sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Sombra na névoa

Hoje, como em muitos outros dias,
senti uma estranha melancolia,
persistente,
teimosa como eu.
Não me deixou
ao longo das muitas horas do dia.
Remoí como pude
as angústias que me assaltavam
vestidas de uma leve tristeza.
Seria leve?
Não sei.
Sei que não se pode ser sempre triste
nem sempre alegre.
O equilíbrio é difícil de alcançar.
De negro vestida,
sei que é assim que tem de ser.
Não me imagino vestida de outra cor.
Se sou como um poeta romântico
a morrer de amor e por amor?
Não.
Sou a minha alma entristecida,
insatisfeita,
frágil como um cristal da Boémia
ou a lenda de Atlântida.
Quase tão ténue
como a minha força de vontade,
a minha fraqueza ou eventual inocência.
Para que fosse um dia perfeito,
falta a névoa,
a chuva miudinha
que tristemente cai
como lágrimas pequeninas
de seres minúsculos e invisíveis,
encantados,
enquanto se espera
que algo belo ou terrível aconteça.
Não sou Peter Pan no País do Nunca,
nem a fada Sininho
com os seus pós de perlimpimpim
que fazem voar.
Sou apenas uma sombra perdida na névoa
que me encharca até aos ossos
enregelados pela emoção de não sentir
ponta de alegria.
Só melancolia ou tristeza,
ou a certeza de não ser o que quero
e que desde sempre espero.

Maria Cepeda  

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