sábado, 3 de março de 2018

15 MILHÕES DA BARRAGEM DO TUA PARA MOBILIDADE QUE NUNCA MAIS AVANÇA



Dos mais de 30 milhões de euros que a EDP assegura ter investido nos cinco concelhos do vale do Tua, como compensação pela construção de uma barragem, cerca de metade foi direcionada para o plano de mobilidade turística e quotidiana.

O problema é que este plano, que pretende voltar a pôr o comboio a apitar nesta zona trasmontana, já leva quase um ano de atraso e não há data para arrancar.
O impasse tem por base um diferendo entre a Agência de Desenvolvimento Regional do Vale do Tua (em que estão representados os Municípios de Alijó, Carrazeda de Ansiães, Murça, Vila For e Mirandela, bem como a EDP) e a Infraestruturas de Portugal (IP). A primeira quer que a segunda se responsabilize pela manutenção da superestrutura da via-férrea durante os 25 anos da concessão ao grupo Douro Azul, mas até agora, apesar das várias reuniões entre as partes, ainda não houve fumo branco. 
Enquanto o comboio não puder circular estará parado todo um investimento de 15 milhões de euros. E todas as expectativas colocadas no desenvolvimento turístico da região também continuarão frustradas.
O presidente da Agência, Fernando Barros, está convencido que vai ser “uma questão de dias” até ser alcançado um acordo. Mas da IP não tem havido notícias. Na passada quarta-feira, à margem da inauguração do Centro Interpretativo do Vale do Tua, o vice-presidente daquele organismo público não se mostrou disponível para falar aos jornalistas sobre o assunto.
O administrador da EDP, Rui Teixeira, salientou que “é responsabilidade da Agência concluir as negociações com o Governo para poder implementar esse plano de mobilidade”, uma vez que da parte da elétrica nacional “já foram cumpridas todas as obrigações”. 
Assumindo que “a EDP tem vontade de ver o plano em funcionamento”, o administrador explica que tinham a responsabilidade de garantir que “existiam cais na albufeira, que a linha férrea era reparada e que a Agência era financiada em mais de 10 milhões de euros para que, em conjunto com o operador, pudesse montar todo o sistema de gestão do plano”. 
Adicionalmente, a elétrica nacional ainda vai financiar em mais 3,7 milhões de euros o reforço da segurança no troço da linha do Tua, entre Mirandela e Brunheda. “Assumimos que podíamos dar um passo mais, para permitir que fosse concluída a discussão entre a Agência e a IP, de modo a que o comboio possa começar a circular rapidamente”, sublinha Rui Teixeira.
O montante de 30 milhões referentes a medidas compensatórias e de minimização de impactos faz parte do bolo total de mais de 400 milhões de euros investidos na construção da barragem do Tua. 
Para além da implementação do plano de mobilidade turística e quotidiana no vale do Tua, destacam-se outras medidas de compensação para o território pela construção da barragem: O Centro Interpretativo do Vale do Tua, que foi inaugurado na passada quarta-feira, na estação de Foz-Tua, em Carrazeda de Ansiães. Custou dois milhões de euros. Está aberto de quarta a domingo, entre as 12 e as 18 horas. 
O Parque Natural Regional Vale do Tua, o primeiro parque regional do país, que é gerido pela Agência, é financiado com 2,25% da produção média líquida anual do aproveitamento hidroelétrico. Além disso, um adicional de 0,75% é entregue pela EDP ao Fundo Ambiental. Tudo isto durante a licença de exploração de 75 anos. O Parque Natural Regional tem como objetivo a defesa da biodiversidade existente no território abrangido pela albufeira nos cinco concelhos de intervenção. 
Foram também recuperadas algumas igrejas e capelas degradadas, entre outro património histórico, no vale do Tua. 
A capacidade de produção da barragem do Tua é de 460 GigaWatt/hora anual, que dá para garantir o dobro do consumo dos cinco municípios abrangidos pela albufeira (Alijó, Carrazeda, Murça, Vila Flor e Mirandela), em que vivem pouco mais de 50 mil pessoas.
Cerca de 300 trabalhadores estão ainda envolvidos nos acabamentos da barragem e na central hidroelétrica. O número máximo de postos de trabalho criados desde o início das obras, em 2011, foi de 1.400 diretos. Em termos indiretos gerou 4.200 empregos.

Central hidroelétrica será comandada a partir do Porto

A central hidroelétrica da barragem do Tua está em fase de acabamentos, mas já funciona com licença de ensaios desde o verão desde 2017. O que se vê é pouco, comparado com o projeto inicial que deixava um enorme edifício a agravar o impacto visual de todo o aproveitamento hidroelétrico. 
O que estaria à mostra seria muito mais, não fosse a materialização do projeto do arquiteto Eduardo Souto de Moura que correspondeu à obrigação de “enterrar” a central. Foi eliminado o caráter de edifício da construção, reduzindo a sua imagem ao caráter de máquina inserida na paisagem. Quando estiver concluído o arranjo exterior deverá ter formas características da região, sobressaindo os socalcos, o granito e as oliveiras.
Numa visita às suas entranhas, Vallejo Paes, responsável da obra no local, tem todas as explicações na ponta da língua. Na sala da turbina há uma série de armários cheios de botões que “fazem a regulação do comportamento da turbina, das fases diretrizes do distribuidor…”, entre outras funções que só mesmo os técnicos percebem. Há uma nave ampla onde imperam dois poços com os andares definidos por uma espécie de varandas. Sobressai a cor cinzenta dos materiais, opção de Souto de Moura.
Pouca gente se vê por ali. Há quatro homens destacados para alguns trabalhos de manutenção e poucos mais serão quando a central estiver a funcionar a todo o gás. De resto, vai ser comandada ao partir do centro de telecomando da EDP que está instalado no Porto há cerca de um ano, tal como acontece com todas as restantes no país. Até então, o controlo era efetuado no Peso da Régua.
De acordo com o administrador da EDP, Rui Teixeira, “está prevista uma vistoria das entidades ambientais para confirmar que todos os compromissos assumidos no “âmbito da Declaração de Impacte Ambiental foram cumpridos. Acreditamos que a partir desse momento será emitida uma licença de exploração definitiva”. 
Já no que diz respeito ao paredão da barragem propriamente dita, “as obras estão concluídas” estando ainda a decorrer trabalhos de integração paisagística e de arquitetura. “A nossa espectativa é que 2018 seja o ano de conclusão”.

Escrito por Jornalista: Eduardo Pinto

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