-me e disse: “Tu não apareças cá no exército, vai para a força aérea ou para a marinha, porque isto aqui é um inferno.” Comecei a pensar no que me havia dito e um dia vou a Mogadouro, à feira. Leio uma matéria no jornal a pedir voluntários para a força aérea. Pedi ao meu pai estava comigo que assinasse a declaração, para me autorizar a oferecer-me como voluntário. Assim foi, ofereci-me para a força aérea porque, entretanto, já estava aprovado para o exército. Já tinha ido à inspecção e já estava aprovado para ser requisitado para o exército, voluntariei-me para a força aérea e mudei de rumo e ainda bem, porque foi uma altura interessante.

Não sentiu, durante todos esses anos que esteve na capital, o apelo dos montes, da natureza, das gentes de Trás-os-Montes?

Esse apelo não só o senti, como ainda o sinto, por essa razão é que eu, de há três anos a esta parte, estou aqui. Já vai fazer quatro anos que estou aqui e vou a Lisboa cada três meses para dar seguimento a alguns trabalhos lá no atelier, trabalhos de escultura, de modelação e de pintura, e depois ver os telefonemas que lá tenho gravados e o correio. Não me demoro por lá. Volto logo para cima, para as origens. Isto sempre se passou porque eu, na minha vida, nunca estive ausente mais do que três meses, inclusivamente quando estava no ultramar em Angola, vim cá passar férias durante dois meses. Faz-me falta, realmente, vir aqui.

Trás-os-Montes funciona como uma espécie de musa inspiradora…

Não é só isso, porque os cheiros, as cores, o frio que agora estamos a sentir, tudo isto faz-me falta, eu não sei explicar o porquê mas, todo este conjunto de elementos da natureza, o tipo de vegetação, porque eu conheço o país muito bem e, quando chego a qualquer parte que tem uma vegetação parecida com a nossa, já me começo a sentir bem ali, portanto, as estevas, o cheiro das estevas, das giestas em flor, ver os castanheiros floridos, as castanhas, o cheiro dos cozidos que fazem aqui, dos butelos… na minha terra chamam-lhe bulho; quando a gente chega à aldeia e começava-se a descer e as cozinhas estão a funcionar, sente-se no ar aquele aroma das giestas a serem queimadas, e dos caldos verdes… infelizmente, tudo está a desaparecer e é de lamentar que isso assim seja mas, enfim, é a vida.

A sua vida está ligada ao ensino e também à escultura. Serão estas duas facetas, indissociáveis?

Acho que sim porque, até lhe vou dizer o seguinte, para mais facilmente entender: a escultura, a pintura ou até, a música, exigem uma aprendizagem lenta para uma melhor percepção das coisas, um melhor entendimento e até, saborear todos esses produtos. Apercebi-me, quando eu fui para o ensino, aliás, até mesmo antes do ensino, que nem toda a gente falava a mesma linguagem que eu gostaria de ouvir, acerca do poder criativo, que eu nem sabia o que era na altura, quando saí da aldeia. Por exemplo, o termo artes plásticas quase não me dizia nada. Sabia que havia uma possibilidade de fazer coisas através da forma, através do desenho e da pintura mas, com o rigor, saber todo aquele entrosamento, para mim era difícil de entender. Então apercebi-me que as pessoas precisavam de umas dicas, de umas informações mais credíveis para melhor entendimento do poder criativo e toda esta problemática das artes. Daí o ensino me parece que seja importante. Fui, durante muitos anos, professor de geometria descritiva e, lamento que, numa altura destas, a geometria descritiva seja pouco ensinada nas nossas escolas secundárias. Antigamente, no liceu quando eu comecei a ensinar geometria descritiva, quase todas as alíneas tinham essa disciplina, salvo as alíneas ligadas às letras. Quem quisesse ir para medicina, ou para arquitectura, ou para engenharia, a maior parte dos cursos de ciências ou quase todos os cursos de ciências eram obrigados a ter geometria descritiva.
Então, qual era o interesse da geometria descritiva? É a capacidade de raciocínio e de sintetizar esse mesmo raciocínio, ver para além das coisas, aqueles programas de intercepções, de rectas, de planos que hoje se aplicam em termos de arquitectura, acho que fazem falta para um maior desenvolvimento da capacidade de raciocínio porque, nas artes plásticas também existe o raciocínio, saber interpretar, saber ver para além da forma, para além da cor e, isso, é fundamental para quando algumas pessoas olham para uma pintura abstracta e dizem “eu fazia aquilo” e eu só lhes digo “então faça”. Este dizer, eu também fazia isto, ou o meu filho que está em casa, que anda na primária, também faz desenhos parecidos com estes, só demonstra, no meu entender, pouco conhecimento do que seja a problemática das artes plásticas.

É necessário ensinar as pessoas a compreender a arte?

Exactamente. A necessidade de ensinar as pessoas, de dar um contributo para que essas pessoas fiquem um bocadinho mais abertas na percepção do que é a arte mas, também, na música, na poesia… Um texto tratado em prosa, numa linguagem escrita em duas modalidades, para ser mais rápido e para se entender, a prosa ou a poesia é trabalhada e executada e apresentada de duas maneiras diferentes, portanto, isso é fundamental. Se a pessoa não tiver conhecimento, não for educado na percepção e no entendimento das coisas, não pode optar.

A sua escultura tem um cariz contemporâneo, poético ou moderno?

Contemporâneo.

Tem muitas obras espalhadas pelo país, sente que a sua obra é valorizada?

Isso dava pano para mangas… sinceramente, deve ser talvez a primeira ou segunda vez que falo na minha escultura, porque chegou a uma altura, que eu disse: Recuso-me a falar na minha escultura.” Em termos particulares, eu gosto de falar, em termos de tertúlia, sobre a criatividade, sobre as artes plásticas, sobre a música, sobre a poesia, sobre todos esses elementos… gosto e tenho uma certa paixão e até gostaria de ser mais directo e ter outro dom de apresentar as minhas ideias. O falar directamente naquilo que faço. Em determinada altura decidi que faria as minhas obras e as pessoas que fizessem a interpretação que muito bem entendessem. Acontece que eu gosto de dar dicas, gosto de fornecer pistas para que a pessoa fique a pensar no assunto e haja um certo entendimento daquilo que faço mas, posso garantir uma coisa, quando faço um trabalho é, exclusivamente, para mim. Já destruí imensas coisas e quando me perguntam por uma dessas peças, respondo: “Já lá vai muito tempo. É aquela peça que está ali mas já não é a mesma.” Quer dizer, aproveitei a parte material e dei-lhe outra forma.

As obras são eternas?

As obras são eternas, para mim são eternas porque, repare: no campo da arte onde eu leccionei, também, história da arte, as civilizações que nos antecederam, Grega, Romana, todas elas são conhecidas pela arte. Hoje conhecemos as civilizações, a maneira de elas serem, a maneira de pensar, como funcionaram, através das artes plásticas. Não venham cá a dizer que a decifração do código de Hamurabi e os papiros fazem interpretações, pode ser que estejam erradas, eu não aceito que aquilo seja “hipsis verbi”, a ideia que eles pretenderam passar para as gerações futuras.

Grande parte da nossa história está na arte, nos monumentos, naquilo que nos deixaram…

Exactamente. Ainda hoje no campo da arquitectura em Portugal. Há países que têm outra dimensão. Nós estamos condenados a ser pequenos em tudo mas, no campo das artes não somos os mais pequenos, no campo da escultura, no campo da pintura, no campo da arquitectura, no campo da música, acho que nós somos um país que está no topo do mundo. Isto é a minha opinião, claro.

Estarão a Grécia e a Itália como grandes expoentes máximos?

Sim, sim mas, repare: nestes anos que estou cá em cima, já me manifestei e faço interpretações da maneira de estar na sociedade. Sinto-me um pouco mais radical, mais telúrico como dizia Miguel Torga, o nosso conterrâneo. No campo da poesia e no campo da escrita temos valores como Miguel Torga e outros, só que ficamos sempre para trás, somos mal tratados, nós os transmontanos, por hábito, somos mal tratados em tudo, por exemplo, no campo da política, e eu rendo-me se me disserem onde Trás-os-Montes e os transmontanos são tratados em pé de igualdade com os outros. Diga-me que eu, realmente, não sei. No campo das artes plásticas há escultores que não são daqui e fazem trabalhos através de convite, nem concurso há. Pedem o que querem, é só abrirem a boca e eles executam o trabalho; aqui, para nós, artistas transmontanos, é tudo à míngua.

São as câmaras que assim decidem…

Aí, leva-me a falar mais particularmente, da escultura. Há diferenças entre às várias formas de arte, no campo da pintura, o espaço físico, desde o quarto, um simples atelier, até um vão de escada, qualquer coisa serve para fazer de atelier e vai-se para o campo, no campo debaixo de uma árvore, na Primavera, no Verão, acho interessante…

Desde que não chova…

E se chover até o comportamento físico da tinta se for acrílico por exemplo, com as pingas da água até é capaz de resultar uma composição interessante, porque não? E temos aquela serenata à chuva mas, queria eu dizer que a escultura tem problemas complicados, porque o escultor se tem que confinar ao atelier, é complicado, se não tiver encomendas, se não aparecer na praça pública… há um livro que foi editado há vários anos, que é de escultores contemporâneos, da Maria Botelho, acho que é nesse livro que vem lá os trabalhos de Manuel Barroco, são trabalhos que deviam estar todos projectados para outra escala, dar-lhe outra dimensão, em Bragança. Embora sendo um escultor transmontano com atelier no coração de Trás-os-Montes e sou transmontano com muita honra, gostaria de fazer mais pela minha província mas, na capital de distrito eu nunca meti pé, nunca tive conhecimento de um trabalho num espaço público.

Tem no prelo, duas obras em Mogadouro…

Tenho uma em execução neste momento.

Uma delas é um monumento micológico, fale-nos dessa obra.

Exactamente. Em Mogadouro, que é uma câmara pequena e a autarquia vive com grandes dificuldades económicas, faço uma certa cedência em termos de custos. É quase uma ginástica. Mas, sinto-me honrado pelo convite que me fazem. Penso que talvez outros colegas não tivessem capacidade com os orçamentos que fiz, de resolver a situação, porque são trabalhos que exigem que nos mudemos para a zona, são trabalhos feitos em granito, não é trabalho de fundição. Eu também faço a modelação de trabalhos no atelier, que depois vão para o fundidor e daí para o espaço público, isso é fácil, fácil entre aspas, porque o escultor modela e depois há uma série de pessoas que intervêm e que colocam o monumento na praça pública. Quando o trabalho é executado como neste caso do monumento micológico, com granitos da região, é preciso os cantoneiros trabalharem no próprio local. São blocos de grande tamanho, que são difíceis de movimentar. Isso sai caro, isso é muito caro, daí a dificuldade de virem de Lisboa, ou do Porto para executar trabalhos dessa natureza.

Ainda tinham que conhecer o local e o material, o que encarecia muito mais a obra?

Encarecia muito mais e penso que era impossível, eu estou aqui radicado, radicado entre Lisboa e aqui, tenho um atelier em Lisboa, onde continuo a trabalhar e tenho o atelier aqui também, onde tenho um equipamento virado mais para esse tipo de matérias o que facilita de certa maneira.

Temos de fazer algo pela terra, não é?

É isso, e além de ser, pelo menos eu entendo assim, é uma honra ter um monumento no espaço público em que a pessoa tenha oportunidade em exibir o seu trabalho, o seu esforço de maneira a ser entendido e até de certa maneira como dizia há pouco, é de certa maneira pedagógico, colocar trabalhos dessa natureza.
Por exemplo, posso dizer-lhe que o monumento que fiz, há uns anos em Mogadouro, delicado à paz, provocou uma certa relutância, houve ali uma excitação sobre como é que deveria ser o monumento e, realmente, nesse aspecto, não fiz cedências. A maneira do bombeiro aparecer e apagar o fogo de mangueira na mão, embora eu achasse que as pessoas tivessem uma certa razão, procurei fazer o monumento com umas características geométricas e de certa maneira depurada na sua forma. É um monumento pedagógico, em que as pessoas olham e pensam que não tem dificuldade em entender a mensagens que está a ser transmitida.

Trindade Coelho, é uma figura marcante de Mogadouro. Acha que está devidamente valorizado e acarinhado?

Olhe, em termos de reconhecimento, tenho assistido, a encontros em Mogadouro, onde a figura Trindade Coelho é altamente acarinhada, a nível do fórum de Mogadouro, a nível da câmara, das associações mais diversas, que acarinham o escritor, que na realidade ele foi… Na representação do Trindade Coelho, a nível das obras plásticas, já contribui para um trabalho de uma obra em particular, que é o “Baixo-relevo, que existe no hotel Trindade Coelho e tive imenso gosto em o executar, além do monumento que se encontra lá de uma outra época, mas de grande interesse estético.

Neste momento, esta a desenvolver um projecto de turismo de habitação na sua aldeia, Quinta das Quebradas. Acha que esta actividade pode ser dos caminhos a seguir para evitar a desertificação desta região?

M.B. – Eu tenho a certeza que sim. Aliás, há muitos anos, quando se fala de Trás-os-Montes e até lhe digo que pertenço a várias associações ligadas a Trás-os-Montes e há uma em que sou sócio e fundador de algumas, uma delas  é uma associação micológica. Mogadouro é a capital do cogumelo e daí a elevação de um monumento dedicado a esse aspecto micológico, que é o trabalho que estou a fazer. 
Quanto à pergunta que me fez, acho que sim, é uma realidade, infelizmente, é uma realidade a desertificação que esta a acontecer em todo o interior de Portugal mas, em Trás-os-Montes é demais. Nós verificamos em aldeias, por exemplo na minha aldeia, que era uma aldeia com bastante população, hoje estão lá duas ou três dezenas de pessoas. Esta completamente desertificado e moribundo, portanto, as aldeias estão moribundas; eu passo muito tempo de visita a amigos nessas aldeias e o mal é geral. Tenho dito e mantenho que uma das formas de resolver essa desertificação será a actividade do turismo. O turismo é uma indústria que, para se desenvolver, arrasta atrás de si um conjunto de acções e de desenvolvimento de outras áreas. Repare, em termos agrícolas, estamos fartos de dizer que não podemos competir com outros países na quantidade, mas podemos competir na qualidade, só que para exportar qualidade sem quantidade é difícil.
Podemos, através do turismo, consumir grande parte dessa produção. Há pouco tempo atrás, estava interessado, foi na altura dos pimentos, dos tomates, que tem um sabor que não tem aqueles encaixotados que vêm não sei de onde, as maças que vem de outros continentes, sem sabor, sem cheiro, nem nada e perguntei a um habitante da aldeia: “Então Sr. Zé, porque é que não vende as maças aqui aos hotéis, as pensões, aqui na zona?” “E quem é que compra isto?”. Vou a um restaurante e pergunto se tem fruta da nossa zona e dizem-me que não. Uns não produzem porque ninguém lhes compra, os outros não compram porque não há quem produza, é o tipo de pescadinha de rabo na boca.
Ora, alguma coisa está errada. O turismo rural, se for bem entendido e se for executado com rigor no que diz respeito, à arquitectura, respeitando a traça da construção rural transmontana; se a envolvência estiver de acordo e o interior for cuidado, se o atendimento for de qualidade, onde haja um conforto igual ao que se encontra em qualquer hotel de 4 ou 5 estrelas, acho que é possível, associar uma coisa com outra. Depois, o atendimento passa por escolas de hotelaria. Além disso há também outra coisa importante: se o investidor for investir, por exemplo, no Algarve, é difícil, porque o Algarve resolve os problemas entre muros, porque por fora está tudo resolvido, porque há estradas boas, a praia está lá, o clima está lá, está lá tudo, as promoções inclusivamente. Está tudo resolvido. Aqui é toda uma envolvência que está completamente desactivada, os acessos, os caminhos-de-ferro, etc.

Não é preciso esperar pelos clientes, é preciso ir buscá-los, não é?

É isso. Eu construí e preocupei-me, agora estou noutra fase de desenvolvimento. A primeira fase está resolvida, agora estou na fase de divulgação, a única propaganda que eu tenho é a página da Internet e, já agora aproveito para dizer que a site é: http://www.casasdasquintas.pt/, muito fácil.

Para terminar peço-lhe que escolha uma personalidade ou personalidades que o marcaram ao longo da sua vida.

Uma das personalidades que mais me marcou foi Churchill, pela sua perseverança já que foi uma época conturbada. Quando eu era um miudinho e quando comecei a ter conhecimento do que é que se estava a passar no mundo, apareceu-me aquela pessoa com um grande charuto e sempre com aquele ar pachorrento e, que de qualquer forma, conseguiu resolver os problemas, e se não fosse ele não sei se o mundo estaria melhor ou pior, mas com certeza que estaria diferente; acho-o realmente uma pessoa especial, muito especial.

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