Ernesto Rodrigues nasceu em Torre de D. Chama, em 1956, é pai de duas filhas, Célia e Lídia, e professor de Cultura e Literatura Portuguesas na Faculdade de Letras de Lisboa, onde se licenciou em 1980, em Filologia Românica , e apresentou tese de Mestrado em Literatura Portuguesa Clássica. Em 1996, doutorou-se em Letras com o trabalho Mágico Folhetim. Literatura e Jornalismo em Portugal. Foi jornalista, leitor de português na Universidade de Budapeste, é escritor com vasta obra publicada, ensaísta e tradutor. Ultimamente, voltou ao colunismo, n’A Voz do Nordeste e no Mensageiro de Bragança. Vamos chamar à sua entrevista “À procura da literatura”. Começo por lhe perguntar: nascido em Torre de D. Chama, como passou a meninice, e que recordações guarda da infância?
Guardo as melhores recordações. Foi o primeiro paraíso. Vivi na minha Torre dez anos, antes de ir para o seminário de Vinhais e, depois, para o de Bragança, onde estive até aos quinze anos, incompletos. A meninice decorreu entre jogos próprios da idade, desde imitações de cow-boys contra índios a partidas de futebol, enquanto nascia para a leitura e para a capacidade, que na literatura eu já desvelava, de me comover. A memória do lugar está no romance Torre de Dona Chama.
Veio estudar para Bragança e depressa se integrou no meio cultural. Como era ser estudante em Bragança, nessa altura?
Após alguns choques, no seminário, com padres que não deixei de contactar, esparsamente, ao longo das décadas, dormi já o 6 de Junho de 1971 no Lar Calouste Gulbenkian, onde só estive um mês, aí iniciando, contudo, ingénua oposição política, que me marcou para a vida. Fundámos, capitaneados por Domingos Neto, O Grupo, de que saíram três números, enquanto vivíamos a noite, ora discutindo, ou ouvindo a voz radialista de um Manuel Alegre exilado, e sonhando com outro futuro em país livre. Sabíamos de reticências dos maiores, a começar nos professores, mas também de figuras como o presidente da Câmara Municipal ou o governador civil; mais duradouro, tivemos um espaço de liberdade no Mensageiro de Bragança, pelo que, conciliando vários mundos, e, sobretudo, na doce clandestinidade e liberdade que hauríamos junto do Padre Manuel Sampaio, director deste, conseguíamos viver em paz com a nossa consciência desperta para a justiça social, sem deixar de cumprir os mínimos no liceu.
Referiu que, desde muito novo, enveredou pelo jornalismo. Fale-nos dessa experiência.
Aos doze anos, eu fundava jornais de parede. Desde os catorze, estou em letra de forma, já director, já simples ou variado colaborador. Na fase mais significativa, a do Mensageiro de Bragança – onde entrei em 1971 –, uma pequena equipa, em que o mais velho era Carlos Pires, relançou, a partir de Janeiro 1972, o semanário que conhecemos hoje, quanto ao formato, mas num grafismo inovador e com secções irrepetíveis. Abandonei-o, com o director, em Outubro de 1974. Estendia-me, simultaneamente, a publicações de Mirandela e Mogadouro, ou à Imprensa escolar. No nascente Instituto da Juventude, fundei Novo Rumo (no seminário, deixara Rumo, 1971), número único em que entrevistei o ministro da Educação, Veiga Simão, que veio a Bragança no dia 17 de Janeiro de 1974. Desde 1972, inseria poemas no Diário Popular – ou, em 1973, n’A Capital –, que Maria Alberta Meneres antologiou em O Poeta Faz-se aos 10 Anos (Assírio & Alvim, 1973). Quis estudar em Lisboa por causa dos jornais. Mas isso pedia um longo capítulo. Seria estagiário, repórter e redactor, durante a licenciatura. Nunca me libertei do bichinho dos jornais, que, profissionalmente, troquei pela Universidade. Fiz convergir a dupla paixão, que me orienta, na tese de doutoramento.
Acabado o liceu, seguiu para Lisboa, a fim de cursar Filologia Românica...
Acabei o liceu em 1974. Ficámos um ano parados. Uns faziam serviço cívico; eu fui para França, onde frequentei o Lycée Jean de La Fontaine , em Château-Thierry, «la ville des fables». Aí, acompanhei as convulsões nacionais, do debate sobre a unicidade sindical ao 11 de Março. Voltei seis meses depois, em Junho de 1975, para fundar A Máscara, um grupo de teatro ambulante, que apresentou 21 sessões do por mim adaptado O Lodo e as Estrelas, do padre Telmo Ferraz, sobre a degradação dos operários nas barragens mirandesas. A Faculdade de Letras foi abrindo – de facto, o meu primeiro ano lectivo inaugurei-o em 6 de Janeiro de 1976.
O que é que pesou na sua decisão de escolher Filologia Românica?
A convicção de que, para o escritor que sempre quis ser e para o leitor de teoria literária que eu há muito era, esse curso viria iluminar a minha vida. As partes obscuras que continua a deixar são o mais exaltante.
De 1981 a 1986, foi leitor de português na Universidade de Budapeste. Fale-nos desses tempos.
Foi a grande viragem, em termos pessoais. O segundo paraíso. O então director do Instituto de Língua e Literatura Portuguesas, na Universidade ELTE de Budapeste, conheceu-me através de amiga comum, minha colega no liceu Passos Manuel, onde eu tinha futuro garantido, após abandonar o Correio da Manhã e o Portugal Hoje, embora mantendo coluna de crítica literária, desde Junho de 1979, no semanário Tempo. Convidou-me, mesmo se o processo impôs candidatura pelo Instituto de Cultura e Língua Portuguesa. Eu não conhecia nada da Hungria, além das ideias feitas que abundavam sobre os países ditos comunistas. Quando, em 9 de Setembro de 1981, pus os pés em Budapeste, a minha vida mudou radicalmente. Hoje, dividido entre dois países, sou, de facto, referência dos húngaros em Portugal. Aos 25 anos, era uma aventura; aos 30, voltei com uma filha.
Uma aventura, com efeito.
Fui para dar umas aulas de português, e ter tempo para escrever. Em cinco anos, escrevi o dobro dos poemas da década anterior. Além de inúmeros contos e novelas, sem já falar nos dois primeiros romances. A Serpente de Bronze deve tudo a essa experiência. Aos sábados, via museus; tive horas largas para conhecer aquela bela cidade e, do mesmo passo, vaguear pela Europa.
Indo, agora, às questões profissionais. A sua vida profissional está intimamente ligada ao ensino, à investigação, ao estudo da nossa belíssima língua portuguesa. Foi essa a vida que conscientemente escolheu?
Desde criança, eu queria ser, escritor, já, então, sensível à plasticidade do idioma e ao que nele podemos depositar; sou, subsidiariamente, professor e apaixonado investigador; continuo a flartar com a Imprensa, nacional e regional. Gostava de ficar como escritor, sem mais.
Foi docente na Escola Superior de Bragança durante dois anos. Santos da terra não fazem milagres, ou esta cidade é pequena para as suas ambições profissionais?
Lá pequena é, mas, se as minhas ambições se reduzem a passar o tempo em casa, isto é, a escrever, também poderia fazê-lo em Bragança, não? Acontece que eu vim com família, e outra filha a nascer em Maio de 1987, pelo que não tinha hipóteses de acrescentar ao vencimento. Apesar do carinho e boa vontade com que me receberam, do tratamento excelente concedido pelos professores Joaquim Lima Pereira e Dionísio Gonçalves, bem como dos colegas da ESE, a verdade é que tinha outras possibilidades em Lisboa, onde facilmente reatei convívio jornalístico intermitente, multiplicando-me em colaborações.
Tem trabalhado muito para, e com, o Estado húngaro. Já foi condecorado duas vezes: sente-se acarinhado pelos húngaros?
Sim, mas não dou importância a essas condecorações. A mais importante foi-me atribuída, em 1989, pelo Presidente da República da Hungria. Quando, em 2002, novo Presidente veio a Portugal, o único acontecimento cultural foi o lançamento da minha Antologia da Poesia Húngara. Nesse mesmo ano, desloquei-me, de propósito, a Budapeste, para receber réplica de espada do primeiro lírico húngaro, morto em combate contra os turcos, no século XVI. Fui o primeiro estrangeiro a merecer tal galardão. Mas basta-me o reconhecimento dos amigos que lá deixei, alguns dos quais meus alunos, e de colegas. É, todavia, uma relação de 25 anos, com duas filhas luso-húngaras e já quase uma vintena de traduções.
E que gosto tem a língua portuguesa nesta torre de babel em que vivemos?
Falando em gosto, o termo pode ser ambíguo. Preferia entender gosto como o sabor da língua nas suas várias paragens, porque experimento essas colorações, esses sabores, em cada falante com que deparo por esse mundo, sobretudo, na qualidade e no à-vontade de estrangeiros do programa Erasmus que vêm ter comigo à Faculdade. É um prazer renovado saber que a língua se vai internacionalizando em cada jovem, e, portanto, para mim, isso é que é o gosto da língua. Por outro lado, há um sentimento pessoal forte, de relação visceral – tenho, aliás, um apartado nos meus programas de Cultura Portuguesa, sobre a língua como peça de resistência, não só aos Filipes, mas também agora, em tempos de globalização –, em que, para lá dos prazeres mínimos que encontro em cada conversa com dezenas de cidadãos, estrangeiros com quem falo na Europa ou em África, a língua se torna, para mim, a casa onde vivo, e portanto, a minha única salvação.
Essa ligação a África decorre de uma colaboração que tem em Moçambique.
É uma colaboração em simpósio anual com a Escola Portuguesa de Moçambique, onde se faz um trabalho excelente, na convergência, em português, de mais de 20 nacionalidades. Quase exclusivamente ligadas à diplomacia, são famílias concitadas pelo amor à língua de Camões.
Faz crítica literária desde 1979 e tem colaboração multímoda em variadíssimas publicações. Toda essa actividade exige muita dedicação, não?
Na verdade, desde 1971, no Mensageiro de Bragança, eu já exercitava a crítica, embora irregular. Dedicação é o mínimo que se deve a cada livro que vamos recensear, seja para um jornal, seja para uma revista. A metodologia é a mesma, implicando atenção, não só ao texto em si, mas ao autor e à sua obra, no tecer de fios que me levem, depois, em síntese, a dizer o que entendo sobre aquele, também visto em quadros comparativos mais vastos. É um trabalho com altos e baixos, quase sempre mal remunerado, mas que me tem posto a par do que se edita em Portugal, há 35 anos.
Tem também colaboração com várias publicações da região, das quais se destaca a revista Amigos de Bragança, de que foi proprietário, sendo director o saudoso Eduardo de Carvalho. Vale a pena apostar na cultura e Imprensa regionais?
Vale, e muito. Amigos de Bragança foi uma experiência de 1984 a 1987, devida à amizade que nutria pelo Dr. Eduardo Carvalho. Com entrevistas de fundo sobre a realidade autárquica e homenagens ao Abade de Baçal e Paulo Quintela, entre outros, de que fazíamos separatas, foi um interregno excitante, animado, em particular, por Marcolino Cepeda, pois eu vivia na Hungria. É de teor diverso Notícias do Interior, entre 1990 e 1993, cuja colaboração pluripartidária se começou a estreitar logo ao terceiro número, evoluindo para uma publicação de sectores do Partido Socialista, e contribuindo, assim, para lançar candidatos que, nas autárquicas de 1993, conquistaram nove das 12 câmaras. Com esse esforço, dei mais ao PS do que muitos que por lá andam. E, não sendo mensário só de luta política, o segmento cultural que aí interpus interessava a outra reflexão sobre nós, pois entrevistei, por exemplo, os nossos melhores artistas com projecção internacional. No actual momento, penso que há excessivas publicações em Bragança. A imprensa regional é fundamental no desenvolvimento local, indo para lá da cegueira das publicações nacionais. Entretanto, conquistou o saber da redacção jornalística. Globalmente falando, é folheada por um público de mais de quatro milhões de leitores.
Teve durante vários anos uma colaboração literária no jornal Tempo e em muitas outras publicações. Neste momento, aparece regularmente no semanário Expresso. O que pensa do jornalismo que se faz hoje?
Olhando para o jornalismo do século XIX, creio que se evoluiu imenso, vencendo os vícios da época, que não posso pormenorizar aqui, e quando se dava a explosão da Imprensa de massas, que estudei à luz do folhetim. Este é um dos elementos fortes para esse deflagrar de títulos, e, sobretudo, para assegurar uma certa qualidade dos colaboradores; folhetim, que, a par da publicidade e do baixo custo, reduzindo para metade o preço das publicações, levou à pequena maravilha de títulos que ainda se mantêm, caso do Diário de Notícias, e, por outro, ao nascimento de grandes escritores. As suas estratégias influíram no folhetim radiofónico e na telenovela, que tanto influencia o próprio jornalismo escrito. Diferença para pior é a falta de nomes semelhantemente representativos nas colaborações de hoje, salvo o que, estamos de boa saúde, embora, financeiramente, as condições nem sempre sejam as melhores. Gosto de ver essas questões na sua relação com o leitor, e não com o anunciante, não ignorando que a publicidade é fundamental.
Publicou já uma vasta obra, abarcando vários géneros literários, desde a poesia e ficção à ensaística, com, mesmo, uma incursão pela literatura infantil, em volume ilustrado pelas suas filhas. É um percurso de tirar o fôlego.
São 35 anos de vida literária, que conto desde 14 de Fevereiro de 1971, com que inicio um diário inédito. Inconvencional, de 1973, a minha estreia, continha poemas de 1970, que decidi retirar, iniciando-me, aqui, em 30 de Setembro de 1971. Do ano seguinte, dato a contística. De 1973, o teatro, ainda inédito. Aquele é um livro saído no então sexto ano do liceu, em Abril, constituindo um pequeno êxito, entre amigos, que relançou a minha lírica. Mas eu sou, eminentemente, ficcionista, mesmo se mais conhecido enquanto crítico e ensaísta. Neste domínio, relevo o trabalho de dicionarista, em particular, dez anos, que danaram à coluna cervical, à volta do Dicionário de Literatura, dirigido por Jacinto do Prado Coelho, por cuja Actualização (2002-2003), em três volumes, sou principal responsável.
Sei que é um nordestino atento e empenhado em relação a toda esta região. Em termos culturais, pensa que estamos no bom caminho?
Creio que sim. Estive em lançamento de obra colectiva apoiada pela Câmara Municipal de Bragança, no Teatro, e fiquei deslumbrado com as condições deste, que sei superiormente dirigido. Vejo, entretanto, novas valências, no que é um salto tremendo desde os anos 70, em que nos lamentávamos: havia grande criatividade e não tínhamos onde apresentá-la; hoje, espero que nasçam criadores, porque espaço já não falta.
Somos uns felizardos, neste aspecto?
Materialmente, sim; mas, salvo algum fogacho de excepcionalidade, noto a ausência de verdadeiros criadores.
Até que ponto deveremos defender a nossa nordestinidade, as nossas diferenças?
Não há limites, fronteiriços ou outros. Era importante olhar para o outro lado da fronteira, acedendo, não só o inglês, como quer este governo, a partir do básico, mas também ao castelhano. Temos gente para nos apresentar, quer ao pequeno mundo nacional, quer, através de Espanha e das comunidades portuguesas no estrangeiro (onde há muitos transmontanos), aos demais países. Relativiza-se o conceito de nordestinidade – que não podemos definir, aqui – sempre que representarmos o corpo nacional. As nossas diferenças não têm tido os melhores cultores, desde logo, na esfera política. Estes, que também deviam ser decisores, não passam de aparelhistas medíocres. Como a democracia do voto, cada vez mais abstencionista, se confunde com o masoquismo de votar sempre nos mesmos, cujas promessas vão e vêm, sem resultados práticos visíveis, temo que as diferenças se anulem na paulatina desertificação.
Espalhados por este país, encontramos transmontanos de grande valor. Teremos capacidade de os reconhecer, ou andaremos muito centrados no nosso metro quadrado de vida?
O professor Adriano Moreira considera que, quando estamos com várias pessoas, não devemos dizer que somos transmontanos, para que não se sintam humilhadas. Mas, claro, o minifúndio do pensamento é pernicioso. E, depois, vê-se no que dão os grandes congressos: em águas de bacalhau. Bastariam poucas vontades. Esperemos.
Falou da obra que tem para publicar. Não quer levantar a ponta do véu?
Tenho novos trabalhos no campo do ensaísmo, e, sobretudo, ficcional e dramatúrgico. Escrevo teatro desde 1973, com o seu quê de experimental. Mas é na ficção, para lá da imensa poesia – só em parte conhecida –, que mais tenho trabalhado. Saliento um conjunto de sete romancelhos, com título próprio, e sob designação genérica, narrando, aqui e ali, quadros das minhas experiências mais dolorosas.
Contêm um pouco de si?
A literatura é cada vez mais autobiográfica, num sentido que não cabe, agora, aprofundar. Através de considerações do foro pessoal, podemos criar uma espécie de hiper-realismo, que leve as pessoas a acreditar no fingimento do realmente vivido, quando, de facto, é a verdade pura e simples.
Voltando, ainda, à nossa região, que futuro podemos esperar para ela?
Não vejo grande futuro, quando se assiste a esta desertificação. Os decisores, os políticos, sobretudo, têm que pensar em estancar essa sangria, porque, sem gente, não há região, e, mais ainda, se não tiver educação, nem qualificação profissional, nem serviços públicos eficientes. Venham indústrias de lazer, agro-turísticas e culturais. Caso contrário, seremos facilmente conquistados, tal como, no Alentejo, os montes são comprados por alemães, suecos, etc., e, no Algarve, o turismo rico europeu adquire os melhores espaços. Chamar quem aqui nasceu, e quem gosta desta terra, sem cá ter nascido.
Para terminar: que personalidades o marcaram ao longo da sua vida?
Escritores, em primeiro lugar: Eça de Queirós e Jorge Luís Borges. Em terceiro lugar, embora seja o primeiro, na cronologia, Flaubert. Dedicaram a vida à escrita, a única forma de respirar, que espero ter ainda por muito tempo, assim podendo, no acto de me reconhecer, dizer o essencial de mim.
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Aproveito o ensejo para daqui enviar um grande abraço ao Ernesto.
ResponderEliminarRecordo com muitas saudades os tempos do Grupo de Teatro "A Máscara".
Henrique
Um abraço para o Ernesto. Uma vida sem tempo para respirar. Que esse desejo de ter ainda muito tempo para a escrita se cumpra.
ResponderEliminarAmadeu